Como já dissemos aqui neste bloguinho, no sábado passado, aquilo que os estudantes já sabiam, o rabo-de-arraia da Câmara Municipal de Manaus aos estudantes, aprovando a Emenda à Loman nº 008/2009, proposta do prefeito sub judice Amazonino Mendes (PTB), que reduz drasticamente a meia-passagem estudantil em Manaus, eram favas contadas. Acrescentamos aqui algumas falas que este bloguinho colheu no encontro com os estudantes, que demonstram o entendimento do que estava previsto ali e o quais seriam as ações possíveis para que haja alguma alteração política. Foi nesse sentido que este bloguinho conversou com Yann Evanovick, vice-presidente regional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), e ele, lucidamente, colocava a questão:
Nós não temos dúvidas, o projeto deve ser aprovado hoje na Câmara Municipal. Ontem ocorreu uma nomeação de 60 pessoas que são vinculadas aos vereadores. Claramente já está muito bem amarrada essa votação. Em compessação, deve ser aprovado com muita resistência por parte dos estudantes. É preciso que se diga, não são os estudantes que estão desmobilizados, é a Câmara Municipal que dá um golpe na população. Um período de férias, num final de semana. Nós sabemos que há dias, nas suas sessões ordinárias, os vereadores faltam, e hoje, numa votação importante como essa, que a da meia-passagem, que deveria ser colocada em votação num dia em que pudesse haver a participação da maior parte da população, os vereadores articulam mais um golpe, assim como foi dado no dia 23 de dezembro passado. Nós, do movimento estudantil, estamos tentando construir um projeto de cunho popular. Isso significa que temos de recolher 5% de assinaturas de todo o eleitorado de Manaus. Nós precisamos contar com a população de Manaus para reapresentar um projeto de cunho popular.
Assim como Yann, a presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), Maria das Neves, atacou o ludíbrio da CMM Empresarial contra os estudantes de Manaus, votando um projeto nos mesmos moldes que sempre utiliza quando quer perpetrar alguma trama contra a população:
Primeiro é importante dizer para a população de Manaus que é mais uma atitude golpista do prefeito Amazonino Mendes botar em votação um projeto que é de grande importância para a cidade de Manaus. Esse projeto, que foi apresentado pelo prefeito Amazonino Mendes à Câmara Municipal de Manaus tira o direito dos estudantes, principalmente dos estudantes da periferia, fazendo com os estudantes pobres, carentes, andem todo dia dois quilômetros, um pra ir e outro pra voltar. E os estudantes que moram em locais considerados perigosos, por exemplo, vão ter de correr risco de morte pra poder ter acesso à educação. Sem contar que nós vamos voltar às grandes filas, não vamos mais poder pagar em dinheiro, vamos ter de procurar postos de venda da meia-passagem, que ninguém sabe onde fica, e os estudantes, com certeza, vão ter de enfrentar enormes filas pra poder usufruir da meia-passagem. É um golpe dos empresários, da Prefeitura e dos vereadores, que num momento de férias, sem discussão popular, colocaram pra votação nessa casa o projeto que reduz a meia-passagem, e não só reduz drasticamente o acesso à meia-passagem, mas sobretudo reduz a educação, o acesso que a nossa juventude tinha de forma irrestrita.
E Maria fez o convite para a os estudantes, pais de alunos, entidades estudantis, sindicatos, toda a população, para se mobilizar no sentido de restaurar, democraticamente, um direito adquirido que foi usurpado pela subserviência da CMM ao prefeito cassado Amazonino e a Acyr Gurgacz, presidente do Sinetram e “vitalício prefeito de Manaus”:
Devido a esse projeto, que foi votado e aprovado hoje, nós iremos denunciar para a população o nome de cada vereador, traidor, que votou contra o estudante, contra o trabalhador de nossa cidade, depois nós iremos mobilizar um projeto de ação popular com o qual o povo possa reapresentar o projeto da meia-passagem. Para isso, a gente vai montar em cada escola, em cada universidade um posto de arrecadação dessas assinaturas, e assim mostrar que nós, a população de Manaus, o povo de Manaus, o pai trabalhador, a mãe trabalhadora, quem paga a meia-passagem quer reaver esse direito de volta. Acabou a meia-passagem, acabou a integração temporal, é o retrocesso para os estudantes da nossa cidade, mas não temos dúvidas que o povo vai continuar se mobilizando, vai voltar às ruas assim que as aulas voltarem.
Depois de confirmado o engodo legalizado, tivemos com Dona Núbia, mãe de três estudantes, que pontuou situações práticas que não passam pela CMM Empresarial, muito menos pela Prefeitura cassada:
Não pude entrar. Eles dizem que é ridículo um aluno não querer caminhar um quilômetro até sua escola, mas ele não sabe que o verão está começando, onde as calçadas não dão condições para o nosso filho andar. Eu deixei o meu trabalho de carteira assinada pra estar acompanhando meus filhos. Eu tenho três filhos, dois estão na faculdade, eu tenho um projeto de vida, mas eu estou sentindo meu projeto amassado, massacrado por um prefeito irresponsável. Na época de campanha ele tá lá dando a mão, abraçando mãe, tirando foto com os estudantes, e agora ele faz isso. Ele humilha, ele diz um quilômetro, mas não sabe que são trinta postes, que dão de cinco a sete paradas de ônibus. Onde eu moro, pra sair e pra voltar, tem que subir e descer. O meu filho necessita de seis vales por dia, ele vai pra aula, mas tem de ir pro cursinho também, porque as redes públicas não dão condições para um filho da gente entrar numa escola profissionalizante, nós temos que se esforçar e pagar um cursinho, e à noite ele vai para a Vila Olímpica nadar pra não ficar envolvido com drogas, como a gente está vendo aí um parlamentar, deputado, envolvido com drogas, e o filho dele não conhece o que é educação.
Na saída, a guarda municipal, que antes já havia ocupado boa parte da galeria pública, começou a carregar alguns estudantes que se deitaram ao chão do lado de fora da Câmara. Nesse momento, começou um tumulto, quando alguns estudantes quiseram falar com vereadores, e a guarda municipal, mostrando-se totalmente despreparada, partiu para a brutalidade contra os estudantes, inclusive adolescentes, utilizando-se de cacetetes, empurrões e spray de pimenta. Alguns estudantes foram feridos, e todos saíram de lá diretamente para fazer corpo de delito. Este bloguinho conversou com alguns destes estudantes:
A gente estava ali querendo entrar para falar com os vereadores, só que a polícia bateu. A guarda municipal me agrediu, me meteu uma porrada aqui com o cacetete quando eu tentei passar. (Aurivan)
Nós estávamos em um local supostamente público e tentaram tirar a gente na marra, tentaram arrastar alguns de nossos integrantes lá pra dentro, nós não deixamos isso acontecer, aí eles chamaram os policiais com escudo, que chegaram empurrando a gente, batendo com o cacetete, jogando spray de pimenta. (Jéferson)
Nós estávamos parados, simplesmente deitados aqui na frente, e a guarda começou a tirar, empurrar todo mundo, aí quando o pessoal começou a relutar, eles vieram com spray de pimenta, com cacetete, e eu estou com um ematoma no braço, porque eu levei uma porrada de cacetete sem fazer nada para que isso acontecesse. (Gabriela)
Numa proximidade democrática com os estudantes, o vereador José Ricardo (PT), que tem puxado a oposição aos ludíbrios da CMM Empresarial contra os estudantes, falou-nos sobre as possibilidades de se reverter a decisão:
Agora nós vamos continuar na briga. Eu acho que não termina por aqui, primeiro porque esse projeto, na sua essência, ele tira direitos; ele não é operacional com essa história de um quilômetro de distância; ele não garante a meia-passagem (não está escrito) para todas as atividades que o estudante necessita; essa coisa de ir e voltar para a escola, ficar amarrado a isso é um retrocesso. Vamos continuar questionando, porque existem vários caminhos ainda: tem o lado jurídico e tem a possibilidade de outro projeto ser apresentado ainda para alterar. Nesse momento, é importante mesmo é a mobilização da sociedade, dos pais dos estudantes. Só que agora temos o recesso, provavelmente só depois do recesso nós vamos ter um espaço aí pra poder continuar debatendo.
Sobre a “jogada”, a covardia de se votar num sábado, num final de semana, diante de um recesso, um projeto de amplitude para toda a sociedade, e em contrário à opinião desta sociedade, Ricardo continuou:
Claro, é esperteza deles, tiraram, inclusive, pessoas do hospital. Eu acho até uma desumanidade tirar a vereadora, que estava hospitalizada, ela estava aqui com um aparelho respiratório em cima da mesa, podia ter morrido aqui, e eles fizeram essa desumanidade só pra poder ter o voto a mais pra garantir essa votação. É desumano com os estudantes e é desumano até para a própria bancada de vereadores deles.
Como ele tinha questionado a validade da Lei aprovada na CMM, ouvimos seus argumentos quanto a este questionamento:
Eu questiono até juridicamente, aquela questão do direito que o estudante tem da meia-passagem como parte de uma política educacional, é uma tese, é uma possibilidade, é uma questão bem prática, nós precisamos mexer na legislação para garantir que o estudante, enquanto estudante, que ele tenha acesso a quantas meias-passagens ele precisar para qualquer atividade, em qualquer horário. Então, vamos continuar questionando até juridicamente, conforme estamos avaliando com os advogados.
A vereadora a quem Zé Ricardo se refere é nada menos do que Marise Mendes (PTB), irmã do prefeito cassado Amazonino, que estava, inclusive, conforme fotos deste bloguinho, acompanhada de médico, recebendo medicação ali mesmo na CMM. A situação da vereadora era tão grave, como observou o vereador, que este bloguinho até captou, conforme foto abaixo, o momento que uma assessora de Marise votou por ela.
Enquanto isso acontecia, os estudantes na galeria gritavam: “Vai morrer em casa! Vai morrer em casa!” Os amigos da vereadora fizeram gestos de pedido de respeito ao estado da vereadora, mas os estudantes não embarcaram na piedade falso-cristã e gritaram ainda mais forte.
Os estudantes pretendem fazer reuniões e se mobilizar a partir de hoje para quando terminar o recesso retomarem as manifestações em passeatas e paralisações do trânsito da cidade.
Leitores Intempestivos