
Pedro Almodóvar. 60tão e tão…
A PSICOLOGIA DO ESTUPRADOR
Existem dois estigmas que carregam a palavra ESTUPRAR, bem como a sua substantivação (estuprador). Um, de ordem da semântica: é uma palavra que ofende, que traz um forte elemento repulsivo socialmente. Não se usa, por exemplo, a palavra estuprador, como se usa a palavra tarado. Enquanto esta ainda, e através de uma banalização, entra até na ordem do humor-sem-humor dos programas televisivos, a palavra estuprar não é bem recebida. É, portanto, da ordem de uma interdição moral, e carrega resquícios da subjetivação apostólica romana-paulina.
Outro, de ordem de uma psicopatologia. O estuprador é um frustrado, um interditado no plano sexual e existencial. Quem usa o verbo estuprar pretende, sem sombra de dúvidas, aniquilar o outro. Aniquilar significa, neste caso, fazer cessar as emanações existenciais, anular o outro a ponto de transformá-lo numa espécie de não-ser. Uma nulidade. Daí o estuprador, no ato criiminoso, abominar qualquer reação de prazer de sua vítima: a ele só é possível realizar o ato a partir da composição teratossexual com sua vítima. Em outras palavras, é preciso que ela sofra. Daí algumas tendências da psicologia policial professar como técnica de evitar ser estuprada, que a mulher finja estar gostando e se excitando com o estupro. Há aí uma certa lógica.
Se intercessor, é porque antes foi interdito. A maior parte dos estupradores – como os pedófilos – tiveram na sua trajetória situações graves de interdição sexual. Não necessariamente abuso, mas uma interrupção dos fluxos existenciais de conhecimento do próprio corpo e da sexualidade. Uma castração estética.
Daí o estupro, enquanto modalidade social de crime, ser na realidade o sintoma de uma sociedade patologizante, que interdita o corpo e o sexo enquanto manifestações livres do existir.

O governador matogrossense, Pucinelli, que quer estuprar o Ministro do Meio Ambiente.
E nem precisa sacar tudo isso para manifestar essa patologia social. Quando se escolhe usar a palavra estupro, assume-se e escolhe para si mesmo uma existência capenga, manca. E aquilo que se escolhe para si, se escolhe para os outros, diz a máxima existencialista. Escolho para mim a má consciência, o grau zero de produção e de sentimento, o ressentimento puro (ou como diria Shakespeare, tomar o veneno e esperar que o inimigo morra).
Agora, se invertermos, e entendermos que ao escolher para representante político um estuprador, um interdito, que carrega a chaga do ressentimento – nada a ver com a política, portanto – uma cidade escolhe para si a aniquilação, teremos que nos preocupar seriamente com o Mato Grosso, que elegeu um governador que carrega, do ponto de vista psicológico, todas essas características, e que as exibe quando afirma que irá estuprar o ministro do meio ambiente. Com essa palavra, como vimos, não se brinca.
Muáh!!! pra vocês! Se joguem nas news!
Φ PERNAMBUCO TEM FRENTE PARLAMENTAR LGBT. A Assembléia Legislativa de Pernambuco acaba de lançar a Frente Parlamentar LGBT. A frente, anunciada no início da semana, tem 15 integrantes, boa parte da bancada da oposição ao governo, e foi criada graças à pressões dos movimentos sociais pernambucanos. Pernambuco tem uma característica que mostra bem o que é o país em relação às políticas LGBT: enquanto a capital, Recife, tem a sua frente parlamentar municipal, já existe a lei que beneficia os parceiros com pensão em caso de morte no funcionalismo público, e duas leis municipais de criminalização da homofobia, no Estado a coisa é diferente. Apesar de ser considerado campeão no quesito assassinato de homossexuais, a secretaria de segurança não dispõe de estatísticas voltadas ao segmento. Um projeto de lei já aprovado na AL aguarda sanção do governador. O fato de que somente cinco dos quinze parlamentares que aderiram à frente estadual participaram do lançamento mostra o quanto é difícil articular representantes legais em relação a uma causa social. Ainda assim, é preciso brigar, e a formação da frente é um ganho em um estado onde o povo não fica à mercê das coisas, e os movimentos sociais fervilham, tirando o sono dos tiranos. Sentiu a brisa, Neném?
Φ 8a PARADA GAY DE BELÉM É HOJE!!! Ah, a Belém das mangueiras, dos sorrisos, da alegria, do povo combativo que não fica leso nem com o calor equatorial. A oitava Parada Gay de Belém será, sem dúvida, um espetáculo de cores e envolvimento social. A partir do meio-dia, na Estação da Docas, espaço privilegiado da cidade, onde o turista vai gastar e o local se divertir. Nada de confinamento sambodrômico, nada de submissão aos governos. Com muita alegria e ferveção, mas colocando Um Outro Mundo Possível, Sem Racismo, Machismo e Homofobia, a parada gay de Belém compreendeu a demanda LGBT para além da inscrição biossocial sexual, e coloca todo mundo no mesmo barco. O da existência engajada e o do entendimento que a subjetivação capitalística captura a todos, indiscriminadamente. Assim, percebemos que a parada gay lá pelas bandas mangueirais de Belém do Grão-Pará é fruto do uso da razão e de um movimento maduro e livre. Quem for, foi. E quem não puder ir, vá. Sentiu a brisa, Neném?
Φ ALMODÓVAR, 60 ANOS DE CINEMA NO ARCO-ÍRIS. Se alguém sabe capturar e transformar para o ecrã a potência feminina, é Pedro Almodóvar. Ao completar 60 anos, o mundo rende homenagem àquele que trouxe para o cinema a temática das relações homoeróticas sem cair no engôdo das identidades e rotulações. Com um cinema do afeto pulsante, Almodóvar conseguiu até trabalhar com Antonio Banderas e tirar dele algo para além das caras e bocas do ator hollywoodiano. Fato que fez, por exemplo, que o galã tentasse impedir a distribuição da película A Lei do Desejo, onde aparece em tórridas cenas de homo-sexo. Em cada um de seus filmes, ele constrói uma linguagem própria, e afirma sofrer para realizar cada um. É que cada criação precisa, para se realizar no mundo, adquirir um estatuto, fazer nascer um código. Daí os filmes de Almodóvar jamais caírem na armadilha do cinema coca-pipoca-cola: são corpos afetantes de enfraquecimento dos estigmas e estereótipos, sem precisar serem panfletários. É a diferença, em geral, do cinema de língua espanhola, como o argentino, para outros cinemas, como o estadunidense e o brasileiro. Naqueles, o cinema fala como plurivocidade; nestes, a imagem é árida, e não estimula o olhar. Por isso, babies, que tal alugar um cinema almodovariano para este finde e curtir, a dois, a três, a mil, mesmo num só. Quem viu Almodóvar jamais será o mesmo. Sentiu a brisa, Neném?
E não se perca na balada, querida! Para entender o que as bees estão falando, confere aí embaixo as principais gírias do mundo LGBT! Aloka! Hihihi…
VOCABULÁRIO LGBT
– LETRAS “P, Q e R” –
Panqueca: 100% passivo. Bateu na cama, virou.
PAM: Sigla para passivo até a morte (nem precisa explicar).
Pão com ovo: gay simples… pobre mesmo.
Passada: chocada.
Passar cheque: quando escapa um pouquinho de cocô no ato sexual anal.
Passar um talão: quando não é só um pouquinho…
Passivo: O que é penetrado (gays)/a que se deixa a outra tomar iniciativa (lésbicas).
Passivona: o mesmo que PAM; pessoa que só faz sexo na posição passiva.
Pegação: sexo anônimo, sem compromisso.
Pencas: muito. Ex.: comprei pencas de sapatos.
Penosa: pessoa que não trabalha, dura.
Picumã: peruca, cabelo.
Pintosa: óbvia.
Pirelli: enchimento feito de espuma que drags ou transformistas usam para dar formas femininas ao corpo.
Pivô: dar meia-volta, como as modelos das passarelas.
Playbicha: moço playboy mas que é gay.
Playgay: circuito de clubes e bares dos playbichas.
Pochete: lésbica cafona.
Poc Poc: gays novinhos e bem femininos. O ‘poc poc’ é uma onomatopéia do barulho que os saltinhos dos sapatos desses moços fazem na pista.
Podre: pessoa, fato ou local ruim.
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Quebrar louça: quando duas bichas transam.
Quá-quá: bicha mulher.
Queen-Size: aquele ou aquela viciado em bem-dotados.
Queer: que se refere à cultura e/ou comportamento próprio da comunidade gay.
Querida: usado para designar pessoas que gosta ou não, como deboche.
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Racha, rachada: mulher, vagina.
Rebuceteio: troca-troca de namoradas entre as lésbicas.
Ratoburguer: mau hálito.
Rodrigues: situação de alguém casado (ou namorando) cujo/a parceiro/a está viajando.
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!
Leitores Intempestivos