O Espaço da Aparência é o território social pulsante das alteridades perceptivas e cognitivas. Pessoas se apresentam como corpos-imagens às percepções de outras fora de seus domínios próprios. Ninguém escapa do olhar do outro e de sua compreensão. E muitas vezes de seu julgamento. Isso quer dizer que todos, no Espaço da Aparência, confirmam suas presenças, afirmam suas representações públicas, re-apresentadas pelos outros. Todos somos para os outros representações. São eles que nos confirmam repetidamente. Aquele homem que toda manhã dobra aquela esquina, e é percebido por outros, tem sua imagem-pública cotidianamente representada. Re-apresentada no mundo pelos que o percebem. Ele não paga para ser visto, e nem tem a ilusão da invisibilidade. Ele é público.
Mas o Espaço da Aparência não exibe só as pessoas. Exibe mercadorias, objetos, adereços, pessoas-mercadorias. Que já não estão alheias às aprovações ou não de suas presenças. Exibe corpos-fetichistas com intenções objetivas definidas. Corpos que não se apresentam pelos seus desejos, mas por um desvio. São corpos postos em público como imagens sedutoras com o propósito de serem adquiridos como objetos ou ideais, mas nunca como presença-original. São os invólucros que povoam a sociedade capitalista de consumo objetificada como mercadoria-lucro. O território de enunciação capitalista do marketing como estado de coisas. Território público para venda. Mercado público. Território usado por empresas privadas e oficiais.
O ELOGIO DA DOR DO PC do B
A dor é uma ideia que diminui a potência de agir. Uma ideia inadequada. Um afeto quimérico sem suporte material. Por exemplo, o orgulho, a soberba, a vaidade são ideias inadequadas porque são compostas por afetos que diminuem a potência de agir, já que são produtos da superstição. São afetos dominantes no mundo burguês. Assim, quando expressos nos regimes democráticos ou socialistas, são mais visíveis, posto que os atos de todos são produzidos e dirigidos aos Bem Comum, enquanto os do burguês confinam-se em si mesmo. Em seu egoísmo anti-democrático, anti-socialista.
Nisso, o elogio da dor expresso no outdoor do PC do B, exibido em ruas de Manaus. Como toda produção democrática e socialista é pública, o “Obrigado, Eron” do outdoor é triste. Não traduz alegria coletiva. É um reconhecimento de si mesmo, por si mesmo. O PC do B pelo PC do B. Uma ideia orgulhosa de si mesma pretendendo, diante da sociedade, um reconhecimento maior do que é. Uma ideia triste que se completa com a enunciação ressentida “Nós Vencemos”. Como é da ordem das afecções tristes a compaixão, é também dessa mesma ordem a exaltação. Como diria o filósofo Nietzsche, se exaltar vitorioso diante do vencido é fazer do vencido ainda seu superior. Logo, se o PC do B tinha inimigo, não o venceu.
Mas o outdoor do PC do B não é doloroso só na filosofia de Spinoza, é também em seu entendimento de parlamentar. Exaltar-se por um ato social, supostamente realizado, é não entender democracia. Já que esta é a função do parlamentar e que não exige parabenizações. Onde cabe, também, o conceito de vitória. Um parlamentar não luta contra inimigos. Um parlamentar democrático ou socialista é potência processual na cartografia de desejos sociais. Um parlamentar compõe, junto com outros corpos-ideias, afetos coletivos. Daí nunca se heroicizar. Já que a democracia não cria nem precisa de heróis. Ainda mais quando se sabe que o feito heroico que Eron pretende a si não é extensivo de sua força individual heroica, ele é eminentemente produto das políticas do governo federal. As tecnologias, as práxis para extração, condução e consumo do Gás são a emergência das forças produtivas emaranhadas nesse processual coletivo dirigido pelo governo Lula, e não obra do casal parlamentar do PC do B amazonense.
Assim, o outdoor do PC do B é a exaltação da superstição imbricada pelas forças tristes imaginosas do misticismo e da mistificação como ente irreal. Nada de Marx, mas muito de Stalin.
Leitores Intempestivos