5ª CONFERÊNCIA REGIONAL ILGA-LAC
—AMÉRICA LATINA E CARIBE—
e s p e c i a l í s s i m o
A 5ª Conferência da ILGA na região da América Latina e do Caribe foi realizada em Curitiba, Paraná, Brasil, do dia 27 até ontem, 30 de janeiro de 2010.
A ILGA – Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, pessoas Trans e Intersex – é uma federação mundial que congrega grupos locais e nacionais dedicados à promoção e defesa da igualdade de direitos para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas trans e intersex (LGBTI) em todo o mundo.
Fundada em 1978, a ILGA reúne entre seus membros mais de 670 organizações, entre pequenas coletividades e grupos nacionais, representando, assim, mais de 110 países, oriundos de todos os continentes.
Atualmente, a ILGA é a única federação internacional a reunir ONGs e entidades sem fins lucrativos que concentra a sua atuação, em nível global, na luta pelo fim da discriminação por orientação sexual e identidade de gênero.
À 5ª Conferência da ILGA-LAC e na pré-Conferência compareceram, além das principais entidades LGBTTTs de toda a América Latina e Caribe, políticos, ministros e mais de 400 mil militantes homossexuais de todo o mundo. Entre tantos assuntos, o evento discutiu as estratégias de promoção dos direitos humanos, da cidadania, da saúde e da cultura de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex para o biênio 2010/2012, bem como elegeu os secretários regionais e sub-regionais da ILGA.
O ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República esteve presente na abertura do evento e afirmou que “o movimento LGBT é o mais organizado do Brasil” e que “foi o único a conseguir realizar as 27 conferências estaduais”. Vanucchi reforçou a importância do recém-lançado e irracionalmente criticado Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 (PNDH-3) “no vigésimo primeiro ano de redemocratização do Brasil”, como um documento que prevê o incentivo de ações em vários setores da sociedade civil. Disse que o presidente Lula garantiu que os pontos polêmicos como a união civil e a adoção homoparental continuam no plano mesmo frente a críticas conservadoras. Ele lembrou que existem obstáculos, mas “é difícil solucionar os problemas quando eles não vêm à luz, ficam cobertos pelo manto da hipocrisia”.
Abaixo segue uma síntese dos principais eventos da 5ª Ilga-Lac.
2ª MARCHA LGBTI LATINO AMÉRICA
foto: Marcelo Hailer
Como parte da programação da V Conferência Ilga – Lac foi realizada no dia 29 a 2ª Marcha LGBTI Latino América, na qual participaram as comitivas dos 36 países presentes na conferência.
Depois da conglomeração de diversas manifestações, a marcha teve início e no seu decorrer ouviam-se gritos de guerra hora eram em português, hora em espanhol ou também no portunhol. Em pleno meio dia a marcha seguia pela rua XV de Novembro, incendiando o centro comercial, uma das áreas mais movimentadas da cidade.
Durante o trajeto, cirandas foram realizadas ao grito de:
“SEXO ANAL DERRUBA O CAPITAL E O BOQUETE É INTERNACIONAL”
As trans e lésbicas da América Latina também tinham o seu grito e era um recado, que para alguns presentes soou bem irônico:
“SOLTA, SOLTA, TEM QUE SOLTAR E QUEM NÃO SOLTA É PATRIARCAL”
As brasileiras já foram mais diretas:
“ETA, ETA, ETA A GENTE GOSTA É DE BUCETA”
Às 13h a marcha cumpriu o seu trajeto e chegou à Praça Rui Barbosa. No local havia a tenda do Centro Municipal de Combate ao HIV que estava lançando nova campanha, que tem como foco as travestis.
CARTA DO PRESIDENTE LULA À V ILGA-LAC
Convidado para participar da abertura da 5ª Ilga-Lac, o presidente Lula enviou à entidade uma carta em que justificou sua ausência e destacou a luta apoiada pelo governo contra a intolerância. A mensagem de Lula cita ainda o 3º Plano Nacional dos Direitos Humanos como ferramenta de promoção da cidadania LGBT. A carta do presidente Lula foi lida pelo deputado federal Dr. Rosinha.
Senhoras e senhores,
Fiquei muito honrado com o convite a mim enviado pela Coordenação Geral da 5ª Conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais para a América Latina e o Caribe para comparecer a este importante evento. Por motivos de viagem internacional, não posso estar aqui presente, mas agradeço a gentileza.
Inicialmente, envio saudação a todos os participantes desta conferência e especiais boas-vindas aos enviados estrangeiros que nos brindam com suas presenças, aos quais desejo tenham agradável estada entre nós e desfrutem da conhecida hospitalidade brasileira.
Devo declarar que a luta contra a intolerância e a discriminação, com os consequentes esforços pelo respeito à pessoa humana, aí incluída a consideração pela orientação sexual, tem norteado esta gestão desde o início do primeiro mandato. No início de nosso governo, conferimos status de ministério à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e criamos a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, também com força de ministério, destinadas, as três, a articular esforços com todas as demais áreas da administração.
Cuidou-se, assim, que a proteção aos direitos humanos fosse concebida como ação integrada de governo e, mais ainda, como verdadeira política de Estado, com prosseguimento sem sobressaltos quando houver alternância de partidos no poder, fato que é natural e até indispensável na vida democrática.
Assim, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que já havia dado origem ao Programa Brasil Sem Homofobia, que aprovamos em 2004, elaborou e nosso governo lançou, em dezembro último, o 3° Plano Nacional de Direitos Humanos (3° PNDH). O Plano possui, entre seus objetivos estratégicos, a garantia do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero.
Outro objetivo é a redução da violência motivada por diferenças de gênero, raça ou etnia, idade, orientação sexual e situação de vulnerabilidade. Em consequência, propõem-se políticas que estimulem programas de atenção integral à saúde das mulheres, considerando suas especificidades, inclusive de orientação sexual.
A par de nossas propostas e providências, estamos certos de que as organizações voltadas à luta pela livre expressão de orientação sexual prosseguirão em seu trabalho, que já vem alcançando bons resultados entre nós, o qual sempre terá nosso efetivo apoio.
Desejo que dos debates que aqui se realizarão surjam propostas que contribuam para o fortalecimento do segmento LGBT e contribuições para o aperfeiçoamento das providências governamentais que já vêm sendo tomadas no âmbito federal no Brasil.
Recebam todos meu fraternal abraço,
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
TONI REIS REELEITO PRESIDENTE DA ABGLT

No dia 26, terça-feira passada, o ativíssimo Toni Reis foi reeleito presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Na eleição para o triênio 2010-2013 para a maior entidade LGBT no Brasil, foram eleitos também os outros membros da executiva da ABGLT: Yone Lindgreen, vice-presidente lésbica; Irina Bacci, secretaria-geral; Keila Simpson, vice-presidente trans; Léo Mendes, tesoureiro; e Tatiana Araújo, secretaria de direitos humanos.
Suplentes: Victor de Wolf ; Rafaelly Wiest e Carlos Gomes.
Conselho de Ética: Luana Marley; Weluma Cunha e Marcelly Malta
Conselho Fiscal: Fernanda Bevenutty, Leda e Denise Limeira
Diretores regionais:
Norte: Sebastião Diniz (Roraima) e suplência de Karen Oliveira (Rondônia)
Nordeste: Fernando Rodrigues (Pernambuco) e suplência de Celise Azevedo (Maranhão)
Sudeste: Beto de Jesus (São Paulo) e suplência de Soraya Meneses (Minas Gerais)
Centro-Oeste: Bruno Camilo (Goiás) e suplência de Lucélia Macedo (Mato Grosso)
Sul: Marcio Marins (Paraná) e suplência de Maria Guilhermina (Santa Catarina)
Reeleito para seu segundo mandato – e o estatuto da ABGLT não permite terceiro mandato – Toni deu entrevista, cobrando principalmente a prática de projetos já aprovados nas esferas públicas: “Nós precisamos que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre nossos direitos e que o Plano Nacional para Políticas Públicas, do governo federal, saia do papel. Se essas duas coisas acontecerem, eu entrego o próximo mandato, pois não posso mais me candidatar, de alma lavada”.
Segundo notícia na Cena G, ele também revela que pretende pedir um compromisso assinado com todos os candidatos à Presidência da República e incentivar que mais LGBTs se candidatem: ”Nós precisamos sair do noticiário de polícia para entrar no de política. Mas não basta ser LGBT e se candidatar, a pessoa tem que ter conteúdo e histórico”.
CARTA DA JUVENTUDE LGBTI ÀS/AOS PARTICIPANTES DA 5ª CONFERÊNCIA REGIONAL ILGA-LAC
Curitiba, 29 de janeiro de 2010
Nós, jovens LGBTI representantes da América Latina e Caribe, reunidos na 5ª Conferência Regional da ILGA-LAC, temos a missão política de organizar e garantir o verdadeiro espaço merecido e conquistado historicamente pela juventude, que sempre foi protagonista nos processos transformadores na América Latina e Caribe, tendo como importantes exemplos a revolução cubana e a luta contra os regimes ditatoriais em prol da democracia e das mudanças sociais.
Há dez anos, o Fórum Social Mundial já dizia: é preciso globalizar as lutas. Hoje, cada vez mais, vemos a necessidade da construção de uma unidade nas lutas de todo nosso continente, defendendo a promoção da cidadania plena de jovens LGBTI. Sem dúvidas, os debates travados nesta conferência apontam importantes caminhos neste sentido para a nossa juventude.
Enfrentamos hoje diversos problemas no tocante as nossas especificidades, sejam estas questões de cunho binário, étnico racial, identidade de gênero, acesso ao mercado de trabalho, inclusão de pessoas com deficiência, acesso e permanência à educação, bem como nas questões relativas aos direitos sexuais e reprodutivos.
Nesse sentido evidenciamos a violência contra nossa população como temática da qual não podemos deixar de pontuar. Vemos hoje, em nossos países, um verdadeiro patrocínio a chacina de nossa comunidade e uma repressão da livre expressão de nossa afetividade, especialmente quando relacionada a nós jovens.
É sabida a violência dirigida as jovens pessoas trans que são tolhidas desde cedo ao acesso a educação, mais tarde ao mercado de trabalho e a vida social, bem como sabemos que as nossas jovens lésbicas e mulheres bissexuais são violentamente vitimadas pelos conhecidos “estupros corretivos”.
Sabemos que é necessário ampliarmos os diálogos e ações referentes aos direitos da juventude de pessoas vivendo com HIV/AIDS no tocante ao exercício pleno de sua sexualidade, autonomia e cidadania. Como também é fundamental pensar políticas que incluam as/os jovens que vivem com deficiência, tais como os surdos, que presentes nesta Conferência nos mostraram a importância de sua participação para uma construção ampla sobre suas especificidades, baseadas no respeito e dignidade humana.
Para além da violência direta, também vemos como nossa juventude é disputada pelos mais diversos setores organizados da sociedade, como o mercado, o capital, as religiões e organizações sociais. Nessa perspectiva vemos como o modelo capitalista de sociedade de consumo direciona nossa juventude para um padrão altamente excludente, que acentua a reprodução da estigmatização, do preconceito e da violência, colocadas diariamente às jovens LGBTI, especialmente das comunidades, periferias e zona rural dificultando que todas e todos sintam-se parte integrante desta sociedade.
A juventude e, em especial a adolescência, é um momento de formação psicossocial, cultural e identitária do ser humano enquanto indivíduo, sendo este o momento onde as questões culturais, religiosas e familiares se implicam diretamente. O número de suicídios de jovens LGBTI é algo alarmante e precisa ser uma preocupação de todas nós latino-americanas e caribenhas.
É conhecida a dificuldade que nossas entidades e lideranças, em sua grande maioria, têm para investir e incentivar a formação de lideranças jovens, repercutindo de forma negativa na nossa luta e organização diária. Isto fica nítido ao observarmos nas delegações das entidades a reduzida quantidade juvenil.
Lembramos ainda que não possuímos um grau de parceria, articulação e colaboração entre as juventudes de nossos países, e até mesmo entre o movimento LGBTI e os diversos segmentos da juventude organizada, como mulheres, juventude do campo, negras/os, pessoas vivendo com HIV/AIDS e outras tantas.
Temos o desafio posto de construirmos uma juventude que integre todas as questões identitárias e não-identitárias, com uma politica que agregue, de fato, todas as pessoas na luta pela livre expressão de suas afetividades e não as distancie e segregue.
Necessitamos articular as lutas da juventude internacional. Queremos uma juventude articulada, integrada e que participe fortemente dos fóruns locais e internacionais, como o IGLYO. Construir uma juventude sem lesbofobia, trasnsfobia ou qualquer outra forma de preconceito e discriminação precisa ser nosso foco principal.
Precisamos investir na formação e empoderamento de nossas e nossos jovens, para além de cursos e seminários, colocando a juventude na direção dos processos e das entidades. É necessário reconhecer toda a história construída pelas nossas lideranças e referências históricas do Movimento, mas é necessário também olhar para o quadro atual, onde ainda precisamos encantar mais e novos lutadoras e lutadores para nossas fileiras.
Sabemos que o desafio posto não é pequeno, mas nós, jovens latino americanos e caribenhos aqui presentes, assumimos o compromisso com nossos companheiros e companheiras de militância de estarmos lado a lado transformando nossa cara e construindo uma juventude transgressora, militante, de luta, que vá para as ruas ganhar mentes e corações para um projeto de mundo. Um projeto que consiga pensar o ser humano como centro de nossas ações, que defenda a democracia como um bem, mas acima de tudo, que defenda o fim de todas as formas de opressão e exploração do ser humano sobre ele mesmo.
Saudações juvenis e libertárias.
LANÇAMENTO DO “MANUAL DE COMUNICAÇÃO LGBT”
Entre as muitas manifestações da V Ilga-Lac, um dos principais foi o lançamento do Manual de Comunicação LGBT, que faz parte de um trabalho que levou mais de dois anos pra ser concluído, levado a cabo pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), em parceria com jornalistas, pesquisadores e outras instituições, entre eles, Léo Mendes, Lilian Romão, Ferdinando Martins, Toni Reis, David Harrad e Liandro Lindner.
“Quando formado me lembro que um dia fui perguntar para colegas de profissão como deveria citar os homossexuais e me disseram que se era gay, era para colocar viado, para lésbica, sapatão e para as travestis, traveco”, afirmou Léo Mendes, ex-secretário de comunicação da ABGLT.
Léo lembrou ainda que o código de ética dos jornalistas proíbe a discriminação por orientação sexual e que é obrigatório o uso da expressão “identidade de gênero”. “É necessário levar o manual LGBT para os editores dos grandes jornais. Não queremos mais que se diga ‘o traveco’ o certo é a travesti”, finalizou.
O Manual é gratuito e será distribuído para os veículos de comunicação pelas entidades militantes em todo o Brasil.
“SOU TRAVESTI. TENHO DIREITO DE SER QUEM EU SOU”

No Dia da Visibilidade das Travestis, dia 29 de janeiro, conforme já noticiado aqui neste bloguinho, houve o lançamento, durante a V Ilga-Lac, da campanha “Sou travesti. Tenho direito de ser quem eu sou”, que visa promover os direitos das travestis e sensibilizar a comunidade para a prevenção de dsts e HIV/AIDS.
Para que serve essa sua “realidade”?
Raso realismo, o de vocês.
O argumento da experiência reservada
…………………….é um mau argumento
reacionário.
…………………….…..Gilles Deleuze
Leitores Intempestivos