“Uma greve política global de uma semana impediria qualquer guerra.” Toni Negri e Michael Hardt
Foto: Geert Vanden Wijngaert/AP
Os países europeus estão tentando resolver o problema da crise global que afeta a Europa – aquela marolinha que o futuro Nobel de Economia, Lula, tirou de letra no Brasil – colocando os custos às costas dos trabalhadores, conforme sempre foi regra desde os tempos dos antigos escravos, passando pela plebe medieval até o povo moderno.
Só que dessa vez, assim como a Globalitarização (Milton Santos) permite o controle global pelo poder, ao mesmo tempo prova de seu próprio veneno, como uma cobra que morde o próprio rabo, pois possibilita uma insurgência global. “Então, estamos em um período de movimentos sociais de uma natureza diferente, que terão um grande peso nas próximas semanas e meses”, como disse o líder do sindicato francês Force Ouvrière, Jean Claude Mailly.
A partir de meia noite de ontem, dezenas de milhares de trabalhadores e ativistas de toda a Europa se dirigiram para Bruxelas, na Bélgica, onde fica a sede central da União Europeia, que teve que ser protegida por milhares de policiais. Mas uma multidão de cerca de 100 mil manifestantes continuou avançando em direção aos órgãos oficiais apitando apitos e cornetas, batendo panelas, tambores e portando faixas com dizeres de resistência.
As manifestações se intensificam contra as medidas de austeridade de quase todos os governos europeus. Entre as principais medidas de penalização dos trabalhadores estão perda de diversos direitos trabalhistas adquiridos, a consolidação das imposições patronais e o aumento para a idade de aposentadoria.
Além da Bélgica, houve manifestações em diversas partes de vários outros países: Grécia, Itália, Irlanda, Letônia, Espanha, Portugal, Lituânia, República Checa, Chipre, Sérvia, Romênia, Polônia e França.
70% ADEREM NA ESPANHA
Foto: Cristóbal Manuel/El País
O país que teve ontem os protestos mais intensos foi a Espanha. Segundo os sindicatos espanhóis, 70% dos trabalhadores da Espanha aderiram ontem à greve geral, que compromete a produção das fábricas, no transporte e deixa a maioria dos serviços públicos suspensos. Voos em aeroportos de algumas regiões também foram reduzidos drasticamente.
Pelos números dos sindicatos foram à rua 95 mil pessoas em Madri e 75 mil em Barcelona. Juntando com Catalunha, Andaluzia, Valência e Alicante, chegou a um total de cerca de 200 mil pessoas. Nos diversos incidentes com a polícia, uma centena de pessoas chegou a ser presa, mas a grande maioria sendo liberada logo em seguida.
A greve e os protestos tendem a se acirrar, pois hoje está marcado para o primeiro-ministro José Luis Zapatero apresentar ao Parlamento seu orçamento para o próximo ano, apresentando medidas que ao mesmo tempo facilitam tanto a demissão de funcionários pelas empresas com redução de direitos quanto a contratação ‘facilitada’ de funcionários. Zapatero também segue a proposta de aumentar a idade mínima da aposentadoria de 65 para 67 anos.
O argumento dos grevistas de toda a Europa é que, além do retrocesso e perda de direitos, as medidas fazem é diminuir o número de empregos ao invés de aumentar, como apregoam os governos. “Vamos continuar a greve se isso for necessário para derrubar a reforma trabalhista, que ameaça tornar os empregos ainda mais vulneráveis”, disse o designer gráfico Alfredo Pérez em um piquete ao Norte da Espanha.
Os sindicalistas de toda a Europa dizem que essa greve é “a mais necessária entre todas as convocadas até agora na história”. E fundamentais para todo o mundo, acrescentamos.
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