Um dos grandes pressupostos da filosofia, principalmente em Marx, é o envolvimento com os falsos problemas. Na história, sociedades inteiras, grupos e indivíduos tiveram seus crescimentos e suas liberdades obstaculizados por terem cultuado falsos problemas. Muitos deixam os falsos problemas dirigir suas existências em função de não poderem criar para si uma existência autêntica. Seria a lógica: é melhor existir com falsos problemas do que com nenhum.
Nas últimas semanas, o governo federal, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário e a sociedade civil vêm se debatendo com o problema dos chamados documentos sigilosos do país. A questão está em se saber se o governo deve ou não tornar público esses documentos que tratam dos mais simples acordos do Brasil até as suas relações exteriores. Se o sigilo deve ser parcial ou total, ou se não deve ter sigilo. Ou seja, tudo deve ser publicado para que a sociedade seja informada das ações da história oficial do Brasil. E como dizem alguns: impedir que os documentos se transformem em conteúdos do WikiLeaks.
Pois eis que ao chegar ao Congresso Nacional, hoje, dia 30, para ser homenageado pela passagem de seus 80 anos, 8 de destruição do Brasil, mas de sua maior glória narcísica, Fernando Henrique, o “príncipe” sem principado, revelou a causa do falso problema que hoje é tema central das discussões ditas políticas nas hostes brasileiras.
“Foi sem saber. Era o último dia e tinha uma pilha de papéis para assinar”, confessou o “príncipe” sem principado que fora o criador do falso problema. Fernando Henrique assinou o decreto que garante sigilo “eterno” dos documentos oficiais. Um presidente que assinou um documento sem ler, como ele diz, “sem saber”, leva ao público “chavesano” (irmão do Chapolin Colorado) todo o direito imaginativo de dizer que foi “sem querer, querendo”.
Mas hoje, dia 30, para tirar as broncas, e limpar sua barra reacionária – que não vai limpar -, o “príncipe” sem principado disse que “essa garantia de segredo eterno já não é necessária”. Só que passaram mais de 8 anos para ele confessar a autoria do falso problema.
A confissão atrasada de Fernando Henrique só vem fortalecer o que se sabe dele desde os tempos da ditadura, quando ele explorava a fama de Lula para se projetar. Naquelas épocas já se sabia que ele era um vaidoso oportunista. E como poderia dizer o filósofo dos Afetos, Spinoza, que todo vaidoso tem uma ideia “superior de si mesmo”, o “príncipe” sem principado, quando presidente, tinha a ideia de si tão superior que, para si, ele era uma entidade deificada. Daí, tudo que fizesse estava certo. Por isso, como um “deus” assinava papéis sem saber do que se tratava.
Se Deus não falha, por que ele, Fernando Henrique, haveria de falhar?
Leitores Intempestivos