Voar sempre foi uma característica própria dos pássaros e do mamífero morcego. O homem também, sem ter penas, imaginou que pudesse planar. Ícaro, preso no Labirinto, tendo apenas o mar e o céu para fugir, orientado por seu pai, exímio construtor, Dédalo, junta muitas penas de aves que pousavam no local e as colam à roupa com cera. Dédalo orienta-o a não voar alto. Ícaro no prazer de planar esqueceu o conselho do pai e tendo a cera derretida pelo calor caiu no mar e como Ulisses que voou de helicóptero “pulou o muro”. Esse local onde caiu e foi sepultado pelo pai, ficou conhecido na Grécia, como Icária.
O homem continuou seu projeto de voar. Cruzar mares, montanhas. Inventaram o avião. Os brasileiros ufanisticamente dizem que foi Santos Dumont. Os franceses falam que foram eles. Leonardo da Vinci também já havia projetado.
De certo ou errado ou errado e certo, os aviões estão ai e quem consegue uma grana para voar, voa. Quem não tem grana anda de ônibus, barco, voadeira ou “rabeta” mesmo.
A última semana de junho foi pródiga em voos nacionais e internacionais. De avião, é claro. Políticos e familiares, Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro da previdência, Evo Morales, presidente da Bolívia foram os personagens envolvidos na arte icárica.
Um desses estava realmente em missão, trabalhando. Mas os outros, em pleno glamour. Glamour para assistir a uma pelada no Maracanã entre Brasil e Inglaterra utilizando verba do Tribunal para esse fim, embora o Tribunal em nota justifique que a residência do presidente do STF situe-se no Rio de Janeiro e que ele sempre vai à sua casa.
Mas como explicar a recepção de Luciano Hulk, apresentador da Rede Globo e sua excelência assistir ao jogo do camarote do global. Está vindo a público que o filho do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Felipe Barbosa foi contratado para trabalhar na Rede Globo de Televisão. Joaquim Barbosa, paladino da moral, defensor ferrenho pela condenação dos envolvidos na falácia chamada Mensalão, que moral terá agora para os condená-lo. Voando foi ao Maracanã e voando sua possível candidatura à presidência da República defendida pela direita reacionária tendo a Rede Globo como sua principal cabo eleitoral, cai no mar, e o local onde “pulou o muro” ficará conhecido como Barbosária.
E a grana pública continuou voando. Trancoso, na Bahia foi seu destino. Renan Calheiros foi ao casamento da filha de Eduardo Guerreiro de Sempre Braga. Total da fatura: R$ 32.000,00. Jato da FAB.
Checkin para o Presidente da Câmara dos Deputados. Outro que voou. E a FAB vai instaurar inquérito para apurar responsabilidades. Destino: Bahia de todos os Santos.
Garibaldi Alves, Ministro da Previdência também voou. Bastante cansado de calcular benefícios resolveu se beneficiar e foi ao Maracanã também ver os pernas de pau do Brasil vencer a sonolenta Espanha que resolveu igualar-se aos pernas que cupim rói.
Agora entra o império. Portugal, Espanha, França e Itália, no dia 4 de julho negaram pouso ao avião do Presidente Evo Morales por desconfiarem que o mesmo, procedente de Moscou transportasse o norte americano, Edoard Schowden, revelador de segredos norte americanos, refugiado em uma área neutra no Aeroporto de Moscou. Custava a esses países terem permitido o pouso como fez a Áustria e vistoriá-lo? Por tratar-se de um avião presidencial e em missão diplomática não era necessário isso, pois tratava-se de um bem internacional assim como é uma embaixada e que transportava seu presidente.
Negar pousou a um avião, seja lá qual for, desde que não ofereça perigo, constitui-se num atentado. Num atentado terrorista, como alguns narradores vem classificando o assunto.
É um tema que a OEA estará tratando no próximo dia 09 em reunião da organização e que será transmitido ao vivo.
Portugal e Espanha, senhores da América, exploradores, sucateadores, não perderam o ranço colonialista e dão demonstrações de que o império, embora combalido, permanece vivo na consciência de governos autoritários e terroristas, também.
Pra finalizar. Um possível candidato que a direita reacionária sonhava, acabou de morrer. O que falará agora, serão, como diz o ditado popular, “favas contadas” e terá seu nome incluso nas passeatas, se ainda as houver, para o funeral de um presidente.
Um último voo. Um avião 777, da empresa Asiana, procedente da Correia ao pousar no Aeroporto de São Francisco, na Califórnia, dia 06, sábado, pegou fogo.
Nossos aviões e nossa grana não pegaram fogo, mas os políticos e demais funcionários que usaram aviões e a grana pública vão ter que se explicar bastante e passarão para a história como desconhecedores das leis que orientam o funcionário público daquilo que é permitido e o que não é permitido, como por exemplo, voar em avião da FAB e utilizar cotas de serviço, tão comum no Brasil, mas que deve acabar.
Leitores Intempestivos