O livro O Príncipe da Privataria do escritor Palmério Dória, autor do consagrado best seller Honoráveis Bandidos, com mais de 130 mil cópias vendidas, apresenta um apanhado e análise das trajetórias do ex-presidente da República Fernando Henrique, figura principal do partido de sustentação da burguesia-ignara, porta-voz do que há de mais reacionário no Brasil. O livro que já se manifesta em 17 mil cópias distribuídas em livrarias certamente não reacionárias, é mais uma maravilha literária/política com a mesma força do livro de Amaury Ribeiro Junior, Privataria Tucana, que balançou as estruturas de edifício carcomida da expressão multifacetada do conservadorismo brasileiro que vai da mídia, passando pelo Parlamento, e o mundo empresarial. Além do universitário.
O livro que foi assediado por inimigos para que ele não fosse editado, fato que o editor da Geração – responsável por sua publicação – Luiz Fernando Emediato, não deu qualquer bola, traz, além de episódios marcantes da funesta carreira política de Fernando Henrique, como a venda da Vale, as tentativas frustradas de outras privações de empresas estatais – boas frustrações que serviram ao Brasil -, como a Petrobrax, personagens chaves nas tramas como Ricardo Sérgio de Oliveira, José Eduardo de Andrade Vieira, dono do Bamerindus, Bresser Pereira, além de outras feridas narcísicas do príncipe sem reino, como sua dupla reprovação na tentativa de entrar para o colégio militar, assim como sua reprovação no vestibular para Faculdade de Direito da USP.
No mapa de referenciais antipolíticos, o autor Palmério Dória, narra, com sua verve brechtiana, o recurso sórdido posto em prática por Fernando Henrique, através de seu ministro das Comunicações Sérgio Mota, e sua trupe com a compra de votos – sem eufemismo: compra de parlamentares – para conseguir o direito à reeleição à Presidência da República que segundo o senador Pedro Simon a mais 150 deputados. Na verdade, uma violência que rasgou a Constituição. Fato que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já havia denunciado na época, mas que foi capturado pelo jornalista da Folha de São Paulo, Fernando Rodrigues.
Fernando Rodrigues se aproximou de Narciso Mendes, depois alcunhado por ele de Mister X, que nasceu no Rio Grande do Norte, passou por Belém e fixar residência no Acre. Ele foi o responsável pelas gravações das falas dos deputados-venais quando afirmavam seus compromissos de capitalizações dos votos. A corrupção democrática. Os conteúdos testemunhas das gravações foram realizados por um gravador cedido pelo jornalista ao, hoje, ex-Mister X, visto que sua identidade já é por demais conhecida.
Pela nossa parte aqui do Norte, o importante da sordidez revelada pelo escritor Palmério Dória, é a sujeira a-histórica referente às participações dos politicofastros – pseudos político – Orlei Cameli, governador do Acre e Amazonino Mendes, governador do Amazonas, esse considerado por Toninho Malvadeza e Fernando Henrique como o Imperador do Norte. Amazonino foi um dos mais atuantes nessa trama capitalista suja que maculou a democracia nascente no Brasil. Sua atuação foi propagada em todo o Brasil, mas ele como um bom burguês – antes se dizia comunista, assim como muitos que também se autoproclamaram por causa do charme que Marx concedia aos simuladores – sequer franziu a testa. Não mostrou qualquer ruga, como poderia dizer Brecht.
Um signo-capitalista comovente na transação corrupta era o preço de cada parlamentar. Cada parlamentar – traindo seus eleitores – cobrava a mera quantia de 200 mil reais. E ainda pago em cheques. Triste, aquele Parlamento – como o dos nossos felicianos. A lógica dos cheques era: votou, trocou. Depois, por causa das reclamações, o pagamento passou a ser com dinheiro. “Os deputados saiam com sacolas de dinheiro”, como afirma Palmério Dória. O escândalo foi tamanho que tentaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas como o escândalo era do próprio Parlamento com o Poder Executivo, o escândalo se descandalizou: a CPI abortou.
Como se diz no jargão popular: o livro O Príncipe da Privataria é um convite à leitura para todos que pretendem conhecer com mais detalhes a história recente do Brasil. Ainda mais com a aproximação das eleições de 2014. Ainda mais, do mais, quando se sabe que esses personagens nefastos ainda rondam a cena política. Ou diretamente ou apoiando os com quem eles se identificam.
É hora de ler para ver!
O livro: O Príncipe da Privataria.
A editora: Geração Editorial.
O preço: R$ 39,90.
Leitores Intempestivos