Práxis democrática conduz o homem/político ao entendimento que as generalizações não combinam com a realidade social. Todos os juízos devem ter como suporte uma lógica da adequação entre os sujeitos/políticos para impedir a proliferação da irracionalidade. O conceito de médico-burguês deve ser entendido dentro dessa assertiva. O médico-burguês é aquele que tem o mínimo – ou nenhuma – dimensão política ou, talvez, a de que se encontra inserido – sem saber – em sociedade. Seu entendimento da dimensão humana é estranhado – estranhado, como diz Marx – daí ser um ente defensor da medicina privada contra a medicina comunitária. Ele burguês, porque, alienado, faz da prática médica um recurso comercial, uma fonte de lucro. Para ele as doenças são mercadorias que devem ser entendidas como objetos de lucros. Daí, ele se encontrar bem informado sobre as novas informações-monetárias do mercado das doenças. Além dessa prática, ele é aliado dos laboratórios e empresas que exploram as doenças. Empresas comerciais das enfermidades.
Sujeitado á esses valores capitalista/médico ele jamais teria a iniciativa-racional e comunitária que teve a médica oftalmologista Kátia Marquinis de 39 anos. Kátia recusou continuar trabalhando em hospital privado, como especialista, para se inscrever no Programa Mais Médicos do governo federal tão combatido pelos médicos-burgueses privados da dimensão politica. Kátia como médica especialista, agora trabalha na periferia de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na Unidade Básica de Saúde (UBS), do bairro Batistini.
“O Mai Médicos me despertou a atenção logo no início. Fui ler a respeito, entender direito o que é o Pacto pela Saúde. E percebi que faz mais sentido quando é visto no conjunto. Aí pensei: é nessa que eu vou. Quando eu estava terminando a faculdade, cheguei a procurar informações para ir pra África, de preferência atuar em um país em guerra. Não fui porque não poderia ficar pelo tempo mínimo necessário; eu estava para prestar residência. O plano acabou meio adiado, mas aí veio o programa federal, sem que eu precisasse sair do meu país. Não preciso ir para fora, porque faltam médicos aqui. Precisamos dos “brasileiros sem fronteira”. Comecei a pensar: se a gente está precisando de médicos na periferia de cidades ricas não se consegue contratar, imagina nos extremos do país? Como eu já tinha em mim essa vontade de um trabalho humanitário, resolvi aderir.
Saí do hospital para me focar no Mais Médicos. Eu já estava ali havia 10 anos, e queria mudar de vida; já tinha essa coisa em mim. Minha família apoio. Todos me apoiaram. Quando você faz uma escolha e as pessoas estão vendo que te faz bem, elas apoiam.
A UBS aqui, no bairro Batistini, tem uma estrutura boa, equipe de saúde da família completa, tem medicamento. Ali se coloca na prática o que o SUS tem de ser. A impressão que tenho é que o SUS vai chegar a sua plenitude ali. Tudo muito limpo, padronizado, tem equipe de saúde bucal, funcionários atenciosos com a população, entrosados com a comunidade. Fui muito bem recebida. A gente sente que não é uma consulta só, que a gente vai acompanhar o paciente por um bom tempo.
Tenho participado de curso de formação continuada. Dia desses tive palestras de atualização sobre saúde da mulher. Há previsão de cursos para o ano inteiro. A jornada e de 40 horas semanais e vou receber uma bolsa de R$ 10, que não deixa nada a dever a muitos salários pagos no país. O programa prevê ainda, outros benefícios, auxílio refeição, como auxílio moradia, capacitação permanente. Só estou me dedicando ao programa. Deixei tudo para me dedicar a ela (…).
Cho que esse programa pode ser prorrogado. Fiquei contente de ver o ministro falando esses dias no Congresso que é um programa apartidário, o que me faz pensar que é uma política de Estado. Isso me deixa muito feliz. E fico contente de saber que a gente vai chegar onde precisa chegar, que é aos milhões e milhões de brasileiros que não tinham acesso à saúde, a nada”. Considerou analiticamente a médica Kátia Marquinis.
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