Praticantes da umbanda, candomblé, macumba e ativistas da defesa da cultura afro-brasileira, se reuniram em uma festa de exaltação às cores, sons, danças e iguarias da África em cada um de nós. O objetivo, além de realizar parte do calendário, foi expressar junto à comunidade manauara a potência dos elementos culturais afro.
O blog Afinsophia.com esteve presente com seus representantes cibernéticos e ouviu os enunciados de alguns presentes sobre suas atuações e a importância do culto as expressividades negras.
Segue as falas cada um do grupo.
“Eu trabalhei no MEC [Ministério da Educação] como diretora de diversidade, junto a lei 10639 com a educação etnoracial. Depois fui para presidência onde trabalhei na SEPPIR- Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e agora voltei para o meu estado, o Espirito Santo, onde sou secretária de estado trabalhando na gestão. Dentro da minha secretaria tem a gerência de políticas públicas de igualdade racial. Nós temos umas coisas que o Amazonas ainda não tem como o Conselho estadual de promoção da igualdade racial, e umas políticas que avançaram um pouco mais. A gente veio fazer um diálogo com todos para ver se as coisas andam por que está tudo muito parado. Ontem viemos fazer uma conversa com as meninas do hip-hop e da capoeira e hoje viemos prestigiar o bloco, ver como as coisas vão andar para ver o que podemos articular , fazer as coisas acontecerem para poder ver as pautas de políticas públicas se instituírem. O que estamos vendo em Manaus é a pauta sendo tocada pelos movimentos sociais por que o governo não tem tocado nesta pauta etnoracial e o governo só anda sobre pressão. É muito importante que haja uma instucionalidade e vire política pública senão é muito difícil. E é lei, o Ministério Público tem que vir também fazendo a parte dele de cobrança, multa. O evento deste é importante para a questão da auto-estima, para as pessoas se reconhecerem, conviver melhor com sua negritude, ter este diálogo necessário por que geralmente as pessoas ficam muito separadas e também é o início de uma atividade coletiva que pode levar a outras atividades necessárias.” Leonor Franco de Araújo Sub-Secretária dos Movimentos Sociais do Espirito Santo.
“Sou mestrando em sociologia, professor de capoeira afastado, coordenador da Rede Amazônia Negra no Amazonas e estamos nos organizando hoje politicamente nesta discussão sobre o que se refere a cultura negra. Trabalhamos isto há tempos numa luta, onde nós precisamos mais do que nunca nos organizar, não só politicamente mas até religiosamente. Há lutas religiosas para que exista o Espaço sagrado dos Orixás para que haja nosso direito de ir até a natureza pra fazer o nosso culto que precisamos mas com preservação. Eu concordo que Manaus cresceu, explodiu 30 anos pra cá, mas em sua maioria o povo de santo não acompanhou a explosão e a cidade engoliu as casas de terreiro, assim como engoliu os lugares sagrados, tribos indígenas… Hoje queremos ter um espaço para que as pessoas possam fazer suas oferendas, o Espaço Sagrado ligado a sustentabilidade. Em 2006, eu e vários babalorixás e ialorixás fechamos a câmara municipal brigando por um espaço nosso, o Parque dos Orixás e o projeto não entrou em tramitação por que o estado pensa que ele não pode dar espaço algum pra entidade religiosa que é nosso caso, sendo que o que mais tem é áreas públicas sendo invadidas por pessoas de outras religiões“ Balalorixá Marlon Seabra.
“Fui feita no Rio de Janeiro, mas hoje sou filha de santo do Pai Geovano de Oxaguiã. Acho importante aqui esta renovação, tem muita coisa acontecendo . Vejo que as práticas também tem que ser preservadas por que hoje a tradição está sendo estilizado de acordo com que as pessoas pensam. O candomblé não tem que se adequar ao comportamento, o comportamento é que tem que se adequar ao candomblé por que é lá que a gente aprende a respeitar os ensinamentos que o candomblé passa e isto está sendo deturpado. Eu quero resgatar as paramentas originais, com o tempo que você tem pra confeccionar e preparar um Yaô, as roupas de ração tem que ser caracterizadas pela tradição. Eu sou a favor da construção das paramentas no momento em que você vai recolher. Ai como psicóloga confronto esta produção com a questão da terapia ocupacional. Além disso quero pesquisar o comportamento do filho de santo na sua casa.
Também, se nós estamos preocupados com a sustentabilidade e meio ambiente cabe as pessoas de todos os terreiros discutimos as práticas e oferendas, mas também fiscalizar. O que é preciso? Vamos discutir o que é preciso. Cada barracão tem que ter sua comissão formada pela hierarquia. Eu não tenho medo por que eu sei a raiz que eu vim, eu sei da importância da religião, da descendência desta ancestralidade, eu sei exatamente o que eu quero dentro do axé e o que a partir dele quero tentar desenvolver. Mas não sei das brigas que vão vir pois tudo é momento e oportunidade. Acho que o primeiro passo é este encontro e antes de tudo temos que congregar.”
Ialorixá Jhett Frota esposa do babalorixá Antônio D’andeú.
“Sou de Recife e vim trazer minha força junto ao Ganga Zumba quando fui convidado. Faço trabalho social e faço parte da casa Ilê Axé Oxum Agemum Iá Lê Mim de Mãe Nete e Pai Léo, e lá fazemos trabalho com cultura como coco de roda, oficina de costura, de corte de cabelo, dança afro, Bloco do viramundo (que sai agora dia 16),grupo de coco Chinelo de Iaiá, Coco de umbigada, e lá a casa não para, sempre agitando e tentando resgatar as raízes. Lá toda terça-feira tem a terça negra com grupos de afoxé, maracatu, hip-hop no pátio de São Pedro. Vim aqui compartilhar experiências e presenciar e ver. Percebi que o racismo aqui está mais forte que lá, tem racismo até dentro das casas de terreiro que tem aqui. Um evento deste fortalece muito e mesmo sendo trabalho de formiguinha, é um começo que o pessoal tem que insistir. E tem que começar dentro da casa mesmo, fazer com que os tomates podres não estraguem a caixa toda. Mas aqui se eles lutarem, criando eventos“ Jurandir de Recife
Grafiteiros participantes dos dois dias de eventos: Tiao da Bahia, Denis, Vanderlan, Sub, Brook, Atena, Kizy, Ina, Arab, Nois, as crews 3R, UDS (Usuários do Spray), GF (Guerreiros de fé), VAN (Violência Artística Nacional).
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