O filósofo alemão Nietzsche em sua obra Origem da Tragédia, pergunta: “O que é o espírito dionisíaco?” Ele responde: “É a alegria, a vontade, a saúde exuberante e o excesso de vitalidade”. Em sua outra obra A Visão Dionisíaca do Mundo, ele afirma que “as festas de Dionísio não afirmam apenas a ligação do homem entre os homens, elas também reconciliam homem e natureza”. E em outra parte da obra, ele demonstra que “o caráter artístico dionisíaco não se mostra na alternância de lucidez e embriaguez, mas sim em sua conjugação”.
Analisando sua obra e compreendendo seu modus de ser não como não perceber a vontade de alegria, a vitalidade criativa e a reconciliação homem natureza dionisíaca em Ariano Suassuna. Por onde transita, Ariano Suassuna, sopra a potência do cômico criador e transformador que nos oferece o deus da vida: Dionísio. Ele soube como capturar seu espírito e seu caráter artístico que servem às vibrações do existir.
Todas suas obras carregam potências alegres necessárias para se conjugarem como bem do existir. Elas também são encontradas em suas formas pessoais de relação com os outros. O socialismo que ele carrega mostra claramente essas potências alegres que propiciam aos homens, em comunalidade, a vitalidade do viver. Não se trata de uma ideologia regrada e sedimentada, mas uma cartografia de desejos produtores de forma de existências coletivas alegres. Daí porque Ariano Suassuna encontra-se sempre disposto aos outros como amigos.
Suas conversas, os causos que apanha e despacha, suas aulas dionisíacas são referendos à sua criatividade cotidiana. Nascido na Paraíba, mas habitante de Pernambuco, porém sua estética existencial não se territorializa. Salta sempre em desterritorialização produtiva. Não há como fixá-lo, porque há em sua “saúde exuberante”, “o excesso de vitalidade” que impede que seres como ele transmutem-se em sujeitos de habitação. Essa sua prova pública de seu “caráter artístico”.
Para um homem como Ariano Suassuna, as honrarias não lhe afetam, e não lhe causam orgulho. Suas criações são seus meios ontológicos de confirmar a existência. Chegam e se distribuem em outras composições singulares convidadas pelas pessoas. João Grilo, O Auto da Compadecida, O Santo e a Porca, Uma Mulher Vestida de Sol, A Farsa da Boa Preguiça, Romance d’A Pedra do Reino, outras, são meios ontológicos de celebrar dionisiacamente a vida.
“Quem são os homens mais do que a aparência do teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida”, diz Suassuna.
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