Na filosofia da diferença o sujeito individual desaparece engolido pelo predicado, o representante da representação desaparece, o tipo personológico desaparece, emerge o sujeito do enunciado. O sujeito produzido por um agenciamento coletivo de enunciação que pode ser sujeito-molar e sujeito-molecular. O sujeito-molar é produto da imagem dogmática do Estado capitalista paranoico onde o lucro é perseguido em todas as suas facetas e conta com uma moral de classe dominante. Já o sujeito-molecular escapa dessa imagem dogmática do Estado capitalista e, como movimento esquizo, processa outras formas de sentir, ver, ouvir e pensar.
O sujeito-molar faz uso, em seu benefício, de todas as aberturas que a democracia representativa oferece. Já que democracia representativa é um corpo em que muitos fluxos de desejos coletivos são imobilizados por forças opressivas molares que são as aberturas que o sujeito-molar usa para seu proveito. É fácil de entender que o sujeito-molar é o conhecido reacionário, retrógado, revanchista, covarde, ambicioso, trapaceiro, golpista, vaidoso, egoísta, hipócrita, bajulador, corrupto, desonesto, simulado, dissimulado, etc., todos os que dizem Não a vida. Muito diferente do sujeito-molecular cujos fluxos de desejos estão sempre em movimento como Sim a vida. Principalmente a vida coletiva.
É assim que a subjetividade da imagem dogmática do Estado capitalista dominante se relaciona com a democracia representativa permitindo que todas as sortes de elementos capturados molarmente se aproveitem de situações que dizem respeitos as suas ambições individuais. Pode-se, então, inferir que um membro de um partido político A seja igual – não existe igualdade, mas nesse caso a regra desaparece – ao membro do partido político B, C, D,..Z. Ainda mais quando surge sinal de possibilidade concreta dessa igualdade.
No Brasil atual a sociedade experimenta, de maneira explícita, essa igualdade no Congresso Nacional. Todos os partidos de direita estão unidos em só objetivo: depor Dilma da presidência da República usando o clichê da corrupção como objeto não-desejante, já que as direitas são inóspitas de desejo, posto que desejo é produção do novo como movimento, fluxo livre. Nada que seja da existência das direitas.
E um dos articuladores do golpe é o presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB/RJ) que já foi denunciado cinco vezes por delatores presos na Operação Lava Jato e denunciado pela Justiça Suíça de ter quatro contas, junto com membros de sua família, nesse país. Contas, já bloqueadas. Além de ter sido denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por ter recebido 5 milhões de dólares de propina, segundo o delator empresário Júlio Camargo.
Antes de Eduardo Cunha ter sido eleito por seus pares, presidente da Câmara Federal, ele já carregava vários processos em sua biografia-molar. Reacionário e fundamentalista, o cargo lhe conferia, ilusoriamente, força e respeitabilidade que precisava para simular ser democrata. Ilusão que capturou outros iludidos que viram na ilusão de Eduardo Cunha possibilidade de concretizar seus interesses. E um desses interesses é exatamente o impeachment da presidenta Dilma.
Assim a igualdade da subjetividade-molar ficou expressa através dos golpistas, Aécio, o ressentido derrotado, Carlos Sampaio, Caiado, Albert Goldman, Serra, Roberto Freire, Agripino Maia, Pauderney Avelino, Arthur Bisneto, Cassio Cunha, Fernando Henrique, Martha Suplicy, entre dezenas, segundo o próprio Eduardo Cunha. Uma igualdade que nos leva a acreditar que se a Esfinge não quis tirar sarro, baixou nela uma fraqueza epistemológica, visto que suas interrogativas sempre foram as mais inteligentes e misteriosas. Verdadeiros enigmas.
Quando Édipo andava impulsionado pelo “destino inevitável”, segundo Freud, e chegou diante do portão da cidade de Tebas, onde a bela e inatingível Esfinge se encontrava em cima, ela, deusa dos enigmas, lhe fez a inteligente e misteriosa indagação: “Qual o animal que pela manhã anda de quatro patas, ao meio dia de duas e à tarde de três?”. Édipo como era inteligentíssimo e conhecia sua própria tragédia, e não era membro do Congresso Nacional brasileiro, respondeu sem pestanejar: “O Homem! Quando criança, adulto e na velhice”.
Embora todos os golpistas sejam edipianos, porque acreditam no poder como representação-paterna que lhe pode proteger e lhe prover de significado de valor, é lógico que se esse enigma da Esfinge fosse perguntado a eles, não saberiam responder. Como também não sabem responder a pergunta da Esfinge: ”Diz-me se andas com cunha que golpistamente direi quem és”. Não sabem responder não por que é um enigma. Até o que anda de quatro patas sabe que não é um enigma. Mas, porque estão unidos, intrínseca e extrinsecamente pela igualdade. E onde há igualdade não há variável que possa auxiliar na análise do corpo-igualdade, já que todos são um: Eduardo Cunha.
Porém, os que não andam com Cunha sabem quem são os que andam com ele. E a Esfinge bate suas asas aplaudindo!
Leitores Intempestivos