O movimento da antipsiquiatria se manifestou na década de 60 como um devir-político contrário aos principais fundamentos da psiquiatria ortodoxa e a psicanálise que reduziam seus fundamentos aos diagnósticos classificadores que rotulavam os pacientes qualificados como loucos relegando-os a produtos do complexo de Édipo. Ou seja, as psicoses se fundamentam na cena triangular. Assim, como também, o fator narcísico. Diagnosticar, rotular, confinar afastando o louco como ameaça social.
Os dois grandes antipsiquiatras dessa década são o sul-africano David Cooper e o inglês David Laing que apresentaram seus trabalhos impulsionados pelos conceitos dos filósofos Marx e Sartre, sem deixar de lado as formas de expressões das artes como o teatro, a música, a pintura, a literatura, a poesia o cinema, entre outras que fundamentos para conhecer as relações interpessoais e suas manifestações. Como ocorre sempre quando um devir-político se manifesta os dois foram muito contestados. Mas não adiantaram as contestações. Seus novos conceitos antipsiquiátricos tocaram no dogma da psiquiatria ortodoxa e na psicanálise.
Paralelamente ocorria o movimento da desinstitucionalização dos hospitais psiquiátricos comandados por Franco Basaglia com sua Psiquiatria Democrática Italiana que se espalhou pelo mundo, chegando até ao Brasil com grande força de mudança. É um movimento que até hoje se encontra em ação. Livrar o paciente das garras perversas da institucionalização psiquiátrica para ele se tornar, também, sujeito responsável por sua cura. Se que ele é um doente, já que, como diz Marx, as instituições sociais no sistema capitalista são manifestações patológicas.
Também ainda na década de 60, mas se mostrando com maior clareza e textura na década de 70, os filósofos Deleuze e Guattari realizaram com a obra O Anti-Édipo a revolução que tocou fortemente nas raízes da psicanálise principalmente em seu dogma maior o Complexo de Édipo, a menina dos olhos de Freud que sem ela nem Freud e nem a psicanálise existiriam. Como eles mesmos mostraram no desdobramento do Anto-Édipo, com a obra Mil Platôs, trata- se da verdadeira filosofia política. Tudo é uma questão de política. Até a antipolítica praticada no Congresso Nacional brasileiro.
Como é possível entender, os três movimentos se assemelham em um enunciado: enfraquecer o poder de rotular para imprimir nas pessoas rotuladas o conceito-discriminador de louco ou anormal. Uma forma de alienar e excluir pessoas de suas condições existenciais. Um recurso não muito visível usado pelo capitalismo para tornar a sociedade um mundo das aparências, mas que Marx com sua perspicácia tornou visível. Daí porque todos os três movimentos têm relação direta com o pensamento do filósofo Mouro de Trier.
Entretanto, existem alguns sujeitos-sujeitos que têm comportamentos que obrigam a comunidade a recorrer a alguns conceitos da psiquiatria com o propósito de torná-los mais visíveis, no meio em eles se alocam para que essa comunidade se resguarde das ameaças que esses sujeitos-sujeitados representam contra ela. Foi nessa situação que o engajado, honrado e atuante deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), recorreu ao conceito psiquiátrico de sociopatia para revelar a sociedade brasileira a síndrome Eduardo Cunha.
“Eduardo Cunha é um homem vil, ordinário, um sociopata, que praticamente colocou o Brasil a beira por interesses pessoais. Ele saiu do controle, da medida, hoje ele virou um problema. Ele deve ser cassado e preso em decorrência dos crimes que vem praticando há muito tempo”, diagnosticou Wyllys o Cunha.
O conceito psiquiátrico de Jean Wyllys sobre Eduardo Cunha sai de alguns sintomas que o deputado investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e em processo de cassação no Conselho de Ética na Câmara Federal por quebra de decoro parlamentar, apresenta em seus comportamentos.
- Ele mente compulsivamente.
- Não respeita as normas sociais que estabelecem as formas de comportamentos das relações entre os homens em sociedade.
- Não apresenta qualquer sinal de remorsos resultante de seus atos prejudiciais ao meio em que se encontra.
- Tem impulsiva e compulsiva disposição para agir só em seu benefício.
Jean Wyllys diagnosticou Eduardo Cunha, mas não diagnosticou outros que lhe auxiliam em suas ações antidemocráticas, visto que ele sozinho não teria toda essa performance que apresenta. Esses outros também mentem compulsivamente e devem ter sido eleitos em seus estados através da mentira e a mentira partidária é mentira social. Mentira que atinge a sociedade. Ao mentir eles não apresentam qualquer remorso, já que seus comportamentos saem da disposição impulsiva e compulsiva para agirem em seus benefícios. E aí se encontram todos os golpistas, visto que esse golpe é anticonstitucional, mas eles não sentem qualquer remorso diante de seus interesses. Logo, no sentido político, o sociopata é o anormal da democracia. Conceito político que certamente Cooper, Laing, Basaglia, Deleuze e Guattari não negariam.
Mas Jean Wyllys não deve se desesperar, assim como milhões de brasileiros que cogitam o mesmo, Eduardo Cunha, segundo informações correntes, a Procuradoria-Geral da República (PGR) tem em sua disposição documentos que podem tirar Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal, já no começo de janeiro.
Não precisa nem esperar “quando o carnaval chegar”, como diz o filósofo da música brasileira Chico Buarque.
Leitores Intempestivos