É muito simples de entender, mas impossível de compactuar.
No prólogo-apologia do segundo volume de sua obra, Humano, Demasiado Humano, escrita entre os anos de 1879 e 1880, Nietzsche, o filósofo da vontade de potência, afirma: “Devemos falar apenas do que não podemos calar; e falar somente daquilo que superamos – todo o resto é tagarelice…”.
Vivemos (na verdade, simulamos) na obscenidade do tagarelar, onde Nietzsche é desconhecido para uns e esquecidos por outros. Claro, para que inatividade ontológica seja tida como lógica existencial. A profusão da ausência de linguagem e comunicação que impossibilita o existir ontológica. Uma desrrealização promovida pela mídia-burguesa-analfabeta-política, e, em parte, pelas chamadas redes sociais onde essa profusão é mais profusão do tagarelar, nos diz o filósofo Baudrillard.
O tagarela, Leandro Karnal, sem saber que a história não existe sem produção do novo, se dizendo historiador, mas, por glamour, querendo ser tido por filósofo, fez da mídia alienada seu ninho defensivo e conquistou vários incautos com sua exuberante técnica de tagarelar. Entremeando seu tagarelar com citações de pensadores que chagaram ao terceiro grau de inteligência, como diz Spinoza, ele conseguiu fundir em si a imagem necessitada pelos incautos. Fundida a autoimagem extraída do encanto do incauto, ele se tomou como importante e necessário para a opinião pública acima de qualquer dever com seu tagarelar inchado por corpos éticos pessoais.
Como tagarela, Karnal, não poderia suspeitar de si mesmo e que um ato seu levaria seus encantados incautos a lhe desferirem exuberantes aversões contra sua exuberante tagarelice ocultadora de sua pseuda intelectualidade e eticidade (só um toque filosófico: o filósofo Deleuze se toma como um filósofo com pouca erudição). Karnal, impulsionado por seu tagarelar se transmutou em um protótipo de carne afastado de sua marquetizada intelectualidade e ética acima de qualquer suspeita.
Karnal participou de uma regabofe com Moro, o perseguidor de Lula e o mais contestado representante do corpo judiciário que a memória social brasileira tem. Um direito seu. Só que em função de seu tagarelar ele tinha (agora, para os incautos não deve ter mais, a não ser para os mais reificados abstraídos) um compromisso existencial-intelectual-ético, mesmo simulado, com seus incautos, mas ele mandou às favas, porque estava sobre o domínio da carne.
Em seu estado carnal mostrou que não entende nada de Spinoza, apesar de citá-lo continuamente em seu tagarelar: a carne em forma de comida e bebida junto a Moro revelou aos seus encantados incautos o que Karnal realmente não pode esconder: alguém que tagarela, porque não superou o que tagarela.
Nesse encontro não-spinosiano (para Spinoza só há encontro quando há aumento da potência de agir, o que eleva o homem como ser que persevera na existência), Karnal negando Nietzsche, afirmou Brecht: “Primeiro a barriga depois a moral”. Ou, como diz o filósofo Chico Piracema, falando pela voz do povo, “a carne é fraca”.
Karnal vem tentando pedir desculpas, mas ele não sabe, em seu tagarelar, que a desculpa, como diz Nietzsche, não passa pelo sistema nervoso central. Desculpa, como diz Spinoza, é superstição, o mais baixo grau de inteligência. Os corpos fundamentais que promovem os maus encontros. Encontros que baixam a potência de agir, e são expressados como afecções tristes. Ideias inadequadas em forma de paixão. Tudo coisa de Spinoza que Karnal não pratica, mas arrota a maior abacaba* usando seu nome.
Karnal, em sua fraca carne, diz que quer um regabofe com Lula e Ciro. Com o rega degenerou, porque Lula não faz maus encontros. Em Lula a potencia de agir se encontra sempre aumentada, porque ele só produz bons encontros. Com Ciro talvez seja possível, já que Ciro mostra sempre que é dominado por afetos tristes. Não foi por acaso que ele pertenceu a turma do Fernando Henrique. Não é por acaso que ele sempre se expressá impulsionado pela paixão triste: comigo é na porrada.
Karnal se mostrou como é, porque em sua pseuda erudição, não recorreu ao sentido do conceito carnaval: carne vai. Se tivesse recorrido teria se livrado da carne e não teria desencantado seus incautos crentes. Mas foi melhor assim: ele revelou sua importância como convêm ao golpe.
*Abacaba é uma palmeira da Amazônia que produz um fruto saboroso muito usado para fazer o conhecido vinho de abacaba. Por sua importância e sabor é usado na região como enunciação pejorativa contra aqueles que se querem passar por importantes quando não são. “O cara está arrotando a maior abacaba!”.
Leitores Intempestivos