Riram. Ouvem-se risos da plateia que achou graça; riram quando o mais abjeto sub-produto da cultura do ódio que nos une, afirmou, solene e para quem quisesse ouvir, que, em “visita” a um quilombo, o afrodescendente mais magro pesava sete arrobas, que sequer para reproduzir serviria. Utilizou-se, não à toa, de uma unidade de massa que se pratica no comércio do boi de corte, no matadouro ou nos frigoríficos.
Explicitamente, animalizou os moradores das comunidades quilombolas, não sem antes assegurar que nenhuma demarcação de terra indígena deveria ser feita. Disse de forma jocosa, irônica. Os que riram, por certo o fizeram porque concordavam com o sarcasmo daquele um, cujo nome me soa impronunciável como o pior dos palavrões. Sórdido, conhecido como sórdido, o que disse estava à altura de seu nefasto repertório. Quem diz isso na frente de todos, deve dizer coisas muito piores na sua intimidade: se é ruim em público, deve ser horroroso no privado.
O que me chamou a atenção não foi somente sua afirmativa, mas quem ria, de quem partiam as risadas ao fundo. Eram judeus, que reuniam o pior de sua colônia, em torno de uma fogueira hebraica, onde foram ouvi-lo aquele abominável parlamentar. Cada um deles, cada um daqueles que riu da anedota do deputado, vulgarizou a perseguição que seus antepassados próximos sofreram; cada judeu que riu, cobriu de vergonha a memória dos judeus mortos no Holocausto, cada judeu que riu traiu sua história, sua gente, seu povo. Riram diante do extermínio dos quilombolas, que somente existem porque ante o massacre e humilhação da escravidão, ergueram comunidades, onde pisariam o chão como seres humanos, senhor cada qual de sua história, e não como reses, na forma que os reduziu as arrobas do canalha palestrante.
Como os judeus fizeram abrir o mar, os negros quilombolas abriram a mata fechada para fugir da opressão, para uma terra prometida onde jamais fossem torturados e mortos. A diferença é que os negros foram isolados na própria miséria, a diferença é que pagam até hoje pelo sonho de liberdade, a diferença é que morrem silenciosamente, sem protestos, sem indignações.
Como os judeus escravizados, os quilombolas enfrentaram doenças e mortes, pragas e feras, para que erguessem heróis que, todavia, jamais foram estudados pela História Oficial, que traça a biografia do bandeirante branco exterminador e que silencia o negro libertador e libertário. Quem conheceu uma comunidade quilombola – eu conheci – viu muita história e cultura, mas também isolamento e miséria, sem que coubesse qualquer anedota ou sarcasmo.
Os judeus, que protestavam fora do anfiteatro onde se dava a conferência (se é que assim se pode chamá-la) e nada mais faziam que sua obrigação, deveriam ter invadido o recinto e esmurrado um a um dos que estavam sentados, comportados e risonhos. Deveriam ter chutado de lá dentro o deputado e sua corja. Os judeus que protestaram fizeram apenas um contracanto, que serviu para elevar ainda mais o tom do genocida palestrante.
Um ator global, beirando os setenta anos de vida e lutando contra a velhice, uniu contra si toda a burguesia bem nascida, ao de forma estúpida e abjeta assediar uma sua colega de trabalho, não atriz, mas uma figurinista, dirigindo-lhe vulgaridades machistas e misóginas. De galã da terceira idade, viu-se transformado no Conde Drácula e sua falta grave foi tema do Jornal Nacional, a quem teve que apresentar publicamente seu quinhão de culpas, após ter sido passado por um moedor de carnes nas redes sociais.
Todavia, a anedota do deputado teve seus protestos circunscritos à turma de sempre. Esperaria vê-lo amaldiçoado pelo Diretor da Hebraica Carioca, fulminado por alguma autoridade consular importante de Israel, ter sobressaltado o Supremo e a Mesa da Câmara para que fosse processado por difamação e cassado por quebra de decoro parlamentar (jamais se viu algo assim), ter sido desmentido por alguém que lhe fosse próximo e amigo, que tivesse fechadas as portas de cafés, bares, restaurantes e posto isolado nos aeroportos.
Imaginaria que finalmente ele houvesse encontrado o fim de sua caminhada e que fosse processado criminalmente, que os sacripantas que riram de sua anedota fossem expulsos da comunidade judaica. Imaginaria que ele fosse condenado a pagar uma indenização ao Clube Hebraica e o Clube Hebraica condenado a pagar uma indenização a sei lá a quem, por ter convidado um verme para falar a seus associados.
Que o Ministério Público saísse de seu casulo protegido e monotemático e o processasse civilmente. Imaginaria o Procurador Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal Federal livres de picuinhas menores, lamentando e tomando todas as medidas contra o deputado.
Nada. A julgar pelas reações, a ofensa de José Mayer foi muito mais grave de a Jair Bolsonaro. Estamos definitivamente doentes. Atordoados pelo nosso ódio, atordoados porque nunca estivemos e fomos tão ruins.
Humanamente ruins.
Roberto Tardelli é Advogado Sócio da Banca Tardelli, Giacon e Conway. Procurador de Justiça do MPSP Aposentado.
“Cair na ignorância é entrar na masmorra de Deus; mergulhar na ciência é entrar no Palácio de Deus”
Mevlana Celaleddin Rumi (1207-1273), poeta e um dos fundadores da Ordem e Movimento dos Derviches
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Há mais em comum entre Trump e Temer do que imagina a nossa vã filosofia e um T no nome.
Ambos são tenazes promotores da ignorância como forma de viver.
Trump está imerso numa batalha para destruir o que ele considera ser o legado e a imagem de Barack Obama. Só tal sanha justifica, por exemplo, o que ele fez nestes últimos dias, responsabilizando o ex-presidente pelo ataque com gás de cloro contra uma população civil na província de Idlib, na Síria, junto à fronteira com a Turquia.
Os contornos deste ataque não estão bem descritos. É possível que tenha sido perpetrado num ataque aéreo por forças de Bashar Al Assad, que têm reservas deste gás e do gás sarin. É possível, porém que o gás tenha sido liberado das reservas que os próprios rebeldes detêm, eventualmente atingidas pelo bombardeio.
Os russos negam qualquer participação no evento, dizendo que sua forca aérea não tem atuado na região. O gás, que age diretamente sobre o pulmão, deixou 60 mortos e uma centena de feridos. Acuado diante de alegações de inoperância diante da guerra civil na Síria, Trump descarregou a culpa sobre Obama.
Neste empenho, e no de cumprir com algumas de suas agendas de campanha, Trump tem se comprometido intensamente com um estilo de promoção da ignorância. Faz afirmações bombásticas que não têm qualquer fundamento. Ele está se tornando um dos reis da chamada “era da pós-verdade”, em que afirmações são feitas sem qualquer compromisso com os fatos; elas são os “fatos”.
E a sua “verdade” depende, umbilicalmente, deste descompromisso com a realidade. São feitas para promover a ignorância auto-satisfeita de quem acredita nelas, e sua condição de “verossimilhança” depende da empáfia com que são anunciadas; quanto mais empáfia, mais “verdadeiras” elas se tornam.
Com esta era da “pós-verdade” chega-se a um paroxismo do pensamento e do estilo neo-liberais, que promovem uma espécie de fundamentalismo messiânico em torno das crenças e superstições que os movem.
No pensamento do tipo messiânico promete-se a vinda ou volta de um Messias. Se ele não vem nem volta, culpa-se a insuficiência da fé dos crentes. Mas seu fracasso, assim descrito, é alimento para a crença de que numa próxima vez o alfa-acontecimento se dará; o fracasso presente torna-se índice de um sucesso no futuro.
Com o pensamento neoliberal dá-se exatamente o mesmo processo. Ele só semeia fracassos, da Ásia às Américas, da Europa à América Latina, da África à Oceania e por aí afora. Mas para seus próceres tais fracassos são devidos ao “fato” de que sua aplicação não foi bem feita, nem completa. Também aqui o fracasso no presente é sinal de um sucesso no futuro, e culpa-se sempre algum outro fator pelo insucesso.
Assim é Trump.
Mutatis mutandis, isto é, falando do presidente brasileiro que aí está, assim é e será Temer.
Temer foi posto – ou pendurou-se no poder – para promover a destruição do Brasil, pelo menos de um certo Brasil, e a promoção de outro, avesso à industrialização, à soberania, seja a popular ou a externa, à integração social, e adepto da desigualdade, da erradicação dos direitos trabalhistas e do fim da luta contra as discriminações.
Mas isto precisa ser apresentado como o elixir do futuro ao alcance de todos. Daí promove-se uma espécie de “alucinação negativa”, em que não se reconhece o que está acontecendo em nome de uma miragem promovida pela mídia ao mesmo tempo pusilânime e autoritária.
O Brasil de hoje é um espasmo desta “alucinação negativa”, que açulou as hordas de ignorantes que saíram às ruas para pedir o impeachment de uma presidenta sabidamente honesta, e desconstruir o Brasil que se promovia de fato sob os governos populares.
O governo Temer é, assim, fruto deste “populismo para os ricos ou abonados”, desta agitação de uma cenoura para burros de classe média, que se ocupam em supostamente alcançar esta miríade enquanto vão pisoteando e deixando destruir o futuro de seus próprios filhos. Fazem-se todos pais e filhos incestuosos da própria ignorância, que é, como se sabe, na sua auto-satisfacão, a mãe de todos os preconceitos.
O paroxismo deste elogio e desta perseguição da ignorância é a projetada condenação à morte do programa Ciência sem Fronteiras, atacado como inoperante pelo atual ministro da (Des)Educação, Mendonça Filho, que insiste na tecla, descompromissada com a realidade, de que suas verbas seriam melhor aplicadas no ensino básico, como se houvesse uma contradição entre as duas coisas.
A proposta de encerrar o programa é muito burra, pois contém nela a promoção do embrutecimento nacional. Contraria tendência mundial, que é a da internacionalizar cada vez mais a formação acadêmica, e de promover o acesso a ela por parte dos filhos das famílias menos favorecidas.
Assim se passa com o projeto Erasmus Mundus, financiado pela Comissão Europeia, que garante a mobilidade internacional de estudantes, professores e funcionários do ensino superior no continente. Assim se passa com programas de formação – inclusive na área de humanidades – que preveem que os estudantes façam obrigatoriamente um estágio no exterior antes de se formarem, inclusive considerando a possibilidade de fazê-lo em países da América Latina, da África, da Ásia ou Oceania.
Talvez uma crítica que se pudesse fazer ao Ciência sem Fronteiras é a da sua lentidão em incorporar – como costuma acontecer nestes casos – as áreas das humanidades, tendo havido (corrijam-me se eu estiver errado) um tímido começo na formação linguística e de línguas.
Encerrar o Ciência sem Fronteiras, ao invés de ampliá-lo e aperfeiçoá-lo, além de favorecer a burrice e a ignorância, é promover o paroquialismo, o provincianismo, o anacronismo, a desespiritualização e a calhordice auto-satisfeita.
Mas o que se pode esperar de um governo que, como o de Trump, tem origem na e compromisso com a ignorância?
Acabei de entrevistar o jurista espanhol Javier Garcia Oliva, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de Manchester e responsável pelas aulas de “Introdução ao Direito e Método da Espanha” em Oxford.
Pedi que ele analisasse um caso hipotético, que viesse a ocorrer na Inglaterra.
Um Ministro da Suprema Corte vai até a casa do Primeiro Ministro, que está sendo alvo de um processo, anuncia para a imprensa que é seu amigo e adianta linhas de defesa para ele.
O jurista sorriu incrédulo, julgando que fosse uma pegadinha:
– Não tenho a menor condição de analisar. Essa situação é totalmente impossível de ocorrer na Inglaterra
Um documento apresentado nesta segunda-feira (3) pelos advogados de Luiz Inácio Lula da Silva comprova que o ex-presidente não frequentou o tríplex do Guarujá.
Segundo a defesa do ex-presidente, Lula esteve apenas uma vez no local para verificar se tinha interesse na compra do apartamento, o que foi descartado. O documento, encaminhado pela Secretaria Geral da Presidência da República à 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba, desmente a denúncia em que o Ministério Público Federal (MPF) acusa o ex-presidente de ser proprietário de um apartamento no Guarujá.
“A última vez que os assessores pernoitaram no Guarujá (SP) foi em 17/01/2011, quando ficaram com o ex-Presidente em uma base militar naquele município, em função do convite feito pelo então Ministro da Defesa Nelson Jobim. É o que comprova o documento.”, diz a nota divulgada pela defesa de Lula.
Para os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, o documento “é mais um elemento a demonstrar ser inverídica a acusação do MPF em relação a Lula, que não é e jamais foi proprietário do chamado “tríplex” do Guarujá”.
Confira a nota na íntegra:
Documento encaminhado pela Secretaria Geral da Presidência da República à 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba é mais um elemento a desmentir a denúncia em que o Ministério Público Federal (MPF) acusa o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser proprietário de um apartamento no Guarujá (Processo nº 5046512-94.2016.4.04.7000).
Lula, como todos os que o antecederam, conta com um grupo de assessores mantidos pela Presidência da República. Eventuais gastos com diárias por essa equipe são registrados na Presidência da República, indicando o local onde estiveram. A última vez que os assessores pernoitaram no Guarujá (SP) foi em 17/01/2011, quando ficaram com o ex-Presidente em uma base militar naquele município, em função do convite feito pelo então Ministro da Defesa Nelson Jobim. É o que comprova o documento.
O MPF afirma que a OAS teria entregue a Lula a propriedade do apartamento 164-A, do Condomínio Solaris, no Guarujá, como contrapartida de vantagens indevidas provenientes de três contratos firmados com a Petrobras. O prédio ficou pronto em 2014. Até agora já foram realizadas 24 audiências e ouvidas 73 testemunhas apenas em relação a essa ação. Nenhuma delas fez qualquer afirmação que possa envolver Lula em atos ilícitos praticados no âmbito da Petrobras ou à propriedade do tríplex do Guarujá. Os depoimentos também mostraram que o ex-Presidente e sua família jamais tiveram a posse das chaves ou dormiram uma única noite no imóvel.
Lula esteve apenas uma vez no local para verificar se tinha interesse na compra, o que foi descartado. Isso foi confirmado pelo depoimento do chefe do núcleo de apoio de Lula, o Sr. Valmir de Moraes. O documento ora encaminhado pela Secretaria da Presidência da República confirma integralmente o depoimento do assessor do ex-Presidente.
É mais um elemento a demonstrar ser inverídica a acusação do MPF em relação a Lula, que não é e jamais foi proprietário do chamado “tríplex” do Guarujá.
Há 14 anos, em março de 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalava a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), uma das mais importantes políticas de ações afirmativas voltadas para a população negra realizada no Brasil nos últimos 14 anos.
Para marcar a data, conversamos com Nilma Lino Gomes, ex-ministra da Secretaria de Políticas da Igualdade Racial no governo de Dilma Rousseff, que falou sobre a importância da SEPPIR para a garantia de direitos da população negra, listou os principais avanços nos últimos 14 anos e comentou sobre como os retrocesso nas políticas sociais atingirá de forma contundente negras e negros.
Confira a entrevista:
-Qual a importância de uma pasta como a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e como ela beneficia a população negra?
Há anos o Movimento Negro brasileiro, o Movimento de Mulheres Negras e o Movimento Quilombola atuam como protagonistas políticos da denúncia ao racismo, no Brasil. No entanto, durante muito tempo essa denúncia não foi levada a sério pelo poder público e suas lideranças. Somente quando o Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil é que a população negra teve várias de suas demandas históricas respeitadas. Uma delas foi a criação de um ministério com o objetivo de realizar políticas de promoção da igualdade racial, a SEPPIR.
A importância da SEPPIR é simbólica, política, social, econômica, jurídica e cultural. Por meio dela, a pauta da igualdade racial, com todos os desafios e limites vividos, se tornou política de Estado. A criação da SEPPIR desencadeou a implementação de uma série de estruturas administrativas semelhantes nos estados, municípios e DF. Isso fortaleceu o Movimento Negro, de Mulheres Negras e Quilombola e contribuiu no processo de desvelamento do mito da democracia racial.
Além disso, a SEPPIR significou o cumprimento do compromisso internacional do Brasil durante a IIIa Conferência de Durban, em 2001, realizada pela ONU. Neste evento internacional, após apresentar dados internos sobre a desigualdade racial, o Estado brasileiro se comprometeu com o combate ao racismo e com a construção de políticas de ações afirmativas.
A criação da SEPPIR é, portanto, uma das mais importantes políticas de ações afirmativas voltada para a população negra realizada por um governo progressista e por um Estado democrático nesses últimos 14 anos. Um governo e um Estado que compreenderam o seu papel na superação do racismo e na construção da igualdade racial, um dos eixos importantes para a garantia da democracia e da justiça social.
Por meio da SEPPIR, uma série de ações, projetos e políticas voltadas para a igualdade racial, de forma específica ou transversal, passou a existir em nosso país. Sem dúvida, isso não só beneficiou a população negra como, também, fez avançar o processo de efetivação do direito à diversidade e o reconhecimento público e político da importância das negras e dos negros na construção do nosso país.
Nilma Lino Gomes: “Qualquer retrocesso nas políticas sociais atingirá de forma contundente as cidadãs e cidadãos negras e negros”. Foto: Laycer Tomáz/Câmara dos Deputados
-Quais foram os principais avanços em relação à igualdade racial no país durante os últimos 14 anos?
Um dos principais avanços foi o reconhecimento público das negras e dos negros como sujeitos de direitos. Como sujeitos políticos e de políticas. O racismo tem como objetivo subalternizar, inferiorizar as negras e os negros. É um fenômeno perverso que tentar roubar a nossa humanidade. Por isso, quando a igualdade racial almejada pelo Movimento Negro, de Mulheres Negras e Quilombola se tornou uma das preocupações políticas do governo federal, em reconhecimento à luta por direitos e ao protagonismo da população negra, o Brasil avançou.
Mas há também avanços institucionais. Posso citar alguns que foram protagonizados pelo Executivo nos últimos 14 anos ou por ele foram induzidos e apoiados na esfera do Legislativo e Judiciário. São eles: A própria criação da Seppir em 2003; a introdução do artigo 26 A na LDB pelas Leis 10.639/03 e 11.645/08 tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas da educação básica, a criação da SECADI, no Ministério da Educação; o Estatuto da Igualdade Racial – Lei 12.288/10; a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) (Lei 12.289/10); a Lei de cotas nas IFES – (Lei 12.711/12); a constitucionalidade das cotas raciais pelo STF,em 2012; a Lei de cotas raciais nos concursos públicos – Lei 12.990/14; a Política Nacional Para a saúde da população negra; a criação do Conselho Nacional de Política de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), a construção do Sistema Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR); o Programa Brasil Quilombola; a Criação da Reunião de Autoridades sobre os Direitos dos Afrodescendentes, no âmbito do Mercosul, em 2015, a cooperção com os países africanos de língua portuguesa na área da educação, gênero e justiça; a criação da Ouvidoria Nacional de Igualdade Racial, a criação do Disque 100 Racismo, introduzindo dois novos módulos no disque 100 que recebem denúncias sobre crimes contra a juventude negra, mulheres negras, povos e comunidades tradicionais e quilombolas; a construção da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT.
-Para você, a política de cotas está mudando o cenário das universidades no país? Qual a importância das cotas?
A política de cotas provou ser um instrumento eficaz para a redução das desigualdades raciais existentes no ensino superior e na sociedade. Essa medida permitiu às jovens e aos jovens negros o direito ao ingresso no ensino superior. Jovens que, diante do quadro secular de desigualdade social, racial e de gênero ainda não tinham essa oportunidade e não gozavam desse direito.
Só em 2015, já tínhamos uma oferta de aproximadamente 150 mil vagas para negros e negras nas universidades. Além das vagas garantidas pelas cotas, os estudantes negros também tiveram acesso a outros instrumentos oferecidos pelo Governo Federal, tais como, o Fies e o Prouni, que auxiliam no ingresso e na permanência em instituições privadas de ensino superior.
As cotas representam uma das modalidades mais radicais das Políticas de Ações Afirmativas e foram aprovadas como constitucionais, por unanimidade pelo STF, em 2012. E os seus efeitos positivos se fazem sentir nas pesquisas sobre desempenho dos estudantes cotistas. Um desempenho igual ou melhor do que os não cotistas. Portanto, as cotas são um direito e uma realidade. E temos que lutar pela sua continuidade. Além disso, como já foi dito, a implementação das ações afirmativas e das cotas cumpre o compromisso internacional de superação do racismo e da desigualdade racial assumido pelo Brasil durante a conferência de Durban, em 2001.
As cotas trazem maior diversidade para as universidades e instituições onde são implementadas. Atualmente, todas as instituições federais de ensino adotam a política de cotas. Mas há desafios à frente como, por exemplo, a justa permanência dos estudantes cotistas na universidade, a mudança do currículo da graduação e pós que reconheça os saberes desses novos coletivos sociais que acessam o direito ao ensino superior e a implementação das cotas na pós-graduação.
-Sobre os retrocessos que o país está vivendo, você acredita que a população negra é a que mais sofre com a política de cortes de direitos? Por quê?
Não existe lugar para a diversidade em um governo golpista. Estamos diante de retrocessos e cortes de direitos provocados por um golpe parlamentar, jurídico, midiático, fundamentalista, de classe, gênero, raça e com uma orientação heteronormativa. Apesar dos avanços, negras e negros ainda se encontram em patamares de profunda desigualdade socioeconômica no Brasil. Ainda há muito por fazer. Sobre a população negra recai historicamente a articulação perversa da desigualdade de classe, raça, gênero e região. Portanto, qualquer perda de direitos conquistados, qualquer retrocesso nas políticas sociais atingirá de forma contundente as cidadãs e cidadãos negras e negros.
A extinção da SEPPIR, a perda de status e de orçamento da pauta da igualdade racial e de gênero no atual governo é um retrocesso tremendo. Tudo aquilo que alcançamos ao longo desses 14 anos está sendo invisibilizado e silenciado em poucos meses de governo ilegítimo. Além disso, as propostas de Reforma da Previdência, Trabalhista, a Emenda Constitucional 96/2016 (antiga PEC 241/55), os retrocessos na pauta da saúde com a tentativa de desmantelamento do SUS, o retrocesso da pauta da igualdade de gênero, o projeto de Terceirização, o projeto da Escola Sem Partido e a abertura de espaço político e econômico para os ruralistas trarão retrocessos inimagináveis para o país e atingirão profundamente a população negra e pobre.
Estamos também em tempo de exacerbação da cultura do ódio alimentada, entre outras coisas, pela pauta retrógrada e antidemocrática do atual governo federal. E o ódio alimenta o racismo. Por isso, vivemos tempos sombrios. Tenho enfatizado que estamos diante de um ataque não só as políticas e aos direitos sociais arduamente conquistados ao longo dos séculos. O ataque é contra os sujeitos dessas políticas. E as negras e negros são sujeitos centrais não só da luta por direitos no Brasil mas, também, das políticas de direitos que temos construído em todo a nossa trajetória pela consolidação da democracia, da igualdade racial, da equidade e da justiça social. Ainda há muito por fazer. Mas é inegável os avanços que foram construídos no Brasil, nos últimos 14 anos.
*Nilma Lino Gomes é professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Foi ministra da Secretaria de Políticas da Igualdade Racial e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff.
EXPERIMENTE CONTRA A TV GLOBO!
Você sabe que um canal de televisão não é uma empresa privada. É uma concessão pública concedida pelo governo federal com tempo determinado de uso. Como meio de comunicação, em uma democracia, tem como compromisso estimular a educação, as artes e o entretenimento como seu conteúdo. O que o torna socialmente um serviço público e eticamente uma disciplina cívica. Sendo assim, é um forte instrumento de realização continua da democracia.
Mas nem todo canal de televisão tem esse sentido democrático da comunicação. A TV Globo (TVG), por exemplo. Ela, além de manter um monopólio midiático no Brasil, e abocanhar a maior fatia da publicidade oficial, conspira perigosamente contra a democracia, principalmente, tentando atingir maleficamente os governos populares. Notadamente em seu JN. Isso tudo, amparada por uma grade de programação que é um verdadeiro atentado as faculdades sensorial e cognitiva dos telespectadores. Para quem duvida, basta apenas observar a sua maldição dos três Fs dominical: Futebol, Faustão e Fantástico. Um escravagismo-televisivo- depressivo que só é tratado com o controle remoto transfigurador.
Se você conhece essa proposição-comunicacional desdobre-a com outros. Porque mudanças só ocorrem como potência coletiva, como disse o filósofo Spinoza.
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CAMPANHA AFINADA CONTRA O
VIRTUALIZAÇÕES DESEJANTES DA AFIN
Este é um espaço virtual (virtus=potência) criado pela Associação Filosofia Itinerante, que atua desde 2001 na cidade de Manaus-Am, e, a partir da Inteligência Coletiva das pessoas e dos dizeres de filósofos como Epicuro, Lucrécio, Spinoza, Marx, Nietzsche, Bergson, Félix Guattari, Gilles Deleuze, Clément Rosset, Michael Hardt, Antônio Negri..., agencia trabalhos filosóficos-políticos- estéticos na tentativa de uma construção prática de cidadania e da realização da potência ativa dos corpos no mundo. Agora, com este blog, lança uma alternativa de encontro para discussões sociais, éticas, educacionais e outros temas que dizem respeito à comunidade de Manaus e outros espaços por onde passa em movimento intensivo o cometa errante da AFIN.
"Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do qual sempre ribomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes” (Friedrich Nietzsche).
Daí que um filósofo não é necessariamente alguém que cursou uma faculdade de filosofia. Pode até ser. Mas um filósofo é alguém que em seus percursos carrega devires alegres que aumentam a potência democrática de agir.
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