A notícia correu célere: Judas Iscariotes e Jesus Cristo iriam se reunir em frente ao Palácio do Planalto para enunciarem, em repente, o intempestivo Testamento de Judas aos homens de boas e más consciências.
Como sempre ocorre quando a mensagem tem como conteúdo e expressão esses dois sublimes personagens transhistóricos, Brasília foi tomada pela maior e melhor multidão de toda sua história fazendo inveja aos filósofos Machiavel e Toni Negri, dois amigos que mais tratam da Multitudo como Potência da Multidão.
A multidão-política não somente queria sentir de perto os dois inigualáveis sacro-personagens e lhes conferir reverências, como também saber suas opiniões sobre o mal que se alojou no Brasil depois que homens e mulheres degenerados (os que sofrerem alterações teratogênicas em suas constituições genéticas impossibilitando-os da produção humana de sensibilidade, cognição e ética democrática) depuseram a presidenta Dilma Vana Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos, através de um golpe idealizado, elaborado e executado por parte do Judiciário, parlamentares, mídias capitalizadas, e empresários vorazes, além de alienados-paranoicos de todos os matizes.
A multidão-política, diante dos dois magnânimos personagens, pediu que eles explicassem como o país poderia se soerguer depois de toda força predadora desencadeada pelos golpistas que afetou terrivelmente os direitos dos trabalhadores, a economia, a Previdência social, as ciências, as artes, as politicas sociais, todas as produções realizadas pelos governos populares de Lula e Dilma.
Jesus Cristo e Judas Iscariotes, em função de suas inteligências e militâncias, responderam que sabiam de tudo que estava ocorrendo de mal no Brasil, e que se encontravam dispostos a, juntos com os brasileiros de boa fé e razão, examinar o quadro maléfico e tentar procurar soluções. Mas avisaram que a democracia, citando o filósofo Spinoza, é uma contínua produção política saída da composição das potências de todos que se constitui em Bem Comum ou Estatuto do Público do Estado. Daí que todos os brasileiros deveriam produzir a democracia em todo momento. Só assim o Brasil estaria protegido contra qualquer golpe que pudesse lhe tirar o poder de criar o seu próprio destino e proteger sua soberania. E que deveriam ouvir o filósofo Marx quando ele afirma que viver é se encontrar sempre em movimento real. O movimento que descontrói a aparência criada pelo capitalismo. A máscara maior da burguesia.
Depois dessas considerações coletivas, os dois tiraram as violas dos sacos, observaram as afinações, fizeram alguns improvisos, alguns exercícios sonoros e começaram a enunciar o testamento de 2017. Quando o dueto transcendental, impulsionado pelo seu plano de imanência, soltou seus primeiros acordes, a galera foi ao delírio aplaudindo e bradando “Viva à Democracia! O regime político de Cristo e Judas que nenhum golpista vai acabar!”
JUDAS (Sorridente agradecendo ao povão, iniciou sua enunciação) –
Meu amigo Jesus Cristo
Pra começar esse repente
Explique pra todos nós
Como é que você sente
O Brasil sendo humilhado
Por essa gente demente.
CRISTO (Contagiado de contentamento acenando para o povão)-
Amigo Judas Iscariotes
Sinto como uma desgraça
Um povo trabalhador
Sendo ofendido em sua raça
Mas é coisa de momento
Logo resgata sua graça.
Judas – Mas companheiro J.C.
Isso é muito sofrimento
Esse povo não merece
Passar por esse tormento
Obra própria de tarado
Que não tem bom sentimento.
Cristo – Companheiro J.I.
Você tem toda razão
O homem não está no mundo
Para passar por privação
Mas não esqueça que existe
Gente mal, aberração.
(Público – E quanta aberração!)
Judas – Tenho aqui no meu juízo
Uma ideia e não me gabo
Para mim esses golpistas
Tiveram ajuda do Diabo
Porque não têm inteligência
Pra levar um golpe a cabo.
(Público – É verdade Judas!)
Cristo – Não aceito essa ideia
O Diabo é inteligente
Não mistura sua moral
Com esse tipo de gente
Que você já afirmou
Ser uma “gente demente”.
Judas – Eu fui mal, amigo Cristo,
Ao Diabo acusar
Ele faz suas traquinagens
Mas não iria prejudicar
Esse povo brasileiro
Que já demonstrou amar.
(Público – Eu, hein!)
Cristo – Todo golpe é praticado
Por figuras desse planeta
Não é coisa de extraterrestre
Tramando uma mutreta
Para no final das contas
Conseguir sua chupeta.
(Público – Eu sei que chupeta quer golpista!)
Judas – Para você, amigo Cristo,
Qual deles é o pior golpista
Já que têm muitos desfilando
Na famosa imensa lista
Nomes de todos os credos
Falsos político e jornalista.
(Público – Tem também gente judiciarista.)
Cristo – É verdade, Iscariotes,
Mas todo golpista é igual
Não é possível escolher
Quem é menos anormal
Por isso o testamento
Vai bombar geral.
(Público – Esse Cristo é mesmo Cristo, meu!)
Judas – Eu vou logo agraciando
O dublê de presidente
Deixando-lhe como lembrança
O Manual do Indigente.
Cristo – Para o dublê de presidente
Inimigo da democracia
Deixo-lhe sua cassação
Como fim da fantasia
Judas – Ao guloso Aécio-Mineirinho
Da Lava Jato freguês
Deixo-lhe como lembrança
O conforto cativante do xadrez.
(Público – Também o cheiro da creolina.)
Cristo – Ao vaidoso Fernando Henrique
Que pousava de vestal
Deixo-lhe como lembrança
O escárnio da moral.
Judas – Ao senador Homero Jucá
O amante da suruba
Deixo-lhe como lembrança
A lei com sua curuba.
Cristo – Ao senador Renan Calheiros
Que do golpe cantou loas
Deixo-lhe como lembrança
Sua derrota em Alagoas.
Judas – Ao senador Aloísio Nunes
Que da esquerda fingiu ser dela
Deixo-lhe como lembrança
O fantasma do Marighella.
Cristo – Ao governador Geraldo Alckmin
Conhecido como ‘Santo’
Deixo-lhe reservado
No STF seu canto.
Judas – Ao senador José Sarney
O patrono do reacionarismo
Deixo-lhe como lembrança
A impotência do coronelismo.
Cristo – Ao senador Eduardo Braga
Que se dizia moderno
Deixo-lhe como lembrança
Da corrupção o seu terno.
Judas – Ao senador Omar Aziz
Que se dizia comunista
Deixo como lembrança
O martelo e a foice na lista.
Cristo – Ao deputado Alfredo Nascimento
Que ao Amazonino levava tucumã
Deixo como lembrança
A justiça do amanhã.
Judas – Aos deputados do Amazonas
Analfabetos políticos do mal
Deixo-lhes em 2018
A barca do balatal.
Cristo – Para o senador José Serra
Um soberbo entreguista
Deixo-lhe toda a inveja
Ao ver o Brasil progressista.
Judas – A Rede Globo golpista
Que odeia a democracia
Deixo como lembrança
O fim de sua aliança com a CIA.
Cristo – Ainda para a Rede Globo
Que vive de simulação
Deixo-lhe o depoimento da Odebrecht
Que lhe envolve na corrupção.
Judas – Aos ‘justiceiros’ de Curitiba
Que perseguem Lula como um troféu
Deixo-lhes como lembrança
A ilusão que chegarão ao céu.
(Público – O céu é para os justos!)
Cristo – Para estes ‘justiceiros’
Que usam o nome de Deus em vão
Deixo-lhes o anseio do paraíso
Como uma grande frustração.
Judas – Para os amigos da blogosfera
Que não recuam jamais
Mesmo com todas as porradas
Dos grupos irracionais
Deixo-lhes a boa máxima
Lutar é que nos vivos faz.
Cristo – Para minha amiga Dilma
Primeira presidenta do Brasil
Como minha mãe Maria é honrada e guerreira,
Diferente do golpista vil
Deixo como lembrança
O eterno respeito desse povo varonil!
(Público – Valeu minha eterna presidenta!)
Judas – Perseguida desde a adolescência
Por lutar pela liberdade
Essa mulher não se curvou
Como faz todo covarde
Por isso deixo-lhe no coração
A chama que sempre arde.
Cristo – Para meu amigo Lula
Que pelas aberrações é invejado
Porque não são seres políticos
Como ele é formado
Deixo-lhe a certeza
Que não será aprisionado.
Judas – Como líder do povo brasileiro
Só Lula poderá salvar essa nação
Depois da catástrofe dos golpistas
Onde prevaleceu a destruição
Deixo-lhe a certeza
Que em 2018 terá tripla eleição!
(Público cantando – “Olê! Olê! Olê, Olê, Olá, Lula, Lula, lá!”)
Os Dois – Assim, povo brasileiro
Terminamos o testamento
Pode ser que muita gente
Não foi lembrada no momento
Mas quem produz democracia
Sabe que vive em nosso pensamento!
(Público – Eu vivo!).
Cada ano melhor. Quase morro de rir.
Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.