São Paulo – Em entrevista a jornalistas e blogueiros no início da noite de hoje (23), o jornalista e diretor da revista CartaCapital Mino Carta defendeu que o Brasil precisa de um novo e ambicioso programa para se recuperar enquanto democracia. “Nós precisamos de um New Deal, de um Roosevelt. Mas cadê um Roosevelt? O que diz o Ciro Gomes é isso: um pacto capital-trabalho. Mas isso é possível?”, questionou. O New Deal (“novo acordo”, em inglês) foi o grande programa de recuperação dos Estados Unidos desenvolvido nos anos 1930 pelo presidente Franklin Delano Roosevelt, para tirar o país da chamada Grande Depressão pós-1929.
“Vi Ciro Gomes falar em pacto entre capital e trabalho. Impossível. Este é um país dominado pelo ódio de classe, nutrido naturalmente pela casa-grande”, disse o jornalista.
Ele também fez críticas ao PT e disse que o grande erro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi não ter assumido o Ministério da Casa Civil logo no início do segundo mandato de Dilma Rousseff, em janeiro de 2015. “Aquele era o momento em que ele deveria ter assumido a Casa Civil. Se tivesse dado essa cartada importantíssima, tenho certeza de que não haveria impeachment.” Ele afirmou que, apesar do erro, sua amizade com Lula tem 40 anos e “é incondicional, mas discordei inúmeras vezes”. Para o jornalista, o ex-presidente “é o único líder popular brasileiro”.
Mino Carta foi entrevistado pelos jornalistas Eleonora de Lucena, Fernando Morais, Luis Nassif, Luiz Carlos Azenha, Miro Borges, Paulo Henrique Amorim e Rodrigo Vianna, no Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. Mino respondeu sobre por que anunciou, em texto de ontem (22), na CartaCapital, que estava escrevendo seu último editorial.
Ele afirmou que deixaria de escrever seus editoriais “motivado pela inevitável conclusão de que estou escrevendo as mesmas coisas há tempo demais”. Manifestou desilusão e descrédito sobre a possibilidade de o Brasil encontrar uma saída razoável no rumo da democratização. “O país não vai para a frente, pelo contrário. Às vezes me convenço de que estamos voltando no tempo”, disse. “Casa-grande não existe sem a senzala.”
O jornalista disse não se iludir com o “aparente racha da mídia nativa” em relação ao presidente Michel Temer (enquanto o sistema Globo ataca, o jornal Folha de S. Paulo dá munição ao presidente). “É a antessala da enésima tentativa de conciliação das elites. No fim, vai ganhar a Globo. A Globo vai ditar o jogo e os outros irão atrás. Já estão armando a conciliação e as eleições indiretas”, disse.
Declarou também não acreditar que, hoje, o país possa viabilizar as eleições diretas. “A CartaCapital continuará a bater nesta tecla com vigor e determinação. Mas não acredito que isso seja possível. Acredito que o racha é aparente. O que lhes convém é a indireta e a senzala não reage. Nosso povo traz no lombo as marcas da chibata. Nosso problema é que padecemos três séculos de escravidão que deixaram uma marca feroz no povo brasileiro.”
Embora tenha manifestado ceticismo sobre a possibilidade de realização de eleições diretas no curto prazo, afirmou que a manutenção do calendário eleitoral seria uma saída aceitável. “Desde que as circunstâncias permitissem, se não as ‘diretas já’, eleições justas em 2018, e desde que houvesse condições de que Lula, meu incondicional amigo, apresentasse sua candidatura.”
Questionado sobre por que a Rede Globo foi “para cima de Temer”, disse acreditar que “vão fazer eleição indireta e colocar alguém do seu interesse”.
Para o jornalista, o Brasil deveria ser uma potência mundial, mas trata-se de um país “onde os capitalistas não entenderam que o povo é um tesouro, porque são um bando de cretinos”.
O diretor de CartaCapital citou o juiz Sérgio Moro e afirmou que o magistrado também “é um cretino”. Acrescentou: “Nossos adversários são cretinos, vulgares, ignorantes, cafajestes. A casa-grande é de direita? Não vamos ofender a direita”, disse. Segundo ele, o PT errou durante e após consumado o processo de impeachment. “Como o PT reage ao complô contra Dilma? Não reage. Engoliu tranquilamente o que estava acontecendo”, criticou.
Sem provas para sustentar a acusação relativa ao tríplex contra Lula, os acusadores investem na oferta de prêmios para réus confessos tentarem produzir factoides. Os papéis apresentados por Duque, que busca destravar sua delação, nada provam. Não provam que Lula é dono do tríplex, não provam que ele recebeu alguma vantagem indevida proveniente de contratos da Petrobras, enfim, não provam nenhuma das acusações feitas pelo MPF na ação. Os papéis só provam o desespero dos acusadores, que agora querem transformar uma fotografia com Lula e uma suposta passagem de avião em prova de propriedade imobiliária e de recebimento de vantagens indevidas.
A Operação Panatenaico realizada hoje, dia 23, pela Polícia Federal, que prendeu o ex-governador José Roberto Arruda e o ex-governador Agnelo Queiroz, diz que há indícios de que o deputado federal Rogério Rosso (PSD/DF) recebeu verba desviada da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Rosso foi governador tampão do Distrito Federal depois da renúncia de Arruda. Arruda foi aquele deputado que levado a cassação chorou no plenário afirmando: “Não roubei, não mateia, não, não…”, mas pego abiscoitando grana. Rosso como deputado fez parte da comissão que pediu o impeachment da presidenta Dilma, e na sequência foi o candidato de Temer à presidência da Câmara Federal depois que Eduardo Cunha, vulgo Caranguejo, foi cassado. Quer dizer: é fina flor da ‘democracia’.
Rosso é mais um que condensa o vício que se tornou as cotidianas revelações dos golpistas no mundo da corrupção instalada no Brasil que se proliferou nos desgovernos de Fernando Henrique. Principalmente a corrupção na Petrobrás.
Como é vício, e vício é compulsivo, o povo brasileiro tem que de cadeira só observar o espetáculo promovido por esses propagadores da moralina.
Coisa de reacionário. Renan é um dos mais acusados em delação, mas nos últimos meses vem querendo esculpir um personagem diferente do que o povo aprendeu a tê-lo. Fingiu que se afastou de Temer ensaiando uma aproximação com Lula, mas o povo não é otário e entendeu claramente a trapaça muito comum entre os politicofastros (falsos políticos, para os gregos).
Hoje, dia 23, em entrevista à Rádio Gaúcha, se tomando como autoridade para opinar sobre a fuzarca-cruel que impuseram a administração-pública brasileira, afirmou que é preciso criar “uma solução negociada” para o afastamento de seu companheiro de golpe Temer. Para ele, Temer, tem que facilitar uma solução.
“Não será por falta de nomes que vamos deixar de escolher, no curto prazo, um presidente e um vice-presidente da República”, afirmou o hexacampeão de delação.
Como legítimo ‘democrata’ ele sugeriu os seguintes nomes para substituírem Temer,o golpista-mor: Carmen Lúcia, presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ex-ministro Joaquim Barbosa, senadora Kátia Abreu, ex-ministro Nelson Barbosa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Eunício Oliveira, os dois últimos gente finíssimas, ambos denunciados em esquema de corrupção.
A solução negociada talvez seja a renúncia de Temer com a garantia de não ser preso, como já foi noticiado. Temer participa do golpe de forma conspiratória e imoral, é acusado de corrupção antes e depois de se apossar do governo, renuncia e volta para casa como se nada de social e politicamente perverso não houvesse praticado. Ou quem sabe, arranja-se um exílio para ele desfrutar de suas posses financeiras desviadas do poder público.
Como um bom golpista, Renan não indicou a presidenta Dilma Vana Roussef, presidenta legítima eleita com mais de 54 milhões de votos democratas. Portanto, a legítima para ser indica a retornar ao posto maior da representação democrática. E mais, Renan, como golpista, propaga eleição indireta. Só que o povo brasileiro não aceita cabresto. O povo quer eleições Diretas Já!
Em 18 de outubro de 2014, no Facebook, acima de diversas fotos do candidato à presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, rodeado de vistosas mulheres, o delegado de Polícia Federal, Igor Romário de Paulo, chefe da Delegacia Regional do Combate ao Crime Organizado (DRCOR) no Paraná, apontado pelo agente Dalmey Fernando Werlang como autor da ordem para instalar um grampo ilegal na cela que receberia o doleiro Alberto Youssef, postou em um grupo fechado:
“Este é o cara!”.
Dias depois, às vésperas do segundo turno que reelegeu Dilma Rousseff, do PT, o delegado federal encarregado das investigações da Operação Lava Jato, Márcio Anselmo Adriano, comentou a notícia na qual Luiz Inácio Lula da Silva dizia que Aécio não era “homem sério e de respeito”. Márcio Anselmo escreveu:
“O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser“.
Não demorou muito e o delegado Mauricio Moscardi Grillo, que em sindicância concluiu que o grampo na cela de Alberto Youssef era inoperante, apesar de ele ter registrado 263 horas e 41 minutos de conversas – leia em Armação Federal II: “indisciplinas” do DPF Moscardi -, também deixou sua digital na campanha de Aécio. Abaixo do comentário de Márcio Anselmo, postou uma propaganda eleitoral do tucano segundo a qual Lula e Dilma sabiam de toda a corrupção do esquema da Petrobras, acrescentando:
Elas, mais do que possíveis transgressões disciplinares previstas na Lei 4878-65 (regime jurídico dos funcionários policiais civis da União e do Distrito Federal), demonstraram que os responsáveis pela Operação Lava Jato tinham um lado político definido. Não apenas torciam por um candidato. Faziam propaganda do mesmo.
Muito provavelmente, por conta desta falta de isenção a Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba jamais descobriu os pedidos de dinheiro, via caixa dois, feitos a empresários por Aécio Neves e/ou pela sua irmã, Andréa Cunha Neves, atualmente presa.
Não foram apenas os delegados que se denunciaram a simpatia pelo senador tucano. O próprio juiz do caso, Sérgio Moro, como registraram os fotógrafos, não se furtou em demonstrar intimidades ao cochichar com Aécio, no evento festivo em que a revista Isto É – que faz questão de se intitular Independente –, premiou o presidente golpista como “Brasileiro do Ano”, em dezembro de 2016, no Citibank Hall, na Zona Sul de São Paulo.
A foto, queiram ou não os retratados, não revela um simples diálogo protocolar de um juiz com um senador no exercício de seu mandato. Deixa transparecer algo parecido com uma conversa entre amigos. Ou prováveis mexericos que outrora se dizia serem da “Candinha”.
Da mesma forma como não pareceu mero cumprimento protocolar o aperto de mão com largo sorriso no rosto com que Moro cumprimentou o presidente golpista Temer.
Foi em 19 de abril passado, na solenidade no Quartel General do Exército, em Brasília, ao receber uma condecoração militar. Ao que parece, o juiz, há muito apontado como símbolo da moralidade e honestidade no país, pouco se importou com o fato de exatamente uma semana antes, em 11 de abril, Temer ter aparecido em dois pedidos de inquérito encaminhados pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foram gerados a partir das delações dos executivos da Odebrecht.
É certo que, na época, não houve pedido de investigação contra o presidente por conta da imunidade que o cargo lhe reserva para possíveis crimes cometidos antes do exercício do mandato. Mas, desde que as delações dos executivos da Odebrecht começaram a circular, todos ficaram sabendo que o presidente golpista aparecia em episódios cujas conversas giravam em torno de Caixa 2 ou pedidos de propina, puro e simplesmente.
O presidente que Moro cumprimentou com largo sorriso no rosto é ainda o mesmo que levou ao cargo de ministro – portanto, garantiu o foro especial que o juiz condena -, oito políticos envolvidos em possíveis casos de corrupção, como demonstram investigações e/ou processos em curso no STF e também na Vara Federal de Curitiba presidida por Moro.
Apesar de todas estas evidências, a Força Tarefa da Lava Jato, que durante os últimos três anos fez e desfez, não se importou com estes casos. Esteve mais preocupada em criar teses mirabolantes, baseadas não em provas, mas em convicções, através das quais acusam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “estruturar, orientar e comandar esquema ilícito de pagamento de propina em benefício de partidos políticos, políticos e funcionários públicos com a nomeação, enquanto presidente da República, de diretores da Petrobras orientados para a prática de crimes em benefício das empreiteiras Odebrecht e OAS”.
Provas? Não foram encontradas, mas está ai um apartamento que um dia a família pode ter pensado em comprar. Na prática, jamais houve registro de mudança na escritura, tampouco foi usado por Lula e seus familiares. Isto, porém, não importa.
Restou ainda o sítio em Atibaia, pertencente à família de Jacó Bittar, velho companheiro de sindicalismo do ex-presidente,. Este sim, frequentado pela família Lula da Silva. Ali, a corrupção que tentam impor ao ex-presidente consiste “em obras e benfeitorias (…) custeadas ocultamente pelas empresas Schahin, Odebrecht e OAS”. Ou seja, as empreiteiras que se beneficiaram de contratos na gestão de Lula, retribuíram-lhe os favores com reformas no sítio.
Obras estas, lembre-se, que foram realizadas após a saída de Lula do cargo de presidente e que, como diz a denúncia apresentada na segunda-feira (22/05) pelo Ministério Público Federal do Paraná, foram avaliadas, ao final, em R$ 1.020.500,00, incluindo os gastos das duas construtoras e do amigo de Lula, José Carlos Bumlai. Nestes benefícios estão, é claro, os pedalinhos…
Postagem no Facebook atribuída ao desembargador mineiro aposentado Lauro Pacheco de Menezes Filho.
Ao contrário do que se tem visto com outros políticos, incluindo Aécio e Temer, não há dinheiro em conta, não há político recebendo mala com notas de R$ 50,00, como ocorreu com o deputado Rodrigo Loures (PMDB-PR), tampouco algum primo de Lula levando dinheiro para a empresa de algum suplente de senador que ficou conhecido por conta de um helicóptero apreendido com cocaína.
O que há são convicções.
Certamente alegarão que nos casos de Aécio e Temer os envolvidos têm direito a foro especial, junto aos ministros do STF. É uma escapatória, mas foi a um deles que os delegados da Lava Jato deram apoio na disputa pela presidência da República. Sem falar no cumprimento, aparentemente efusivo, do juiz, bastião da moralidade. Isto, talvez, eles queiram esquecer.
Afinal, como justificar o apoio a um candidato e os cochichos com um senador que, hoje, é acusado pelos seus próprios parentes de falta de caráter, como a postagem no Facebook atribuída – e até o momento não desmentida – pelo desembargador aposentado de Minas, Lauro Pacheco de Menezes Filho? Trata-se do pai de Frederico Pacheco de Menezes, o primo de Aécio preso após intermediar o dinheiro que a JBS deu ao senador, levando-o para o assessor do suplente de senador Zezé Perella.
Basta ler o texto que reproduzimos ao lado após recebê-lo de um juiz federal, para se verificar a quem os delegados apoiaram e quem foi o interlocutor dos cochichos do juiz, apontado por muitos como símbolo da moralidade.
Os autores do golpe dividiram-se. Abriu-se a possibilidade de uma saída democrática. Mas a narrativa atual da esquerda é impotente para aproveitar a brecha
Por Antonio Martins | Com vídeos da equipe de Outras Palavras
–As ideias expressas neste texto foram desenvolvidas, também, em quatro vídeos criados coletivamente pela redação de Outras Palavras. Publicados originalmente na sexta-feira (19/5), eles conservam enorme atualidade e estão reproduzidos ao longo do artigoO Brasil foi sacudido, desde a última quinta-feira (18/5) por uma nova série de abalos políticos. O governo Temer, que se empenhava em aprovar as contra-reformas da Previdência e Trabalhista por meio de compra de votos de parlamentares, foi ferido, talvez de morte. Eclodiram, no mesmo dia, manifestações de rua, que cresceram na 6ª feira) e terão um grande teste neste domingo. Elas são a esperança de uma saída democrática. Mas trata-se de algo que ainda precisa ser construído, e exigirá grande esforço.
O protagonismo, no momento, não é das forças que resistem há um ano ao golpe, mas de alguns dos setores que mais se empenharam em consumá-lo e mais têm interesse em aprofundar a agenda de retrocessos a que o país está submetido. Desde quarta-feira à noite, a Rede Globo e a Procuradoria Geral da República afastaram-se do governo Temer e tentam claramente obrigá-lo à renúncia.
II.
Este movimento significa uma cisão grave e perigosa – ainda que calculada – na frente que sustenta o golpe. O governo Temer resiste a abandonar o posto – inculsive porque se o fizer, nas condições atuais, poderá escorregar de Brasília ao cárcere. A defesa do Palácio do Planalto é composta por linhas distintas, cujo grau de compromisso varia segundo seus respectivos interesses. À frente estão os ministros responsáveis pela articulação política: Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-geral da Presidência). Dependem, tanto quanto Temer, de foro privilegiado para conservar a liberdade.
Num ponto um pouco mais recuado postam-se o DEM (neste momento, a agremiação mais fiel ao Planalto), o PMDB (cujas divisões reemergem), o PSDB (que já recolocou-se à beira do muro) e as demais legendas da base governista. A fidelidade destes partidos é duvidosa. Já no sábado, o PSB anunciou sua defecção. Além disso, o próprio presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), por exemplo, cedeu sua casa oficial para as articulações pró-Temer; mas já estuda as providências regimentais para uma evental eleição indireta. Numa terceira linha está a mídia extra-Globo. O Estado de S.Paulo (que viu, em editorial na 6ª feira, uma conspiração contra o presidente). A Folha (cujo proprietário, Otávio Frias Filho, escreveu no domingo, que o governo “ainda não acabou). Colunistas cuja opinião pesa no campo conservador, como Reinaldo Azevedo.
Desde 6ª feira à tarde, quando vieram à tona os vídeos da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, o Palácio do Planalto recolheu-se, certamente mergulhado em múltiplas articulações. A única aparição de Temer foi pífia: uma entrevista coletiva às 15h do sábado, em que atacou a Procuradoria Geral da República (sem ter a coragem de nomeá-la) e pediu perícia nos áudios comprometedores – sem, no entanto, criar nenhum fato novo capaz de reforçar sua posição. Mas seu poder de fogo não pode ser desprezado. Se resistir à renúncia, Temer pode transformar o esforço por seu afastamento numa operação longa e desgastante. Além disso, ele dispõe de armas ofensivas. Na 5ª feira, horas após a eclosão da crise, mandou suspender a verba de R$ 200 milhões que abasteceria uma campanha publicitária “comemorativa” de seu primeiro ano de “mandato”. A principal beneficiária era, previsivelmente, a Globo.
III.
O consórcio Globo-Procuradoria Geral da República (PGR) conta, porém, com alguns trunfos inigualados. Como a PGR maneja a Lava Jato, e como a opinião pública encontra-se obcecada por fatos ligados à corrupção, há um enorme arsenal de “novidades” a produzir. Elas podem chegar a todo o país instantaneamente, graças ao poder quase-monopólico da Globo e a sua capacidade comunicativa. Desde a época do impeachment, sucedem-se, com êxito repetido, as edições (às vezes quilométricas) em que o Jornal Nacional pinça, da montanha de denúncias produzidas pela Lava Jato, aquelas que deseja repercutir. Destaca, em letras ampliadas por zoom, as frases que constroem sua interpretação dos fatos. Eletriza audiências, convoca mobilizações e neutraliza versões contrárias.
A aliança Globo-PGR é responsável direta pela deflagração da crise que ameaça Temer. Os acordos de delação premiada dos irmãos-JBS foram fechados em março. Mas as gravações de seus depoimentos foram feitas apenas no início de maio. A emissora colocou-as no ar no exato momento em que Temer pareceia crescer junto aos setores empresariais. O jornalista Lauro Jardim teve acesso privilegiado ao material. Seu primeiro texto, publicado na quarta-feira, fantasiava o áudio da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer. Na quinta-feira, Michel Temer aceitou o desafio (“Não renunciarei! Repito: não renunciarei!”). Mas o estrago estava feito: as bolsas haviam despencado, o dólar disparara, a confiança no governo estava no chão. E no dia seguinte, a constatação de que Jardim mentira foi rapidamente sepultada pelos vídeos da delação premiada da JBS, que têm potencial para devastar todo o sistema político.
Que quer a aliança Globo-PGR? Sua aposta é alta. Está em xeque um governo que era visto, até há muito pouco, como o sonho de consumo dos conservadores brasileiros: por não ter aspirações políticas futuras, podia dar-se a todas as impopularidades. Em algum momento, este governo precisaria ser descartado: sua popularidade, já antes dos episódios mais recentes, reduzia-se a 4%; em 2018, nenhum candidato poderá apresentar-se como seu herdeiro. Mas por que livrar-se dele agora?
Por enquanto, há apenas pistas. Elas conduzem, em primeiro lugar, a uma disputa entre o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot e Gilmar Mendes, o ministro mais influente do STF. Janoté condutor principal da Lava Jato. Gilmar tem feito críticas seguidas à operação. Tornou-se, provavelmente, o pivô de um acordo para salvar a classe política – agora que todos os partidos graúdos estão implicados. Foi decisivo na votação em que o STF libertou José Dirceu e parece participar do movimento, até agora frustrado, para livrar também Antonio Palocci.
Ao lado de Janot, parece colocar-se outro ministro-chave do STF: Edson Fachin, o relator da Lava Jato. Na libertação de Dirceu, decidida pela 2ª Turma do Supremo, Fachin foiderrotado por Gilmar. Mas deu o troco em seguida: como relator, jogou o caso de Palocci para a reunião plena do tribunal, onde votam todos os ministros e a influência de Gilmar é um pouco mais matizada. E na última quinta-feira, atendeu prontamente a um pedido do Procurador Geral, quebrou o sigilo sobre as delações da JBS e voltou a escancarar um sistema político no bolso do grande poder econômico.
Mas sem a Globo, o poder da PGR, mesmo em aliança com Fachin, é pequeno. Por que o império dos Marinho assumiu o risco de desafiar o governo que encanta as elites? Possivelmente, aposta em construir o “governo livre de políticos” – uma tendência global, em tempos de neoliberalismo extremo. E quer colher o prêmio por ser o promotor deste “passo adiante”.
Cindida em dois blocos, a frente golpistatorna-se vulnerável. A divisão não pode prolongar-se por muito tempo – do contrário, a agenda de retrocessos, que interessa a todo o arco de forças no poder, desandará. O derretimento da Bovespa e a disparada do dólar, na quinta-feira, foram um primeiro sinal de alarme. As mobilizações sociais são algo ainda mais grave, do ponto de vista das elites. E se as maiorias, há um ano caladas, despertarem? Como superar as divergências entre os de cima sem correr risco de por tudo a perder?
Duas opções sintetizam a resposta. Primeiro: eleições indiretas. Só por meio delas será possível superar Temer e aprofundar a agenda de contra-reformas. Os conservadores não resistiriam, por exemplo, a um debate nacional sobre o desmonte das aposentadorias e da CLT – rejeitadas pela grande maioria dos brasileiros. A transição precisa ser a seco, sem democracia, rápida.
Mas isso não basta. Por que a sociedade, que aceitou Temer há um ano, mas rapidamente compreendeu o que ele significava, acolherá outro político conservador? Seria trocar seis por meia dúzia. Por isso, a opção preferencial das elites, em eventuais eleições indiretas, é alguém com aparência “técnica”. São possíveis candidatos, por isso, a presidente do STF, Carmem Lúcia; o ex-ministro (de Fernando Henrique e Lula) Nelson Jobim; e, acima destes, o ex-banqueiro Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda.
Os conservadores pensam em pintar Meirelles como uma versão brasileira do novo presidente francês Emmanuel Macron,uma resposta capitalista ao desencanto das sociedades com a política. Exatamente como Macron, Meirelles não aparece, para o público, como “velha raposa”. Nunca disputou eleições nacionais; é provável que não figure nas listasde agraciados por propina dos grandes grupos econômicos.
Ao mesmo tempo, à diferença de um Donald Trump, não é nem um novato, nem um outsider. Tem amplo trânsito num vasto espectro da política institucional. Eleito deputado federal peloPSDB (em 2002), renunciou para ser presidente do Banco Central com Lula, por oito anos (2003-11). Manteve, neste período, amplo diálogo com a oposição de direita. Sob Temer, tornou-se ainda mais poderoso, como ministro da Fazenda.
Sua fidelidade ao programa neoliberal é extrema. Nos mandatos de Lula, à frente do BC, agiu permanentemente para que o governo mantivesse política monetária ortodoxa e destinasse parte gorda do Orçamento para alimentar, via pagamento de juros, a aristocracia financeira. Sob Temer, é o ministro que pressiona de modo mais brutal pelas contra-reformas da Previdência e Trabalhista. Chega a ponto de sabotar as tentativas do Planalto para amenizar pontos das PEC-287, e torná-la menos indigiesta ao Congresso.
VI.
Dezenas de cidades brasileiras terão, neste domingo, manifetações pela saída de Temer e eleições diretas. São convocadas pela Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular. Expressam uma alternativa ao atual governo e também ao arranjo cosmético que levaria à escolha, pelo Congresso, de um presidente encarregado de manter ou aprofundar a agenda de retrocessos. A importância e o peso do movimento podem crescer nos próximos dias e semanas – em especial, se o campo conservador continuar dividido e incapaz de resolver a crise aberta em 18/5.
Por isso mesmo, talvez valha a pena refletir sobre uma debilidade essencial da resistência ao golpe de 2016 e, de maneira mais ampla, da própria ação da esquerda brasileira, nos últimos anos. Ela parece incapaz de considerar, ou mesmo de enxergar o sentimento global de desconforto com a velha política, e de busca de alternativas.
É uma enorme defasagem, porque esta procura espalha-se pelo mundo, e assume diversas formas. Em países como a Espanha, partidos-movimentos como o Podemos surgem do nada e crescem rapidamente. Nos Estados Unidos e Inglaterra, eclodem, no próprio seio dos velhos partidos, movimentos rebeldes, como os que empurraram a candidatura de Bernie Sanders e a chegada de Jeremy Corbyn à liderança trabalhista. Há dias, a França Insubmissa, de Jean-Luc Melenchon, alcançou 19,58% dos votos na eleição presidencial. Soube combinar a defesa de um programa claramente anticapitalista com a crítica aguda à democracia de fachada. Até no vizinho Chile, de tradição conservadora, surge e cresce a Frente Ampla, com características muito semalhantes.
No Brasil, ainda não – provavelmente por dois motivos. Antes do golpe, a esquerda institucional estava no governo. Suas conquistas são inegáveis; mas seus limites, também. Ao longo de treze anos, adaptou-se, como é notório, às práticas centenárias de fisiologismo da vida brasileira. Julgou desnecessário transformar o sistema político – um déficit que é parte de sua conhecida tendência à conciliação e inapetência por reformas estruturais. Após 2016, a possibilidade da candidatura Lula, e sua força eleitoral, exercem, simultaneamente, papel de alívio e de freio –de paralisia. Seria melhor ter um presidente com sensibilidade social. Mas o debate de projetos é quase invisível. Conta-se com a volta ao Planalto – e se espera que o resto possa ser resolvido depois.
A existência da Lava Jato agudiza o problema. A operação é, desde o início, partidarizada. Foi decisiva para alimentar o impeachment e levar a direita ao poder. Até há muito pouco, voltava-se exclusivamente contra os partidos de esquerda. Por isso, é vista apenas como uma conspiração das elites. Olhá-la assim impede de reconhecer seu outro viés. Foi a partir dela que, pela primeira vez, os corruptores foram punidos; e que se tornou evidente o sequestro da democracia pelo poder econômico, em conluio com uma casta política cujo caráter ficou claro na noite tenebrosa da votação do impeachment.
A visão parcial sobre a Lava Jato leva a desperdiçar oportunidades em série. As delações premiadas da Odebrecht e, mais recentemente, da JBS, desvendam a podridão a que se reduziu o Congresso Nacional. Mas a esquerda resiste a explorar os fatos, porque também parte de seus líderes está envolvida nas denúncias. Isso reduz a própria capacidade de resposta diante de crises como a atual. A bandeira das diretas já é justa e necessária – por ser o antídoto contra a transição antidemocrática. Mas é insuficiente, porque os fatos que emergiram revelam a necessidade de uma transformação muito mais profunda. É óbvio que um presidente eleito sob as regras atuais seria prisioneiro de um sistema corrupto, que sequestra a democracia e sempre favorecerá o grande poder econômico. É evidente, também, que enquanto não houver resposta efetiva à esquerda, o sentimento de revolta diante da falsidade da política será capitalizado pelos que desejam destruir a democracia: os Moro, os Bolsonaro ou… os Marinho.
Como a esquerda, que é vista (com motivos…) pela população como parte de um sistema desprezível, poderá enfrentar este sistema? A equação é de fato difícil – porém, incontornável. Uma saída possível é lembrar que a origem das práticas que a sociedade abomina não está em homens malévolos – mas num sistema que obriga a todos, independentemente de suas convicções, a se corromper. Hoje, é rigorosamente impossível governar o Brasil sem receber dinheiro dos grandes grupos empresariais e prestar favores a eles. Que desejamos: mudar o sistema ou extirpar alguns bodes expiatórios para, ao final, mantê-lo intocado?
* * *
A janela de oportunidades surgida em 18/5 permanecerá aberta por algum tempo – ainda mais se a disputa entre os dois blocos em choque se prolongar, como hoje parece mais provável. O decisivo, agora, é ir às ruas: são elas a principal escola política. Oxalá uma nova onda de mobilizações desarranje a agenda de retrocessos e bloqueie a saída elitista da crise. Oxalá ele estimule, também, a emergência, cada vez mais indispensável, de uma nova esquerda.
O juiz Ricardo Soares Leite, que transformou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em réu por obstrução à Justiça em julho do ano passado, foi citado nas delações da JBS. Segundo informações fornecidas à Justiça pelo empresário Joesley Batista, o advogado de defesa Willer Tomaz lhe havia oferecido, entre outros “serviços”, livre acesso ao magistrado, que atua como substituto na 10ª Vara Criminal de Brasília.
Durante o depoimento, Joesley informou que não havia negociação de propina, apenas “amizade” e “proximidade” entre o advogado e o juiz. Na última sexta-feira (19), o empresário da JBS “voltou atrás” e disse que não houve sucesso nas tentativas de aproximação entre Willer Tomaz e o magistrado.
A assessoria da 10ª Vara Criminal de Brasília informou em nota à imprensa que as informações fornecidas no depoimento da JBS são infundadas e que mais de uma vez foram decretadas naquela Vara medidas contra os interesses da empresa.
Mais polêmicas
Ricardo Soares Leite é o mesmo juiz que determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula no último dia 9 de maio, supostamente a pedido do Ministério Público (MP). Uma semana semana depois, foi divulgada a informação de que não havia nenhum pedido do MP, e a decisão foi derrubada.
Sobre o Instituto Lula, o magistrado descreveu em seu despacho que “delitos criminais” poderiam ter sido iniciados ou instigados na sede da instituição, em São Paulo, o que justificaria a interdição.
Segundo o desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), que derrubou o despacho de Leite, a suspensão foi “totalmente inadequada para atingir o fim pretendido”.
Operação Zelotes
Antes de transformar Lula em réu, o juiz Ricardo Soares Leite era alvo de dois processos na Corregedoria Nacional de Justiça. A procuradora regional da República na 1ª Região (PRR1), Valquíria Nunes, foi quem denunciou o magistrado, em 2015, após suspeitas de que a atuação dele era “pouco célere” nos pedidos feitos pela Polícia Federal e pela Procuradoria sobre as fraudes cometidas pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Devido a essa suspeita, Leite foi afastado das atividades relacionadas à operação Zelotes – na qual são investigadas empresas como Gerdau, Ford, Mitsubishi, Bradesco, Banco Safra e RBS, afiliada da Rede Globo no Sul do país.
A Força Tarefa da Lava Jato levou 18 meses para admitir a verdade: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é, e nunca foi, dono de um sítio em Atibaia, ao contrário do que os procuradores, a esposa do juiz Sérgio Moro e boa parte da imprensa sempre alardearam. E apesar dos fatos a Força Tarefa de Curitiba apresentou hoje, contra Lula, mais uma denúncia leviana, que apenas demonstra sua obsessão de perseguir o ex-presidente.
A denúncia, pela sua inépcia e incorreção, só pode ser rejeitada por qualquer juiz imparcial que a analise. A peça da equipe de Deltan Dallagnol relaciona, de forma aleatória e sem provas, contratos na Petrobras com os quais Lula não tem relação, com reformas feitas em 2010 sem o conhecimento do ex-presidente, em uma propriedade que não é de Lula, e que segundo depoimentos de delatores não foram feitas em contrapartida a nenhum contrato público, muito menos na Petrobras. A inclusão de contratos da Petrobras na denúncia se dá exclusivamente para que essa acusação fique sob controle da Força Tarefa de Curitiba e do Juiz Sérgio Moro, que, como os próprios admitem, formam um mesmo “time”, em procedimento que viola completamente um princípio básico da justiça: que um juiz deve ser imparcial.
Os advogados do ex-presidente já denunciaram a parcialidade dos procuradores e juiz da Lava Jato e a prática de “lawfare” (a perseguição política usando meios jurídicos) na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Lula não cometeu qualquer crime nem antes, nem durante, nem depois de exercer a presidência da República duas vezes, eleito pelo povo brasileiro.
Como entender o que se opera nos bastidores articulados que orientam a insistência da Globo, por meio de seus jornais, em poucos dias demolir as bases, já praticamente inexistentes, do governo ilegítimo que ela mesma contribuiu para colocar no poder?
A própria jornalista Renata Vasconcellos, precedida pela chuva de pequenos microfones e dos 20 “tãs” que ambientam o single do plantão televisivo da emissora, parecia não conseguir esconder o nervosismo com o objeto da transmissão ao vivo. Ofegante, ao anunciar a “notícia que representa um forte abalo na vida política do Brasil”, instaurou naquela quarta-feira um clima de alerta nacional com um impacto maior do que se observou no vazamento da conversa entre Dilma Rousseff e Lula capitaneada pelo juiz Sérgio Moro em 16 de março de 2016 (dois meses antes da abertura do impeachment sem crime de responsabilidade encerrado em 31 de agosto).
Por ironia do destino, ao anunciar o áudio entre Dilma e Lula no Jornal Nacional de 16 de março de 2016, a jornalista trajava uma elegante camisa azul escura, diferentemente da última quarta-feira, em que apresentava uma versão vermelha da vestimenta.
É claro que não há qualquer relação entre as cores da camisa da jornalista com a conjuntura política, até porque não se alternam polaridades discursivas nesse nível estético. Entretanto, observar a força dos pequenos microfones do plantão global nos permite concluir que tal espaço de 1 ou 2 minutos é capaz de pulverizar a sensação de fundo a partir da qual emanam as percepções do público enunciatário acerca dos acontecimentos programados a vir (ou não) à tona.
Para ilustrar tal arranjo de polaridades, uma transmissão da TV Cultura de 18 de maio de 2017 merece ser analisada. Gaudêncio Torquato, que já foi consultor político de Temer, em participação no Jornal da Cultura, afirmou que o diálogo entre o dono da JBS e o chefe do Executivo não caracteriza algo anormal, já que “o presidente da república tem a obrigação, sim, de ouvir os principais empresários do país”. Em defesa de Temer, o consultor justifica que, simplesmente, Batista “pediu uma audiência com o presidente para conversar sobre a empresa dele, e o presidente aceitou conversar”.
Segundo o consultor, não se identifica qualquer problema com o acontecimento tornado público, ou mesmo com as falas registradas, que sob algum nível interpretativo não explicitariam a anuência do presidente da república em relação aos esquemas de corrupção tratados pelo empresário. Esquemas, aliás, que evidentemente são de conhecimento do presidente ilegítimo, a prosear sobre os quais com eloquente naturalidade.
Certo é que a opinião pública não acolheu o teor abissal do que anunciou o comentarista[1], dados os seus indefensáveis argumentos pretendentes a isentar o governo federal da conduta criminosa. Comparativamente, nem o Jornal Nacional conseguiu a proeza de abafar a gravidade do que se conversou na reunião secreta.
Apesar de ter acontecido em 17 de maio de 2017 com o governo ilegítimo de Temer algo que, psicologicamente, assemelha-se ao que ilustra a cena final do filme Bastardos Inglórios (2009), na qual Quentin Tarantino aniquila a figura de Hitler e da cúpula nazista em uma sala de cinema ardendo em chamas, representando o apelo inconsciente do público que catarticamente se vinga das atrocidades cometidas pelo Führer, ainda não se sabe o que está por detrás da atual campanha antitemer.
Reflexivamente, a conjuntura impõe que busquemos refúgio nas expressões artísticas, garantidoras de nossa sanidade e coerência. Mestre das ilusões de ótica, a partir de elaborações pictóricas que lidam com a perspectiva, o artista gráfico Maurits Cornelis Escher (1898-1972) foi capaz de num mesmo plano geométrico, cognoscitivamente possível, edificar estruturas impossíveis, como no caso de Waterfall (1961), em que uma cascata cai sobre um moinho que retroalimenta um sistema hidráulico inconcebível.
Despautério, sim, comparar a genialidade do artista com as corrompidas estruturas do governo ilegítimo e golpista e suas malhas de articulação. Contudo, fiquemos atentos às aparências: por que a Globo e seus jornais pouco suspeitos escolheram voltar as costas contra Temer?
Talvez o notável ilustrador fosse capaz de nos explicar, traçando retas interpretativas sobre um mesmo plano da aparência, que não se tratam de patamares distintos de movimento. Tal qual a compreensão da obra de Escher, a conjuntura política também depende de jogos de perspectiva para operar, ainda que se trate da revelação de algo incompreensível.
Seja como for, o presidente golpista está caindo. A propósito, tal qual a água que se ilustra na obra de Escher, ele nunca chegou a subir, senão por um conjunto de manipulações de perspectivas entabuladas.
Pedro Daniel Blanco Alves é advogado, participa do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital da Faculdade de Direito da USP.
[1] Algumas manifestações do público sobre as colocações do comentador podem ser verificadas na lista de comentários da publicação no YouTube.
EXPERIMENTE CONTRA A TV GLOBO!
Você sabe que um canal de televisão não é uma empresa privada. É uma concessão pública concedida pelo governo federal com tempo determinado de uso. Como meio de comunicação, em uma democracia, tem como compromisso estimular a educação, as artes e o entretenimento como seu conteúdo. O que o torna socialmente um serviço público e eticamente uma disciplina cívica. Sendo assim, é um forte instrumento de realização continua da democracia.
Mas nem todo canal de televisão tem esse sentido democrático da comunicação. A TV Globo (TVG), por exemplo. Ela, além de manter um monopólio midiático no Brasil, e abocanhar a maior fatia da publicidade oficial, conspira perigosamente contra a democracia, principalmente, tentando atingir maleficamente os governos populares. Notadamente em seu JN. Isso tudo, amparada por uma grade de programação que é um verdadeiro atentado as faculdades sensorial e cognitiva dos telespectadores. Para quem duvida, basta apenas observar a sua maldição dos três Fs dominical: Futebol, Faustão e Fantástico. Um escravagismo-televisivo- depressivo que só é tratado com o controle remoto transfigurador.
Se você conhece essa proposição-comunicacional desdobre-a com outros. Porque mudanças só ocorrem como potência coletiva, como disse o filósofo Spinoza.
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CAMPANHA AFINADA CONTRA O
VIRTUALIZAÇÕES DESEJANTES DA AFIN
Este é um espaço virtual (virtus=potência) criado pela Associação Filosofia Itinerante, que atua desde 2001 na cidade de Manaus-Am, e, a partir da Inteligência Coletiva das pessoas e dos dizeres de filósofos como Epicuro, Lucrécio, Spinoza, Marx, Nietzsche, Bergson, Félix Guattari, Gilles Deleuze, Clément Rosset, Michael Hardt, Antônio Negri..., agencia trabalhos filosóficos-políticos- estéticos na tentativa de uma construção prática de cidadania e da realização da potência ativa dos corpos no mundo. Agora, com este blog, lança uma alternativa de encontro para discussões sociais, éticas, educacionais e outros temas que dizem respeito à comunidade de Manaus e outros espaços por onde passa em movimento intensivo o cometa errante da AFIN.
"Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do qual sempre ribomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes” (Friedrich Nietzsche).
Daí que um filósofo não é necessariamente alguém que cursou uma faculdade de filosofia. Pode até ser. Mas um filósofo é alguém que em seus percursos carrega devires alegres que aumentam a potência democrática de agir.
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