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RESISTIR, SEMPRE, VERGAR, JAMÉ; 78% QUEREM CASSAÇÃO DE TEMER E 90% ELEIÇÕES DIRETAS JÁ!

Vagner Freitas

“A resistência de vocês é fundamental” – Dilma falando a Gregório Duvivier

Todo vergar simboliza submissão. Uma árvore não se verga ao vento. Ela compõe com o vento. Todo sorriso diante do opressor é sorriso opressor. Não podemos dizer que seja sorriso. O que é o sorrir? O que é rir? Rir é criar. Rir é entender o humor e com o sorrir refletir sobre a situação posta. Moro não ri frente ao tirano. O riso do escravo frente ao tirano escravo não é riso.

Isto posto nos leva a refletir sobre situação  política do Brasil neste momento. A nossa resistência, como disse Dilma é fundamental. Precisamos falar do que está acontecendo no Brasil toda hora. Precisamos denunciar as arbitrariedades e violências que se cometem por parte dos tiranos golpistas contra o povo brasileiro.

Por que o exército condecorou Moro? O que fez Moro para receber essa honraria? Quebrou com a economia, desenvolve uma perseguição seletiva contra Lula e o PT e por isso é condecorado. Um juiz não deve ser condecorado. Sua atitude de magistrado nada mais é do que sua obrigação. Julgar justamente. Não por convicção. Moro recebe prêmio da Rede Globo, Dória e agora do Exército, instituição nacional, que aparece em pesquisas com alto valor de reconhecimento. Só que com essa premiação entendemos que  compactua com o medonho.

As duas pesquisas publicadas pela Vox Populi/CUT e pelo Ibope demonstram que se as eleições para presidente fossem hoje, Luís Inácio Lula da Silva seria eleito em primeiro turno. Não teria para ninguém.

Duas situações dão respaldo a isso. A forma de governar de Lula e Dilma nos dois governos populares que empreenderam e que as políticas sociais adotadas beneficiaram o povo: Luz para Todos, por exemplo. Quem fez isso antes? Ninguém. A outra situação que está fazendo Lula manter o minarete apontado para ser tricampeão é a saga desenfreada da Globo, e demais mídias golpistas, empresários, e a justiça, que não é justiça brasileira que não julgou, não se posicionou diante do golpe (faz parte), da derrocada da economia, dos desmandos e roubos no país. Quanto mais “batem” em Lula, mais ele cresce na aceitação popular, porque a leitura que o povo faz do enredo é que ele representa a classe trabalhadora, como milhares, ele é contra tudo o que se está votando no congresso contra a classe.

A revista Carta Capital deste final de semana divulga mais informações da pesquisa da Vox Populi/CUT feita entre os dias 6 e 10 de abril com população maior de 16 anos de todos os Estados brasileiros incluído o DF com margem de erro de 2,2 para mais ou menos.

O destaque deste corte da pesquisa é que 78% dos brasileiros desejam a cassação do golpista Fora Temer e 90% querem eleições diretas já.

Tudo o que os golpistas vem impondo de mudanças prejudiciais ao povo contribui para esse quadro. O primeiro, claro. já foi o golpe que Dilma sofreu. Nesse golpe, atendendo interesses do capital, visava-se implantar o Estado mínimo. A PEC da morte é um exemplo, assim como o que Pedro Parente está fazendo na Petrobras e as investidas para controle da água doce de nosso país. Os interesses por terras na Amazônia é muito grande. E os interessados não são nacionais. São estrangeiros. E dentre os estrangeiros sobressaem representantes de grandes empresas. Os sistemas de vigilâncias da Amazônia nada mais são do que monitores de identificação onde estão nosso recursos minerais.

O cerco a Lula. Lula não é o proprietário do apartamento do Guarujá. 73 testemunhas, unânimes enunciaram que Lula não é o dono do apartamento. Léo Pinheiro está preso desde 2014. No seu primeiro depoimento inocentou Lula e por esse motivo inviabilizou sua delação. A procuradoria comandada por Delagnol e pelo juiz que não é das araucárias o deixaram preso. Leo Pinheiro quer sair do xilindró, Moro não tem provas para prender Lula, só convicção, a audiência de Lula é dia 03 de maio, precisa-se dessa prova, mas não há. O dia se aproxima, o Juiz de Brasília Vallisney de Souza quer ser mais rápido que Moro transformando Lula em réu. Há perseguição contra Lula, o Partido dos Trabalhadores e o povo.

Como diz o jornalista Josias de Souza “é desnecessária e arriscada a detenção de Lula”.

A situação do povo está muito difícil. Mais de 13 milhões de brasileiros estão desempregados. A fome e falta de dinheiro é grande. Ou paramos isso ou a derrocada nos levará ao buraco.

Por isso, o dia 28 de abril será muito importante: “A crise política só começará a ser debelada com novas eleições, e somente uma intensa mobilização popular, com os movimentos sociais e a população nas ruas, será capaz de antecipá-las”, enuncia Vagner Freitas, presidente da CUT, pois não temos como esperar do Legislativo qualquer solução. “Boa parte dos deputados e senadores que estão aí sabe que não será capaz de se reeleger em 2018, até pelos impactos da Lava Jato. Parecem negociar o fim de suas carreiras políticas.”

Todas as categorias de trabalhadores devem parar suas atividades, ir para as ruas, se manifestar, porque só assim nós derrubaremos os golpistas que nos impuseram tais mazelas. Resistir sempre, se vergar aos tiranos jamée.

“Não acredito que Temer e Macri vão ficar no poder por muito tempo”

David Harvey

por Miguel Martins

David Harvey lamenta o recrudescimento conservador no Brasil e no mundo, mas confia que a força do neoliberalismo é passageira.

Como marxista, o geógrafo britânico David Harvey procura nas contradições do presente uma inspiração para o futuro, mas não tem sido uma tarefa fácil digerir a ascensão global do conservadorismo. “Eu tenho de confessar que tenho me sentido muito pessimista. É tão estranho, muito do que estamos vivendo é completamente louco, insano”, lamenta, para em seguida apegar-se a uma ponta de esperança. “Fico um pouco deprimido, mas acho que as pessoas vão voltar a cair na real.”

A antítese entre o pessimismo no presente e o otimismo quanto ao futuro não é estranha a quem adota a dialética como método. Em seu livro 17 Contradições e o Fim do Capitalismo, lançado recentemente no Brasil pela editora Boitempo, Harvey recupera o projeto de Karl Marx de estudar os mecanismos de reprodução do capital para sugerir alternativas às atuais relações de produção. Em lugar de uma ditadura do proletariado e de um Estado forte, o geógrafo confia no advento de um “humanismo revolucionário” como resposta ao caos social e ecológico do capitalismo.

Em entrevista a CartaCapital, Harvey critica a apresentação da teoria econômica convencional como verdade única, defende novas formas de associação econômica para as esquerdas e assume seu desencanto com a ascensão de lideranças como Mauricio Macri, presidente eleito da Argentina, e Michel Temer, empossado após o traumático impeachment de Dilma Rousseff.

Ele projeta, porém, vida curta para o capital político da dupla. “Nos dois países, há a ascensão oportunista de uma direita neoliberal que se aproveita de um poder efêmero. Não acredito que Temer e Macri vão permanecer no poder por muito tempo. ”

CartaCapital: Em 17 Contradições e o Fim do Capitalismo, o senhor recupera um dos fundamentos do pensamento de Karl Marx: entender o funcionamento do capitalismo como forma de confrontá-lo e de oferecer uma alternativa. A busca por compreender os mecanismos de reprodução do capital tem sido deixada de lado nas últimas décadas?
David Harvey: O tema certamente tem sido negligenciado e deturpado. Frequentemente, a teoria econômica convencional tem sido apresentada como única verdade, e outras teorias são tratadas com desprezo, pois são negativas para os agentes econômicos. Um dos objetos da teoria convencional é tentar naturalizar o capitalismo, como se o modo de produção fosse imutável. Marx apontava que o capitalismo é construído historicamente e está em evolução, logo é possível prevermos uma mudança.

CC: O senhor afirma na introdução do livro que as forças tradicionais da esquerda têm se mostrado incapazes de construir uma oposição sólida ao poder do capital. Como contornar essa fragilidade?
DH: Precisamos de uma revolução nas práticas políticas, mas também uma revolução na forma de entendermos a atual situação, nas nossas concepções mentais sobre o mundo, para entendermos o que precisamos fazer e como podemos fazê-lo.

CC: Em entrevista a CartaCapital, Slavoj Zizek defendeu que “a esquerda precisa redescobrir a força do Estado”. O senhor concorda?
DH: Eu não acredito que isso seja prioritário. Marxistas, anarquistas e outros grupos da esquerda têm seus próprios princípios sobre o poder, mas o principal problema é como organizar o trabalho de uma forma associativa, para construir uma economia alternativa ao capitalismo. Para mim, o Estado pode ter um papel relevante nisso, mas o fundamental é como as forças anticapitalistas se organizem entre si para lutar contra esse sistema.

CC: O senhor tem acompanhado os desdobramentos políticos do impeachment de Dilma Rousseff?
DH: Estou tentando acompanhar, suspeito que seja mesmo um golpe. Obviamente, no Brasil um presidente foi efetivado sem ser eleito e enxerga nesta oportunidade no poder uma forma de implantar um programa neoliberal bastante radical. A mesma coisa ocorre na Argentina.

A maior parte dos eleitores de Mauricio Macri não previam que seu governo seria tão neoliberal. Nos dois países, há a ascensão oportunista de uma direita neoliberal que se aproveita de um poder efêmero. Não acredito que Temer ou Macri terão força política por muito tempo. Eles estão usando essa passagem pelo poder para construir uma transformação radical da economia e beneficiar a classe do capital corporativo.

CC: O governo de Temer tem adotado como prioridade diversas medidas impopulares defendidas por grande parte dos empresários brasileiros, entre elas o congelamento de gastos públicos e as reformas trabalhista e da previdência, propostas que dificilmente seriam aceitas pela população em uma campanha eleitoral. O caso brasileiro indica que o casamento entre capitalismo e democracia está em crise?

DH: Há diversas maneiras de vermos a democracia. O capitalismo sempre esteve preso a uma certa visão de democracia, como nos Estados Unidos, onde o sistema democrático é baseado no poder do dinheiro, e não o da população. A Corte Suprema norte-americana basicamente diz que o gasto de recursos em uma eleição não deve ser limitado, pois é um direito individual e a democracia deve absorver isso. Logo, há diferentes definições de democracia.

Livro Harvey
Harvey: ’17 Contradições e o fim do capitalismo’. Boitempo, 297 p., R$ 69

O que estamos vendo ao redor do mundo é a emergência de um movimento autoritário. Recep Erdogan, presidente da Turquia, recentemente afirmou: “a democracia é um ônibus que se abandona quando se chega ao destino”.

O capitalismo enxerga o regime da mesma forma: quando a democracia é conveniente, o capital é democrático, quando não for, ele encontrará formas de contornar e reconfigurar a natureza do processo democrático.

CC: O senhor costuma defender a transição para uma economia de crescimento zero, mas há uma enorme pressão do mercado durante recessões. O impeachment de Dilma está diretamente relacionado à crise. Como podemos confrontar o establishment econômico que exige crescimento a qualquer custo?
DH: Sou uma pessoa relativamente velha, e sempre me disseram durante meus 80 anos que a redistribuição de renda só pode ser atingida por meio do crescimento econômico. Temos feito isso nos últimos 60 ou 70 anos, e não tem funcionado. Então penso que precisamos olhar com mais atenção para a redistribuição. Essa deve ser a prioridade, e não o crescimento.

Não sou um defensor incondicional do crescimento zero, em países menos desenvolvidos, o crescimento ainda é necessário. Mas em países desenvolvidos, o crescimento não precisaria ser prioritário. Grande parte do consumismo nos Estados Unidos é desnecessário e constitui um desperdício. Poderíamos organizar o consumo em uma linha completamente diferente se não tivéssemos essa enorme desigualdade na distribuição, na riqueza e no poder.

CC: Como o senhor vê a ascensão de discursos nacionalistas, expressos em movimentos como o Brexit no Reino Unido e na candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos?
DH: Muitos chamam de nacionalismo, eu chamo de desilusão em relação à globalização. Uma das alternativas é voltar-se à política local e sentir-se mais confortável ao controlar as coisas em seu próprio quintal, mais do que ser controlado pelas forças abstratas da globalização.

O fato de que o nacionalismo sabe cultivar esses valores tem feito ele se tornar um alternativa importante. Não acho que precise ser desta forma. Há alternativas ao capitalismo que deveriam ser desenvolvidas. Neste momento, não há, porém, dúvida de que a versão da direita sobre esse processo é dominante.

CC: O senhor considera esse discurso de desilusão uma ameaça a seu projeto de humanismo revolucionário?
DH: É uma ameaça séria, mas é possível resistir. Como disse, não acredito que Temer e Macri vão permanecer no poder por muito tempo, acredito que as esquerdas são suficientemente organizadas para se livrar deles nos próximos quatro ou cinco anos.

O mesmo deve ser verdade para alguns desses movimentos nacionalistas que estão surgindo. Mesmo que Donald Trump seja eleito, não acredito em sua permanência por muito tempo. Muitas das suas propostas não devem sair do papel, pois o apoio político às mudanças não se alargará a tal ponto.

CC: O senhor defende em seu livro que ainda é possível prever o fim do capitalismo por meio de suas contradições ao defender o humanismo como valor universal. O senhor está otimista em relação ao futuro?
DH: Eu tenho de confessar que em certos dias me sinto muito pessimista. É tão estranho, muito do que estamos vivendo é completamente louco, insano. Então fico um pouco surpreso e um pouco deprimido, mas por outro lado eu tendo a achar que as pessoas cairão na real e perceberão que podemos construir um mundo muito, muito melhor.

O que nos está sendo oferecido com essa violência absurda e essa política insana de direita? Por isso, suspeito que, se a esquerda passar a desenvolver ideias e práticas políticas criativas, ela tem um futuro brilhante pela frente.

 

O GOLPE ESTÁ SE MATERIALIZANDO, MAS AINDA EXISTEM OUTROS DIAS – PARA O BEM DA DEMOCRACIA

Senadores Antonio Anastasia, Aécio Neves, Cássio Cunha Lima e os deputados Pauderney Avelino e Antônio Imbassahy.

Os psicopatas, os ladrões, as aberrações, os canalhas, canalhas, canalhas (Tancredo Neves) corruptos, entreguistas, aproveitadores, usurpadores, lambaios, lacaios, subservientes, facínoras, bandidos, sub raça, engodo, sujos, estúpidos, estão materializando mais um golpe de Estado no Brasil. 

Um golpe de Estado que nós denominamos de golpe de Estado jurídico-parlamentar-partidário-midiático.

O último golpe de Estado no nosso país aconteceu em 31 de março de 1964 e se propagou até 1985. Nesse período houveram prisões, torturas e muitas mortes. A presidenta foi presa e torturada. Muitos piraram, outros enlouqueceram e Frei Tito se suicidou. Mataram Marighela, Herzog, mataram a democracia.

O Congresso foi fechado. Cancelaram-se eleições diretas. E o regime ditatorial militar com apoio de muitos civis proibiram reuniões, sindicatos, livre manifestação do pensamento, exílio e simulação de suicídios.

Este golpe de Estado está sendo diferente em partes. Mas tem o apoio do parlamento, que é muito mais grave, porque os parlamentares foram eleitos pelo povo e neste momento o povo, o eleitor está sendo roubado. São os votos de 54,5 milhões de brasileiros e dos demais candidatos, principalmente do candidato derrotado, Aécio Cunha que foram às urnas para votar para um mandato de 4 anos e não de dois anos. O que o parlamento está fazendo é um assalto, é um roubo, mas nisso eles são especialistas.

Este golpe de Estado foi gestado a muito tempo. E foi colocado em prática porque os golpistas brasileiros e estrangeiros nunca aceitaram a vitória da presidenta Dilma Vana Rousseff. Nem na primeira eleição e nem no bi campeonato que ela goleou Aécio Cunha quando ele já comemorava antecipadamente a vitória e seus correligionários já fretavam helicópteros e jatinhos para se deslocarem para Belo Horizonte.

Pedro França: <p> Em destaque, senador Aécio Neves (PSDB-MG). Foto: Pedro França/Agência Senado</p>

Aécio, o candidato derrotado, como já escrevemos neste blog nunca superou essa derrota.  Vemos, ainda hoje no seu semblante o ódio, o rancor, a inveja, o ciúme de nunca ter subido a rampa do Palácio do Planalto, feito que Dilma Vana Rousseff fez duas vezes ovacionada pelo povo que a elegeu. E ele nunca subirá enquanto houver pessoas como Dilma, Lula e Ciro Gomes.

O candidato derrotado recorreu contra sua vitória suspeitando das urnas. Pediu recontagem de votos. Recorreu questionando os valores financeiros de sua campanha. O próprio STF julga as contas de Dilma e do interino golpista Michel Temer.

O ódio contra a presidenta foi pior porque uniu as duas casas legislativas. Senado e Câmara dos Deputados.

No parlamento não foi aprovado nenhum projeto, nenhuma lei para beneficiar a população e promover o desenvolvimento do país. As pautas eram constantemente obstruídas.

E os deputados e senadores atribuem todos os erros, mazelas, dificuldades, desempregos à presidente da República. Para eles o regozijo eram quando pior melhor porque eles construíam o caminho da exceção, o caminho da morte da democracia.

O outro arquiteto da morte da democracia que se avizinha foi o deputado Caraguenjo, biréu Eduardo Cunha. Gente da pior espécie. Ladrão, corrupto, sonegador de impostos, traficante de influências, portador de contas no exterior, financista de campanha de mais de 200 deputados com dinheiro público desviado de estatais e das grandes empreiteiras. Hoje réu no STF, prestes a ser cassado e preso pelos crimes que responde na Lava Jato.

Foi exatamente por isso que ele aceitou o processo do golpe. Quando os deputados do PT não aceitaram livrá-lo da Comissão de Ética da Câmara que lhe processaria, rancoroso, ressentido, aceitou o pedido do golpe da advogada Janaína Pascoal, Migue Reale Júnior e Hélio Bicudo que receberam a bagatela de R$ 45 mil tocos. 

O processo foi votado na Câmara dos Deputados no dia 17 de abril e depois, sem partes dos documentos originais, prosseguiu para o Senado, que hoje está sendo questionado e passível de anulação judicial, porque aquela casa não podia julgá-la faltando a documentação completa retirada pelo biréu.

A presidenta foi afastada quando o senado votou a admissibilidade e o interino golpista, Temer assumiu o governo. Quando este assume, pelas delações que tornaram-se públicas, percebeu-se que havia toda uma armação muito bem preparada para a consolidação do golpe.

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Vieram as delações de Sérgio Machado contra Romero Jucá, Renan Calheiros, José Sarney. Jucá, o super ministro do planejamento de Temer não resistiu e caiu. Caiu porque estava ali para parar a sangria da Lava Jato contra todos que vinham sendo delatados. Não sobraria um e a República desmoronaria e propunham a volta da Monarquia pelo visto, pois ontem levaram um Orleans Bragança para o plenário do Senado. Na época dos monarcas com o Partido Moderador a figura do rei dava mais seriedade à governança e a administração do reino.

O golpe se construiu sob uma farsa. E cada vez que se avança mais farsas são descobertas. “O senador Randolfe Rodrigues, publicamos hoje, no blog, da REDE-AP, diante do depoimento do ex-auditor Antônio Carlos D’Ávila percebeu o sutil signo da fraude cometida por ele e seu parceiro, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira que pela manhã havia sido rebaixado pelo ministro Lewandowsky da condição de testemunha para a condição de informante por haver feito campanha contra Dilma para ajudar o candidato do PSDB.”

O golpe de Estado no Brasil para ser concretizado também tem todo um apoio das instituições jurídicas do país. PGR, STF principalmente.

São várias as delações onde aparece o nome de vários apolíticos de partidos como PSDB, PMDB, DEM, PP e ninguém é investigado, ninguém é preso.

As instituições jurídicas fazem parte do golpe.

Fazem parte porque são da mesma classe. Eles não são da classe trabalhadora.

O julgamento termina amanhã. O golpe solidificado caberá aos assessores da presidenta Dilma buscar as instituições legais como Ministério Público Federal, o Conselho Nacional de Justiça e organismos jurídicos internacionais.

Junto ao Supremo há pouca coisa a fazer. Para eles o golpe seguiu o rito. Foi presidido pelo presidente do STF. Por isso ele é um golpe normal.

Só não viram o mérito nem o conteúdo. Por isso sua fragilidade.

Não será normal quando o povo perceber que foi roubado. Quando perceber que foi enganado pela TV Globo, Jornal Folha de São Paulo, Revista Veja, Istoé, Época e suas similares a história será outra e ai vai feder cifre queimado e os ladrões vão pedir reza.

O senador Roberto Requião já fala em Guerra Civil. 

Leblon na Carta Maior se reporta à noite de São Bartolomeu.

Decisões devem ser tomadas. Nenhuma trégua aos golpistas. Escrachos, vaias, pois vai está escrito na testa teles: “Eu sou golpista, eu sou pedrador da democracia”.

 

TEMER ESTÁ EM ESTADO DE TENSÃO POR DESCONFIAR DE TER SIDO GRAMPEADO POR EDUARDO CUNHA; ORA, SE ESTÁ COM MEDO HÁ ALGO QUE LHE COMPROMETE E QUE É ANTIDEMOCRÁTICO

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Diferente dos outros golpes militares e de Estado que ocorreram no Brasil e noutros países, tanto da América do Sul, como na África, Ásia, principalmente, este aqui no Brasil, diferente de 1964, tem como aliado uma imprensa alternativa muito mais abrangente como naquela época. Havia, sim, naquela época pessoas que contestavam o golpe, que foram presas, torturadas e mortas. Mas as informações, as contestações, por exemplo, de pesquisas fraudadas não chegavam na casa das pessoas porque não havia a internet para as mesmas assenhorearem-se dos fatos que aconteciam no Brasil.

Hoje tudo é diferente. As elites, os golpistas não tem mais como enganar o povo. Enganam por minutos, horas, mas logo depois vem as descobertas das fraudes, dos encontros, dos conchavos. Foi o que fez  este Blog logo no domingo à noite, depois o The Intercept, o Tijolaço e muitos outros sujos que desvendaram a fraude do Datafolha que mostrava a preferência do povo pelo golpista, usurpador Temer. 

Ontem, dia 22, mais uma revelação importante veio das lavras do jornalista  André Barrocal para a Revista Carta Capital dirigida pelo íntegro jornalista, filósofo, Mino Carta, que está nas bancas neste final de semana.

Barrocal revelou que naquela visita feita pelo deputado cassado, Eduardo “Caranguejo” Cunha, ao golpista Temer, no Palácio Jaburu, num domingo à noite, sem está na agenda oficial, foi para o “Caranguejo” relembrar o golpista dos cacoetes, “antigas parcerias”. Quando o “Caranguejo” disse isso, segundo fontes Jaburunas, Temer surtou, gritou com o cassado, ficou tenso, pois com aquela forma de conversa e sabedor que o Deputado Mário Juruna, o do gravador,  Sérgio Machado, os que gravaram Dilma e Lula tinha feito seguidores, desconfiou da arapuca pela forma como a conversa foi desenvolvida. O golpista desconfiou e o jeito foi gritar com o ex-deputado que já começou sua mudança da casa do presidente da Câmara em carros pequenos para não despertar a curiosidade da imprensa, a golpista, principalmente.

O ex-presidente da Câmara do Deputados hoje cassado, Eduardo Cunha tem uma relação com Temer muito antiga que os envolveu, por exemplo, na aprovação da Lei dos portos, votada e aprovada em 2013 depois que o deputado incluiu um trecho que favorecia o Grupo Libra, dos sócios e irmãos Rodrigo Borges Torrealba e Ana Carolina Torrealba. A Libra, na eleição de 2014, doou para o golpista Temer a  quantia de R$ 1 milhão de reais, tendo este que abrir uma empresa para a capitação desse recurso que depois foi repassado para seus amigos que concorreram nessa eleição.

O deputado sabe que o golpista do Jaburu tem um feudo na Companhia Docas de São Paulo; estreita relações com o Grupo Libra; que a Docas contratou um escritório de advogados para resolver questões envolvendo a Libra e a Codesp; que o advogado  Nelson William já esteve com Temer no Jaburu e que essa relação de influências já está chegando ao Rio Grande do Sul, onde opera um filho de Eliseu Padilha.

O deputado cassado, Eduardo “Caranguejo” Cunha, sabendo de tudo isso, só tinha uma alternativa; buscar apoio naquele que ele ajudou chegar na presidência usurpada. 

O golpista Temer anda tenso, irritado. Há informações que ele não suporta notícias ruins contra ele. Comemorou no domingo a pesquisa do Datafolha fraudada. Mas, depois, com a descoberta, o golpista é um nervo só.

Os antigos diziam que “quem não deve não teme”. Se o golpista está a temer é porque existe muita coisa para ser delatada e que são antidemocráticas que precisam ser esclarecidas e se for o caso, julgar, condenar e mandar para a Papuda Caranguejo, Temer e todos os golpistas, assim como está acontecendo na Turquia,

 

MINO CARTA, DA REVISTA CARTA CAPITAL, DIZ, EM VÍDEO, QUE O GOLPE É PIOR QUE O DE 64, E CUNHA É A EMINÊNCIA PARDA DE TEMER E TEM TODOS OS GOLPISTAS NO BOLSO

minocunha

Veja e ouça o vídeo gravado com o diretor da revista Carta Capital, Mino Carta, sobre a edição que circulará amanhã, sábado, 9 de julho. No vídeo o jornalista-filósofo fala sobre o golpe, a mentira da renúncia de Eduardo Cunha, seu papel no desgoverno do golpista Temer, as minúcias da elaboração do golpe e sua execução, o papel de eminência parda de Cunha para Temer e o domínio que o ‘caranguejo’ tem sobre todos os que participaram do golpe que, para ele, Mino, foi pior do que o golpe de 1964.

Estupro, o crime que até a lei oculta

Manifestação

Uma mulher é violentada a cada 11 minutos no Brasil. Mas os códigos sociais culpam as vítimas, em vez de protegê-las.

por Marsílea Gombata

Em 2002, o filme francês Irreversível trouxe às telas uma das cenas mais incômodas da história do cinema: em uma passagem subterrânea na noite de Paris, a personagem de Monica Bellucci volta sozinha de uma festa e cruza com o agressor, que a domina com uma faca, a joga no chão, abafa seus gritos ao tapar a sua boca, rasga sua roupa, a estupra e a espanca, com chutes no nariz e nas costelas e repetidos choques de seu rosto contra o chão. São 11 longos minutos em uma sequência de tensão, repulsa e dor.

Apesar do misto de perplexidade e revolta que a cena de um estupro causa, não se trata de um caso incomum. No Brasil são perto de 527 mil estupros ao ano, segundo o levantamentoEstupro no Brasil: Uma radiografia segundo os dados da Saúde, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O crime, no entanto, é um dos mais subnotificados no País: estima-se que apenas 10% dos casos cheguem à polícia. Ou seja, 90% nem sequer são investigados.

No fim de maio, o País voltou a reviver o horror com o caso de uma jovem de 16 anos vítima de estupro coletivo. A tragédia ganhou repercussão porque um dos supostos agressores fez questão de postar um vídeo nas redes sociais e apresentar a adolescente desacordada, como um objeto utilizado e descartado por ele e outros homens presentes no recinto.

As investigações ainda não chegaram a um número certo de agressores, mas a vítima fala em 33 homens – alguns armados com fuzis, outros a violentando, outros a imobilizando em um quarto no Morro da Barão, na Praça Seca, zona oeste do Rio.

“A violência contra a mulher precisa ser entendida como um fenômeno social por duas razões: ela não se manifesta de forma pontual, mas segundo padrões amplamente presentes na sociedade”, observa Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da UnB e organizadora do livro Feminismo e Política: Uma introdução (Boitempo, 2014) ao lado de Luis Felipe Miguel.

“Por meio dele, os homens tornam concreto o entendimento de que têm direito de definir a vida das mulheres, isto é, de que elas não são os sujeitos de suas próprias vidas. O estupro é uma afirmação crua do domínio masculino sobre as mulheres e se impõe a elas como ameaça.”

O crime com a adolescente, que vivia em um apartamento na Taquara com a mãe, o pai, a avó e o filho de 3 anos, repercutiu. O presidente interino, Michel Temer, anunciou medidas vagas sobre políticas para mulheres – como a criação do Núcleo de Proteção à Mulher –, reconheceu que a sociedade brasileira se acanha diante de tais episódios e anunciou como secretária de Políticas para Mulheres Fátima Pelaes, aliás contrária ao aborto, mesmo em casos de estupro. 

Uma semana após o ocorrido, o Senado aprovou projeto de lei que tipifica os crimes de estupro coletivo e de divulgação de imagens desse tipo de violência. A ideia é a pena para o crime de estupro praticado por duas ou mais pessoas ser aumentada de um a dois terços – atualmente, casos com maiores de 18 anos preveem de seis a dez anos de prisão, enquanto com menores varia de oito a 12 anos.

Na esfera local, a investigação começou com o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, mas foi transferida para Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima.

A troca deu-se após pedido da defesa da menina de 16 anos, que contou ter sido questionada por Thiers sobre sua versão. Ele perguntou, por exemplo, se a vítima do estupro coletivo tinha o hábito e gostava de fazer sexo em grupo.

Thiers ganhou projeção ao conduzir casos de grandes repercussões nos últimos anos, como a investigação de ações dos black blocs em 2013. No ano seguinte, poucos dias antes da Copa do Mundo, pediu a prisão preventiva de “responsáveis” por incitar violência em protestos, entre eles a advogada Eloisa Samy – a mesma que defendia a jovem de 16 anos até ela entrar para o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, após receber ameaças do tráfico do Morro da Barão. Na terça-feira 7, Thiers foi afastado do comando da DRCI.

Estupro

“O machismo não é algo que se expressa de forma solta no cotidiano das pessoas. Ele existe nas instituições e na forma como aqueles que operam essas instituições agem. As mulheres têm clareza de que são vulneráveis não apenas à violência sexual, mas também ao machismo institucional”, observa Flávia.

“Quando Thiers diz que estava investigando se houve consentimento da vítima, temos um caso típico de desconfiança da palavra da mulher. Desconfiança e recusa à palavra das mulheres incentivam a cultura do estupro.”

Corriqueira, a postura do delegado pode ser apontada, portanto, como uma das razões por trás da subnotificação do crime de estupro. Apesar do crescente número de vítimas, poucas mulheres têm estômago para levar a denúncia adiante. Parte disso pode ser explicada pela postura das instituições brasileiras, que fazem o estupro ser o único crime no qual a vítima precisa provar que não tem culpa.

“Do momento em que ela é estuprada em diante, a mulher continua sendo violentada pelo Estado”, define assim a dinâmica de revitimização Lívia de Souza, advogada feminista. “Sempre perguntam qual roupa ela vestia, se estava bêbada ou andando na rua tarde da noite. A mulher passa a ser humilhada pelo sistema criminal como um todo.”

Integrante do grupo ONU Mulheres Brasil e com experiência no atendimento de mulheres vítimas de violência, Lívia observa que, enquanto nas delegacias não há um espaço exclusivo para acolher essas vítimas, o atendimento geralmente é feito por homens na presença de outras pessoas, e a perícia – que só tem efeito quando realizada até dois dias depois do estupro – também costuma ser executada por peritos do sexo masculino.

Soma-se a isso o fato de a vítima ter de relatar diversas vezes o ocorrido e rememorar a vivência traumatizante. “A mulher, então, acaba desistindo de denunciar para não sofrer ainda mais”, explica Lívia.

A coordenadora do Núcleo da Mulher da Defensoria de São Paulo, Ana Paula Meirelles Lewin, lembra que muitas mulheres nem sequer procuram ajuda por medo e constrangimento. “Muitos casos são praticados por alguém de sua convivência. Então ou a mulher terá medo do agressor ou ela se sentirá culpada”, diz.

Professora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ, Joana Vargas afirma que, pelo fato de a investigação de estupro recair sobre a vítima, observa-se um “efeito funil” no âmbito de Justiça.

“Inicia-se com um grande número de casos reportados à polícia e termina, depois de seleções sucessivas, com um pequeno número de casos sentenciados”, observa sobre a pesquisa Análise Comparada do Fluxo do Sistema de Justiça para o Crime de Estupro, com base em Boletins de Ocorrência da Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas entre os anos de 1988 e 1992.

“O que mais chama a atenção nesses casos ainda é a grande filtragem operada na fase policial, quando 71% dos Boletins de Ocorrência são arquivados.”

Muitas das vítimas do crime descrito no Artigo 213 do Código Penal terão de enfrentar a ausência de profissionais capacitados para um tratamento mais sensível e individualizado. O primeiro passo é a vítima fazer o B.O. e manifestar por escrito a vontade de que o agressor seja processado.

Depois é encaminhada para o exame de corpo de delito. Caso o réu seja denunciado e processado, a vítima pode ser chamada para confrontar a versão do agressor. Se a decisão em fazer o B.O. e a representação ultrapassar o prazo de seis meses, não há investigação.

O próprio tópico sobre a submissão da vítima a exames de corpo de delito em busca de provas materiais é polêmico. O primeiro laudo da perícia realizado na adolescente de 16 anos não encontrou indícios de violência. O crime, no entanto, estava comprovado desde o momento em que no vídeo veem-se os agressores tocando a jovem desacordada.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, entende que “em se tratando de delitos sexuais, a palavra da vítima tem alto valor probatório”, o que coloca em xeque a necessidade incontestável de exames corporais como provas.

Heloisa Buarque de Almeida, professora de Antropologia da USP, questiona a eficácia de provas materiais, que muitas vezes se mostram um empecilho à vítima seguir adiante com a denúncia.

“Pode ter havido estupro, mas o exame dirá apenas se houve relação sexual, sem falar se foi consensual ou não”, observa ao ressaltar que a narrativa e a reconstituição dos fatos são igualmente importantes.

Nova Délhi

A docente, que montou no ano passado a Rede Não Cala para apoiar vítimas de violência sexual na universidade, observa que o medo de exposição e o desencorajamento por parte das próprias faculdades fazem mais de 90% dos crimes de estupro na USP se reduzirem a histórias e traumas, sem qualquer punição.

Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), uma aluna denunciou ter sido vítima de estupro coletivo por oito colegas em 2002, mas foi desencorajada pela própria direção. Os agressores se formaram e deixaram o episódio no passado. A jovem convive com sequelas até hoje.

Em 2014, alunas da elitista Faculdade de Medicina da USP contaram terem sido violentadas sexualmente por veteranos, em casos que vão desde a tentativa forçada de sexo oral a uma manhã em que uma delas acordou nua com uma camisinha presa no ânus. As denúncias levaram à abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo e a um inquérito tocado pelo Ministério Público.

Recentemente, a USP abriu uma sindicância para apurar a denúncia de estupro de uma estudante de Artes Cênicas durante os Jogos Universitários de Comunicação e Arte (Juca), no fim de maio em Sorocaba (SP), por um estudante de Física. O caso, no entanto, é exceção no mar de violência ao qual estão expostas as alunas. Heloisa conta que de dez casos de estupro que atendeu na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, apenas um virou denúncia formal.

O máximo que a universidade pode fazer é uma punição acadêmica, com a expulsão do aluno e a anulação de seu diploma, mas não o impedir de prestar vestibular e reingressar. “Existe uma cultura de negação do estupro”, diz Heloisa. “Muitos acham que, se a vítima não está desesperada e banhada em lágrimas, é provável que ela tenha feito sexo consensual e se arrependido.”

Por detrás do Brasil do Carnaval, portanto, o que se esconde é uma sociedade machista e conservadora. Afinal, conseguimos falar de sexo explícito em músicas, mas temos imensa dificuldade em reconhecer os problemas dentro de casa. “Existe um tabu muito grande em relação à sexualidade. O prazer e a sexualidade da mulher são sempre vistos como secundários e, de alguma forma, a serviço do homem”, analisa Lívia.

Encontre uma única mulher que nunca tenha tido medo de ser estuprada. Não há. Em 2013, pesquisa Chega de Fiu Fiu do Think Olga mostrou que 90% das mulheres já deixaram de usar roupa decotada por medo de sofrer algum tipo de assédio, enquanto 81% das entrevistadas disseram já terem deixado de fazer alguma coisa por medo de serem assediadas pelos homens.

Não é demais rememorar o dado assombroso trazido pela pesquisa Tolerância Social à Violência contra as Mulheres, feita pelo Ipea em 2014: mais de um quarto da população brasileira (26%) declara que “mulheres com roupa curta merecem ser atacadas”.

É no Brasil conservador que a cada 11 minutos uma mulher é vítima de estupro, de acordo com dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A radiografia do Ipea baseada nos dados do Ministério da Saúde de 2011, por sua vez, mostra que 15% dos estupros foram registrados como coletivos, 70% vitimizaram crianças e adolescentes, e em 32,2% dos casos com crianças e em 28% dos casos com adolescentes os algozes eram amigos ou conhecidos da vítima.

“A violência de gênero é um reflexo direto da ideologia patriarcal. Como subproduto do patriarcalismo, a cultura do machismo, disseminada muitas vezes de forma implícita, coloca a mulher como objeto de desejo e de propriedade do homem, o que termina legitimando e alimentando diversos tipos de violência, entre os quais o estupro”, afirma Daniel Cerqueira, da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea e um dos autores da pesquisa.

No perverso universo da violência contra a mulher, o número de vítimas mortas em condições violentas cresceu 21% entre 2003 e 2013, passando de 3.937 para 4.762, segundo dados do Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil. O triste aumento representa uma média de 13 homicídios femininos por dia.

As cifras sobre violência de gênero assustam, mas são explicadas em parte por um histórico de legislações que por muito naturalizaram tais crimes. Até 1984, estupro no casamento não era considerado como tal, por ser visto como uma obrigação matrimonial da mulher.

Foi somente no século XXI que o Direito Penal reconheceu o status de sujeito às mulheres, com manifestação própria da sexualidade e direitos iguais aos dos homens. Em 2001, o assédio sexual (sofrido por ambos os sexos) passou a ser considerado crime e, em 2009, a Lei nº 12.015 reconheceu que esses crimes não ferem o pudor, mas sim os sujeitos.

Avanço institucional, a Lei Maria da Penha entrou em vigor em 2006 para combater a violência contra a mulher, mas não teve impacto na redução das taxas anuais de mortalidade por esse tipo de agressão, conforme mostra o Violência contra a Mulher: Feminicídios no Brasil, também elaborado pelo Ipea, em 2013.

Projeto de Lei 5069/2013

No horizonte próximo, outras ameaças em curso. É o caso do Projeto de Lei 5.069/2013, de autoria do parlamentar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e aprovado em outubro na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. O texto dificulta a realização de aborto em casos de estupro e prevê pena a qualquer um que oriente a vítima sobre as possibilidades legais de aborto em casos de violência sexual.

Também exige B.O. e exame de corpo de delito para dar acesso à profilaxia para estupro, como pílula do dia seguinte, e orientação psicológica. Em geral, as vítimas recorrem aos serviços de saúde antes mesmo de ir à delegacia.

No fim de maio, o ministro interino da Educação, Mendonça Filho, recebeu o ex-ator pornô Alexandre Frota, que, além de advogar pelo “fim do comunismo na educação”, em prol do Projeto Escola sem Partido – proposta contrária ao que define por ideologia de gênero e em prol de um pensamento único –, foi aplaudido em um talk show, em 2014, por contar como teria estuprado uma mãe de santo.

“Quanto menos discutirmos as relações de gênero, mais oculta e naturalizada ficará a violência. A defesa da censura, da exclusão do debate sobre gênero nas escolas, corresponde à posição de que a violência sexual não deve ser combatida. Quem quer escola sem debate de gênero e um país com menos direitos para as mulheres escolheu seu lado, o da violência”, afirma Flávia.

A propósito do estupro no Rio, o jornal progressista francês Libération estampou o caso em sua primeira página: “Contra o Estupro, um Combate Mundial – Depois da Índia em 2012, o Brasil enfrenta um caso de estupro coletivo de uma violência rara.

O início de uma tomada de consciência mundial?” O Times of India, ao criticar a grande imprensa pelo “silêncio” inicial sobre o tema, afirmou que “o Brasil encara sua própria crise de Nirbhaya”, em referência ao episódio de 2012 em que uma estudante foi estuprada por uma gangue em um ônibus em Nova Délhi e morreu em decorrência de ferimentos internos.

O jornal do país, onde 92% das mulheres da capital contam terem vivenciado algum tipo de violência sexual em espaços públicos, lembrou outros casos emblemáticos daqui do Brasil, como aquele, de 2013, em que uma turista americana foi sequestrada por três homens em uma van no Rio e estuprada oito vezes na frente do namorado francês.

A barbárie perpetrada em uma favela no Rio suscitou um clima de indignação e obrigou o País a reaver-se com uma carga cultural que o amarga. Além da revolta nas redes sociais, com hashtags como #30contratodas, #nãoaomachismo, #EstuproNaoÉCulpaDaVitima e #MeuCorpoMeusDireitos, no domingo 29 cerca de 3 mil pessoas se reuniram em frente do STF, em Brasília, na Marcha das Flores – 30 Contra Todas.

Feminicídio

Na noite da quarta-feira 1º, milhares protestaram em diversas cidades brasileiras contra o abuso sexual. Em São Paulo, manifestantes reuniram-se no Masp com dizeres como “Machistas, golpistas, não passarão” e “O corpo é da mulher e ela dá para quem quiser”. No Rio, mais de 2 mil mulheres protestaram no Centro com cartazes que diziam “Não é não” e “O machismo mata”.

Protestos que refletem a ânsia da sociedade por mudanças não apenas legislativas, mas também culturais. “Quando usamos o corpo de uma mulher para vender na publicidade, estamos colocando-a como mais um produto, mais um objeto à disposição dos homens. Isso as deixa vulneráveis a todo tipo de violência”, observa Maíra Liguori, cofundadora da consultoria Think Eva.

“Ensinamos desde cedo às meninas que o valor delas está na aparência e que só serão desejadas se atenderem às expectativas dos homens. Que a principal realização da vida de uma mulher é o casamento e a validação masculina. Isso as coloca em uma posição em que muitas vezes nem percebem estarem sendo vítimas de violência.” 

EM ENTREVISTA A CARTA CAPITAL O FAMOSO JORNALISTA GLENN GREENWALD, PRÊMIO PULITZER, AFIRMOU QUE “TUDO FICOU MAIS CLARO, É GOLPE”

Leia a entrevista com o brilhante e engajado jornalista norte-americano Glenn Greenwald, realizada pelas talentosas jornalistas Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles.

Uma entrevista com tudo que você já sabe, mas que lhe concede maiores inferências sobre o terrorismo partidário, jurídico e midiático executado para afastar a presidenta Dilma Vana Rousseff e incinerar mais de 54 milhões de votos assaltando sem qualquer pejo a democracia.

Glenn Greenwald

Através de você, Edward Snowden revelou o escândalo das escutas telefônicas da NSA que mostravam que Dilma Rousseff  e Angela Merkel, entre outras personalidades, foram grampeadas pelos americanos. Como você explica que a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula tenham continua­do a usar o telefone para tratar de assuntos tão importantes quanto o da nomeação dele para ministro da Casa Civil?

Tive uma grande surpresa e Snowden disse algo no Twitter sobre isso, quando as conversas foram divulgadas. Ele ficou decepcionado, quase ofendido, pois sacrificou muito de sua vida para mostrar ao País como a presidente Dilma estava sendo espionada e monitorada.

E sei que, depois das revelações, o governo brasileiro investiu muito para construir métodos de contraespionagem com fotografia, e fizeram muitas reuniões em Brasília para evitar isso.

O fato de um ex-presidente e uma presidenta estarem tratando de coisas muito sensíveis dentro desse clima num telefone aberto e não encriptado é, para mim, incompreensível. Fiquei chocado.

Depois de 11 anos vivendo no Brasil e escrevendo sobre geopolítica e política americana, recentemente, com o agravamento da crise no País, você passou a se interessar mais pela política local?

Eu queria viver num país com tranquilidade, sem problemas, sem precisar lutar ou brigar. Quando decidi morar aqui, há 11 anos, não pensava no Brasil como meu país. Agora que moro há tanto tempo, sou casado com um brasileiro, estamos adotando uma criança que vai ser brasileira, amo este país que me deu muitas coisas, e penso que tenho não somente o direito, mas a obrigação de fazer reportagens sobre o que não está sendo feito mas acho necessário fazer.

Este período que estamos vivendo não é normal. É uma crise que está ameaçando a democracia. Existe um risco de que ela seja extinta de novo e não posso ficar sem fazer nada, quando acho que tenho algum poder de ajudar e defender a democracia.

Não ficaria em paz com minha consciência o resto da vida, se não fizesse coisa alguma. Em relação à mídia dominante, talvez eu não percebesse antes o quão extremista ela é. Ela faz propaganda. Isso me choca como jornalista. Quis usar a minha revista e meus meios para lutar contra isso.

O que desencadeou sua decisão de passar a escrever sobre o Brasil?

Eu vi que a Globo estava incitando os protestos. Mas, por outro lado, eu estava olhando a Lava Jato como algo impressionante, positivo, pois colocava na prisão por corrupção bilionários e políticos poderosos, independentemente do partido ou da ideologia. Isso não acontece nos Estados Unidos, e no Brasil menos ainda.

As pessoas achavam uma coisa fantástica. Comecei a mudar quando o juiz Moro mandou fazer a condução coercitiva de Lula, sem razão, uma vez que o ex-presidente fazia depoimentos voluntários. Ficou claro para mim que o juiz criou uma cena dramática.

Pior ainda, em minha opinião, foi quando Moro divulgou a conversa do ex-presidente com a presidenta. Ele não divulgou apenas grampos de interesse público, mas também conversas para enxovalhar a reputação do ex-presidente.

Mas minha decisão de começar a cobrir a política brasileira foi quando vi o Jornal Nacional fazendo uma leitura do diálogo entre o ex-presidente e Dilma Rousseff como se fosse de novela. Tive uma imensa vergonha e pensei que era o limite do suportável.

O que é fazer jornalismo honesto?

Numa democracia, o jornalismo tem um propósito: o principal é ser uma força contra facções poderosas, que podem ser os ricos, o governo, a polícia, as grandes empresas. Ser realmente o Quarto Poder. Ele deve ser um poder que vai esclarecer, trazer à luz o que certos grupos estão fazendo às escuras.

Quando o jornalismo está servindo a esta ou aquela facção, para mim é corrupto. Jornalismo que luta contra os poderosos é o jornalismo honesto, fiel a seu propósito de investigar e mostrar a verdade.

O mito da objetividade é que está em xeque?

Sim, Dilma fala de golpe, a oposição defende que foi impeachment legal. Quando saem esses artigos muito fortes, criamos espaço para os jornalistas estrangeiros irem mais longe.

A GloboNews tentou desqualificar toda a imprensa internacional, dizendo que os jornalistas estrangeiros não entendiam o processo.

Isso foi patético, mas não conseguiram. E também a Dilma e o PT resolveram adotar uma estratégia forte, organizando coletivas da presidenta e de Lula para a imprensa internacional, e quando Lula fez uma entrevista comigo e não com jornalistas brasileiros. Dilma fez três entrevistas, uma com a CNN, uma com a Telesur e outra comigo. Depois ela fez uma entrevista exclusiva com CartaCapital.

Na matéria de 23 de maio, sobre a gravação de Romero Jucá, o Intercept diz que vai introduzir definitivamente a palavra golpe. Como foi a repercussão dessa matéria?

Eu, pessoalmente, nunca usava a palavra golpe porque, para mim, era como a palavra “terrorismo”. Todo mundo usa essa palavra politicamente. Não tem um significado específico. Para mim, a gravação de Jucá mudou tudo, porque tive todos os ingredientes necessários para definir um golpe.

Qualquer que seja a definição de “golpe”, ela se enquadra no que foi feito no Brasil com relação à presidenta Dilma Rousseff. Houve envolvimento de políticos, da Justiça e dos militares, entre outros. O motivo não foram as alegadas “pedaladas fiscais”. No dia da votação na Câmara, ninguém falou desse motivo.

Seria possível a Suprema Corte americana agir tão partidariamente como a brasileira?

Nos Estados Unidos, um juiz da Suprema Corte não pode falar publicamente sobre assuntos que estão em julgamento. A autoridade do Judiciário precisa ser e parecer independente da política.

É impensável ver um juiz encontrando-se com políticos, almoçando com políticos. Para mim, como advogado que sou, esse processo é totalmente corrupto. Que confiança você pode ter num juiz que discute com políticos casos que está julgando?

DAVI RIBEIRO/CARTACAPITALmoro.jpeg
‘Minha opinião sobre Moro mudou quando da condução coercitiva de Lula sem razão’, diz Glenn

Ele toma partido…

Sim. Para mim, isso é mais importante do que o envolvimento dos militares. Quando comecei a prestar atenção no debate sobre o impeachment, eu pensava: “Não pode ser golpe, porque está sendo conduzido sob a autoridade de um tribunal legítimo”. Para mim era um bom argumento. Perguntei a Dilma e a Lula nas entrevistas que fiz: como pode ser um golpe se é um tribunal legítimo? Mas agora a legitimidade desse tribunal fica totalmente duvidosa.

Como avalia a queda do Brasil no ranking de liberdade de imprensa da respeitada ONG Repórteres Sem Fronteiras? O Brasil ocupava o 58º lugar em 2010 e hoje ocupa o 104º posto? A Reporters Sans Frontières disse literalmente: “O problema dos ‘coronéis midiáticos’, que descrevemos em 2013 no relatório ‘O País dos 30 Berlusconis’, continua intocável”.

O Brasil ficou atrás de El Salvador, Peru e Libéria. Essa organização é muito respeitada no mundo inteiro, porque não se envolve em nenhum debate político nos países, atua apenas como um observador.

A Reporters Sans Frontières disse isso de uma forma clara e absoluta, condenando a mídia brasileira e dizendo que os jornalistas não estão se comportando como profissionais, mas tentando influir na queda da presidenta Dilma.

Outra forma de avaliar a liberdade e o pluralismo da imprensa brasileira foi em relação ao assassinato de jornalistas em cidades pequenas, a concentração de empresas jornalísticas nas mãos de poucas famílias e a conexão com a classe política, tentando forçar a saída de Dilma, o que contradiz a liberdade de imprensa.

A avaliação da RSF foi tão severa com a mídia brasileira que fiquei chocado e surpreso, pois eles em geral não são tão explícitos nos seus julgamentos. Imagino que isso deve ter causado muita vergonha no Estadão,Folha, Globo, Veja e IstoÉ.

Mas eles não deram essa notícia. “O que é ruim, a gente esconde”, foi uma frase dita por um ministro que falava sem saber que o microfone estava aberto. Faz algum tempo, mas nada mudou.

Em todos os lugares onde vou falo disso justamente, porque não vejo ninguém falar. Na gravação de Jucá, ele disse que a imprensa estava insistindo na saí­da de Dilma, nitidamente tomando partido. Ele deixou tudo muito claro.

No Brasil, o povo vê o que a mídia quer que ele veja…

Você viu o que o Jornal Nacional fez para noticiar essas gravações? Eles deram 20 segundos no começo, depois 15 outras reportagens sobre zika, o tempo, a Venezuela. Os últimos dez minutos foram para comentar as gravações, mas sem falar do envolvimento dos militares nem a tentativa de impedir a Lava Jato. Disseram que Temer afirmou que “agora tudo está certo”.

O que falta ao Brasil para ter maior pluralidade na mídia?

Vi críticas ao PT por não ter feito quase nada nesse sentido. Nos EUA, há leis mais leves, aliás, do que na Inglaterra e na França. Se existem instituições fortes e maduras, não há problemas. Havia a TV Brasil, onde o Temer já mudou as regras. Para mim, muito mais promissora é a internet.

Vai mudar tudo. Jovens de menos de 25 anos não veem tevê, não leem jornal. Estão no Facebook, Twitter e leem os jornais estrangeiros na internet. Acho essa opção melhor que leis para regular e controlar.

Na França, por exemplo, o governo subvenciona os jornais para garantir o pluralismo. O governo não quer nem que o jornal comunista L’Humanité desapareça. O pluralismo na imprensa é importante para a democracia francesa. O leque ideológico da imprensa é enorme.

Mas é preciso que haja maturidade política e democracia. Na Argentina, a primeira coisa que Mauricio Macri fez foi mudar a lei de mídia.

De onde você vem? Qual a sua história familiar a explicar seu interesse por política, seu engajamento?

Meu avô me influenciou muito quando eu era criança. Ele foi vereador na nossa cidade, um político que sempre lutou contra as injustiças. Quando me tornei advogado, me especializei em Direito Constitucional e me distanciei da política. Depois do 11 de Setembro, eu morava em Nova York e via as mudanças nos direitos constitucionais irem no mau sentido.

Comecei a voltar os olhos para a política. Mas era advogado. Comecei a ler blogs porque a mídia não cobria de forma inteligente e contestadora o modo como os Estados Unidos se conduziam. Em 2005, decidi criar um blog para me comunicar com os blogueiros que estava lendo e rapidamente me transformei em jornalista.

Dá para fazer um paralelo entre a falta de crítica da mídia americana no pós 11 de Setembro e a situação dos grandes jornais brasileiros hoje, tão partidarizados?

Sim. Aderiram à invasão do Iraque de forma bastante acrítica. Depois, o New York Times pediu desculpas, mas na época o apoio foi integral, com um discurso muito nacionalista. A imprensa americana sabe que uma grande parte da população presta pouca atenção à política e, por isso, é facilmente manipulável.

Mas mesmo naquela época, quando o jornalismo se tornou horrível e perigoso, havia espaço no New York Times e Washington Post, às vezes na tevê, para argumentações contra a invasão do Iraque, desafiando crenças da maioria dos que apoiavam a guerra. Aqui no Brasil, no Globo, por exemplo, não há quase nada que conteste o impeachment. Esse pensamento único me dá medo, pois é algo muito perigoso.

Você se considera uma pessoa de esquerda?

Existe esse debate: ele é de esquerda, libertário, independente, muitas pessoas tentam me colocar numa caixa. Não gosto, porque acho que é uma forma de as pessoas começarem a ignorar seus argumentos. Tenho opiniões, claro, e há assuntos em que acho que estou à esquerda, mas em outros não. Tento evitar pensar me posicionando dessa forma.

Como analisa a entrega do pré-sal brasileiro às multinacionais nesse contexto?

O representante do governo interino já estava em Nova York na semana passada para encontrar grupos de Wall Street. Já se deixou claro que a intenção é privatizar muitas coisas, inclusive parte da Petrobras. Sempre que vimos acelerar esse tipo de privatização em diversos países, os processos foram recheados pela corrupção.

José Serra, atual ministro das Relações Exteriores, afirmou que a política externa agora pretende dar menos importância aos tratados internacionais e multilaterais e privilegiar relações baratas, além de estreitar relações com os EUA.

Numa entrevista recente, um repórter fez uma pergunta sobre a espionagem dos EUA ao Brasil, citando a NSA, e ele perguntou: “O que é NSA?” Revelou que o objetivo de sua política é reforçar o relacionamento com os EUA.

O golpe de 1964 deu-se com a cumplicidade e a ajuda de Washington. No dia seguinte à votação do impeachment na Câmara, o candidato a vice na chapa de Aécio Neves, senador Aloysio Nunes Ferreira, foi aos EUA, onde se encontrou com autoridades do Departamento de Estado. Qual o papel dos EUA no atual golpe?

Não há evidências de que os EUA estejam envolvidos no processo do impeach­ment. Não que eu saiba. Mas isso não diz muito. Qualquer envolvimento americano seria discreto. Creio que a direita brasileira não conduziria esse processo sem a aprovação dos EUA.

E também está claro que os EUA têm preferência por governos à direita na América Latina, porque são mais abertos ao capital internacional, enquanto a esquerda reforçou iniciativas como o Mercosul e os BRICS. Não sei que tipo de apoio estão dando, se estão planejando e encorajando, mas certamente demonstram aprovação.

O que aconteceria a um juiz americano se tomasse posições claramente partidárias, participasse de eventos de organizações ligadas a partidos ou de órgaos da imprensa, como faz, por exemplo, o juiz Sergio Moro?

Nos EUA, isso seria impensável. O Poder Judiciário aqui é muito forte. Um juiz pode grampear conversas, mandar alguém para a prisão, manter alguém numa cela por 20 anos. É um poder extremo. Para aceitarmos esse poder, é preciso manter muito claros os limites não só das leis, mas das instituições.

O Judiciá­rio precisa estar acima de personalidades, exercer suas funções com objetividade e isenção. Moro virou um herói coberto de elogios. Acho que isso o está afetando muito. Nos EUA, esse protagonismo de um juiz jamais seria permitido.

Os segredos de Meire Poza

A contadora de Alberto Youssef e as ilegalidades da Lava Jato..

por Henrique Beirangê

Embora raramente registradas pela mídia, as alegações de excessos e falhas processuais cometidas pela força-tarefa daLava Jato se avolumam desde o início da operação, em 2014.

Os investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público e o juiz Sergio Moro sempre atribuíram as “acusações” a jogadas protelatórias dos advogados de defesa dos envolvidos, uma tentativa esperta de livrar a cara dos acusados. E a maioria dos indícios sobre irregularidades que implicariam a possibilidade de anulação da investigação era, de fato, circunstancial. Até agora. 

CartaCapital obteve com exclusividade quase 200 páginas de transcrições de conversas e duas dezenas de e-mails que envolvem a contadora Meire Poza, ex-braço direito do doleiro Alberto Youssef.

Os volumes revelam: Poza agiu como uma espécie de agente infiltrada durante um longo período e a força-tarefa empregou métodos ilegais para valer-se de sua contribuição. Buscas e apreensões foram forjadas, parlamentares viraram alvo sem a autorização do Supremo Tribunal Federal, documentos acabaram vazados ilegalmente para a mídia.

Tudo, conforme indicam as interceptações das mensagens, com o conhecimento do Ministério Público Federal. Por muito menos, operações anteriores restaram anuladas pela Justiça, entre elas a Castelo de Areia e a Satiagraha.

Documento

A documentação não deixa claro se o juiz Moro teve conhecimento das irregularidades. Quem poderia esclarecer essa dúvida seria a própria contadora, mas ela se recusou a atender a revista ao longo de duas semanas antes da publicação desta reportagem. A direção da Polícia Federal também se recusou a prestar esclarecimentos.

 Poza, não se sabe por qual motivo, decidiu denunciar em 2012 a existência de um esquema de fraudes em fundos de pensão privados operados em conluio pelo doleiroAlberto Youssef e agentes de vários estados. Um delegado da Polícia Federal em São Paulo de prenome Otávio foi escalado para ouvir a contadora, mas não se interessou pelo assunto. Nada foi feito.

Dois anos mais tarde, poucos dias após a Lava Jato ganhar as ruas pela primeira vez, em março de 2014, Poza resolveu procurar os federais mais uma vez. Desta feita foi recebida em São Paulo pelo delegado Márcio Anselmo, líder do grupo que investigava a lavagem de dinheiro por meio de doleiros a partir do Paraná.

Até aquele momento, a força-tarefa não fazia a mínima ideia de até onde poderia chegar a Operação. A contadora fez um acordo “no fio do bigode”. Sem formalização judicial ou sem delação premiada, ela forneceria informações e vazaria documentos. Em troca, não seria processada, o que de fato ocorreu. Apesar de seu escritório ter lavado 5,6 milhões de reais de Youssef, ela nunca foi indiciada.

A relação entre Poza e a força-tarefa funcionava da seguinte maneira: a contadora encaminhava documentos e fornecia informações ainda protegidas por sigilo. A colaboração “informal” ganhou elogios de Anselmo. “Vc deveria fazer concurso pra PF”, escreveu no WhatsApp.

Em outra conversa, ela informa que uma ex-namorada de um investigado gostaria de conversar com ela, mas pessoalmente. A interlocutora diz ter receio de falar por telefone, com medo de grampos. A um dos investigadores, Meire debocha: “Eu sou o grampo kkkk”.

Em um diálogo de 16 de maio de 2014, a contadora e Anselmo citavam abertamente nomes de políticos. Por causa da prerrogativa de foro privilegiado, as investigações não poderiam ter seguido na primeira instância. Necessitavam de autorização do Supremo Tribunal Federal.

“Vixi tem muito político…”, anota ela em uma das trocas de mensagem. Poza continua: “No dia 12 ou 13 de março por exemplo ele estava a noite com o Renan Calheiros pra acertar a colocação da debenture na Postalis”.

Wagner e Corrêa
Políticos eram alvo, mesmo sem autorização do STF. Jaques Wagner e a então deputada Aline Corrêa (Foto: Elza Fiúsa/Ag. Brasil e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Em 14 de maio, Anselmo pergunta a Poza: “vc sabe se o bebe johnson tinha alguma relação com o precatório do maranhão?” (sic). Bebê Johnson era o apelido entre os alvos da investigação do então deputado federal Luiz Argolo.

O delegado deixa claro, a operação visava outros detentores de mandatos. “Com que outros políticos ele tinha contato?”, pergunta. A contadora responde: “Tem um senador que eu preciso lembrar o nome, tinha o governador da Bahia”. Nos diálogos há menções à então deputada Aline Corrêa, do PR, e ao senador Cícero Lucena, do PSDB.

O então senador Gim Argello, do PTB, preso em 12 de abril deste ano, também aparece nos diálogos. Segundo Poza, no dia de seu depoimento ao Congresso, Argello tentou manter a sessão a portas fechadas. “O senador veio aqui falar. Disse que tem receio que me massacrem, informa aos investigadores.

Poza não se comunicava apenas com Anselmo. O agente Rodrigo Prado foi escalado para receber as informações da contadora, que gravou sorrateiramente conversas com alguns dos investigados, encaminhou documentos de forma irregular e trocou fotos com o policial.

Prado enviou, entre outras, uma “selfie” no interior de uma viatura. No banco de trás aparece João Procópio Teixeira, um dos operadores de Youssef. A contadora recebeu ainda um vídeo do primeiro depoimento de Teixeira a integrantes da força-tarefa.  

A troca de mensagens revela que a contadora tinha a vasta rede de contatos da informante. “Ops… Temos um novo financiador de despesas… Miguel Jurno, já ouviu falar?? Eh cliente da DPF (Departamento de Polícia Federal)…”, escreve a Anselmo. Doleiro, Jurno foi alvo da Satiagraha, que investigou o banqueiro Daniel Dantas e foi anulada pela Justiça.

Na continuidade do diálogo, especialista em interceptações, o delegado mostra receio do vazamento dos diálogos. “Melhor email, não confio em tel. Ou então no fixo aqui do trabalho Kkkkkkkkkk.” Anselmo jacta-se ainda da instalação de um grampo na cela de Youssef.

O episódio foi alvo de uma sindicância na Polícia Federal, que terminou inconclusa, mas criou um racha na autarquia. O assunto surge em uma troca de mensagens em 13 de maio de 2014. Poza e Anselmo tratavam de outros personagens da investigação quando o assunto surge. 

A contadora dedilha: “Márcio, vc precisa me contar essas coisas. Minha vida anda muito preto e branco kkkkkkkkkkkkk”. E prossegue: “Aliás, vc obrigou o Jaime a pegar informações com o Beto. Além disso vc ameaçou o Rene. Vc anda impossível hein????”

O delegado responde em tom de galhofa: “kkkkkkk. E raspei a cabeça da nelma. Além de ter colocado a escuta na cela do yousef” (sic). Fato ou brincadeira?

Documento

Conversa

Documento

Por conta da colaboração, Anselmo acalma Poza sobre sua situação criminal. E promete resolver o assunto com os procuradores: “Estou acertando c eles a tua imunidade”. Ao marcarem um encontro com integrantes da força-tarefa, a contadora pergunta se deve ir sem advogado. “O ideal e que venha sem”, responde o federal.

Uma das conversas mais reveladoras trata da farta documentação escriturária e contábil das empresas de fachada de Youssef. Poza tinha em seu poder caixas de documentos com contratos fictícios da RCI, MO Consultoria, GDF e Empreiteira Rigidez, usadas para a movimentação de propina.

O acervo comprovava o fato de o doleiro receber dinheiro das maiores construtoras por serviços nunca prestados. A contadora repassou os papéis em março de 2014. Mas como a documentação foi entregue de maneira aparentemente ilegal, era preciso “esquentar a documentação”.

Em 5 de maio, Anselmo orienta Poza: “Devemos acertar para a prox semana uma viagem a sp para formalizar a apreensão daqueles documentos”. Resposta: “Te aguardo!!!” O delegado continua: “Se puder já separe todo o material dos contratos da gfd”. A GFD era a principal empresa de lavagem de dinheiro de Youssef.

A conversa sobre a busca e apreensão armada prossegue em 27 de junho, desta vez com Prado. O policial informa a intenção de a PF instalar uma escuta ambiental no escritório da contadora. Poza diz sofrer pressão para entregar alguns cheques.

O agente sugere que ela “enrole”, pois eles iriam buscar o material na semana seguinte. “Inventa uma desculpa na segunda feira dizendo que nao deu e que vc vai depositar na terca”, digita. “Vou sumir. Dizer que adoeci. Febre alta…”, diz Poza. E recebe de volta: “Terca cedo to ai. Importante isso Meire. Reta final”.  

Em outra mensagem, ela pede uma operação discreta.  “Prado, sem viatura e sem roupa preta?? Pode ser?? Só pra não assustar muito meu pessoal… Mas se não puder, tudo bem… O policial responde: “Isso nao depende de mim. Mas vou levar sua solicitacao a quem decide”.  Ela retruca: “A viatura o Marcio tinha prometido que não viria…” O agente conclui: “Vou pessoalmente para garantir que nao tera confusão”.

Dito e feito. Em 1º de julho de 2014, às 7h08 da manhã, Anselmo envia uma mensagem enquanto se aproxima do escritório da contadora: “Bom dia. Vamos tomar um cafe?” “Ebaaaaa!!!”, comemora Poza. “Tem estacionamento ao lado. Multipark.” E ele: “Viatura nao precisa de estacionamento Kkkkkkk.”

Os riscos de uso de provas obtidas de forma ilegal é tema das conversas. Quando tratam da instalação de uma escuta ambiental no escritório da contadora, Prado, Anselmo e Poza, em um grupo criado no WhatsApp, comentam a necessidade de autorização judicial.

Lucena e Argolo, personagens do documento acima (Foto: Marcos Oliveira/Ag. Senado e Félix R./Futura Press)

“So pra lembrar, ainda precisa de autorizacao judicial (risos)”, anota o delegado. Ela: “Vixi… É mais fácil gravar com o celular, não é não?????” E ele: “Mas nos nao podemos. A menos que vc consiga e nos forneca. Mas ainda assim e discutível”.

Ao que parece, outros integrantes da força-tarefa em Curitiba tinham conhecimento das tratativas, como indica um e-mail encaminhado por Poza ao delegado Eduardo Mauat e compartilhada com os delegados Igor de Paula e Érika Marena, além de Prado e Anselmo, todos da linha de frente das investigações.

Aparentemente, Rosalvo Ferreira Franco, superintendente da PF no Paraná, também estava informado dos procedimentos, indica um e-mail de 13 de agosto. Por meio de uma mensagem enviada aos subordinados e à contadora, que utilizava o endereço eletrônicorabellopassos@gmail.com, Franco afirma estar ciente de uma conversa entre De Paula e Poza a respeito da segurança da contadora, que havia reclamado de abandono: “Não vou ficar esperando que algo de ruim aconteça comigo ou com a minha filha. Espero que tenham a sensatez de saber que um erro não justifica o outro. Eu mostrei minha cara, mas foram vocês que colocaram minha vida em risco. Isso eu não vou perdoar nunca”.

O delegado Igor informa à chefe Érika e ao superintendente da PF, Rosalvo (abaixo), sobre necessidade de conversar com Meire (Fotos: Rodolfo Buhrer/Reuters, Geraldo Bubniak/Estadão Conteúdo e Vagner Rosario/Futura Press)

O papel de Poza não era de conhecimento exclusivo dos policiais federais. Em uma conversa com o procurador Andrey Borges de Mendonça, a contadora trata de uma audiência com Moro.

“Andrey, bom dia! Desculpe te incomodar… Mas o fato é que estou com uma grande dúvida e como não tenho advogado, gostaria de tentar esclarecer com vc. Hoje presto depoimento numa das ações penais envolvendo a Mendes Junior. Sobre esse assunto o Sr. João Procopio em depoimento afirmou que eu menti. Quero autorização para juntar cópia de alguns e-mails trocados com o João Procopio. Além disso ele também alegou que menti quando falei que ele foi ao advogado Costa e Silva buscar dinheiro.” 

Na sequência, ela anota: “Em relação a isso tenho algumas gravações aqui no meu escritório de conversa entre eu e Joao Procopio onde ele fala sobre o referido advogado. É correto que eu fale sobre esses dois assuntos, sucintamente, na audiência de hoje e peça autorização do Juiz para juntar também a gravação??”

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A resposta de Mendonça: “Meire, ja tentei ver, ainda nao responderam. Na minha opiniao vc deve mencionar isso sim e dizer que, caso seja possivel, pediria pra juntar diretamente ao juiz. Mas vou ver a opiniao dos colegas”.

 Para a operação se manter em pé e angariar o apoio da opinião pública, a força-tarefa apoiou-se no vazamento de informações confidenciais, principalmente para a Globo e para a Veja. Selecionar o vazamento era uma estratégia cuidadosamente estudada, segundo os próprios federais.

Em 15 de maio de 2014, Anselmo comunica-se com Poza. Tratam de um vazamento ao G1, portal de notícias da Globo. “Mais umas duas semanas e vc não vai ter mais nenhum idoso nessa op. O Rafael acabou de surtar. Viu o nome dele no G1… Acabou de sair”, brinca a contadora.

Tratava-se de Rafael Ângulo Lopez, entregador de malas de dinheiro que confirmou ter deixado propina na residência do senador Fernando Collor, do PTB. O delegado parece se divertir. “Kkkkk. Boa. Eu sabia. Só quis mandar um recado. Ele te falou?” Meire responde, “kkkkkkkk Falou. Os dois ligaram”. Anselmo parece não entender. “Os dois?” Poza então conta que além de Lopez, Enivaldo Quadrado, auxiliar de Youssef na operação, a tinha procurado.

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O delegado diz que os vazamentos vão continuar a todo vapor:  “O adarico vai no próximo. Kkkk. Por partes”. Adarico é irmão do ex-ministro das Cidades Márcio Negromonte e atual conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia e ficou preso por alguns dias em uma das fases da Lava Jato.

De fato, o vazamento aconteceu como afirmou o delegado. Para a revista Veja. Um diálogo de 24 de maio de 2014 cita informações da investigação sobre a vida do irmão do ex-ministro. Anselmo diverte-se: “ Kkkk. Leia a Veja. Adarico vai enlouquecer”. 

A contadora também ri: “Kkkkkkkkk. Não chegou aindaaaa, mas vi a prévia no site. Parei pra comprar. Não li ainda. Que pessoal fotogênico hein?????! Kkkkkkkkkkkkkkk”. O policial quer saber a reação do irmão do ex-ministro: “Depois me diz o que o adarico achou”.

Outro diálogo de 7 de outubro daquele ano expõe como a força-tarefa compreendia a legalidade de seus atos. Anselmo e Poza falam do depoimento da contadora à CPI da Petrobras. No fim da conversa, ela pede: “Não esquece de dar aquela olhadinha pra mim??” E recebe de volta: “ Vi aqui meire. Acho que ta bom. Tem uma ou outra imprecisao em relacao a termos tecnicos da investigação. Mas acho q isso nao vem ao caso”.

Não vem ao caso, uma frase que, em muitas medidas, define o espírito da Operação Lava Jato.

FHC, seu filho e os negócios em família

Sócio de uma offshore no Panamá e ligado a suspeitos de corrupção, Paulo Henrique Cardoso prosperou à sombra do pai.

por Lúcio de Castro

Os negócios da família do ex-presidenteFernando Henrique Cardoso vão muito além das contas no exterior do patriarca investigadas pela Polícia Federal. Incluem também transações do filho Paulo Henrique com a Odebrecht, as offshore no Panamá e no Reino Unido, além de uma sociedade com o ex-braço direito do presidente argentinoMauricio Macri que se suicidou em meio a um escândalo de corrupção.

Paulo Henrique Cardoso manteve durante uma década negócios com a Braskem, uma sociedade entre a Odebrecht e a Petrobras, por meio da World Wide Partnership Importação e Exportação, empresa de comércio de produtos petroquímicos.

Embora PHC só conste como sócio da WWP a partir de 26 de outubro de 2004, dois anos depois do término do segundo mandato presidencial do pai, a WWP foi aberta em 31 de março de 1999, no auge do processo de abertura do setor no País que resultou na liderança da Odebrecht na indústria petroquímica.

A WWP assinou uma parceria com a Braskem para produzir resinas especiais de PVC no ano em que Paulo Henrique aparece oficialmente no quadro societário da companhia.

PHC tem também uma offshore no Panamá. Criada em 19 de novembro de 2011, a empresa tem os mesmos sócios e o mesmo nome da matriz paulista. Além disso, em sociedade com o pai abriu outra companhia, desta vez no Reino Unido, a Ibiuna LLP, datada de 30 de março de 2009. Ibiuna é uma referência à cidade no interior paulista onde fica a fazenda na qual o ex-presidente descansava durante o mandato.

FHC assinou em novembro de 1995 a emenda constitucional que acabou com o monopólio da Petrobras. No mesmo ano, a Odebrecht fundou a OPP Petroquímica. Em janeiro de 1998, FHC criou a Agência Nacional do Petróleo e entregou a presidência ao genro David Zylbersztajn. Um ano depois, nasce a WWP. No período, 27 empresas do ramo petroquímico foram privatizadas, com amplo financiamento do BNDES, o banco estatal de fomento.

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Em 2002, a Odebrecht reuniu todas as empresas petroquímicas que havia adquirido sob o chapéu da Braskem. A Petrobras se tornaria sócia minoritária do empreendimento (a estatal anunciou a intenção de deixar o negócio neste ano). Em 2010, a Braskem deu início a um processo de internacionalização. No ano seguinte, a WWP abriu a offshore no Panamá.

Segundo documentos obtidos na Junta Comercial do Panamá, os sócios de PHC naoffshore são Luiz Eduardo Ematne e Stephen Timothy Fitzpatrick. Ematne aparece como fundador da matriz brasileira em 31 de março de 1999. Em 24 de janeiro de 2001, o norte-americano Fitzpatrick ingressa na sociedade.

Ematne afirma não se lembrar de detalhes da WWP. Em uma conversa rápida por telefone, falou vagamente sobre a sociedade: “Não me lembro de quando ele (PHC) entra. Uns 8, 9, 10 anos. A empresa tem 12, 14 anos. Foi aberta há pouco tempo no Panamá, 2, 3 anos. É da área de tecnologia, distribuidora de resina. Existe empresa no Japão que comprou nossa tecnologia. Por isso abrimos empresa no Panamá. Constituída legalmente. Mas o Paulo já saiu na de lá também. O volume de vendas é nada”.

O empresário alegou estar em trânsito e sugeriu outra conversa mais tarde. Novamente procurado, mudou de ideia e foi taxativo: “Não vou mais falar. Não tenho obrigação de falar. Meu advogado me disse que não devo falar nada”.

O escritório panamenho Sucre, Arias e Reyes foi responsável pelo suporte na constituição da WWP no país. Na offshore, PHC aparece não só como sócio, mas tesoureiro. Consta seu endereço residencial em São Conrado, no Rio de Janeiro. O Sucre, Arias e Reyes é conhecido pela assistência na abertura de empresas de fachada para lavagem de dinheiro naquele paraíso fiscal.

Em 2005, em um dos mais rumorosos escândalos a envolver o Cartel de Cali, da Colômbia, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos apontou que as corporações usadas como lavanderia eram constituídas essencialmente por três bancas panamenhas, entre elas a Sucre, Arias e Reyes.

Em sua propaganda, o escritório ressalta a “agilidade para constituição das offshore que vão manejar contas bancárias, adquirir imóveis e proteger ativos”. Com os préstimos da Sucre, Arias e Reyes, a WWP teve seu registro assentado às 10h48 de 18 de novembro de 2011 e entrou no sistema de informática da repartição pública no dia seguinte.

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No ano passado, a Polícia Federal identificou uma comunicação entre o Instituto FHC e a Braskem para acertar o pagamento de uma doação da petroquímica. De acordo com o e-mail que consta em laudo da PF, a secretária do Instituto FHC e um representante da Braskem combinaram a forma do desembolso. “Gostaria que você verificasse com a Braskem qual a melhor maneira para fazer a doação… Acho que a Braskem/Odebrecht já fez doações para a Fundação iFCH.”

A reportagem identificou a participação de PHC em nove empresas, três em sociedade com FHC. Uma delas é a offshore na Inglaterra, a Ibiuna LLP. No Brasil, pai e filho são sócios na Goytacazes Participações e na Córrego da Ponte, antiga parceria entre o ex-presidente e o ex-ministro Sérgio Motta.

Outras três são de “consultorias empresariais”: a Analiti(K), a Intrabase e a Corporate Idea, esta última criada juntamente com a irmã Luciana em 8 de agosto de 1997, quando o pai ainda estava no primeiro mandado. 

Na Analiti(K), aberta em 23 de setembro de 2005, PHC teve como sócio um dos mais polêmicos personagens da recente história argentina, que cometeu suicídio em meio a uma série de denúncias de corrupção.

Apesar de estrangeiro, Gregorio Centurión tinha um CPF brasileiro. Amigo desde os bancos escolares de Mauricio Macri, comandou e foi o marqueteiro do atual presidente desde o mandato de deputado federal.

Centurión cuidou da comunicação de Macri na campanha à prefeitura de Buenos Aires e virou secretário de Comunicação Social da capital. Era o coração do chamado núcleo duro do “macrismo”. Antes disso, desempenhou funções vitais nas empresas da família.

No poder, Centurión dispensou as licitações para contratar empresas prestadoras de serviço entre os anos de 2009 e 2010. Ancorado na Lei nº 2.095 de Buenos Aires, contratava diretamente os fornecedores. Privilegiou grupos de comunicação ao pagar mais pelos anúncios para quem tinha dez vezes menos audiência.

Aplicou em ritmo frenético a estratégia de privilegiar empresas amigas enquanto a verba destinada à secretaria multiplicava-se a cada ano. O esquema funcionou até a deputada Rocio Sánchez Andía apresentar uma denúncia contra ele e outros dois secretários.

Em 25 de novembro de 2010, enquanto Macri estava em lua de mel por conta de um terceiro casamento, o juiz Gustavo Pierreti autorizou uma operação policial nas dependências da prefeitura. Os domínios de Centurión foram os principais alvos e dezenas de documentos acabaram apreendidos. 

Rádio-DisneyUma estranha operação com a Disney

Os delitos de administração infiel em prejuízo da gestão pública, malversação de verbas, negociações incompatíveis e descumprimento dos deveres do funcionário público ganharam musculatura com as apreensões e o sócio de PHC entrou em depressão. Antes disso, Centurión estivera envolvido em escândalo de escutas ilegais. 

Na noite de 19 de dezembro, o principal auxiliar de Macri disparou um tiro de escopeta contra a própria cabeça. Em 9 de junho de 2011, segundo o Diário Oficial do Estado de São Paulo de 26 do mesmo mês, os sócios da consultoria Analiti(K) se reuniram, em mesa presidida por PHC, para promover a “dissolução parcial da Sociedade e consequente redução do capital social, tendo em vista o falecimento do sócio Gregorio Centurión, ocorrido em 19 de dezembro de 2010”.

Em 2009, no auge dos negócios do parceiro Centurión com as rádios portenhas, PHC abriu a Rádio Holding Participações, uma “holding de instituições não financeiras”. Entre os sócios aparecem a americana ABC Ventura Corp, além de Jobelino Vitoriano Locateli e José Tavares de Lucena, representante no quadro societário de diversas empresas no País.

Em geral, afirmam especialistas, representantes como Locateli e Lucena servem para resguardar a identidade de quem não deseja aparecer diretamente em uma sociedade, normalmente estrangeiros.

Entre as sociedades representadas por Locateli está a Sport World Group, sócia da Traffic Sports World, que tem entre seus sócios o empresário J. Hawilla, em prisão domiciliar nos Estados Unidos por participação no escândalo da Fifa.

A Rádio Holdings chegou a ser mencionada no Congresso Nacional em 2011, por controlar a Itapema, então retransmissora da Rádio Disney, acusada de ser a verdadeira proprietária do canal, algo vedado pela lei, que só permite a participação de estrangeiros no capital de meios de comunicação até o limite de 30%.

Em fevereiro de 2012, FHC criou a Goytacazes Participações, com finalidade de “outras sociedades de participações”, em parceria com a filha Luciana. PHC ingressou no quadro societário em janeiro do ano seguinte.

Evolução

A reportagem ouviu o Instituto FHC sobre as relações da WWP com a Braskem. “São empresas privadas legalmente constituídas e declaradas. Paulo Henrique não faz mais parte da WWP.” A reportagem informou para a assessoria do iFHC que, pelas bases de dados consultadas, tanto da Receita Federal quanto na Junta Comercial de São Paulo, a saída de PHC não constava até a presente data. O mesmo vale para o equivalente à Junta Comercial do Panamá.

Sobre a parceria com a empresa de Paulo Henrique Cardoso, a Braskem, por meio da assessoria de imprensa, enviou a seguinte nota para a consulta da reportagem: “A Braskem assinou acordo com a WWP em 2004, detentora exclusiva de tecnologia para a fabricação de resinas especiais de PVC. Por meio desse acordo, a Braskem produziu e distribuiu essas resinas voltadas para a aplicação de especialidades vinílicas até 2013, quando as relações comerciais foram encerradas. Como empresa privada, a Braskem seleciona suas tecnologias com foco em sua estratégia empresarial. Atualmente, a empresa possui pelo menos três dezenas de acordos assinados para uso de tecnologia de terceiros. O contrato assinado com a WWP representou menos de 0,01% do faturamento da companhia”.

Apenas para efeito de estimativa aproximada, tomando o ano de 2014, último a constar no site da Braskem com resultados financeiros ali publicados, a receita bruta no ano foi de 54,1 bilhões de reais e a receita líquida de 47,3 bilhões de reais. 

Outras questões foram enviadas para PHC. Como a razão por só constar na WWP em 2004, após o governo do pai. E se confirmava a existência e participação da WWP no Panamá. Em caso de comprovação, a razão da empresa e se estava registrada na Receita Federal.

Através do iFHC, Paulo Henrique Cardoso limitou-se a dizer que “não faz parte mais da WWP e que a Ibiuna já foi encerrada. São negócios privados, todos devidamente declarados à Receita Federal”, ignorando o questionamento sobre a offshore do Panamá.

A reportagem perguntou também sobre Gregorio Centurión, se PHC conhecia as denúncias de corrupção do sócio. PHC ignorou as indagações sobre corrupção do ex-sócio. “Trata-se de empresa privada, com atuação regular e com todas as informações registradas na Junta Comercial de São Paulo.” 

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Indagado pela reportagem sobre a existência da Ibiuna, empresa no exterior em sociedade com o filho PHC, o ex-presidente FHC afirmou, através da assessoria de imprensa do Instituto FHC que “a empresa citada foi efetivamente aberta em Londres, para recebimento de proventos de palestras. Sempre foi devidamente declarada no Imposto de Renda. Foi encerrada em 2013. O saldo equivalente a 5,5 mil reais foi repatriado ao Brasil via Banco Central.” 

Diante da resposta sobre o motivo da abertura da empresa, a reportagem pediu se era possível saber a data, contratantes e valores das palestras entre 2009 e 2013. A assessoria respondeu que “O iFHC é uma Fundação: está submetido à Curadoria de Fundações do Ministério Público de São Paulo, que audita as suas contas. A praxe sobre as palestras que o presidente faz, privadamente, é a de que quem as contrata divulga ou não os dados”. 

A reportagem perguntou para PHC a razão para constar da sociedade com o pai na Ibiuna LLP, inscrita na Inglaterra, já que a empresa foi aberta para “recebimento de proventos de palestras” de FHC, sem resposta.

A Receita Federal não responde sobre casos específicos de registros de empresa. De acordo com a Receita Federal, “todas as pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil, inclusive as equiparadas pela legislação do Imposto sobre a Renda, estão obrigadas a inscrever no CNPJ cada um de seus estabelecimentos localizados no Brasil ou no exterior, antes do início de suas atividades”.

Segundo o órgão, “em relação à Pessoa Jurídica que possui filial, sucursal, controlada ou coligada no exterior, a informação sobre as participações e os resultados apurados por essas participações no exterior são informados à Receita Federal por meio da Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ). A sanção pelo não cumprimento da obrigação relacionada à DIPJ é prevista legalmente”.  

*Reportagem publicada originalmente na edição 895 de CartaCapital, com o título “Negócios de família”

Mino: os negócios do FHC Brasif

Racismo do ‘Pânico’ não tem perdão!

3784F34AD8D2042C6FBC1A9412EEB849D2A5F58CEC9CCB411FB0E1DF9AEFAB56O pedido de desculpas não deve convencer ninguém: o programa da Band já é conhecido pelo seu ‘humor’ preconceituoso, invasivo e reacionário.

Altamiro Borges.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (10), a direção do programa “Pânico”, da Band – emissora privada que explora uma concessão pública –,  finalmente pediu desculpas aos telespectadores pelo personagem racista “Africano”, interpretado pelo “humorista” Eduardo Sterblitch. A nota, porém, é marota. Ela justifica “a criação de personagens, sejam eles inspirados em personalidades, profissões ou em diferentes culturas” e não explicita se vetará o quadro “satírico”. Na maior pureza – e cinismo –, a direção do Pânico afirma que “jamais teve a intenção de ofender, mas sim, levar entretenimento com seu humor característico” e “pede desculpas ao público que se ofendeu com o personagem”.

O pedido de desculpas, entretanto, não deve convencer ninguém. Afinal, o programa da Band já é conhecido pelo seu “humor” preconceituoso, invasivo e reacionário. A direção do “Pânico” só se manifestou porque a rejeição ao quadro racista teve enorme repercussão nas redes sociais e ainda pode resultar em multas e outras penalidades. A Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, ligada ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), solicitou à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República que tome providências imediatas contra o programa.

O personagem “Africano” foi destaque no quadro de paródia ao reality show de culinária “Master Chef”. Ele é interpretado por Eduardo Sterblitch, um “humorista” branco que se pinta de negro – com a técnica do “blackface”. O personagem sempre aparece como selvagem, soltando gritos e grunhidos. No último domingo (9), a “atração” gerou revolta na internet. No Facebook, a página “Repúdio ao Racismo do Personagem O Africano” obteve mais 2,7 mil adesões. Ela exigiu o fim imediato do quadro, considerado “nojento” pelo seu estímulo ao racismo. A “atração” também repercutiu na imprensa africana. O jornal “Sene Web” acusou o programa de ridicularizar os afrodescendentes.

Diante da repercussão negativa, a famiglia Saad, proprietária da Rede Bandeirantes, até insinuou que daria “um puxão de orelhas” na equipe do “Pânico”, segundo revelou a jornalista Keila Jimenez, do site R7. Mas quem conhece a história desta emissora, que exibe vários programas sensacionalistas e preconceituosos, sabe que isto é puro jogo de cena para escapar de qualquer punição. Para Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra da OAB, o pedido de desculpa e mesmo a extinção do personagem não são suficientes para redimir o grave crime. “O dano já existe. É só uma questão do Ministério Público ou dos grupos interessados na questão racial postularem uma ação judicial. Era melhor que eles [a direção da Band] já fizessem a reparação, seria um exemplo sadio de como a emissora consegue buscar um outro tipo de atitude”.

Nas redes sociais, o próprio “ator” Eduardo Sterblitch tentou limpar a sua barra. “Eu não sou racista e também estou chorando… A quem deixei triste ou pior, peço desculpas por minha ignorância. Que, pelo menos, eu sirva de exemplo para que isso não aconteça mais”. O seu apelo, porém, também não sensibilizou a criadora da página de repúdio ao personagem no Facebook. “Não acredito na inocência dele”, afirmou a jovem carioca Sandy dos Anjos, ao site F5, da Folha. “Não é a primeira vez que me sinto incomodada com esse programa. Esse quadro passou de todos os limites… Vi aquele vídeo, toda aquela gente rindo e zombando e me senti mal. É esse tipo de coisa que reforça esteriótipos de que nós negros somos uma raça inferior”.

“Eu não acredito e tampouco aceito o pedido de desculpas dele, uma tentativa de enganar bobo. Não acredito que Eduardo seja burro e tenha encenado aquele quadro vergonhoso na ‘inocência de fazer humor’. Fez sabendo, sim, que ofenderia muita gente e mesmo assim o fez porque ele, como pessoa privilegiada, não acha mal zombar de pessoas que são humilhadas pela cor da pele… Eduardo achou legal rir de pessoas que, por sua etnia, têm inúmeras dificuldades a mais na vida, são mortos, não têm seu corpo e cultura respeitados… Queremos uma resposta do programa e de seus patrocinadores. Que tipo de ‘entretenimento’ é esse que eles irresponsavelmente põe na TV? Temos pessoas do Brasil todo afim de levar isso a frente”, garantiu. Outro petardo contra o racismo da Band e do Pânico foi postado pelo líder comunitário Walmyr Junior no site do Jornal do Brasil. Vale conferir:

Blackface no ‘Pânico na TV’: racismo, intolerância  e xenofobia

Walmyr Junior *

A prática do “blackface” no Brasil deixa um rastro de vergonha. Nascido no berço do racismo cultural dos Estados Unido, a prática de se passar por negro para ser engraçado surgiu no meio de atores brancos que pintavam seus rostos com carvão ou carbono para representar, de forma estereotipada e pejorativa, um personagem negro.

A ideia surgiu no início do século 20 e tinha duas funções sistemáticas: ridicularizar o homem e a mulher negra e não dar espaço para que atores negros ganhassem notoriedade nas telas do cinema “holiudiano”.  As práticas recorrentes dos “blackface” catalisaram o racismo por suas piadinhas de péssimo gosto que satirizam a tradição, história e religião do povo negro africano.

Agora no século XXI é a vez da TV e teatro brasileiros reproduzir a mesma forma reprovável e xenofóbica o que os americanos usaram no inicio do século XX. Apesar do Movimento Negro historicamente contestar essa reprodução, me parece que a manutenção do racismo é mais interessante para a elite branca e dominante.

Quem não se lembra do ator do programa Zorra Total, da Rede Globo, que por muito tempo exibiu um quadro onde um homem se fantasiava de mulher negra, pintando a pele, utilizando cabelos crespos e intensificando o deboche com dentes podres, fala “errada” e roupas esfarrapadas? E a peça da companhia de teatro Os Fofos Encenam, que faria apresentações no espaço Itaú Cultural que foi bombardeada pelo Movimento Negro por fazer também uso da prática do “blackface”?

Então saíram esses atores e chegou a vez do programa Pânico na Band da Rede Bandeirantes. Eduardo Sterblitch interpreta o personagem Africano, com o corpo pintado de preto, ridicularizando rituais de matriz africana, falando em uma língua incompreensível, fazendo chacota de toda ancestralidade e riqueza cultural dos povos africanos em rede nacional, com uma plateia que se diverte com o racismo e que aplaude a xenofobia.

Já não basta o povo negro ser violentado, escravizado e abandonado? Ainda temos que ser ridicularizado em rede nacional? Nosso povo sofre diariamente com a intolerância religiosa, com o racismo na hora de conseguir um emprego, com a violência que criminaliza constantemente a nossa juventude preta, com a falta de acesso a educação superior, e com um genocídio em curso que quer exterminar o povo negro da terra.

O Brasil vai mostrando de novo o seu racismo que se escondia em um discurso fajuto de um ‘povo brasileiro, sem raça e sem cor’. Um ator representar um negro africano como um selvagem, um ator que ridiculariza as religiões de matriz africana e ainda faz danças e gestos que remetem a um macaco é um artista deplorável que só se importa em ganhar dinheiro desumanizando o povo negro. É um artista que sustenta um discurso nazista que determina que raças não negras são sempre superiores à raça negra.

O racismo estruturante, como já disse, impacta em todas as dimensões da vida, desde a procura do trabalho a hora de dar luz. Ligada a um processo de dominação e opressão promove impactos negativos e profundos na contramão da tentativa de dar garantia de direitos ao povo negro, pobre e favelado.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

Ainda dá tempo?

O Brasil vive um momento sombrio de extrema gravidade e Dilma tem de agir depressa para evitar o pior

A torre de babel, emblema de uma ciclópica confusão, vale como metáfora da situação do Brasil neste exato instante. Vejamos. O PT em frangalhos a amargar uma monumental derrota parlamentar que entrega ao PMDB o comando do Congresso, com risco imponente para a continuidade do governo de Dilma Rousseff. O PSDB de Fernando Henrique a adubar a ideia do golpe via impeachment. O ajuste fiscal em pleno andamento com a tola promessa de ser pequeno enquanto o desemprego cresce e a recessão bate às portas. A Petrobras em crise aguda enquanto o juiz Moro estende o raio de ação da Operação Lava Jato em busca do epicentro da corrupção além das fronteiras da empresa petrolífera, nas próprias entranhas do poder. A iminência do drástico racionamento da água em São Paulo, ao passo que outros pontos cruciais sofrem a ameaça de serem logo engolidos pela calamidade. E a crise energética próxima da eclosão.2cc6a690-74ee-44d9-be70-b772261d9b99

No que diz respeito às perspectivas na maior metrópole brasileira, atingida pela falta d’água, talvez sirva recorrer, para figurá-las, o cenário de certos filmes de Hollywood que pretendem retratar um mundo do futuro a viver o colapso ao arrepio do sacrifício da vida civilizada. Nas trevas movem-se chusmas em andrajos e desespero, mata-se por um copo d’água, enquanto os ricaços vão tomar banho em Dubai. Sem insistir na versão hollywoodiana, observo que muitos não conseguem dar-se conta do que acontecerá quando, quatro dias por semana não haverá torneira para exibir serventia. Melhor evitar detalhes que infelizmente me ocorrem, a bem da boa digestão, ao menos por ora. Temo, de todo modo, pelas repercussões internacionais, nutridas por relatos apocalípticos, em detrimento de um Brasil em queda nas cotações mundiais.

A presidenta age tardiamente ao exonerar a diretoria da Petrobras em peso. De fato, poderia ter tomado a decisão logo após a eleição, de sorte a evitar um desgaste ulterior. Passado pouco mais de um mês desde a posse, o governo parece carregar nos ombros a maldição de um longo percurso medíocre, quando não francamente malsucedido. Houvesse uma pesquisa, e fácil imaginá-la negativa para a presidenta. De agora em diante, ela não pode mais errar e sua chance é de tempo curto e ação imediata.

É o prazo mínimo que lhe resta para mostrar a que veio e de garantir um lugar honroso na história do País. Há medidas que se impõem a partir de algumas considerações inescapáveis. Por exemplo, por que, para favorecer a exportação, seria indispensável elevar o câmbio do dólar? Onde está a divindade da economia que se abala a estabelecer a conveniência de se pagarem 3 reais por uma verdinha? Os problemas da exportação não decorrem da cotação da moeda americana e sim da falta de mercados para produtos brasileiros. Até a China passa por apertos em matéria de exportação dos seus produtos a preço ínfimo, até ontem açambarcadores de mercados.

Claro está que uma política de eficácia impensada poderia ser a de financiar países africanos, digamos, na compra de nossos produtos, ou para a realização de obras em seus territórios, e com isso ganhar a preciosa condição de credor. Mas há uma oportunidade escancarada oferecida pelo destino e pela natureza, conforme observa quem sabe das coisas. O Brasil tem a possibilidade de multiplicar o mercado interno, na esteira do que se deu durante o governo de Lula e nos começos do primeiro mandato de Dilma.

Trata-se de habilitar ao consumo as classes menos favorecidas por caminhos já percorridos pelo Bolsa Família e pela abertura do crédito, e, ao mesmo tempo, a favor do emprego, lançar planos de desenvolvimento, à sombra do PAC, ou novos em folha, para ampliar e melhorar a infraestrutura carente, como, de resto, demonstram as crises atuais. Se o Brasil não escapa à alternativa de crescer ou crescer, um projeto keynesiano há de ser posto em prática de pronto. Nada melhor se a presidenta o assumir sem hesitações, a sublinhar, talvez, sua importância vital com um discurso à Nação.

As iminentes consequências das crises hídrica e energética produzirão tensões inéditas e altamente daninhas, daí a urgência de uma reação vigorosa. Trata-se de corrigir a rota que leva ao desastre final, do qual, a esta altura, ninguém escaparia, os predadores e suas vítimas, os incompetentes irresponsáveis e o povo ignaro.

O país virtual

Sempre mais comum quem se afasta da realidade para agir como cidadão de um Brasil inexistente.

por Mino Carta

As manchetes que ornam esta página encabeçaram recentemente o noticiário de dois jornalões nativos. Acima (por incrível que pareça) o Estadão de sexta 5 de dezembro, abaixo O Globo de sábado 6. As duas manchetes poderiam ter saído uma semana antes. Bastaria ter dado repercussão à reportagem deCartaCapital, nas bancas em São Paulo na sexta 28 de novembro e no dia seguinte no Rio e em todo o País. É o que teria acontecido se a nossa mídia fosse digna de um país contemporâneo do mundo, democrático e civilizado.ad26a243-fd91-425a-8168-eabaee477579

O Estado de S. Paulo e O Globo, cada qual a seu modo, fazem questão de ignorar CartaCapital. Não estão sozinhos nesta prática, e não me refiro apenas a uma reação midiática. Uma porção conspícua da sociedade nativa repudia o jornalismo honesto, ou, por outra, aquele que não diz, ou não escreve, quanto não aprecia ouvir ou ler. Nada disso parece digno de um país democrático e civilizado. E não se daria, digamos, na Europa e nos Estados Unidos, quem sabe não se desse na Argentina, na Bolívia, na Venezuela.

Sem levar em conta a ofensa à própria razão e às regras do bem-viver, o fenômeno confirma o desrespeito a uma equipe de colegas profissionais e a um repórter, titular da primazia, no caso o excelente Fabio Serapião. Segundo a nossa mídia, só vale o que noticia. É como se CartaCapital e seu site, frequentado por milhões de navegantes, não existissem. Fica assim demonstrado o apego selvagem à virtualidade, exato oposto da realidade.

Há sinais inúmeros de tentativa, praticada em todos os quadrantes possíveis, de construir um país virtual, nas mais diversas manifestações, ancorado à visão e às crenças do indivíduo e dos grupos. Há fatias da sociedade graúda, por exemplo, dispostas a acreditar que, ao sabor do escândalo da Petrobras, o impeachment de Dilma Rousseff é inescapável, quando, a bem da verdade factual, a presidenta só poderia ser derrubada pelo golpe, habilitado a jogar a Constituição no lixo.

A oposição tucana porta-se como se tivesse ganho a eleição, enquanto o PT apresenta-se como o partido que deixou de ser faz muito tempo, no mínimo desde que chegou ao poder. Nem se fale dos demais. E ali, no centro da reação, dispara Fernando Henrique Cardoso, o cientista político que ninguém leu, a acusar a presidenta de prometer para não cumprir, quando foi ele o autor do maior engodo eleitoral da história do País ao conduzir a campanha eleitoral de 1998 à sombra da estabilidade, para desvalorizar o real 12 dias depois de empossado para o segundo mandato. E quebrar o Brasil.

O procurador-geral pede a demissão da diretoria da Petrobras, sem motivo e autoridade para tanto. Já o ministro da Justiça, do alto de sua pompa provinciana, não perde a ocasião para proferir impávidas falastronices, convicto de impressionar o auditório. E o ministro Gilmar Mendes? Em lugar de fazer justiça, dedica-se ao exercício da política, secundado pelo jovem colega Antonio Dias Toffoli, pupilo súbito. Tivesse sido Toffoli nomeado hoje por Dilma, o mesmo Gilmar o definiria como bolivariano. Mas o Brasil é o único país em que crimes contra a humanidade prescrevem e uma Lei da Anistia imposta pela ditadura continua em vigor.

Vejam só, não fal­tava quem alimentasse a cer­teza de viver na su­cursal de Miami, ago­ra prefe­re Dubai.

Dilma e a esperança

Carta Capital apoia a reeleição porque sabe que o PSDB é a direita e uma vitória tucana significaria o retorno ao passado

por Mino Carta

A mídia nativa encontra à última hora o novo salvador da pátria. Aécio Neves atropela Marina Silva na reta final do primeiro turno da eleição presidencial e consegue o segundo lugar com uma porcentagem de votos que supera as expectativas. O tucanato está em festa, e tem boas razões para tanto, a se considerar a rápida ascensão do seu candidato. Agora na aposta da continuidade do desempenho em elevação.

O verdadeiro partido de oposição, a saber a imponente estrutura midiática, exulta, na certeza de que sua atuação foi decisiva em alguns estados, sobretudo em São Paulo. De fato, este primeiro turno confirma a terra bandeirante como a mais reacionária do País. São Paulo não somente reelege um governador incompetente como Geraldo Alckmin, irresponsável até em vários casos, além de envolvido em escândalos, mas também confere a Aécio Neves uma vantagem abnorme em relação a Dilma Rousseff.

Segundo aspecto do pleito a ser acentuado: a clamorosa falha das pesquisas em vários estados. Em São Paulo, a surpresa está no resultado alcançado pelo candidato do PT, Alexandre Padilha, muito acima da porcentagem atribuída pelas pesquisas, tão baixa de fio a pavio, a ponto de levar a Globo a se desinteressar, com indisfarçável alegria, da cobertura da sua campanha.

Notável o erro em relação à Bahia, onde a vitória de Paulo Souto no primeiro turno era garantida por robusta porcentagem, e onde quem se sagrou governador de saída é o escolhido de Jaques Wagner, Rui Costa. E no Rio Grande do Sul quem trafegou em terceiro lugar desde o início da campanha a governador, Ivo Sartori, do PMDB, vai para o segundo turno em primeiro lugar. Cabe questionar os institutos: incompetência ou má-fé? Deslize em proveito da crença guardada a sete chaves, ou falta total de acuidade?

Algo mais a anotar: o excelente resultado obtido pela presidenta no Nordeste, a região que soube entender e aproveitar o êxito das políticas realizadas nos últimos 12 anos pelos governos de Lula e Dilma. Mais expressivo de todos, o desfecho baiano. Ali havia motivos para temer o retorno do carlismo, já representado na prefeitura de Salvador pelo neto de Antonio Carlos. Registra-se o êxito da administração wagneriana, sem cavalgada das Valquírias.

Na visão óbvia das próximas três semanas, a nos separar do segundo turno da eleição presidencial, não é árduo prever uma disputa ao último sangue, com a participação maciça da mídia alinhada compactamente às costas do tucanato e, do outro, de Lula, novamente em ação, talvez mais do que nunca.

Cabe comparar a situação de hoje com aquela de quatro anos atrás. Dilma cai cerca de 5 pontos porcentuais, enquanto Aécio melhora em cerca de 1 ponto a posição do então candidato José Serra. Marina Silva também cresceu cerca de 2. Ou seja, as condições não estão muito longe daquelas de 2010. E, por outra, repete-se a polarização tradicional nas últimas duas décadas. E esta é a hora de reafirmar o apoio de CartaCapital à presidenta.

As nossas motivações se reforçam nesta fase do confronto. Ao se inaugurar a campanha, previa neste espaço que tanto Aécio quanto Marina seriam inevitavelmente arrastados para a direita ao surfar a onda midiática. Neste gênero de entrega ao chamado das sereias os tucanos já mostraram largamente a sua escassa vocação odisseica. Foi o que se deu com Fernando Henrique Cardoso na Presidência e com José Serra em diversas oportunidades. Ambos tornaram-se empedernidos reacionários, a exibir toda a inconsistência ideológica da chamada esquerda brasileira. Ou, pelo menos, de certa vertente dita esquerdista.

A esta altura, Aécio já disse a que veio. Em um ponto, certamente, a orientação fica definida. Confesso meu pavor diante da perspectiva de ter Arminio Fraga como ministro da Fazenda, destemido arauto do neoliberalismo, não menos de FHC e seu governo. Apavorante retorno ao passado, para falar alto e bom som, igual a um editorial do Estadão. Temo, obviamente, que a ameaça formulada então, a privatização da Petrobras, se concretize caso Aécio chegue ao trono. E me pergunto o que será de uma política exterior que desatrelou os interesses do Brasil daqueles dos Estados Unidos, ora viva.

E que sobraria de uma política social que melhorou a vida de boa parte de condenados à miséria e investiu bastante em educação? Avanços insuficientes, é verdade factual, mas importantes no País da casa-grande e da senzala. E esta continua a ser a questão central. Como há de ser para quem se empenha a favor da igualdade.

Apoiamos Dilma porque ela representa esperança de igualdade, e CartaCapital não arrefece na expectativa de quem dela se aproxime cada vez mais. O estadista almejado.  Dono, por exemplo, de sabedoria e coragem para coibir os desmandos midiáticos, a começar pela hegemonia da Globo, na terra do futebol onde o próprio, e chego aos limites do cogitável, é disputado nos horários que ela decide. Este pode ser tomado como exemplo miúdo, mas não é.

E se falamos de esporte, regras hão de ser estabelecidas para impedir de vez a farra dos cartolas, de forma a devolver dignidade ao esporte das multidões. É deste gênero de atuação que o povo precisa, inserida no quadro de uma política social voltada às demandas mais profundas da alma nacional.

Não precisamos, por exemplo, de uma dita Comissão da Verdade que se apavora diante da verdade. Factual, está claro. Precisamos, isto sim, liquidar de vez uma lei da anistia imposta pela ditadura encerrada há quase 30 anos. Atitudes deste porte, talvez menor na aparência, provariam de fato uma ousadia nunca dantes navegada, a indicar um governo capaz de dar início à demolição da casa-grande e da senzala. Conduzida em paz, em sintonia, porém, com o nosso tempo.

Nova é esta Marina Silva

Marina

A candidata do PSB pratica a velha política enquanto prega o contrário. Destruiu o ideário de Eduardo Campos e talvez consiga demolir o próprio partido que representa.

por Mino Carta

Não há quem segure a candidata Marina Silva nesta caminhada final rumo à eleição. Em Florianópolis, subiu ao palanque de Paulinho Bornhausen e com empenho apaixonado pediu votos para sua candidatura a senador. Precioso trunfo para o filho de Jorge Bornhausen, governador biônico de Santa Catarina durante a ditadura, liderança do ex-PFL e patriarca de uma das mais ricas famílias do estado. Direita reacionária na sua acepção mais desbragada.

Esta adesão eufórica à velha política assinala a enésima contradição de pregadora da nova. Uma análise da personagem do ponto de vista psicológico exibe, isto sim, uma nova Marina. A contida, austera ambientalista na qualidade de candidata em campanha mudou radicalmente o seu estilo, a ponto de pôr em xeque as crenças professadas até ontem.  A perspectiva do poder leva-a a renovar seu verbo e seus gestos e a buscar a companhia de quantos aparentemente haveriam de ser seus adversários, se não inimigos. Vale tudo para chegar lá, é o que se deduz sem maiores esforços.

Confesso minha surpresa. Marina Silva revela uma determinação obcecada  que não imaginava. Certo é que a candidatura de Eduardo Campos, sua plataforma, suas ideias, seus projetos e propósitos, Marina conseguiu destruir. Receio que logre ir além, para demolir o próprio Partido Socialista. Em lugar da nova política, temos a nova Marina.

Humoristas midiáticos

Há momentos de puro humorismo propiciados pela mídia nativa. No momento a Folha de S.Paulo celebra a instituição do ombudsman há 25 anos, de sorte a estabelecer a autocrítica dentro do próprio jornal. O Folhão se apressa a esclarecer, pomposo, que o exemplo não foi acompanhado pelas demais publicações brasileiras enquanto em vários países do mundo a prática salutar é adotada. O nome ombudsman, admito, me soa desagradável. De todo modo, tivesse funcionado sempre para valer, viveria física e moralmente esgotado.

A leitura e a audiência que parcimoniosamente dedico à mídia nativa me revelam o autêntico responsável por todos os males no momento padecidos pelo Brasil. Ou melhor, a responsável, Dilma Rousseff, a começar, pasmem, pela crise econômica mundial, que ninguém poupa, até a inflação e o desemprego. Mas os porcentuais não são bastante baixos em relação aos números globais? Segundo o Cérbero da família Marinho, o cão de três cabeças à porta do Hades, a presidenta maquia os dados. Ou finge ignorá-los?
Tudo é culpa da Dilma, até, quem sabe, o 7 a 1 imposto pela seleção alemã aos canarinhos, ou o tráfego congestionado, ou falta de luz em casa. Só mesmo a crescente, inexorável escassez de água em São Paulo não pode ser atribuída à presidenta. No caso, entretanto, o culpado, o governador, Alckmin, é prontamente perdoado e se prepara ao passeio eleitoral.

Como entender Marina?

A candidata do PSB, sem ser socialista, é um poço de confusão e contradições
Volto de viagem ao exterior e retomo meu espaço habitual. Em Roma, li uma análise a respeito da candidatura de Marina Silva que coincide com a avaliação de CartaCapital. No jornalLa Repubblica, dos três de circulação realmente nacional, o de maior tiragem juntamente com o Corriere della Sera, e, na minha opinião, o melhor de todos.

Diz o diário que Marina Silva tem um passado honroso e nem por isso as qualidades necessárias ao exercício da Presidência de um país do tamanho e da importância do Brasil. Sua formação política é precária e suas ideias, quando manifestadas com um mínimo de clareza semântica, são confusas e contraditórias, de sorte a ressaltar a dramática incógnita que a candidata representaria se eleita.

O texto do La Repubblica confirma as nossas previsões, feitas nesta página no momento em que ficou assentada a substituição de Eduardo Campos por Marina Silva. Ou seja: ela seria tragada pelo apoio da mídia nativa, autêntico partido de oposição, porta-voz da casa-grande, e por esta arrastada inexoravelmente para a direita mais retrógrada.

E aí começam a confusão e a contradição da candidata do PSB sem ser socialista. Ela passou a ocupar a cena política brasileira como inimiga do latifúndio e da devastação ambiental, o que implica uma postura oposta àquela dos seus atuais arautos e conselheiros, adeptos, além de tudo, da involução globalizada, dita neoliberalismo, a desencadear a crise mundial. Eis perfilada a ameaça: o retorno à política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando, em nome da estabilidade, o Brasil quebrou impavidamente três vezes e foi entregue ao presidente Lula com as burras à míngua.

Uma ação leva a outra, e haveria a se temer também pela renúncia a uma política exterior que, depois de FHC, desatrelou o Brasil dos interesses de Washington. Há quem diga que o fenômeno Marina Silva de certa forma repete deploráveis momentos históricos vividos em 1960 com Jânio Quadros e em 1989 com Fernando Collor. Com o endosso maciço da mídia, o homem da vassourinha e o caçador de marajás foram eleitos. A Presidência de ambos redundou em desastre.

CartaCapital acredita que nas mãos da ex-seringueira o destino do Brasil não seria promissor. Mas acredita também que desta feita o País saberá evitar o risco, e não receia abalar-se a um vaticínio que muitos reputarão prematuro. Nadar contra a corrente estimula quem dá a braçada honesta.

Vale registrar, de todo modo, que esta nossa ribalta se oferece a personagens singulares, ou, se quiserem, peculiares, prontamente engolfados pela direitona sempre disposta a agarrar em fio desencapado. Não me permito incluir no rol de alternativas desesperadas o já citado Fernando Henrique, habilitado a tornar-se paladino de quaisquer ideias e tendências ao sabor do que entende como conveniência pessoal.

Nunca esquecerei aquela noite em Rafard, interior de São Paulo, na campanha para a primeira eleição a governador do estado em 1982. O príncipe dos sociólogos concedia sua arenga aos boias-frias da área enquanto a brisa noturna sussurrava nos canaviais, e Mario Covas sentou-se ao meu lado na amurada da boleia de um caminhão transformada em palanque. Meneava a cabeça, a significar: “Quantas besteiras…”

O mesmo Covas que ameaçou largar o PSDB caso FHC aceitasse o convite de Collor para ser seu chanceler. E não é que o homem quase embarcou na canoa furada? Sobra minha surpresa ao constatar que dentro do próprio ninho tucano o candidato Aécio, que me mereceu simpatia desde o tempo em que carregava a pasta do avô Tancredo, confia no ex-presidente. Tancredo, aliás, dizia do sociólogo: “É o maior goela da política brasileira”.

Ao cabo, pergunto aos meus botões se vale confiar, em contrapartida, em uma candidata que, ao se apresentar como tal, atribui a sua chance à Providência Divina. Teríamos de entender que a mesma manifestação do Altíssimo determinou a morte trágica de Eduardo Campos? Os botões, como Mario Covas, exprimem o oximoro do espanto resignado.

P.S.: O governador do Ceará, Cid Gomes, um dos melhores do País com 80% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha de agosto passado, move ação por calúnia contra a semanal IstoÉ, que o acusa de envolvimento no Caso Petrobras. É o recurso recomendável contra quem carece de provas, como é da tradição dos porta-vozes da casa-grande. Não precisava, contudo, pedir a apreensão da revista. Isto equivale a oferecer aos caluniadores munição de graça.

OS 20 ANOS DA REVISTA ÍNTEGRA DO BRASIL, CARTA CAPITAL, POR MINO CARTA

CartaCapital faz aniversário depois de duas décadas a nadar contra a corrente diante de caluniadores dados à concorrência desleal.

Esta é a edição do 20º aniversário de CartaCapital. A ocasião oferece óbvios motivos de satisfação a quem a publica e aos seus leitores. Mas a fatalidade interfere com indiferença feroz na vida do País e lança uma sombra de profunda tristeza sobre nossa celebração.

Estamos envolvidos no pesar da nação, golpeada pelo desaparecimento de Eduardo Campos, o jovem líder pernambucano herdeiro de notáveis tradições, candidato à Presidência da República nas próximas eleições, já intérprete de um papel importante e certamente destinado a um futuro decisivo na política brasileira.

Tratava-se de um amigo verdadeiro de CartaCapital, de cujos debates capitais participou mais de uma vez, a última em março passado, ao lado de Paul Krugman e Delfim Netto, entre outros. Saiu-se com brilho. Falava com fluência e clareza, tinha ideias e ideais. Almoçamos lado a lado no intervalo do evento, como se dera, anos atrás, no Recife, no encantador Leite no centro da cidade. Grande e forte, cavalheiro cortês, os olhos o traíam, de certa forma, mostravam energia irresistível, impulso avassalador. Assim dele me lembrarei.

Entristeceu-me, no começo oficial da campanha eleitoral, quando CartaCapital definiu seu apoio à reeleição de Dilma Rousseff, o dissabor que Eduardo fez chegar aos meus ouvidos, na crença de ter sido apontado como candidato da direita. Entendera mal. Entre os motivos de nossa escolha estava a percepção de que ele, a despeito de suas crenças sinceras, acabaria tragado pela virulenta campanha anti-Dilma, anti-Lula, anti-PT, desfechada desde sempre pela mídia nativa, de sorte a trazer para o lado da reação quem se opusesse aos alvos do seu ódio. Não tive a oportunidade, infelizmente, de explicar as nossas razões.

A vida, bem sabemos, é um átimo imensurável, a não ser, talvez, pelos pés alados de Hermes. Sobra a memória, caminhada para trás nem sempre feliz. Mesmo as boas lembranças carregam a saudade de nós mesmos. E então me vem à mente uma reunião de junho de 1994 na sala de estar da minha casa. Lá estavam Nelson Letaif, George Duque Estrada, Bob Fernandes, Wagner Carelli. Falava-se do projeto de uma revista ainda sem nome. Tomávamos vinho branco.

Vínhamos de experiências comuns em épocas diversas, sedimentadas por Bob, Nelson e Wagner na redação de IstoÉ, da qual havíamos saído em turvas circunstânciais. Outra figura da turma, a minha fiel secretária Mara Lúcia da Silva, para quem telefonei no dia seguinte. “Mantenha-se de prontidão – avisei –, a revista vai sair.” Telefonei também para os eternos amigos fraternos, Luiz Gonzaga Bel­luzzo e Raymundo Faoro para comunicar o que me parecia ser boa-nova. Por mais de duas décadas, contávamos com eles como conselheiros e colaboradores.

Mensal, a publicação, que os recursos não permitiam voos mais amplos. Nascia de uma ideia inicial de Andrea Carta, meu sobrinho, então diretor da Carta Editorial, fundada por meu irmão em agosto de 1976. Andrea imaginava uma revista de Economia e Negócios, disse a ele que esta eu não saberia fazer. Propus uma publicação para fiscalizar o poder onde quer que se manifestasse, na política, na economia e na cultura. Concordou. Muitas mudanças se deram ao longo do caminho, porque a revista ganhou corpo e fôlego. O que nunca mudou foi a linha editorial.

Mensal, de meados de agosto de 1994 a março de 1996. Quinzenal até agosto de 2001. Enfim semanal de uma nova editora batizada Confiança, ousada aventura, estranhamente confiante, conduzida por dois cidadãos desprovidos de qualquer vocação empresarial. Felizmente, contamos com a competência comercial e administrativa da equipe comandada por Manuela Carta e, anos depois, também por Luís Moraes. E, enfim, com a entrada em cena de um novo sócio sabedor das coisas, Eduardo da Rocha Azevedo.

Nem todos os fundadores estão aqui hoje. Outros jornalistas vieram, afinados com o projeto capaz de se opor ao pensamento único para defender o seu, insólito no panorama. Ou, por outra, a denunciar a permanência insuportável, a resistência implacável da casa-grande e da senzala, a precipitar um desequilíbrio social monstruoso. Se houve melhoras com os governos Lula e Dilma, e as houve, não foram suficientes. E, como a mídia nativa se empenha em demonstrar diariamente, a mentalidade dos senhores fica intocada, infensa ao mais tímido exame de consciência.

De todo modo, mantenho viva a convicção de que a atual CartaCapital é a melhor entre as publicações que tive a honra e o prazer de dirigir. Obra coletiva de uma redação impecável, encabeçada pe­­lo redator-chefe Sergio Lirio.

O tempo é invenção do homem, e se sujeita a adquirir dimensões diferentes. Quanto valem 20 anos de vida de uma revista que nada contra a corrente, obviamente incompreendida por muitos leitores dos jornalões e dos semanalões, constantemente alvejada pelos escribas dos donos da casa-grande e hostilizada pelos sabujos que chamam o patrão de colega? Creio que valham mais do que quantos foram vividos por escribas e sabujos, e seus patrões.

Este é um dia feliz. Mas é também muito triste, Eduardo Campos vai fazer falta. Ao acima assinado, por exemplo. E ao Brasil.

O canhão Lula

Mauricio Dias

Presidente da câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves é o candidato favorito ao governo do Rio Grande do Norte, estado que a família Alves domina há muitos anos e onde o partido dele, o PMDB, trava nesta eleição um combate por votos com o PT, do qual o ex-presidente Lula é presidente honorário.

“O PMDB quer um espaço maior na campanha, saber qual a estratégia da presidenta Dilma nos palanques estaduais e como será a presença do canhão Lula”, já disse Alves.

O ex-presidente é uma espécie de vice-rei do Norte-Nordeste, para usar uma referência política dos anos 1930, quando Getúlio Vargas indicava os governadores, então chamados presidentes dos estados. Alves não é o único aliado preocupado com os efeitos da intervenção de Lula no processo eleitoral. No Rio de Janeiro, o senador petista Lindbergh Farias conta com ele para ganhar o poder no estado. Note-se que, oficialmente, Dilma apoia Luiz Fernando Pezão, do PMDB.

Quem estranhar o interesse de Alves e Lindbergh sobre a presença do ex-presidente nas eleições, confira as razões. Uma delas, a pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, em novembro de 2010, tira qualquer dúvida sobre a influência político-eleitoral de Lula naquela região.

Pergunta do pesquisador: “Qual foi o melhor presidente do Brasil?”

A resposta está inserida no livro Eleições não São para Principiantes – Interpretando eventos eleitorais no Brasil, do cientista político Adriano Oliveira e outros autores, que em poucos dias sairá do forno para as livrarias.

Segundo 89,6% dos eleitores pernambucanos, o sexto maior colégio eleitoral do País (com mais de 6 milhões de votos), o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva foi o melhor presidente da história do Brasil. Ele é secundado pelo ex-presidente FHC, que alcança 1,9% de citações e é seguido por Getúlio Vargas, com 1,0%. De qualquer modo uma surpresa, já que Vargas desapareceu da vida pública em 1954. Optou pelo suicídio, como se sabe, diante de pressão extrema da direita liderada então por Carlos Lacerda, da UDN.

Poderia haver nesta resposta uma contaminação emocional de conterrâneos. Talvez. A influência de Lula, e do lulismo, é, porém fenômeno pressentido e estudado pelos acadêmicos. E tudo vai muito além de Pernambuco.

“O bem-estar econômico dos brasileiros contribuiu – à parte outros fatores (…) − para a avaliação pujante da administração do presidente Lula e o elevado índice de confiança nele depositado”, explica Adriano Oliveira.

Ele faz outras considerações: “Embora o survey tenha sido realizado em um único estado brasileiro, os dados apresentados lançam hipóteses de como o lulismo se manifesta em outras regiões do Brasil”.

Quando se considera, no entanto, o poder de fogo de Lula na campanha eleitoral, Adriano Oliveira pondera que “não se deve desprezar a ação das circunstâncias políticas e econômicas e o desempenho eleitoral de diversos atores, uma vez que as consequências delas podem possibilitar o fortalecimento ou o enfraquecimento do capital eleitoral do ex-presidente”.

MINO IRONIZA O ESPECTRO DO MARKETEIRO NAS ELEIÇÕES

Você acredita em marketing? Você compraria um objeto divulgado por Neymar? Você votaria em um candidato criado pelo marketing? Então, meu chapa você não tem opinião. Você é um produto como o produto que você compra.

Assista e escute Mino Carta, e depois faça sua analise.

NA TV CARTA CAPITAL O INSIGNE JORNALISTA DECLARA APOIO À REELEIÇÃO DE DILMA

Não é novidade. O insigne jornalista, um dos poucos lúcidos no Brasil, apoiar à reeleição de Dilma. Na eleição passada ele fez o mesmo. Com Lula foi duplamente o mesmo apoio. Ele tem dois motivos, além de sua inteligência e ética, para apoiar Dilma. Um é que ele sabe que toda a mídia venal e reacionária já apoia seu representante: Aécio. Outro, é que ele sabe, junto com os minerais, que o candidato das oligarquias-empresarias, o sujeitos-sujeitados do capitalismo financeiro, não vai ganhar.

Veja, ouça e analise. 


USAR O CONTROLE REMOTO É UM ATO DEMOCRÁTICO!

EXPERIMENTE CONTRA A TV GLOBO! Você sabe que um canal de televisão não é uma empresa privada. É uma concessão pública concedida pelo governo federal com tempo determinado de uso. Como meio de comunicação, em uma democracia, tem como compromisso estimular a educação, as artes e o entretenimento como seu conteúdo. O que o torna socialmente um serviço público e eticamente uma disciplina cívica. Sendo assim, é um forte instrumento de realização continua da democracia. Mas nem todo canal de televisão tem esse sentido democrático da comunicação. A TV Globo (TVG), por exemplo. Ela, além de manter um monopólio midiático no Brasil, e abocanhar a maior fatia da publicidade oficial, conspira perigosamente contra a democracia, principalmente, tentando atingir maleficamente os governos populares. Notadamente em seu JN. Isso tudo, amparada por uma grade de programação que é um verdadeiro atentado as faculdades sensorial e cognitiva dos telespectadores. Para quem duvida, basta apenas observar a sua maldição dos três Fs dominical: Futebol, Faustão e Fantástico. Um escravagismo-televisivo- depressivo que só é tratado com o controle remoto transfigurador. Se você conhece essa proposição-comunicacional desdobre-a com outros. Porque mudanças só ocorrem como potência coletiva, como disse o filósofo Spinoza.

Acesse esquizofia.wordpress.com

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CAMPANHA AFINADA CONTRA O

VIRTUALIZAÇÕES DESEJANTES DA AFIN

Este é um espaço virtual (virtus=potência) criado pela Associação Filosofia Itinerante, que atua desde 2001 na cidade de Manaus-Am, e, a partir da Inteligência Coletiva das pessoas e dos dizeres de filósofos como Epicuro, Lucrécio, Spinoza, Marx, Nietzsche, Bergson, Félix Guattari, Gilles Deleuze, Clément Rosset, Michael Hardt, Antônio Negri..., agencia trabalhos filosóficos-políticos- estéticos na tentativa de uma construção prática de cidadania e da realização da potência ativa dos corpos no mundo. Agora, com este blog, lança uma alternativa de encontro para discussões sociais, éticas, educacionais e outros temas que dizem respeito à comunidade de Manaus e outros espaços por onde passa em movimento intensivo o cometa errante da AFIN.

"Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do qual sempre ribomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes” (Friedrich Nietzsche).

Daí que um filósofo não é necessariamente alguém que cursou uma faculdade de filosofia. Pode até ser. Mas um filósofo é alguém que em seus percursos carrega devires alegres que aumentam a potência democrática de agir.

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