A partir desta ocasião, este bloguinho intempestivo estará apresentado alguns dizeres-valores contidos na semiótica enunciação chauvinista. Para ele, pouco importa o que exporta o termo francês extraído da postura (modalidade) do soldado napoleônico Nicolas Chauvin com seu patriotismo exacerbado: chauvinismo. Mas sim sua dimensão paranóica localizada, como estados de coisas discriminatórios, em múltiplos territórios do cognominado mundo humano com sua discriminação racial, com seu totalitarismos, com sua homofobia, com seus fundamentalismos, etc. Várias posturas paranóicas, várias formas de aprisionamento da Vida.
Procuraremos não cair na tentação de recorrer, em nossas apresentações internet-sóficas, aos clichês que permeiam o protesto anti-chauvinista, como o usado pelo Movimento de Libertação da Mulher propagado na década de 70, que chamava o homem discriminador da mulher de “porco chauvinista”. Não usaremos este recurso antropozoomorfizante de atribuir ao porco, o nosso “segredinho sujo”, como diria D.H. Lawrence, pois o animal suíno (espécie antropozoomorfizada) — como todos — não tem culpa nenhuma (ele não carrega moral) das nossas sujeiras. Imaginem chamar o simulante senador Mão Santa de porco chauvinista, porque ele chamou a ministra Dilma Roussef de galinha. Seria ofender o animal e valorizar o inócuo senador, elevando-o a categoria suína, espécie que nem chafurdando na lama, ele se aproxima. Ou, então, chamar também o senador “orgulho do Amazonas”, Arthur5,5%Neto de porco chauvinista, por pedir que as sentenças chauvinistas do simulante senador não constasse nos anais do Congresso. Logo o senador que se considera nobre e elegante, qualidades que o porco não teceu para si, pois não carrega a impotência de inferioridade (o psicanalista A. Adler chama Complexo de Inferioridade; Jung chama de tipo psicológico introvertido). Nada disso. Dai ao homem o que é do homem: sua paranóica sordidez. Ao porco o que é do porco: seu devir-animal. Nada humano.
O CHAUVINISTA “A MULHER DA DIREITA
É MAIS BONITA QUE A MULHER DA ESQUERDA”
Nesta ocasião, pegamos a sentença hominista proferida no rol político: “A mulher da direita é mais bonita que a mulher da esquerda”. Bem, a atrofia já se mostra na demarcação espacial-perceptiva: quem percebe o esquerdo de alguém não percebe o direito e vice-versa. Logo, é impossível comparar os lados. Neste ponto de vista, vitória da atrofia perceptiva: a dor comparação. Cercando as pontuações chauvinistas, encontramos a Teoria dos Valores: Axiologia. Esta, organizada pelos códigos (signos/valor) da estrutura patriarcal/judaica/cristã/burguesa, segrega valores saídos da Estética Clássica Burguesa através da Academia de Belas Artes (Baumgarten cunhou a sentença clássica Belas Artes), fundamentada nos conceitos matéria, forma, harmonia, equilíbrio, fim: Beleza. Idealismo estético platônico, kantiano e hegeliano. Abstração da realidade. Enunciação estética burguesa dominante, que opera sujeitando todos que acreditam na imobilidade e classificação da Vida. A armadilha estética onde caiu o pronunciador da sentença “A mulher da direita…”. Este, sujeito-sujeitado, segmentarizado (parte de um ponto à outro sempre pré-localizado: série), delimitado (espaço estruturado contra o imprevisível) em suas posturas territorializadas, definidas como proteção. Ausência de devir, predominância do porvir: cálculo futurista controlado.
Aqui, cabe um entendimento não reducionista: compreender-se que não só o chauvinista teme o devir mulher, o que disjunta a condição opressiva de sua realidade, mas também, a chauvinista, que também recorre ao conceito beleza da mulher adesivado em si como armadura ao devir-mulher para se confortar contra o seu perigo. A lógica do conceito: se eu a conceituo, eu a tenho presa. No caso da mulher chauvinista, submissão e propagação do conceito, muitas vezes confundido com emancipação feminina.
Preso ao conceito burguês de beleza feminina, que se antepõe a sua percepção direta da mulher-real, ambos fantasiam a beleza como um estado material com uma finalidade: agradar o olhar. Ela, o do chauvinista. Só que seu olhar não lhe pertence. Pertence à classe que o forjou em seu medo da mulher. Assim, se faz chauvinista por escolher o que, por antecipação, lhe escolheram. É por isso que classifica: “Que gato bonito!”, “Que porco! Você é um nojo!”, “Que pernas!”, “Que bunda!”, “Vagabunda!”… O que escapa a sua caixinha de “segredinhos sujos” de conceitos. E por aí vai enunciando sua impossibilidade de ser tomado pelo movimento. A potência constitutiva da mulher que não cabe em posição fixa: esquerda, direita. Como diria o filósofo Sartre, o chauvinista, em seu estado serializado, é uma insuportável conseqüência, nunca um princípio. Daí seu pavor da mulher. Daí seu pavor de tudo que segrega liberdade.
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