(enunciações sussurrantes amorosas aos ouvidos)
Amor. Sim. A mais-valia é a primeira forma de corrupção no mundo. Não apenas por realizar a expropriação do excedente de trabalho do operário, mas porque pretende se apropriar de toda a energia do corpo e reduzi-lo à decadência de um corpo impotente para o desejo de liberdade. Subordina, então, o corpo a medida da ordem do capital em seus desdobramentos do mercado e da propriedade. Compreendo com alegria. Reduzir o corpo a uma situação degradante assim é negar a sua diferença. O corpo é uma multidão de corpos, sem identidade, sem representação. É uma constelação de singularidades que faz com que cada corpo seja único na reciprocidade social e política com os outros corpos. Multiplicidade de corpos. Fluxo desmedido. Sim, por isso pode se expressar de forma libertária, preservando seu ser, quando mantém relações com o estado de coisas constituído. Isso. Um modo de ser. O movimento que vai do poder constituído ao arremesso da liberdade vibrante do poder constituinte. Ele, o corpo, só é preso a uma função específica quando subsumido pelas paixões decadentes do processo do capital. Aí ele se torna reprodutor da norma e nada estranha. Por isso, amor, não tratamos da afirmação da identidade homossexual, mas da afirmação do desejo e da liberdade que quer se fazer corpo. Mas o mundo não é gay? Sim, mas não em uma realidade povoada de identidades e representações que funcionam como pressupostos para a existência. O mundo é gay porque cada diferença, em si, na reciprocidade dos corpos e nas composições desejantes que aumentam nossa potência, afirmamos a alegria do espírito (razão) subversivo das identidades. Tudo, então, é festa, alegria, desejo e liberdade. E a mais-valia? Sim? O capital não vive a nos persuadir de que ela é o único caminho para uma vida feliz? Sim, mas “Os capitalistas podem dominar a mais-valia e sua distribuição, mas não dominam os fluxos dos quais decorrem a mais-valia (Deleuze/Guattari)”.

(conversações pelos vários espaço/tempo da existência)
Escuta só. Diga! Conhece Epicuro? Claro. Então sabes que nunca se é jovem ou velho demais para a filosofia, não é? Sei e concordo com alegria com ele. Pois bem, a TV Brasil não apresentou um programa sobre como estão envelhecendo as lésbicas e bissexuais femininas desta geração. Loucura! Nunca se é jovem demais ou velho demais para a alegria do corpo. Pois não é. Ainda houve entrevistas para saber como a vitalidade da potência vivente dos mais experientes está lhe dando com os retrógrados que insistem na ignorância do preconceito. Pôxa, não vi. Deixa de lazeira, tá aqui para assistirmos.
Falando nisso, não tão perturbando novamente a Lady Gaga.
O que foi dessa vez? Tão acusando ela de promover a homossexualidade nos jovens. Para, né! Tudo isso porque sua instituição, Born This Way, anunciou parceria com a loja Office Depot para criar itens, como camisetas, que incentiva jovens a serem o que são. Daí a Associação da Família da Flórida, Estados Unidos, fazer a acusação descabida. Por que esta Associação não se preocupa em analisar em pormenor a influência que o capitalismo causa nos jovens, velhos e crianças através de sua indústria cultural? Verdade! Incentiva a corrupção da vida. Viu o que aconteceu no Colorado na estreia do filme Batman o cavaleiro das trevas? Se vi!

Domingo passado (22), em Belo Horizonte, na Praça da Estação, cartão-postal da capital mineira, os 15 anos da Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte foi comemorado com uma valsa. Uma alegria só. Estou sabendo. 30 mil corpos dançando. 30 não, se cada corpo é uma multiplicidade!? Nossa! Tens razão. Mas foi uma alegria com balões coloridos, sorrisos,beijos, amassos, foi uma festa temperada a muita valsa que iria deixar Johann Strauss de queixo no chão. E olha, para ir a luta não precisamos das armas dos retrógrados como o rancor, o preconceito, o ciúme, o ódio, a violência e outras paixões decadentes, basta fazermos de cada instrumento disponível, nossa alegria e a dança e a música, por exemplo, uma arma de confete na cara deles.
Tu gostas de pessoas com uniforme? Não, parecem-me pessoas que só conseguem ver a vida de um modo unilateral. Não, estou falando de pessoas vestidas com uniforme. Ah tá! Até gosto, quando fazemos uns ajustes. Pois bem, “Dezenas de soldados e marinheiros marcharam ao lado de um caminhão militar decorado com uma faixa que dizia “Liberdade para servir” e uma bandeira com as cores do arco-íris. Militares vestidos em roupas civis também participaram da parada ao lado de seus colegas uniformizados”. Onde? Nos EUA, acredita? Claro, a liberdade não tem limites fronteiriços, econômicos ou políticos. E eles são membros das Forças Armadas de lá.
Sabes o que é lei? Uma regra que surge para normatizar o real social, ditada por uma autoridade para impor a ordem. Gostou? Porreta! Mas por que perguntou? Na Ucrânia não tão elaborando um projeto de lei para proibir propagandas, programas de TV, filmes, eventos e campanhas publicitárias sobre a homoafetividade? Sério? E eu lá sou de sriedade? Verdade. Falo com razão e alegria. Já tinham feito isso na Rússia. Sim. Junto com a lei vem as punições, pois, logo, os homossexuais serão tratados como criminosos, pois o poder constituído nomeando e dividindo, definiu um crime. É aí que temos que conversar sobre a natureza social da justiça no mundo? Sim, com certeza.
o casamento é um consórcio que pode garantir a propriedade como
herança para os cônjuges ou para quem eles decidirem melhor, concorda? Claro. Mas a dogmática da Igreja determinou também que o casamento tinha que ser uma aliança abençoada pela graça de Deus, certo? Sim. Aí, muitos não entenderam a integração teológica no mercado, e acham que o amor só pode haver quando um homem casa com uma mulher e estes são abençoados por Deus. Não é mesmo! Mas dessa vez se deram mal! Por quê? O gabinete pessoal da presidenta Dilma Rousseff enviou nota nesta quarta-feira (25) comunicando a Associação Brasileira de Gays, Bissexuais, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT) da alteração do registro civil do cabo João Batista Pereira da Silva no sistema de identificação da Marinha. Ele não tinha sido registrado como “solteiro”, mesmo tendo laços afetivos legítimos com seu companheiro!? A Dilma tá levando aos trancos e barrancos a greve com os professores universitários, mas foi linda nesta decisão.
Sabes que quando estamos vivos não sabemos o que é a morte e
quando morremos já não podemos dizer o que ela é, não é? Eu já te falei que conheço Epicuro, amor. É mesmo, amor. Eu sei porque lembrou de novo do filósofo do jardim. Então diz! Vamos fazer um jogo sem regras? Tá certo. Vai. O que dizer quando do último suspiro de vida? Responde sem pensar? Tenho que pensar. Não, sem regras, direto. Tá bom. O que diria? Que te amo! Por que, amor? Por ser a coisa mais importante para mim, pois amo o mundo em ti, assim como tu amas todos em mim. Lindo! Sabes o que a Sally Ride, a primeira mulher norte-americana no espaço, disse como última enunciação antes da morte? Não. Ela revelou seu amor por outra mulher e o longo relacionamento amoroso que manteve com ela. A coisa mais importante para ela. Sim. Sua irmã escreveu em sua homenagem: “Tam O’Shaughnessy, era sua parceira nos negócios, na escrita da ciência e na vida”. E mais: “Sally nunca escondeu seu relacionamento com Tam. Elas eram companheiras, parceiras de negócios na Sally Ride Science, escreveram livros em conjunto, e os amigos muito próximos de Sally, é claro, sabiam do amor de uma para a outra”, “Nós consideramos Tam um membro da nossa família”.
A vontade de ser contra precisa, na realidade, de um corpo que seja completamente incapaz de se submeter a um comando. Ela precisa de um corpo incapaz de adaptar-se à vida familiar, à disciplina da fábrica, às normas de uma vida sexual tradicional, e assim por diante. (Se seu corpo se recusa a esses modos “normais” de vida, não desespere – use seu talento. Além de estar radicalmente despreparado para a normalização, o novo corpo precisa também ser capaz de criar uma nova vida. (Michel Hardt e Antonio Negri
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