
Na foto vejam o contraste das faces: O escritor em paz. O dublê de ministro, Roberto Freire, desatinado diante das vaias.
O escritor Raduan Nassar é um dos mais britantes e talentosos do mundo das letras. Muito conhecido e respeitado por sua capacidade criativa, é famoso no mundo inteiro. Porém, o autor das obras Lavoura Arcaíca e Um Copo de Cólera, entre outras ímpares, não é senhor dessa respeitabilidade somente por sua verve literária-criativa. Ele é respeitado, também, por sua condição de homem comprometido com a vida. Comprometido com as igualdades de direitos, princípios únicos que podem impulsionar a vida humana ser em si gratificação.
Sempre esteve posicionado contra qualquer arbítrio onde a liberdade humana se encontrava ou se encontra ameaçada. Jamais negou sua voz contra os opressores. Foi um fervoroso defensor dos governos populares de Lula e Dilma, assim como contrário a elaboração e execução do golpe. Quer dizer: Raduan Nassar é um homem de todos os tempos livres.
No ano passado, ainda no governo Dilma, ele foi agraciado com o prêmio Camões 2016. Prêmio concedido pelos governos brasileiro e português. Na terça-feira, no Museu Lasar Segall ocorreu a entrega do prêmio cujo júri o escolheu por unanimidade. E como em tempo de golpe os golpistas aproveitam para expressarem suas insignificância, se iludindo de que a população lhe presta reconhecimento, o dublê de ministro da Cultura, o falso comunista Roberto Freire, foi tentar realizar a entrega do prêmio diante de uma plateia totalmente democrática composta, também, por escritores, artistas de todas as criações. Aí, mano, não deu outra: quando o dublê de ministro foi tagarelar, depois da fala dos ilustríssimo escritor, o festival de vais começou em um único coro-democrático.
Raduan Nassar em sua fala só manifesto o óbvio produzido pelo desgoverno golpista que tem a ousadia de fazer a entrega de um prêmio que não tem qualquer relação com ele. Fator aberração.
“Infelizmente, nada é tão azul no Brasil. Vivemos tempos sombrios. Tivemos a invasão na sede do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo. A invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados. A violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua, episódios perpetrados por Alexandre de Moraes, figura exótica indicada para o Supremo Tribunal Federal”, discursou o escritor, além de comentar a nomeação de Moreira Franco, e a perseguição da Lava Jato contra Lula.
Agora, só a título de sarro ou frouxas gargalhadas, lembrar sempre que a grande importância dos golpistas é nos fazer rir, leiamos o tagarela do dublê de ministro afirmando o quanto é democrata e o quanto um homem honrado que compõe o quadro teratogênico do golpe.
“O Brasil de hoje assiste perplexo a algumas pessoas da nossa geração, que têm o privilégio de dar exemplos, e que viveram um efetivo golpe nos anos 60 do século passado, e que dão exatamente o inverso”, afirmou o dublê com a acra mais lambida, mas o coro não liberou sua verve democrática.
Diante do coro-democrático, ele tentou revidar: foi pior.
“É fácil fazer protesto em momento de governo democrático como o atual, e quem dar prêmio a adversário político não é a ditadura”, mais vaias. Diante do coro-democrático a turma dos golpistas lembrou que tinha pernas e se mandou.
O escritor amazonense (no Amazonas também tem gente ilustre, não tem só tipo Pauderney e Arthur Neto) Milton Hatoum.
“É preciso ressaltar que o prêmio que ele aceitou o prêmio em maio do ano passado, quando o governo ainda era de Dilma Rousseff. O governo atual adiou por muito tempo a entrega desse prêmio, justamente por medo dessa repercussão”, afirmou o autor da obra Dois Irmãos, entre aplausos.
E para finalizar a ousadia dos golpistas, Raduan Nassar concluiu: Não há como ficar calado.
Diante da petulância dos golpistas em tirarem proveito do que foi construído democraticamente, a semiótica-filosófica orgástica protesta: “Olha aí, golpista, nada de querer gozar com a vagina, o pênis e o ânus da democracia! O gozo é nosso!”.
Leia o discurso do probo-intelectual-literário.
Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
O discurso do ilustríssimo Raduan Nassar.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado
E se lhe apraz, veja e ouça o vídeo.
Leitores Intempestivos