É muito simples de entender, mas impossível aceitar.
Os organizadores das manifestações, em Manaus, contra as PECs 241 e 55, filhas aberrantes do desgoverno golpista, Temer, têm marcado suas realizações para às 8 horas da manhã. Segundo informação, o horário tem sido proposto pela Associação dos Professores de Manaus (Asprom) e acatado por outras entidades como Sinteam, Adua, Assua, Conlutas, etc.
O argumento usado por membros da Asprom é que esse horário é bom porque a mídia faz a cobertura e divulga no jornal do meio-dia.
DUAS EVIDÊNCIAS DESPERCEBIDAS PELOS PROFESSORES
1 – Eles ignoram o físico e matemático Galileu Galilei. Para eles ainda vigora a ideia do grego antigo Ptolomeu de que a Terra era o centro do universo, que foi abalizada por Aristóteles, e usada pela Igreja medieval para defender o Dogma. Ou seja, não há movimentos de rotação e translação da Terra. Daí que o sol não é o centro do universo, não há dia, e, consequentemente, Manaus, cujo clima é quente e úmido, não tem elevação de temperatura. Logo, a temperatura de 8 horas é a mesma de 12 horas. E mais, por essa inexistência climática, não há manifestação.
O Grito dos Excluídos, em Manaus, era realizado sempre pela tarde, mas alguns engraçadinhos (como diria a irmã Inês) decidiram deslocá-lo para parte da manhã. Resultado: os excluídos protestaram, porque não queriam ser torrados pelo calor da avenida de asfalto e concrete, agora ocorre no velho e bom horário. O filósofo Camus já havia dito que o calor afeta a inteligência, a disposição para o amor, e, nesse caso do Grito, os excluídos perceberam sua implicação na fé.
2 – A imprensa se mantém através de dois corpos comunicacionais. Um produzido internamente por ela através de editoriais e artigos, e outro produzido por fatos exteriores. Porém, o que a mantém é o segundo que lhe pauta. As manifestações são pautas para as mídias que precisam delas, e não as manifestações das mídias. As mídias se apropriam dos fatos sem gastar um tostão. O que significa que elas exploram o trabalho dos que produzem os fatos. Até o corpo de um jovem assassinado.
Nesse caso, elas são parasitas do sistema capitalista comunicacional que tem a propriedade como seu princípio de lucro máximo, mas que elas não respeitam os fatos produzidos por seus personagens particulares. Ainda mais quando há professores-escravos trabalhando para elas de graça. Real exploração da mão de obra produtiva.
As mídias capitalistas são reacionárias. Não estão preocupadas com a subjetividade do “movimento real (Marx)” das manifestações. Mas os aspronildos, ingerindo suas Cocas-Colas, não percebem essa realidade. Em suas indigentes vaidades, acreditam que aparecer nelas, no jornal do meio-dia, a população, “no centro da sala, diante da mesa (Belchior)” fica informada, valoriza o ato e lhe confere um sentido de importância insofismável. Ledo destrambelhamento político: como as mídias precisam chupar os fatos, qualquer hora ela marca sua presença. E os fatos não vão desaparecer se forem divulgados pela manhã, tarde ou noite. Com mídias ou sem elas, as manifestações revelam o seu valor político que existe por elas mesmas.
No tocante ao argumento de que o ato de amanhã, pela manhã, no Hospital Getúlio Vargas, é em virtude da presença do golpista, dublê de ministro da Saúde, Barros, é mais uma demonstração de limitação política. Às manifestações em todo Brasil não são motivadas por figuras deploráveis de golpistas. Elas foram idealizadas e elaboradas através dos instrumentos epistemológicos de seus organizadores. Nada de impulso freudiano, em forma de pseudo anarquismo-narcisista.
Esses professores se querem que a comunidade acredite em seus propósitos políticos devem procurar perceber a opressão que se encontra em todos os territórios distribuída pelos agenciamentos coletivos de enunciações que produzem sujeitos-sujeitados. Caso contrário, a comunidade também será ofendida por essa limitação perceptiva e conceptiva. E de quebra, não acreditará neles.
Leitores Intempestivos