
Não há nada demais no natal. Todo o discurso típico da época, envolvendo solidariedade, altruísmo, afetividade, igualdade social, amor ao próximo, religiosidade, abundância em alimentos e bebidas variadas, a família alegre reunida em torno da mesa, o carinho dos pais aos filhos; todo o simbolismo natalino, que alimenta as últimas esperanças de existências que resolveram esquecer-se de si mesmas durante boa parte do ano, na noite da véspera do natal, colore as pálidas alegrias. Então é festa! Mas festa no seu sentido pontual: após os comes e bebes, retorna-se ao ordinário estado de coisas constituído.
Mas no natal promovido pelo companheiro, pai, marido e empresário Nelson Rocha, o popular Nelson Noel – e por seus amigos – o personagem criado para alegrar, trata de arrematar toda a solidariedade e o amor constitutivo que vão sendo tecidos durante o ano, culminando no dia 24 de dezembro há onze anos. Nelson Noel não espera a noite chegar; inicia a festa da alegria cristiana já nos primeiros raios de sol que iluminam o núcleo 5 do bairro Cidade Nova, local onde os amigos e Nelson Noel se reúnem, fazem suas orações e iniciam a carreata que conta com vários carros e pessoas à pé, responsáveis por fazer a distribuição do delicioso sorvete para as crianças, que vão tornando a existência mais suave com seus longos e autênticos sorrisos iluminados.




A alegria cristiana não envolve somente as crianças. Todos os moradores dos bairros da Cidade Nova, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Novo Aleixo, Águas Claras e Carlinhos da Carbrás (Parque São Pedro) saem às ruas e vão ao encontro de Nelson Noel para abraçá-lo, beijá-lo, para um simples aperto de mão, para compartilhar da festa.
Festa que não é em seu sentido pontual: a festa é durante o ano todo, sem hora ou data para terminar. Uma festa que se constrói à medida que é nutrida por tudo aquilo que faz o natal existir, mas de modo autêntico, verdadeiro e que não espera o sono chegar para que Papai Noel entre sorrateiramente e deixe os presentes enquanto crianças dormem, posto que Nelson Noel vai ao encontro das crianças na luz clara do dia, abertamente.
Junto com diversos voluntários que moram na Cidade Nova e outros bairros de Manaus, Nelson Noel foi construindo esta festa. Muitos ajudaram com a doação de fardos de açucar, outros com sua disposição e apoio técnico; outros, ainda, decidiram participar auxiliando a distribuir o sorvete enquanto vários motoristas forneceram seus carros para a carreata dos bairros da Zona Leste e Norte de Manaus.
Os bons encontros natalinos, entre a multidão nos bairros visitados e Nelson Noel, foram acontecendo durante a carreata. Esta se iniciou no núcleo 5 da Cidade Nova onde Noelson acordou ansioso pelo grande dia de sua produção solidária natalina. Com sua alegria e disposição, o incansável Nelson superou, neste ano, diversas dificuldades e pôde fazer uma nova distribuição sorvetal natalina para as crianças de Manaus.
Logo cedo, Nelson se vestiu e transformou-se em Nelson Noel, e começou a divulgar nos arredores da Cidade Nova o grande encontro com as crianças de todas as idades (inclusive adultos e idosas). Os carros começaram, então, a serem carregados de sorvete e a carreata foi se formando em frente à lanchonete Degust’Gula, onde Nelson promove encontros culinários todos os dias.

Nelson Noel e a moçada da Afin
Antes de iniciar as atividades, fez-se uma oração em agradecimento por mais um ano de encontro coletivo e solidário do Nelson Noel. Logo a carreata, com Nelson Noel em cima de um carro, seguiu pelas ruas do núcleo 5 do Cidade Nova.
Neste bairrro, onde Nelson trabalha, a população conhece o trabalho do Nelson Noel desde o início e sempre incentivou a empreitada. Lá, Nelson viu crescer muitas crianças durante estes 11 anos de Natal Solidário, que hoje já são adolescentes e cujo o reencontro a cada ano emociona Nelson.
Ainda nos primeiros metros da Cidade Nova, Nelson desceu do carro e seguiu, a pé, o encontro com os comunitários. Todas crianças corriam para abraçar Nelson Noel e também traziam suas sacolas, panelas e vasilhames para enchê-los de sorvete e da alegria deste encontro natalino.
O percurso seguiu. Depois entrou pelo Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde uma multidão de crianças, idosos, trabalhadores e transeuntes receberam Nelson Noel com muita alegria.
A carreata seguiu por diversas ruas no bairro até chegar na rua principal, onde várias pessoas sairam de seus cotidianos para, também, ter este encontro noelsonlino. Algumas estavam no salão de beleza, outras preparando a ceia, outros trabalhando em obras, pintura de letreiros, no comércio. Mas todos pararam suas atividades para dar um abraço festivo em Nelson Noel e em seus vizinhos. Afinal, a caravana da solidariedade acontece todo ano e cria uma subjetividade própria aos encontros comunitários que produzem afetos alegres e aumentem a potência de agir de cada pessoa.
Nestes encontros, Nelson Noel sempre interage com pessoas que, devido à alguma deficiência, são excluidas pela sociedade capitalista e suas instituições, que só se interessam por aqueles que estão aptos a serem explorados. Estas pessoas recebem o carinho de Nelson Noel que, com seu coração sensível, emociona-se com estes encontros.
Depois da longa caminhada pelas ruas do Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a carreata foi recarregar os isopores com sorvetes enquanto o resto da equipe do Natal Solitário preparava os detalhes da próxima parte da caminhada. Com as forças e os carros reabastecidos, a alegria de Nelson foi carregando as pessoas através dos núcleos 3, 4 e 16 da Cidade Nova, rumo aos próximos bairros.
O bairro do Novo Aleixo, onde a Afin desenvolve algumas de suas atividades, foi a nova parada da carreata. Pelas ladeiras e ruas, Nelson Noel e seus voluntários adentraram o bairro e o carregaram de muita aividade neste encontro comunitário.
No Novo Aleixo, a população sempre acolhe com muito afeto a presença da carreata e dos trabalhadores voluntários em sua solidariedade e, neste encontro, todos aparecem para prestigiar e compor novas formas de relações humanas durante o natal.
Quando Nelson Noel chegou na rua Rio Jaú, dezenas de crianças já esperavam a presença deste festejo para receberem e darem muitos abraços e ganharem sorvetes. Muitas das crianças e comunitários participam das atividades afinadas como o cinema, a bandinha do outro lado, os cursos e encontros que ocorrem durante o ano.
Neste ano, os afinados sugeriram um novo trajeto pelo caminho inverso do passeio dionisíaco da bandinha carnavalesca e, assim, foi possível Nelson Noel passar por novos territórios, ter novos encontros e presentear mais crianças.
Em todos os lugares por onde passava, a comunidade não deixava Noelson Noel sem abraços e trocas de afetos. E, nestes encontros, além de distribuir sorvete, pode-se produzir o verdadeiro amor constitutivo do Natal.
Dentre tantos amigos que já participam há vários anos do evento natalino, o menino Ezequias, participando pela primeira vez da caminhada natalina, tornou-se um destaque na festa como um ajudante de Nelson Noel. Isto, em razão de ele manifestar sua vontade de fazer parte da alegria, ajudando a entregar os sorvetes.
O menino Ezequias, de 11 anos, com seus pés descalços, levava sorvete e carinho a todos que encontrava. Longe de Nelson Noel estar praticando exploração do trabalho infantil. Ele compreende que o trabalho somente é uma exploração quando as energias mental e física do trabalhador são subtraídas, no intuito de favorecer o domínio de um sobre o outro.
Mas na carreata, a participação do menino Ezequias foi trabalho vivo, pois sua ação foi motivada pela afirmação da vida como produção solidária, criando laços afetivos sólidos com as comunidades por onde passava, demonstrando a compreensão que uma criança pode ter das distintas situações de outras crianças na mesma cidade. Ezequias fez, de sua ação, construção de bons encontros, divertindo-se com sua enorme disposição para a vida.
Depois, carros e amigos de Nelson Noel, seguiram pelo Águas Claras até o Carlinhos da Carbrás. Durante a caminhada, Nelson Noel, emocionado pela energia transmitida por todos que o recebiam em suas casas, na rua e em todos os lugares, públicos e privados, por onde passava; desceu do carro de onde acenava a todos e se juntou às crianças na rua.
Assim, durante mais um ano, o Natal Solidário de Nelson Noel e dezenas de voluntários encheu de vida a não-cidade de Manaus. Ainda que, durante todos outros dias do ano, este local geográfico sofra com seus governantes , que manipulam os eleitores e a não-cidade, na véspera de natal, a cidade é contagiada com uma festa de encontros transformadores e comunitários. Desta forma, aqueles que não tem força nenhuma produzem a potência necessária para aproximarem-se da vida em uma cidade real.
Leitores Intempestivos