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A PICHAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO URBANA NO DOCUMENTÁRIO PIXO
Published quarta-feira, 17 abril, 2013 Pixação Leave a CommentAFINADO VINICIUS PADILLA DEFENDE SEU TRABALHO DE MESTRADO
Published terça-feira, 19 março, 2013 Afin , Pixação , Universidade Leave a CommentO mês de fevereiro trouxe para a Afin duas atividades bastante importantes. Uma delas foi durante o carnaval com a bandinha do outro lado. A outra foi a apresentação da dissertação de mestrado do afinado Vinicius Padilla, que atualmente é presidente da associação.
O trabalho intitulado “A pichação como fenômeno socioambiental na cidade de Manaus” foi realizado pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A apresentação ocorreu na Faculdade de Psicologia da UFAM.
A pesquisa buscou entender os aspecto socioambientais da pichação além dos preceitos da psicologia do espaço, que se caracteriza por um determinismo das ações do homem no espaço. Destas formas além das produções visíveis e sociais dentro do espaço foram discutidas as produções maquínicas onde a interpelação que sofremos dos espaços não ocorrem visivelmente (Guattari).
Além disto a pichação foi estudada a partir da ensignação dos espaços urbanos que já são ultracodificados com os valores do sistema capitalista (Baudrillard).
A banca formada foi formada pela orientadora Iolete Ribeiro da Silva, Lídia Ferraz, ambas da Universidade Federal do Amazonas. A pesquisadora convidada Livia Freitas Fonseca Borges da Universidade de Brasília (UNB).
O trabalho teve a coleta de dados através de fotografias de pichações de diversos bairros de Manaus, que foram categorizadas quanto o tipo de pichações e lugares de pichação. Além disto o pesquisador fez entrevistas semi-estruturadas com diversos jovens pichadores que atuam na não-cidade de Manaus.
Muitos destes jovens possuem leituras da realidade urbana e entendimentos necessários para a prática coletiva, sendo autodenominados ativistas sociais. Com isto vemos que mesmo sendo excluidos das atividades sociais e sem ter oportunidades socioeducativasculturais este jovens buscam ser protagonistas a sua maneira e muitas vezes com entendimentos positivos.
A pesquisa teve ainda uma ampla análise dentro dos aspectos juridicos, sociais, ambientais, urbanos e interventivos da pichação, como grafismo, arte (ou não) e manifestação urbana destes jovens.
Após a defesa a banca se reuniu para deliberar e discutir o trabalho e a possibilidade de sua aprovação.
Após a deliberação, os professores que conpuseram a banca anunciaram o resultado no qual o mestrando Vinicius Padilla, após receber sua aprovação, se tornou o 25° mestre do Programa de Pós Graduação em Psicologia.
A banca então fez suas considerações, correções e algumas sugestões para o afinado. E como a Afin estava presente com seus diversos membros logo a conversa se alongou em intercalações de ideias e conceitos sobre o trabalho que compreendeu esta pesquisa e a própria realidade opressora que os jovens enfrentam nesta não-cidade.
Acima vemos a presença dos afinados junto com Vinicius e sua orientadora Iolete Ribeiro da Silva.
Com o trabalho já corrigido nosso bloguinho traz a dissertação completa a público podendo ser baixada, citada e reproduzida para fins acadêmicos e não-comerciais.
Com o fim do mestrado o agora mestre Vinicius continua suas atividades afinadas com a mesma vontade e afinco.
PRODUÇÃO COLETIVA: ARTE OCUPA MANAUS DEVOLVE A PRAÇA AO PÚBLICO
Published terça-feira, 26 fevereiro, 2013 Arte , Grafite , Jovens , Juventude , Manaus , Movimentos Sociais , Pixação , Rua Leave a CommentA não-cidade de Manaus sempre foi governada por pessoas tristes que tentaram e continuam tentando de todas as formas manter a população resignada e improdutiva. As produções pseudo (ou somente e raramente) artísticas foram sempre direcionadas a uma cultura-valor (aquela que adiciona valor aos que tem acesso a ela, em uma relação social de poder como expõe Guattari) para uma classe mediana e improdutiva.
Como já discutimos anteriormente Manaus é uma não cidade pois dificilmente se encontra artistas, vemos apenas aqueles que são dependentes do Estado para produzir suas pirações. Assim os poucos se mostram interessados muitas vezes esbarram nesta realidade deprimente e não conseguem ir muito adiante.
Porém quando diversas pessoas da sociedade civil organizada, cidadãos comuns como qualquer outro decide deixar esta realidade opressora de lado, acreditar na sua capacidade produtora independente de qualquer auxilio do estado e ir para a rua mostrar sua arte, sua voz, sua presença no mundo.
Esta foi a idéia do Arte Ocupa Manaus, uma ocupação de um dos espaços urbanos para que seja devolvido a produção e presença coletiva. Assim esta ocupação foi dar vida a não-cidade de Manaus que através das desadministrações políticas da cidade temos um verdadeiro cemitério a céu aberto. É só andar pelo Centro da cidade para perceber uma história de abandono da população pelos governantes e que por isto deve-se ocupar o espaço público para oxigenar as veias da não cidade.
Assim diversos grupos e artistas de rua decidiram ocupar no domingo da semana passada (17) a Praça Dom Pedro II, localizada ao redor da Antiga Prefeitura e do INSS. A recente reforma da praça com seu coreto e fontes pintados não escondem todo a deprimente realidade que a cidade se encontra, sem os serviços básicos principalmente nas quebradas do mundaréu onde estão as Zonas Norte e Leste. Porém diversas expressões de amazonenses produtivos, que não sofrem do sentimento de inferioridade imobilizante sobre outros povos (principalmente pelos mais ativ@s paraenses, maranhenses, piauienses, etc) e nem deixam ser deglutidos pela inoperancia do governo e dos artistofastros (falsos artistas).
E rolou a moçada da capoeira, do grafite, do freestyle, do rap, do samba, da poesia, das artes plásticas, dos malabares, do circo, e muitas outras atividades artística. Conversamos com os dois propositores do evento, a ativista Renatinha Peixe-boi e o Grafiteiro Raiz, que deram o início no evento que juntou mais de 200 pessoas em um encontro gostoso, produtivo, que aumentou a potência de agir de cada um que foi para conhecer somar e multiplicar este evento que foi o primeiro de vários outros a vir.
Eu acho que eu só consegui dá o enter nas idéias que já estavam no coração e nas idéias de muita gente, não só como em um espaço físico, mas no espaço do irreal, do intocado que está dentro de cada um, na possibilidade de fazer e ajudar de fato o irmão com coisas boas. Como por exemplo uma pintura de parede que pode modificar a vida de uma criança que está observando a arte de pintar a parede quando ela poderia está observando o cara alí fumando oxi. Então a idéia foi quando a gente veio pintar uma parede e quando a gente viu estavamos cercados pelas pessoas da comunidade, interessadas pela pintura, falando sobre as necessidades que são necessidades comuns de todo mundo: necessidade a cultura, a liberdade de expressão, de um espaço físico adequado para utilizar. Este aqui é o ponto de prostituição mais famoso da cidade, no entanto é em frente a primeira prefeitura, o prédio do INSS onde as pessoas ficam na fila pra receber um benefício. Então é mostrar que a gente não precisa de mais nada, não precisa de grandes estruturas para resolver nossos próprios problemas. Somos nós que vamos resolver os problemas, não vai ser o governo, não vai ser o dinheiro, vai ser boas ações. Só o fato de a gente estar aqui neste domingo hoje compartilhando, tenho certeza que vai nascer muita coisa boa .Pretendiamos fazer primeiro este encontro em uma mansão. A gente tava saindo de um centro cultural e foi passando na frente desta casa, a gente viu a porta aberta e pensou vamos invadir e fazer um centro cultural. Aí a gente foi entrando e vendo a grandiosidade da casa, cheia de mármore, com piscina, gigante. A gente chegou lá e pensamos em ocupar pra fazer uma exposição com o grafite, por a galera é isto aí, não tem medo de polícia, sabem muito bem dos direitos que defendem quando vão pra rua pintar. Só que a idéia foi crescendo e fomos ficando mais preocupada com a estrutura física, se poderia suportar a quantidade de pessoas. E no dia seguinte viemos aqui nesta parte de trás e a comunidade foi chegando e apreciando.” Renatinha Peixe-Boi
Os movimentos aqui em Manaus tem esperado muito das atitudes governamentais. Os skatistas não constroem mais suas rampas pra andar de skate. Então a gente reuniu esta moçada para a galera dar o que tem de melhor. E você está vendo que faltou alguns movimentos, isto por que os movimentos ainda estão fracos. Olha o grafite aí que veio, pintou tudo por que a galera realmente é independente. Mas temos que agradece a galera que fez mesmo, por que quem está aqui pra somar é a galera que temos que acreditar, tem que fortalecer, todo mundo tá tendo seu espaço aqui, isto não está custando nada, não tem nada com dinheiro, a gente está fazendo tudo na força de vontade. A gente quer mesmo é que a galera abra os olhos, por que se a gente diz que a arte salva, vamos provar isto, não vamos ficar esperando ações e atitudes de outras pessoas. E que massa que vocês estão fazendo esta entrevista, que possam divulgar, compartilhar, estar conhecendo uma galera que não conhecia pois é para promover uma união geral. Eu estou só feliz, os caras da polícia estão meio incomodados andando pra caramba, tomara que eles não pegue a galera do bomb que está fazendo uns riscos alí.” Raiz
Dando um rolê pela praça logo sentia a diversidade deste grande evento e um dos grupos que logo encheu o espaço de uma forte cultura multicentenária e história foi o pessoal da capoeira do Mestre Xangô que veio do São Jorge para mostrar esta expressão afro em conjunto com seu trabalho social e conversou com a moçada do bloguinho sobre o evento e da praça ser ocupada com arte.
Meu nome é José Carlos, sou o Mestre Xangô, presidente e mestre do Grupo Manaus Capoeira e sou morador do bairro de São Jorge há 41 anos. Este trabalho que a moçada está fazendo aqui é uma maneira de fazer uma pequena manifestação e se direcionar as pessoas que se preocupam muito com coisas pequenas, quando tinham outras coisas a se preocupar como a cultura, a dança, a arte, como as outras manifestações que são feitas em Manaus e fora dela por amazonenses que sairam pra divulgar já que aqui não tem espaço.
Nosso trabalho é um trabalho social no bairro de São Jorge, na quadra da Igreja de São Dimas, onde a única coisa que a gente cobra todo ano é o boletim escolar, se tiver ruim no colégio não treina e só volta quando estiver melhor. E como os meninos não querem perder o espaço onde treinam eles dão 100% no colégio. Por isto eu sempre digo que você tem que estudar e manter o esporte sim e dizer sempre não as drogas, mas sem nunca discriminar ninguém. A gente tem pouca divulgação no nosso bairro. Este evento que estamos fazendo podia estar cheio por que é um trabalho gratuito e esta manifestação devia ter em toda praça pública inclusive em datas como no dia 20 de novembro [Dia da Consciência Negra] que a cada ano que se passa está diminuindo mais, as pessoas quase não estão indo pras manifestações por que não está havendo uma atividade cultural e o que tem muitas vezes não tem nada a ver com a cultura afro ou negra. Por isto dentro dos bairros, das comunidades, as praças tem que estar limpa e aberta para a cultura. Estão utilizando as praças hoje, mas não tem espaço para as crianças, que é um direito delas ao lazer, ao esporte, a cultura que está dentro do ECA. Estão enchendo as praças de brinquedos onde ninguém pode mais brincar e se quiser brincar tem que pagar, enquanto a praça é pública. E assim todas tem que estar abertas para cultura.” Mestre Xangô
Além dos malabares que deixaram a praça com um aspecto alegre e lúdico estava presente o palhaço Curumim que encheu a praça de gargalhada da criançada e transeuntes que não resite a leveza do artista palhaço. Em uma conversa com o bloguinho o artista Rosival que recebe o palhaço Curumim falou sobre sua participação e da expressividade que este encontro tem para todos os cidadãos.
O palhaço curumim se sente honrado de poder vim numa praça como esta que tem todo um histórico em Manaus. Histórico em prostituição, de abandono e tudo mais. Então este movimento vem exatamente para resgatar a questão do espaço público que precisa ser cuidado. Então para o palhaço Curumim é extremamente importante que além deste lugar aqui a gente poder levar para outros lugares, porque Manaus está carente disto, carente de arte. E quando a gente fala de arte não é só o palhaço, mas arte com toda sua plenitude: levar as crianças, levar as vovós, os vovôs, levar todo mundo. Manaus precisa ocupar seus espaços, colocar arte, dar vida, por que Manaus precisa de vida. Neste domingão de chuva que está maravilhoso dá vontade de a gente sair pulando por estas praças. Adoro praça e este espaço veio a calhar e este movimento é que Manaus precisa acordar. Mais importante que os grandes eventos, o poder público também precisa investir na arte lá no bairro, lá na periferia, isto está faltando, valorizar isto, enquanto expressão da comunidade. É por isto que eu sou palhaço e é por isto que eu sou mambembe para ir a outros lugares.” Palhaço Curumim
A moçada do grafite se fez presente em mais um encontro artístico que contou com mais de 20 grafiteiros e considerados do Bomb com gente da antiga como Buiu, Rogério Arab, Paradise, Blur, Mega, e vários outros. Abaixo vemos um registro histórico da moçada com alguns grafiteiros que estiveram presentes desde o início do evento e que sempre trocaram suas experiências, amizade e estilos artísticos.
Conversamos com alguns grafiteiros que nos falaram deste grande encontro de grafiteiros e dos mais diversos artistas urbanos.
Eu acho muito válido em um domingo destes, ainda mais no Centro, eu amo pintar no Centro e é muito massa. Reunir toda esta galera, todo mundo aqui num domingão, sempre desenvolvendo a arte e quebrando estes mitos que arte é isto ou aquilo. Tudo é arte. Ela é vandal, é subversiva, mas é arte. Um artista se liberta, não importa o material, faz, aprende, se supera. Alguém tem que fazer os trabalhos para ficar melhor.” Paradise
Sou o escritor Soor que estou na rua na atividade e na minha opinião é um projeto muito bom que o cara vai trabalhando. É a arte que na vista de muitas pessoas é vista como vandalismo, mas o pessoal tem que saber diferenciar o vandalismo da arte de rua, que vem da arte da cultura urbana. É uma boa reunir a galera pra pintar no final de semana, estar se distraindo e convido toda rapaziada que puder vim ver nosso trabalho. Melhor do que estar envolvido em droga nós estamos com este trabalho que está tirando muitos jovens usuários de droga e trazendo aqui para o mundo da arte” SOOR
É bom que não é só o grafite aqui hoje como em geral é, tem todos estilos: o circo, grafite, artes plásticas. Isto no meu conhecimento é uma novidade. Bom estar mandando este grafite com a galera interagindo pra caramba, mesmo tendo só alguns espaços, a galera distanciada mas o clima está bom demais, tudo perfeito. Um dos melhores eventos da cidade e a idéia é se encontrar mais vezes durante o ano fazendo em outros lugares. ” Buiu
Também marcaram presença o pessoal do Freestyle, estilo de rima com base no rap, onde se tem que criar as rimas na hora. Os participantes fizeram mais uma Competição de Freestyle Amazonas e mandando muito bem. Os competidores se superavam para não perderem na rima do adversário, e assim tinham que usar sua capacidade para mandar sempre uma rima melhor.
E como a produção não parava em todos os cantos da praça muitos aproveitaram para ficar também durante a tarde, quando também foram chegando novas expressões para mostrar e trocar experiências com a rapaziada que já estava presente.
O pessoal do Mestre Xangô aproveitou para cair no samba de raiz e deixar a praça com ainda mais alacridade. Chegaram também vários poetas e mais grafiteiros que começaram a ocupar todo o Centro e seus espaços abandonados, alguns há mais de uma década.
E no agradável passeio pelo centro de Manaus vimos as cores encher Manaus da vivacidade das cores. Encontramos nesta caminhada pelos arredores do Centro as talentosas representantes do grafite feminino e trocamos uma idéia com as belas Lori e Hippie Greeny que deixavam sua arte sobre a cinzas telas que eram transformadas em pulsações visuais.
Na verdade este evento foi bom por que fazia muito tempo que não rolava algo assim que reunia todo mundo pra fazer uma ação assim. E fazer aqui no centro pra todo mundo se rever por que tinha muita gente que pintava há muito tempo atrás e que já tinha dado um tempo e com este evento se empolgou de novo e aí está aqui pintando e isto é muito legal. Pra mim fazer este trabalho é deixar um pedacinho meu no muro, então o que eu sinto eu deixo alí, independente do que eu sinto ou não, se estou mais feliz ou mais triste, tudo eu deposito alí pra não descontar em ninguém. É uma forma de eu liberar um sentimento preso em mim.” Lori- Arte sem limites (ASL)
Achei este evento muito bom por que tinha tempo que o pessoal não se encontrava. E o lugar está bem deteriorado, então dar uma cor para um muro totalmente sem vida é bem bacana. E não é só o grafite, são vários movimentos juntos, por isto acho que deveria ter mais. Participar de um evento assim é muito bom para o nosso crescimento, por que é uma coisa que vai ficar podemos fazer de novo e a gente vem retoca, faz diferente, sempre procurando evoluir. “Hippie Greeny
Acima vemos um dos grandes nomes do grafite e do bomb manauara, o sempre presente Blur que também apareceu para expor sua arte no Centro.
Abaixo vemos diversas telas (paredes) sendo ocupadas e criando um fluxo artístico que alimenta as veias esclerosadas da não-cidade de Manaus. Alguns lugares como os interiores de uma casa abandonada, terrenos baldios serviram de suporte para que a arte penetrasse em suas estruturas já bastante empedernidas
No fim da tarde agentes da Guarda Municipal apareceram para admoestar os grafiteiros por estarem utilizando de um espaço público e que foi relegado pelo poder público. Prédios como o antigo prédio do exército (foto acima) que se encontra há tempos abandonado e teve suas entradas cimentadas e percebe-se diversas plantas que se aproveitaram do abandono para crescerem nos espaços limites da construção.
Os agentes tentaram impor a idéia de que o ato de grafitar era vandalismo e que não tinha nenhuma diferença da pichação. O que prova o desconhecimento da lei de Crimes Ambientais que no seu artigo 65 diferencia e legaliza o grafite. O que os ocupantes estavam fazendo nada mais foi do que dar vida a um espaço afuncional e devolve-lo ao espaço público. Assim aos grafiteiros, cidadãos ativos não podem ser negado a liberdade de sua expressão artistica ainda mais como intervenção urbana.
Porém em um estado que onde a liberdade é tolida, a criação é desincentivada e os jovens marginalizados dificilmente se entenderá a expressividade do grafite e de uma produção como Arte Ocupa Manaus. Por isso mais vezes todos verdadeiros artistas que trazem seu talento ao mundo e as ruas continuarão a ocupar a cidade e novos eventos logo surgirão para que Manaus um dia possa vir a ser uma cidade, já que o possível já está dentro do coração da arte manauara.
TODOS OS ELEMENTOS DO HIP-HOP MANÔ
Published terça-feira, 8 abril, 2008 Grafite , Hip-Hop , Música , Pixação 18 CommentsTags:Hip-Hop
Muitas batidas na pick-up do DJ Karapanã, B’Boys, grafiteiros e a moçada do movimento Hip-Hop de todas as zonas de Manaus estiveram neste domingo na Vila Olímpica. A festa foi a comemoração dos 14 anos do MHM (Movimento Hip-Hop Manaus).
Clique nas imagens para ampliá-las.
Na multidão, inúmeras rodas onde os dançarinos se desafiavam, cada um mostrando a expressividade lúdica do corpo na batida do som.
A força do movimento, a expressividade dos quatro elementos, e o toque das batidas aproximaram crews de norte a sul da metrópole manoniquim. O companheiro Maranhão nos falou um pouco sobre o que é o Hip-Hop:
Meu nome é Vandeildo mais conhecido como B’Boy Maranhão e faço um trabalho com o Hip-hop no bairro de Santa Etelvina há 7 anos. Dou aula pra muitos adolescentes, crianças, pré-adolescentes, pra dar um caminho pra cada um que procure entrar na sociedade, sair um pouco do vandalismo, ter um caminho melhor, um caminho da paz, entendeu. E o objetivo da cultura de rua é procurar mais adolescentes, dar mais apoio a eles, incentivando eles nas suas vidas, tendo uma boa educação, procurando estudar, caminhando um caminho novo, um caminho melhor, buscando melhorias de vida.
Eu dou aula de tudo, desde os conceitos da filosofia de vida, a dança, o power move, que é o giro corporal, e o Freestyle que é estilo livre e também as normas do B-Boy. A cultura Hip-hop, cultura da rua é bem ampla. A street dance é uma variação da cultura de rua. Na parte da dança, envolve estes vários movimentos, que dá origem ao break, e por isso tem o b’boy, o break-boy. Na expressão mais direta se tem o grafite, que aqui hoje não tem nenhuma apresentação. Os outros dois elementos são da música, o MC e o DJ, que fazem o trabalho musical e de uma mostra desta cultura pela voz. O popping e o locking estão ligados à dança.
O hip-hop ajuda em diversos movimentos, como mover minha coluna, tem que se suportar o peso do corpo e no power move trabalha com toda energia do seu corpo. Eles são um beneficio que o adolescente tem para ser um cara saudável, resistente e com uma disposição para lutar pelas coisas que interessam pra nosso povo. O hip-hop foi uma cultura que surgiu mesmo nos guetos e que grande parte das vezes é só analizada a partir da idéia que se tem da periferia. E quando a mídia trata destas questões é sempre desta forma excludente e levando a idéia de que o hip-hop são as músicas negras americanas que tratam apenas de dinheiro, carros, etc.
O rap, que é uma forma de criticar as formas de autoridades, pois eles mostram uma realidade que está concentrado dentro da periferia. Quando ele não pode chegar nestas pessoas, como ele vai enviar a mensagem? Através do rap. E muitas vezes as pessoas criticam a cultura hip-hop por que vem da periferia, mas hoje em dia estão buscando quebrar este tabu, por que de todas as classes está sendo vista esta cultura, bem social.
No elemento Grafite, este Bloguinho trocou uma idéia com o companheiro Árabe, que falou sobre a arte, o desentendimento da mídia, e sobre o grafite em Manaus:
“A finalidade é expressar o lado artístico, envolvendo a expressão através da imagem, atualmente puxando tanto para as artes plásticas como para a tradicional, que são as letras. O Brasil tá na frente neste processo de diferenciar o seu grafite do resto do mundo. Aqui há um estilo diferente, que não é encontrado nos EUA, Europa, Ásia… Então o processo atual está em buscar algo que seja diferente do que é encontrado lá fora”.
“Para a mídia e a sociedade civil, existe diferença entre grafite e pichação, mas dentro da cultura, lá mesmo nas quebradas, ela quase não existe, porque assim como o Brasil procura se diferenciar do grafite que é feito lá fora. Lá, pichação e grafite é tudo a mesma coisa, não se diferencia por exemplo a escrita com cor da sem cor. Aqui se diferencia porque começou a se achar que pichação é vandalismo e grafite é arte. Para eles, lá fora, grafite e pichação, tudo é vandalismo. Então alguns estudiosos começaram a ver que não existe diferença, que esta diferença foi colocada pela mídia, que acha que pichador é marginal e grafiteiro é artista, mas não. Existe sim, uma diferenciação estética, na hora de visualizar, mas o sentido de você ir pra rua, de você se sentir marginalizado é o mesmo. Aqui em Manaus se tem o costume de achar que pichador é de galera, que usa os sinais pra se comunicar. Galera é uma coisa, pichador é outra, ele não se envolve com violência, sai em turma pra curtir, pra namorar, mas não se envolve com violência. Isso foi uma coisa que a mídia brasileira inventou, isso de “resgatar” o cara da pichação pro grafite, mas a gente aproveita pra tentar mostrar pro cara que picha, e que não conhece o profundo talento que ele tem, e ajuda ele a ir pra um lado que afasta ele da violência, das drogas”.
“Manaus é a terceira, quarta capital do norte-nordeste no Grafite. Em 2006 e 2007 foi muito produtivo, foram os anos em que começou a sair trabalho de artistas locais em revistas nacionais, artistas saíram daqui pra pintar lá fora, tem artista daqui no Rio, São Paulo, Maranhão, e tiveram dois encontros em Manaus no ano passado. Este ano ainda não teve nada por falta de organização, o pessoal não se reuniu”.
Sempre envolvido e acompanhando as manifestações do movimento, o companheiro Mc Fino, junto com seu parceiro, Bob, ambos da primeira geração do Hip-Hop de Manaus, marcaram presença no evento. Bob faz um trabalho de intercâmbio entre o Hip-Hop de Manaus e o de Paricatuba, interior da cidade de Iranduba. Fino, que é do MHF (Movimento Hip-Hop da Floresta), falou sobre a necessidade de expandir o movimento, sem perder a potência alternativa:
“Enquanto o pessoal do Hip-Hop não se conscientizar deles mesmos, porque o Hip-Hop hoje em dia está muito deturpado, e isso começou a partir do momento em que pintou gente como Public Enemy, na verdade quem começou mesmo foi o NWWay, que foi na Casa Branca, falar com o George Bush, o pai, e quando aconteceu esse aperto de mão, desde aí o Hip-Hop já não é o mesmo. Hoje você vê o cara aí nessas emissoras. Não tô falando de evolução, porque você pode evoluir sem perder a essência. O que não pode é se aproveitar da imagem. O governo não está fazendo nenhum favor, o governo continua omisso com relação aos problemas sociais, o movimento Hip-Hop precisa cobrar a presença de políticas públicas na periferia, e a gente tem que ir na cobrança. E o pessoal precisa se conscientizar que Hip-Hop não é 50Cent, Eminem ou Dr. DRE, mas é atitude, é cultura, não é apenas música, é muito mais, é manifestação cultural”.
Outro membro da primeira geração do Hip-Hop em Manaus que esteve na festa foi o B’Boy e empresário Amarildo do Nascimento, conhecido nas quebradas como Gato, ou Mestre Gato, que contou um pouco da história dos B´Boys e de sua atuação em Manaus:
“Já estou há muito tempo no Hip-Hop, na categoria B’Boy, desde a década de 80. Quando o Michael Jackson apareceu, nós já dançávamos, e somos da chamada primeira geração, como dizem por aí. B’Boy é uma gíria americana e quer dizer Break Boy, o Boy Quebrado, ou Grande Garoto, como alguns grupos americanos também usam. E chegou aqui pelo Brasil nos anos 90, antes nós só conhecíamos como Garoto Quebrado, ou Garoto que Quebrava. As primeiras danças foram difíceis de chegar por aqui, e nós tomamos contato através das fitas, na época. O B’Boy antigamente, nos Estados Unidos, ele brigava, era de gangues, e aqui em Manaus até chegou a parecer com isso, mas a moçada queria mesmo era aprender a dançar e se divertir. E a primeira geração foi o Zulu King, o Break Revenge, e muitos outros grupos que eu não recordo o nome. A segunda geração vem através dos Irmãos Fúrias, Irmãos Cobra… A atividade dos B’Boys aqui em Manaus é tentar expandir, que apareceu aqui no Brasil já com o Afrika Bombaatha, e alguns de nós damos aula gratuitamente nas escolas, muitos já até de idade, e os mais novos, que já vão aprendendo e passando para os outros toda a filosofia da dança em conjunto com a cultura Hip-Hop. A gente tenta passar pra comunidade o que tem de melhor no B’Boy, que tem algumas coisas de ruim, como a rivalidade, mas o verdadeiro B’Boy é exemplo de cidadania, inclusive para a própria sociedade”.
GOVERNO BURACO-NEGRO QUER CAPTURAR POTÊNCIA DO HIP-HOP
Percebendo a potência-comunitária que o movimento Hip-Hop engendra em Manaus, o governo do Estado já colocou as barbas para secar e começa a tentativa de capturar o fluxo-dança-som-imagem.
Embora a organização tenha sido do MHM, que é autônomo, o governo entrou com o espaço, e tentou “organizar” o evento, de acordo com as coordenadas semióticas dos eventos governamentais, que esvaziam todas as possibilidades de expressão autêntica de seus participantes.
Dois acontecimentos demonstraram o desentendimento do governo estadual sobre os movimentos. A tentativa de centralização do evento, e a competitividade capitalística. Com a ajuda do corpo de bombeiros, foi aberta uma área central, por onde deveriam se apresentar os grupos. No entanto, a prevalência das rodas dos dançarinos, que tentaram ser contidas pelos organizadores, em toda a área da quadra onde se deu o evento mostrou que o Hip-Hop é mais “espalhado”, no sentido micropolítico. Além disso, nessas rodas havia somente a disputa entre as coreografias e improvisações, sem o caráter fálico-paternal do governo, que pretendia organizar campeonatos onde somente o primeiro é o melhor, bem diferente das rodas, onde todos são livres para entrar, dar seu show, e sair com os aplausos dos amigos.
A tentativa de adesivar o evento à candidatura oficial do governo também ficou clara, com as constantes menções ao candidato oficial, tentando convencer que este está ao lado do movimento.
Como um buraco negro que captura as linhas e energias que passam perto de si, este tipo de governo tenta se aproveitar eleitoralmente dos movimentos sociais, enfraquecendo-os, eliminando as possibilidades de expressão autônoma e capturando as produções subjetivas.
Mas os manos tão espertos, tá ligado?
Leitores Intempestivos