
Companheiros do cristianismo e, também, de outras religiões que foram afetadas pelo discurso que se propagou historicamente sobre minha pessoa e que ainda hoje me desabona.
Eu, Judas Iscariotes, quero nesse Testamento de 2010, aclarar o fato ocorrido entre mim e o Homem mais livre que conheci, e que por isso ainda não fui compreendido por estes que me condenam sem qualquer direito à defesa, e, assim, me tomam como ímpio.
Companheiros, há uma grande inversão do que realmente aconteceu na relação entre mim e o mais amado e corajoso ser que convivi, Cristo. Sei que tudo decorre do fato da maioria de vocês não saberem nada do que eu era diante do Estado Romano, do que eu fazia e aspirava como homem politizado. Daí, toda essa incompreensão sobre minha conduta, e a acusação de traidor, produto da mais pura superstição saída do mais baixo grau de conhecimento que é a experiência vaga do ouvi dizer.
Companheiros, antes de eu concretizar uma amizade com o maravilhoso filho de Maria, Cristo, eu lutava contra o Império Romano, pois via nele o grande mal que aniquilava a força e a esperança do povo. A minha luta era uma luta política. Eu não estava sozinho, não se faz a revolução só. Todos sabem que a revolução é uma molécula social que faz vibrar a vida como atributo da liberdade humana. E vocês sabem que Roma não era só os romanos. Roma era também um misto de vários povos, entre eles os hebreus, com sua dívida à pagar depois que eliminaram Moises. Os hebreus como bem disse o filósofo Spinoza – outro mártir da superstição, da ignorância -, esperavam o Messias, que para eles era Moises ressuscitado. Uma espécie de sublimação-culposa, como disse, outro que estudou muito a História do Povo Hebreu – principalmente Moises -, Freud.
Foi exatamente nesse território, com um estado de coisas definido, e uma semiótica dominante que eu tentei realizar meu sonho revolucionário. Era um mundo de muitas opiniões contrastantes. Um mundo de difícil comunicação e compreensão. Este, também, o mundo em que Cristo, viveu sua sublime missão revolucionária. Que muitos tomam como frustrada, mas que em verdade floresceu em todo o mundo, até os tempos atuais.
ONDE EU ME REVELO UM ESTÚPIDO
Companheiros, quando comecei a mais importante experiência de minha vida que fora com Cristo, encontrava-me na força de minha fé revolucionária. Quando vi e ouvi Cristo, falando e tratando os homens com suavidade e segurança, movido por uma potência-natural como a substância de si mesmo, por si mesmo, eu disse, muito antes de Pilatos, Ecce Homo! Esse é o Homem! Esse é o Homem Livre capaz de conduzir a revolução. Não esperei. Me lancei como um de seus adeptos. Talvez, até com um certo ciúme de outros de seus discípulos, visto que via em alguns, total alienação da luta que me propunha.
Creiam, durante todo o tempo em que estive junto com ele, experimentei, como diz o filósofo Spinoza, só afetos alegres. Minha potência de agir jamais enfraqueceu. Meu modus de existir era produção democrática.
Mas eis que aconteceu o meu equívoco-epistemológico, que depois redundou em meu erro político. Acreditava que estava entendendo Cristo, mas não estava. Dizem que àqueles que morrem afogados, no momento em que se encontram no desespero que antecede o ato final, recapitulam suas vidas. No meu caso, descobri que os que morrem enforcados, no estertor que precede a morte, o que vai morrer lembra-se do fato mais importante de sua vida.
Foi exatamente, nesse momento, que, lembrando o ocorrido, entendi o meu equívoco que depois se transformou em meu erro político. Eu queria que Cristo fosse chefe do movimento, que ele nos conduzisse contra a tirania romana, e contra a fantasia dos povos que o tinham, pela superstição, como o salvador. Mas, Cristo, era um Homem Livre, não queria ser chefe de ninguém. Ele, era um libertador das almas individuais, como depois confirmei lendo o filósofo, Nietzsche. Ele queria todos os homens livres em si, para depois realizarem democraticamente unidos, a liberdade coletiva. Isso só entendi no momento do enforcamento, mas já era tarde. Antes, me afastei de Cristo, muito decepcionado, e durante dias perambulei mundo afora sofrendo angustiado. Foi quando resolvi me suicidar.
Quanto a traição que me imputam por 30 moedas, não passa de produto de uma mente maligna de quem pretendeu se salvar prendendo Cristo na cruz. Já que atribuindo à mim responsabilidade de haver entregue o amado Cristo, aos seus algozes, se criaria a figura do mal e do bem. Não Cristo, como bem, mas essa figura maligna que distorceu a filosofia do Amor que Cristo pregava, transformando seu nome em um triste símbolo de existência onde prevalece a dívida, a culpa, o ressentimento, a dor, a punição, o castigo, tudo que enfraquece a Vida. A Vida que Cristo pregou.
Companheiros, para finalizar quero mostrar dois pontos que desfazem à acusação de que eu vendi Cristo por 30 moedas, e o dedurei para às autoridades romanas. Um, eu tinha dinheiro suficiente para viver uma vida de soberano, não precisa de reles 30 moedas, para trair um Homem como Cristo. Dois, Cristo, era uma pessoa pública. O povo e as chamadas autoridades os conheciam, inclusive os judeus. Ele não vivia tramando nas cavernas, nos becos e ruelas. Ele era visível. Sua revolução era visível. Era um Homem Livre. Um Homem Livre é visível. Tão visível que causa inveja e ódio nos que existem aprisionados na arrogância, insolência, prepotência, vaidade e orgulho, afetos tristes produtos do medo. Cristo não tinha medo. Cristo era Amor. E foi exatamente o que Pilatos viu nele e o que o faz, exclamar:”Ecce homo”. Cristo era o Homem, e Pilatos, soube. O lavar às mãos não foi ato de omissão dele, mas um sinal que àqueles que o iam assassinar eram responsáveis. O mesmo aconteceu com o ladrão que na cruz, reconheceu Cristo como filho de Deus. O filho da Vida.
Companheiros, dito tudo foi dito, sem mais delongas, vamos ao Testamento. Quero lembrar que àqueles que não aparecerem aqui nesse Testamento 2010, eu não os esqueci. No próximo Testamento, se eu ainda estiver vivo, se os ímpios continuarem me condenando, aparecerão seus belos presentes. Então, vamos nessa que a alma tem pressa.
Quero começar esse Testamento
Falando de um grande brasileiro
Que com sua inteligência e trabalho
Tirou o povo do cativeiro.
Refiro-me ao Sapo Barbudo
Que livrou seu país da condição vil
Dando-lhe respeito e dignidade
Falo de Lula, filho do Brasil.
Quero que ao deixar o governo
Com o país próspero e desenvolvido
Tenha uma vida feliz com os seus
Pois do povo jamais será esquecido.
Também, ao amigo de todas as horas
Vice-presidente José Alencar
Deixo-lhe milhões de votos
Para uma cadeira no Congresso ocupar.
À economista Conceição Tavares
Que em 24 de abril faz 80 anos
Por sua inteligência e brio de mulher
Deixo-lhe minha ampulheta para criar outros planos.
Ao meu amigo, Mino Carta
Jornalista de texto ferino
Deixo como lembrança
Minha adega com vinho fino.
Ao meu amigo, Emir Sader
Cujo texto a mentira não glosa
Deixo como lembrança
Minha coleção de Spinoza.
Para meu amigo, Nassif
Economista/jornalista/musical
Deixo-lhe de presente
Minha coleção de marchinhas de carnaval.
Ao meu amigo, Paulo Henrique Amorim
Cuja Conversa Afiada corta e não erra
Deixo-lhe como pauta diária
A campanha enferrujada de Serra.
Para meus amigos “Sem Mídias”
Internéticos da comunicação
Deixo-lhes sensíveis-sensores
Rastreadores da boa informação.
Para a tramadora Rede Globo
Cuja queda de audiência angustia
Deixo o sucesso da TV Pública
Produtora de democracia.
Para a Folha de São Paulo
Que persegue Lula em todo canto
Deixo a Ética do jornalismo
O Decálogo de Quorpo-Santo.
Ao tramador jornal Estadão
Que a notícia-verdade descura
Embora ao fato me oponha
Quero que continue em censura.
Às revistas Veja, Istoé, e Época
Produtoras de torpe leitura
Deixo o povo esclarecido
Para acabar com sua ditadura.
Aos alienados do Big Brother
Modelos do mais baixo grau de inteligência
Deixo às apostilas da Provinha Brasil
Para ajudar à saírem da demência.
Para a apresentadora Xuxa,
Como seus baixinhos, encruada
Deixo-lhe maracá e chupeta
Mimos de sua sina infantilizada.
Para os jornalistas esportivos
Que ganham dinheiro sem trabalho
Deixo o Manual do Trabalhador
“A Ofensa pelo Salário”.
Ao Fernando Henrique Cardoso
Que de Lula morre de despeito
Deixo para aumentar sua inveja
“Oito anos de um governo perfeito”.
Para os PPS/DEM/PSDB
A Trinca dos Freire, Agripino e Guerra
Deixo o descaso de Lula
Pois um bom cabrito não berra.
Ao senador “Orgulho do Amazonas”
Arthur Neto da direita o falastrão
Deixo o filme, “Lula, Filho do Brasil”.
Para se deleitar ao perder a reeleição.
Para a juíza Maria Eunice
Mestra do Direito Eleitoral do Estado
Deixo-lhe a homenagem do povo
Ao ver Amazonino de vez cassado.
Para o ex-governador Eduardo Braga
Que tem a natureza como divinal
Deixo-lhe o mosquito da malária
Uma realidade racional-tropical.
Para o deputado estadual Sinésio
Em Manaus, fundador do PT burguês
E líder do governo reacionário
Deixo-o postado na política da insensatez.
Ao PC do B de Manaus
Cujas lutas jogou às lonas
Ao se aliar com a direita
Deixo-lhe as idéias de João Amazonas.
Para o autêntico petista do Amazonas
Deputado federal Francisco Praciano
Deixo-lhe mais um mandato
Para que o povo escape do engano.
Ao outro autêntico do PT, José Ricardo
Vereador em constante luta social
Para que o Amazonas mude
Deixo-lhe um mandato de deputado estadual.
Aos candidatos amazonenses
Para o cargo de governador
Deixo o desprezo do povo
Pelos anos que o fizeram sofrer tanta dor.
Aos exploradores do povo na TV
Políticos com doença rara
Deixo-lhes a derrota nas eleições
E a maldição de Santa Clara.
Às empresas de comunicação de Manaus
Servis dos governantes locais
Deixo vírus em seus computadores
Até enquanto não se tornarem morais.
Aos meus amigos homossexuais
Que cada vez têm conquistando espaço
Deixo-lhes minhas idéias de liberdade
E, é claro, aquele abraço.
Aos meus amigos das religiões afro
Que também crescem no Brasil inteiro
Deixo-lhes como lembrança
Minhas terras para construir terreiro.
Aos meus amigos negros e índios
Cujas conquistas têm se solidificado
Deixo-lhes de presente
Quilombolas, reservas e fazendas de gado.
Aos meus amigos torcedores do Brasil
Cuja Copa imaginam ser campeão
Lamento, mas vou ter que lhes deixar
Essa grande frustração.
O eterno candidato da direita, José Serra
À quem o deputado Ciro, chama de perigoso
Imagina ser eleito presidente do Brasil
Coisa que nem comentar ouso.
Mas democracia representativa é assim
Qualquer sujeito pode se candidatar
Mas para o Brasil não retroceder
Vou deixar para Serra, quatro anos para descansar.
Já a minha amiga, Dilma
Que por suas lutas libertárias se assemelha a mim
Vejo em sua candidatura à Presidência da República
Um grito nacional do sim.
Portanto, para fechar esse Testamento
E comungar com o povo o meu presente
Deixo para minha ilustre amiga, Dilma
O cargo de presidente!
FELIZ PÁSCOA A TODOS, COMPANHEIROS!
Leitores Intempestivos