Para Mina, São Sebastião “é um Xapanã, e o Rei Sebastião da Praia do Lençol. Então, nós louva neste dia, canta para toda família do lençol, todos os voduns da praia do lençol”. Oferendas, cantos, louvores e muito axé na maravilhosa festa de derrubada do mastro de São Sebastião na Casa de Mina de Mãe Emília. São Sebastião, o guerreiro, santo católico, protetor dos gays, dos que lutam pela liberdade. Santo que expressa a mais justa solidariedade.
Archive for the 'Sincretismo' Category
MARAVILHOSA FESTA DE DERRUBADA DO MASTRO DE SÃO SEBASTIÃO NO CENTRO DE TAMBORES DE MINA DJÊ DJÊ/ NAGÔ TOY LISSA AGBÊ MANJA DE MÃE EMÍLIA
Published sábado, 25 janeiro, 2014 Afro-Afin , Mina , Religião , Sincretismo Leave a CommentTags:Afro-Afin, Caboco Ubirajara, Mina, Religião, Religiões Afrobrasileiras, São Sebastião, Turco Ubirajara
OFERENDAS E BARQUINHAS PARA IEMANJÁ POR UM BOM ANO NOVO DE 2013
Published segunda-feira, 31 dezembro, 2012 Afro-Afin , Ano Novo , Candomblé , Religião , Sincretismo , Umbanda 3 CommentsEm uma bela noite de cruviana a Prainha da Ponta Negra em Manaus recebeu diversas famílias, frequentadores das religiões afro e simpatizantes para que vieram fazer oferendas e pedir um bom ano para a rainha das águas e mãe de todos orixás Iemanjá e a dona das aguas doces Mamãe Oxum.
E a areia ficou enfeitada com o colorido das flores, das velas, dos pratos, da fé, dos pontos cantados e das barquinhas que foram oferecidos para Iemanjá. E na festa a nossa mães das águas todos se purificam e renovam assim como o ano novo que logo mais chega.
Eu fui lá na beira da praia,
Para ver o balanço do mar,
Eu vi um retrato na areia,
Me lembrei da Sereia,
Comecei a chamar,…
O Janaína, vem, vem,
O Janaína, vem cá,
Receber estas flores,
Que eu venho te ofertar.
ele jurou bandeira
ele tocou clarim
com seu exercito branco
ele lutou por mim
na beira da praia
ogum sete ondas
ogum beira-mar
Caminhando pela prainha vimos alguns babalorixás e ialorixás conhecidos deste bloguinho como a mãe Valkíria e o pai Belmiro, e nestes encontros praianos descobrimos a ausência de algumas casas que não estiveram pelas areias da Ponta Negra neste ano.
Mesmo assim os tambores e os pontos cantados pelos presentes mostraram toda a força que este encontro com oferendas e agradecimentos possui. E para deixar a festa ainda mais bonita diversas entidades como o Caboclo Ubirajara, Cabocla Herondina, seu Joãozinho, Dona Mariana estiveram presente para oferendar Yemanjá.
Meus amoriê, Meus amoriá
Na linha de umbanda
quem versa, quem manda
são os orixás
Ogum mora na lua
Xangô lá na pedreira
Oxossi na mata virgem
Mamãe Oxum na cachoeira
Os pontos e orações se renovavam e eram cantados com a força das entidades presentes. Assim as oferendas para Yemanjá presente em cestas, barquinhas, buquê de flores eram enfeitadas e recebiam as velas, presentes e essências destinadas a rainha do mar.
Eu vi chover, eu vi relampejar
Mas mesmo assim o céu estava azul!
Firma seu ponto na folha da jurema
Que oxóssi é bamba no maracatu!
Os pontos continuaram durante toda a noite, e com o cair da madrugada as barquinhas estavam prontas para levar as oferendas para Mamãe Oxum e Iemanjá. Os pedidos, graças, e oferecimentos também foram feitos para que o ano novo seja repleto de muito axé e que Iemanjá nos banhe com suas águas.
Aos poucos os barquinhos que estavam com na areia foram arrastado para as águas e cada grupo presente levava aos poucos suas preces e objetos para os braços das duas mães, dágua doce e d’água salgada.
Oh que barco tão lindo que vem
Sobre as ondas do mar
Ele traz as vibrações de nossa
Mãe Yemanjá
Yemanjá ,Yemanjá
Ela é a rainha do mar
Odoyá Odociá minha mãe Yemanjá, Ai-iê-ieu mamãe Oxum
E assim o mar ficou repleto de oferendas que coloriram e iluminaram um ano novo repleto de bençãos, realizações e muita fé para todos, e ainda um caminho onde a intolerância e preconceito religioso, que acontece muitas vezes com as religiões afro, possam ser superados.
Após as oferendas a alegria continuou na areia e os tambores continuaram durante a madrugada prenunciando um bom ano novo de 2013 com muita paz, saúde, realizações e com as bençãos de nossa mãe Iemanjá.
Os únicos que tentaram macular esta bela festa foi o prefeito Amazonino Mendes e a prefeitura de Manaus que não se contentam em terminar este (des)governo com as ruas cheias de buracos, e deixaram a escada, atualmente o único meio de acesso a Prainha, sem manutenção e cheia de burados,o que coloca a vida de centenas de idosos e crianças, religiosos e visitantes em risco fatal.
A prainha, que fica a uma grande altura da rua, poderia ser palco de alguma fatalidade, mas pela força de Iemanjá e dos orixás, tudo ocorreu bem.
FESTA DE PRETA MINA NO TERREIRO DE PAI ADALBERTO
Published domingo, 9 setembro, 2012 Afro-Afin , Sincretismo , Umbanda , Umolocô 12 CommentsTags:Omolocô
A umbanda está em festa
Neste dia de alegria
Saravá a Preta Mina
Que hoje é seu grande dia
No último domingo o Terreiro do Pai Adalberto, localizado na Av. Presidente Keneddy no Bairro do Educandos, festejou a dona de sua casa, a encantada Preta Mina.
Com a casa em festa e lindamente organizada, Pai Alberto agradeceu a presença de todos em uma noite tão especial:
Obrigado pela presença de todos vocês. A casa é nossa, e são 39 anos de Preta Mina, todos hoje são bem vindos, vamos curtir a festa. Sintam-se a vontade como se estivessem com sua família, dentro de sua própria casa.
Pai Adalberto contou um pouco a história de Preta Mina e sobre a realização deste ritual que festeja aquela que é a dona de sua casa, e grande celebrada neste dia.
A Festa da Preta Mina é tradicional no Amazonas tem 39 anos, e ela é a dona da minha casa. Como eu vivo na Região Norte, não interessa a nação, você pode fazer keto, jeju, angola que cai neste baião que eu toco, um baião de mina. E eu carrego uma vodunça velha, uma escrava que se chama Preta mina. Ela foi encantada em Rio de Conta em Minas Gerais e é encantada em uma cobra.
Na festa de Preta Mina eu abro a gira cantando pro meu santo dentro da mina, pro senhor badé que é Xango. Quando eu termino as três ou quatro rezas que eu faço pra ele eu viro pra Toya Verequete já trazendo os encantados, por que ela é encantada. Ai Preta Mina chega e toma conta da casa.
E logo os ogans ou tamborzeiros começaram a batucar prepararando a gira com a sonoridade engendrada no tempo da escravidão fazendo toda a casa vibrar diferente daquelas do cotidiano de cada um dos presentes.
Logo foram surgindo os primeiros encantados e entidades da religião, enchendo de diversas cores, pontos e criando muito axé no terreiro. Nas fotos abaixo vemos Cabocla Moça Bonita, Cabocla Jussara, Caboclo Olho D’Água, Caboclo Rompe Mato, Seu Roxo, Cabocla Joana Gunça e Caboclo Ubirajara.
A minha barca é nova
Nela eu vim
Ela é feita de aroeira
E de casca de jasmim
A bandeira de Oxalá.
A Bandeira de Oxalá, Brilhou, Brilhou,
E a Bandeira de Oxalá, a umbanda clareou
Clareou na Terra,
Clareou no Mar,
Clareou no Terreiro
Salve pai Oxalá.
E então a dona da casa, a encantada Preta Mina desceu na cabeça de Pai Adalberto deixando a festa ainda em maior esplendor. Os tambores rufaram mais forte e a gira continou até o começo da madrugada.
Está iluminada nossa umbanda
Está cheio de flor nosso congá
O Preta Mina é tudo que eu faço
O Preta Mina ilumina o caminho por onde eu passo
Preta Mina agradeceu a presença de todos e convidou para continuar a festa na parte de trás do terreiro, onde se brindou mais um ano de Preta Mina na cabeça de Adalberto e onde estava posta uma mesa, repleta de deliciosos bolos e comidas.
Agradecida, agradecida
pela irmandade eu estou muito agradecida
Agradecida, agradecida
pela união estou muito agradecida
Agradecida, agradecida
Senhores todos estou muito agradecida
Agradecida, agradecida
Se precisar meus filhos contem comigo
Recebam flores, recebam flores
recebam flores e também os meus amores
Então chegou a hora de Preta Mina se despidir e voltar para o reino dos encantados. Mas antes deixou seus desejo de que todos tenham muitas realizações, paz e axé durante todo este ano.
Na paz de Deus eu cheguei
Na paz de Deus eu vou embora
Na paz de Deus ela chegou
Na paz de Deus ela vai embora
Jesus que fique com todos
Eu vou com Nossa senhora
Ao fim da festa conversamos com Pai Adalberto, que estava ao lado de Mãe Iara que veio de São Paulo para participar da festa, nos contou um pouco sobre o umolocô e sobre os preconceitos da religião afro.
A minha nação é Umolocô, o pessoa fala besteira e diz que Umolocô está totalmente extinta e não é verdade. Aqui em Manaus, o único casa de Umolocô é a minha casa, de Preta Mina. Eu nasci no Umolocô e minha falecida mãe de santo Ivone de Oxum, que fez Xango em cima de mim, e eu sou Adalberto de Xango, sou robono da casa. E eu fui feito dentro de Umolocô que é uma raiz de angola, onde as pessoas as vezes dizem que são angoleiros, mas é uma angola bate folha, que na verdade é umolocô. A diferença do Umolocô pro keto e pro angola é que o umolocô não raspa, a gente só catula, a gente não carrega kelê, a gente carrega senzala e o mucan no nosso período dos três meses. E umolocô é uma nação unida que vai de Exu a Oxalá, depende de quem tem fundamento pra fazer. A gente não tem espécie de santo, se é Xango é Xango, e não interessa a espécie do Xango. É Oxum é Oxum. A gente fala pros filhos as espécies mas não faz qualidade.
Na minha casa eu faço todos os tipos de trabalho. O umolocô é uma nação tão unida que abrange a tudo. Eu sou obrigado a abrir na minha casa no mínimo uma vez, e no máximo duas vezes por ano, eu fazer mesa branca e cirurgias espirituais. Eu toco duas vezes sacaca onde eu trago povo do fundo que vem na base do toari, da pena e do maracá pra fazer cura, tirando bicho, tirando feitiço. São linhagens totalmente diferente, então o umoloco pega todos os orixas sem ficar ninguém de fora, no caso Irôko, Ossain, Oxumare. Yéyé que eu anda nem tenho fundamento dele, ainda vou pegar, e no Brasil é um orixá que poucas pessoas conhecem, e é tratado que nem o Irôko pois não leva louça, leva cabaça, que é uma cuia. Então o umolocô puxa encantamentos de todas as regiões, ainda mais na nossa região que é muito rica, com os indigenas, os caboclos.
A maioria das pessoas quando ouve falar que somos espíritas fica com pé atrás, por que não se vê uma obra, um espírito, uma bondade, só vem um querendo acabar com a vida do outro, mas isto não leva a nada. Para você poder crescer você tem que dar incentivo e batalhar, tirar estas coisas negativas de achar que o teu colega é melhor que você. Mas ele não é. Você tem a mesma capacidade dele, lutando, estudando e se ele é bom você pode ser melhor. No instante que entram na minha casa eu quero que sempre peçam isto: quero voltar a ser visto, conquistar meu espaço, quero paz comigo, com meus amigos e inimigos e que eu tenha um bom caminho.
DERRUBADA DO MASTRO DE SÃO SEBASTIÃO NO CENTRO DE TAMBORES DE MINA DE MÃE EMÍLIA
Published quinta-feira, 26 janeiro, 2012 Afro-Afin , Mina , Religião , Sincretismo 3 CommentsTags:Afro-Afin, Mina, Religião, Religiões Afrobrasileiras, São Sebastião
Clique nas fotos para amplia-las
Oh! Mater em cristo
Meu santo varão
Livrai-nos da peste
meu São Sebastião
Salve o cristo puro
Estrela luzente
Prodígio das graças
do onipotente
Oh! Mater em cristo
Meu santo varão
Livrai-nos da peste
meu São Sebastião
Na última sexta-feira (20) foi comemorado no Centro de tambores de Mina Djê Djê/Nagô Toy Lissá Agbê Manja em Manaus a tradicional festa de São Sebastião, o martir que é padroeiro dos soldados, atletas, dos homossexuais e toda moçada LBGT. Além de ser um santo cristão, ele é cultuado pelas diversas religiões afro reprentado no chamado sincretismo de Oxóssi, o santo que mora nas matas e a a proteje.
A festa é celebrada nos terreiros de Mina louvando São Sebastião que para a mina “é um Xapanã e o Rei Sebastião da Praia do Lençol. Então nós louva neste dia, canta para toda a família do lençol, todos os vodums da Praia do Lençol” explica Nochê Hunjaí Emília de Toy Lissá/Agbê Manjá que também deu um depoimento sobre o santo.
Já fazem 35 anos que eu faço esta tradição. Primeiro eu faço por que ele me pertençe, neste tempo todinho é do mesmo mês meu, mesmo dia meu, é meu protetor como santo e como vodum. Então tenho que fazer esta louvação a ele e todo ano eu faço. E a gente canta pra Xapanã, para Rei Sebastião e canta para o homem também. Depois a gente abre pra Oxóssi, por que uma nação, como por exemplo na Bahia na casa de Mãe Menininha, eles tem Oxossi como Ogum, e na verdade ele foi um guerreiro, um soldado, herói, batalhador. Então tem umas nações que pra eles ele é um Ogum.
E a festa começou quando santo, que estava em um andor enfeitado de flores, era carregado em volta de seu mastro enquanto era cantado o ponto “Bendito São Sebastião”. Com muita alegria cantou-se para São Sebastião.
Nasceste no berço
Do vil paganismo
Porém a fé santa
Vos deu o batismo
Vós desde menino
Já nos ensinava
A religião santa
Que ao culto amava
Após as orações para São Sebastião chegou a hora da derrubada do grande mastro que estava fincado no solo. O mastro estava repleto de frutas, vegetais e outros produtos incluindo cupuaçu, laranja, pupunha, milho, banana, abacaxi, pé de moleque, mel, vinho entre outros. A primeira batida no mastro foi feita por Mãe Emília, seguida de seus filhos de santos e dos demais presentes
Depois de várias batidas o mastro foi ao chão e junto dele os presentes foram pegar os alimentos repletos de axés de São Sebastião. Abaixo vemos o vídeo de todo a caminhada com o santo e a derrubada do mastro
Após a queda do mastro foram acendidas diversas velas para Sebastião, foram feitos os pedidos, agradecimentos, oferendas e rezas para o santo para que se construa um ano de muito axé.
E assim chegou a hora de voltar ao salão e trazer novamente o martir para continuar a festa. E que festa alegre esta do centro de tambores de Mina, que seguiu durante a noite toda.
E os tambores começaram a rufar pelos abatazeiros (ou ogams em outras nações) enchendo todo o terreiro de vibrações e dando vida para os diversos pontos cantados louvor.
E os convidados foram chegandos e muitos deles de outras casas de santo foram entrando na roda e alegrando o salão de cores e cantos.
Rei Sebastião,
Ele é guerreiro militar
Rei Xapanã, ele é pai de terreiro
Lá numa guma, guma Imperial
Quem tiver a sua vista aberta
Agora que eu quero ver
Sebastião arrasta as correntes
Fazendo a terra tremer
Pai Edson de Codoense usou sua voz melodiosa para puxar rezas para Rei Sebastião para que Mãe Emília se preparasse para receber o aniversariante da noite o turco Ubirajara.
E desceu na cabeça de Mãe Emília o turco Ubirajara, que se chama de caboco, mas é na verdade um turco, como explicou mãe Emília que festeja além de Sebastião, o seu aniversário de Ubirajara em sua cabeça.
E depois se louva os turcos como já é uma tradição não só na minha casa como nos terreiros do Maranhão todinho, fazem homenagem neste dia, levanta mastro e festejam. A entidade, o seu Ubirajara é um turco. Nós chamamos caboco, mas ele é um turco que já vem luas e luas. Na minha cabeça está com 45 anos que eu trabalho com ele.
Meu pai Turquia
Já içou sua bandeira
Venha ver como é bonito
ver seu filho na trincheira
Com teu lindo Penacho
É Um Penacho De Arara.
Com o Rompe da Mata Virgem
Com o Rompe da Mata Virgem
Ele é O Caboclo Ubirajara.
Ele é Bira,
ele se chama Ubirajara
Ubirajara quando chegou
Não temeu a caboclo nenhum
Ubirajara quando chegou
Não temeu a caboclo nenhum
Ubirajara é caboclo bravo
Não temeu a caboclo nenhum
Edmundo velho Edmundo
Edmundo velho Edmundo
Eu me chamo Ubirajara
Meu pai Oxossi é guardião
Do outro mundo
Eu me chamo Ubirajara
Meu pai Oxossi é guardião
Do outro mundo.
E então começaram a descer também diversos cabocos e encantados como a caboca índia Ida e vários outros que logo também passaram a saudar os presentes.
Pai Dinho que também estava presente puxou alguns pontos com sua voz forte e agradável que compunha com os abatás e mostrava aos presentes a beleza e força do tambor-de-mina.
Estrela d’alva
é a sua guia
Ubirajara é um
caboco valente
Ubirajara mora
Lá na mata
Lá na grota funda
Lá no fim do mundo
Só queria meu Deus
só queria
Ver o canto
dos Orixás
Eu queria meu Deus
só queria
Ver o povo
da banda de lá
O grande momento da noite chegou quando os seis bolos do aniversariante turco Ubirajara foram distribuido para os presentes, assim como diversas frutas para todos os presentes que esperaram em fila a degustação deste presente com muito axé. E nesta alegria a festa trouxe toda disposição e envolvimento da Mina.
Parabéns pra você
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitas forças em luz
Não é, não é, não é
Todo santo tem seu dia
Não é, não é, não é
Seu Ubirajara hoje é seu dia
CONVITE PARA COMEMORAÇÃO AO MARTE SÃO SEBASTIÃO
Published quinta-feira, 19 janeiro, 2012 Afro-Afin , Mina , Religião , Sincretismo 1 CommentO CENTRO DE TAMBORES DE MINA DJÊ DJÊ/NAGÔ
TOY LISSÁ AGBÊ MANJA
CONVIDA
Os adeptos e simpatizantes dos Cultos Afros para mais uma comemoração ao Marte São Sebastião
No dia 20/01/ 2012 a partir das 16:30 com a derrubada do Mastro do Santo. Logo após os tambores rufam em Homenagem a Dom Sebastião, chefe da família dos Lençois.
Endereço: Rua Pintassilgo, no 100, Cidade Nova II, próximo ao Cruzeiro.
Nochê Hunjaí Emilia de Toy Lissá e Agbê Manjá
Morrer por causa da fé chama-se martírio, e garante o céu para qualquer pessoa que morre por amor de Deus, seja ela batizada ou não. Martírio de São Sebastião, cujo sepulcro tem sido venerado pelos fiéis desde a mais remota antiguidade Cristã.
OFERENDAS E BARQUINHAS PARA IEMANJÁ POR UM BOM ANO NOVO
Published domingo, 1 janeiro, 2012 Afro-Afin , Ano Novo , Candomblé , Religião , Sincretismo 3 CommentsAs margens deste novo ano em uma bela noite se reuniram na Prainha da Ponta Negra diversas famílias, frequentadores das religiões afro e simpatizantes para fazer oferendas para a rainha das águas Iemanjá e a dona das aguas doces Mamãe Oxum.
Eu fui na beira da praia pra ver
O balanço do mar
Eu vi o retrato da areia
Me lembrei da sereia
Começei a chamar
O Janaina vem ver, O Janaina vem cá
Receber estas flores
Eu vim lhe ofertar!
As barquinhas repletas de flores e oferendas tomaram a areia enquanto se cantava e faziam as homenagens a Iemanjá. Em toda a praia as famílias e religiosos agradeciam as bençãos recebidas e pediam um novo ano de bastante realizações.
Vindo se juntar aos presentes diversas entidades espirituais afro como caboco, preto velho, ciganas, erês para também fazer oferendas para Iemanjá e trazer axé para o este mundo e mensagens de novo ano.
A cigana Rosa da linhagem deAngola deixou uma mensagem para todos os praticantes da religião afro.
Na lua de hoje, eu Cigana Rosa, rainha dos ciganos não está aqui como exú, está aqui como ciganas na qual fizemos esta mesa com ajuda dos filhos para trazer fartura, caminhos abertos, pra felicidade e pros amores que é o que se tá faltando neste mundo de pecado, no mundo da religião. Pai de santo quer ser melhor que pai de santo, casa de santo quer ser melhor que outra casa e isto não existe. Espirito nenhum é melhor o problema é a mentalidade dos filhos, e este é o nosso pensamento de cigana aça pedinto isto: paz, felicidade e união. Por que a união faz a força; uma corrente quando se quebra um elo não se tem força. E é isto que nós invisíveis, pé-de-vento cobramos deste povo do santo ultimamente. União, fé e humildade por que a humildade e a fé está acima de tudo. Não existe religião, candomblé sem fé, humildade e união.
Caminhando pela Prainha encontramos Pai Anderson que estava junto com alguns outros trazendo algumas oferendas e cantando em seus pontos para Iemanjá o desejo de muito axé para todos .
Olha o navio é negreiro nas ondas do mar
Vamos Saravá nossa mãe Iemanjá
Azul e Branco minha mãe é a cor do céu
Aí quem me dera senhora mãe o seu lindo véu
“Odoya Odocia minha mãe abençoe todos seus filhos com esta água pura e cristalina assim tirando a impureza deste mundo, a malevolência, a perseguições dos inimigos carnais e espirituais. Odoya mãe Iemanjá, venha trazer paz espiritual para todos. Traga realizações a todos”
Nosso bloguinho conheceu Pai Belmiro de Oxossi que realizou uma portentosa oferenda para sua mãe Oxum e pedindo um ano própero.
Ogum mora na lua
Xangô lá na pedreira
Oxossi na mata virgem
Mamãe Oxum na cachoeira
“Hoje fizemos uma homenagem a minha senhora Oxum Iapondá que é dona das águas doces. Nós festejamos todos os anos Iemanjá, mas na verdade nossa referência tem que ser a Oxum que é dona de nossas águas. Mas como já é tradição trazemos um presente pra Iemanjá, um pra Oxum que é a minha mãe pedindo prosperidade, caminhos abertos, sorte, que ela nos traga paz para o Mundo”
Encontramos também as entidades ligadas ao mar como o seu Joãozinho que também dançaram, cantaram pontos para e fizeram oferendas a Rainha das águas Janaina.
Eu quero ver quem vem.
Eu quero ver quem é.
Eu quero ver caboco bom.
É no balanço da maré.
Ela não tem medo de andar no mar
Ela só tem medo senhor meu pai
Desta barca virar.
Oh que barco tão lindo que vem
Sobre as ondas do mar
Ele traz as vibrações de nossa
Mãe Yemanjá
Yemanjá ,Yemanjá
Ela é a rainha do mar
A beleza da festa continou durante toda a noite com uma grande diversidade de grupos ligados a religiões afros e outros simpatizantes que se uniram em pedir um novo ano melhor.
Caboca Mariana que também estava presente, na cabeça de Mãe Valkíria, deixou uma mensagem de fé e axé para o mundo inteiro.
“Que este ano que faz 2012 ilumine a gente o caminho dos pecadores, que dê muitos anos de vida, que traga muito axé, muita prosperidade, muita paz e compreensão, que é o que o povo não tá tendo no mundo do pecado. Nós cabocos estamos oferecendo nossas oferendas e pedindo muita paz e que este ano seja de muito axé, axé e axé. Nós pedimos isto por que todos estes anos que nós passamos foi muita tragédia no mundo do pecado, muita violência. Eu, Caboca Mariana deixo um voto aos pecadores que pecam a Deus que busquem primeiro a Deus, que o resto a gente leva aqui em baixo. E também pedir muita paz, prosperidade, caminhos abertos, muito axé, dinheiro.”
Pai Geovano de Oxagiã também estava presente com os filhos de sua casa e recebeu diversos cabocos. Com muito entusiasmo e vibrações os ogans levaram os pontos nos tambores e atabaques que eram entoados por todos da casa que se refestelavam na alegria de Iemanjá.
Até que no alto da festa recebeu o caboco Sibamba que sempre com sua alegria e bom humor também conversou que este bloguinho sobre o próximo ano.
Este ano que vem vai ser de muita confusão, de muita falsidade, de um se jogando pro outro pra ser a mesma merda. As crianças vão tentar passar um doce, um bom pro povo, pros políticos, principalmente pra estes safados. O Amazonas está fudido por todo mundo. Quem manda ser burro e fuder o Amazonas assim. Mas vai ter muita coisa boa, mas também tem bastante coisa ruim que o povo faz. Quase tudo vai dar certo se o povo saber quem escolhe os políticos e se eles souberem escolher tudo vai dar certo. A política é que nem amor: se você souber escolher com certeza vai certo. Caboco Sibamba
E pela madrugada as barquinhas foram sendo trazidas ou arrastadas para o rio e entrege a Iemanjá como gratidão e pedido por um ano melhor
Joguei minha barca n’água
Eu quero ver navegar
Peço licença primeiro
A Nossa Mãe Iemanjá.
Oh, Iemanjá! Oh, Iemanjá!
Quem manda nas ondas d’água
Sibamba também abençoou os presentes com seus banhos e com chapagne para passar um ano bom de muitas realizações, e muito axé
E a festa continuou durante a madrugada toda com diversos cantos à Iemanjá, mas também aos invisíveis cabocos, preto-velhos e ciganas, para que este novo ano seja construtor de novas formas de existência na transformação do mundo.
Sentinela das águas do mar
A mãe d’água mandou avisar
Que hoje não pode pescar
Pois hoje tem festa no mar
Iemanja ela é a rainha do mar
No mar tem flores
Tem rosário de Nossa Senhora
Aroeira de São Benedito
Cabocla Herondina, chegou nesta hora
Oh embala, embala, embalaô, cabocla Herundina embala se só,
Ela embala se na rede cipó,
Ela não tem amor na terra,
Ela não tem por quem chorar,
A sua mãe foi muito ingrata,
Atirou-lhe em alto mar
A BELA CIGANA DE PAI ROGÉRIO
Published segunda-feira, 29 agosto, 2011 Afro-Afin , Religião , Sincretismo 3 Comments
Mais uma vez os filhos, irmãos de santo e demais convidados reuniram-se na mansão situada à rua Visconde de Porto Seguro, 14, no Parque das Laranjeiras, para uma maravilhosa festa para comemorar o aniversário da Dona Cigana na cabeça de Pai Rogério.



Quando Dona Cigana apareceu todos se levantaram e regozijaram aquela que é a mais bela das entidades dos terreiros e barracões espalhados pela grande Manaus…




E chegou Pai Ribamar, conhecido em Manaus como um dos maiores babalorixás do Brasil, que chamou a festa para sua responsabilidade. E a festa estava com tudo que tinha direito, senão olha só…




A festa foi maravilhosa, com um bifet especial como nunca se viu e cumpriu nas manifestações manauaras ou manauenses nos cultos afro que predominam ao menos no que se chama a chamada e experiência vivencial de buscar a realidade de acreditar…




Ninguém se apareceu contrário ao envolvimento e ao desenvolvimento que paira entre um planejamento e o que predomina na sua imagem e na sua forma de denominar e também de aproveitar essa oportunidade abaianada. Valeu!







SEU ZÉ PILINTRA E DONA JUREMA NO ANIMADO TERREIRO DE MÃE MARIA
Published domingo, 15 maio, 2011 Afro-Afin , Religião , Sincretismo , Umbanda 16 CommentsZé Pilintra, Zé Pilintra
Boêmio da madrugada
Vem na linha das Almas
e também na encruzilhada
O amigo Zé Pilintra
que nasceu lá no sertão
Enfrentou a Boêmia
Com seresta e violão
Hoje na lei de Umbanda
Acredito no Senhor
Pois sou seu filho de fé
Pois tem fama de doutor
Com magias e mirongas
Dando forças ao terreiro
Saravá seu Zé Pilintra
O amigo verdadeiro
Como já falamos aqui neste bloguinho, terreiro animado é o terreiro de Mãe Maria do Seu Jacaúna, lá no Zumbi dos Palmares. Quanto mais quando a festa é de um dos maiores curandeiros da velha Umbanda boa, e que é também um grande sambista, mulherengo e jogador, o mais conhecido e respeitado dos malandros: Zé Pilintra.
À esquerda, Dona Jarina na cabeça de Socorro.
Mas quando chegamos quem estava no maravilhoso congá era justamente o dono do terreiro, Seu Jacaúna, que comandou a chegada de diversas entidades na cabeça dos médiuns da casa.
Sou gavião real, eu sou nagô
Eu venho voando pelo céu azul

O tambor continuava sem parar, enquanto os cabocos e demais entidades preenchiam o tempo com suas vozes melodiosas e o espaço com suas danças vigorosas, baixando para receber as saudações de todos os presentes e abençoar a todos que ali se encontravam em comunhão espiritual, reunidos na força e no calor da Umbanda boa, da Umbanda de fé…
E a força da corrente abençoada nas rezas preencheu o ambiente com alegria e devoção dos filhos da casa, de todos os convidados, todos os presentes. Foi então que seu Jacaúna foi embora do corpo de Mãe Maria, babalorixá que tanto demonstra seu zelo e responsabilidade aos cultos afro-brasileiros.
Ela veio de tão longe sem conhecer a ninguém,
Ela veio colher as rosas que nas roseiras tem
Quem quiser saber o seu nome pergunte ao seu irmão
Ela se chama Toya Jarina, filha do Rei Sebastião
Foi então que baixou o homenageado da noite: Seu Zé Pilintra. Foi então que se viu toda a autenticidade das religiões afro-brasileiras, carregada de entes que, ao mesmo tempo que fazem lembrar ciclos da nossa história remota, estão presentes em efetividade religiosa. Uma festa magnífica para os olhos e o coração de todos aqueles que vivem a crença ou apreciam o ritual afro-religioso como verdadeira manifestação religiosa do povo brasileiro.
Ai, ai, meu Deus, que cavaleiro é esse?
Que cavaleiro é esse que chegou agora?
De terno branco, seu punhal de aço puro
Saravá seu Zé Pilintra, na Umbanda ele é doutor
À esquerda, Mãe Vera com o boiadeiro Seu Baiano.
Conversamos com Mãe Maria, que nos deu os detalhes desta festa para este caboco tão conhecido dos terreiros de Umbanda do Brasil, realizado no seu terreiro, assim como estendeu suas compreensões a outros diversos aspectos sobre a Umbanda.
“Eu nasci na Bahia, mas fui criada aqui. Meu pai batia tambor, minha mãe era evangélica, mas depois que eu cresci ela abandonou e entrou no ritmo. Nós realizamos esta festa há oito anos. Antes era só uma pequena comemoração, então começou a festa a partir da Jandira, aquela minha filha de santo da Dona Jurema. Então ficou a festa de Seu Zé Pilintra e da Dona Jurema. Seu Zé vem na minha cabeça há 26 anos. Mais velho só Seu Jacaúna, meu pai, que vem desde eu criança.
Zé Pilintra é um catimbozeiro, era muito boêmio, em vida foi doutor, e era, quer dizer, é um malandro. Ele faz trabalho de cura, de demanda, ele é um curandeiro. Muita gente considera ele um Exum, mas ele não é um Exum, ele é um esquerda.
Ô pisa caboco, quero ver você pisar
Ô pisa caboco, quero ver você pisar
Na pisada do caboco pra poeira levantar
Na pisada do caboco faz poeira levantar
À esquerda, seu Surrupira. À direita, Mãe Zelca com seu Pena Verde.
Hoje eu vejo a questão da religião como uma verdadeira libertação, porque antes a gente vivia escondido, se escondendo, não podia fazer isso, não podia fazer aquilo, porque se o vizinho estivesse do lado já era ‘macumba’. Hoje nós começamos a ser vistas como pessoas tradicionais dos terreiros. Antes a gente tinha vergonha, tinha medo, alguém podia denunciar. Hoje nós somos livres, assim como os evangélicos, como os católicos, desde que a gente respeite o direito de cada um.
Umbanda não é ritual. Umbanda é espiritismo. Umbanda é amor. A gente faz o terreiro ser animado. Não existe tristeza aqui, não existe maldade. Onde há malícia é que existe tristeza, desilusão. Aqui, não. Aqui nós somos alegres, nós somos felizes, porque somos umbandistas. Aqui é animado; ainda mais quando o Gilson entra, todo mundo tem que ficar alegre. Nós trabalhamos juntos há muito tempo.
Meu navio está no porto
Enfrentando a maresia
Já chegou a bela turca
A donzela da Turquia
Elielza, com seu Martín Pescador.
Nós éramos livres, mas éramos uns livres presos, hoje nós somos livres libertos. Mas tem muito preconceito ainda no Brasil, mas tem muita coisa pra gente vencer. Nós estamos no começo do caminho ainda. Mas com altos e baixos, com pedra no caminho a gente chega lá.
Pai João, apreciando à esquerda.
Que as pessoas acreditem mais, que as pessoas procurem compreender, entender e conhecer. É conhecendo que a gente pode falar, senão a gente vai sempre achar que é ritual, que estão fazendo macumba pros outros, e não é assim. A gente só faz coisa boa, a Umbanda é paz e amor. As pessoas discriminam porque não conhecem o que a gente faz. Eu espero que as pessoas possam conhecer mais da nossa caminhada, todo mundo segurando na mão dos outros pra ver se a gente chega em algum lugar. Tem gente que inventa, que fica fazendo deboche, mas a gente não tem que ligar não. A gente tem fé no nosso Pai Oxalá e nos nossos guias trabalhadores.”
Seu Marinheiro na cabeça de Pai Carlos.
Seu Gilson, que acompanha Mãe Maria há muitos anos e comanda o tambor, sendo amado por todos da casa, como explica Mãe Maria, nos falou também de seu Zé e de algumas histórias que são divulgadas, como a história que circula na internet de que Zé Pilintra teve uma rusma com Lampião por causa de Maria Bonita.
“Essa história de que Seu Zé Pilintra tinha brigado com Lampião por causa de Maria Bonita é só folclore, não existe isso não. A única mulher de Zé Pilintra foi Rosinha. Mas malandro naquele tempo significava outra coisa, era que ele gostava de jogo, mulheria, gostava de dançar, fazer seresta, esse negócio todo. Ele teve várias mulheres, mas Rosinha foi a mulher que ele amou. Essa história de Maria Bonita não procede. Quem ele conheceu foi Rosinha, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, a mulher que ele amou, porque ela também era uma mulher de jogo de bar, vivia bebendo, vivia jogando, fumando, então eles se deram bem. Essa história o pessoal acha bonito e sai espalhando.
Muitas pessoas acham que Seu Zé Pilintra é uma coisa que ele não é; ele é uma pessoa muito experiente. Tem pessoas que misturam as coisas, porque ele é muito alegre, e sempre foi. Antigamente, quando a pessoa tocava violão, gostava de seresta, gostava de jogar, chamavam de ‘malandro’. Ele gostava disso tudo, gostava de mulher, isso não é defeito, ele era um homem mulherengo. E ele é um ótimo guia, uma ótima entidade, que ajuda a todos que procuram ele. Todas as pessoas que procuram ele, graças a Deus, sempre tem êxito. A gente tem muita alegria com ele, quando ele chega anima todo mundo, ele sempre foi assim, sempre esteve aí para ajudar, para afirmar e fazer aquilo que pedem a ele. Ele aqui vem pra ajudar, pra curar, quando precisam dele.”
Mãe Maria do Seu Jacaúna
Beco Cel Bolsinha, nº 119 — Zumbi I (Manaus-AM)
Fone: (92)9122-2612
DERRUBADA DO MASTRO DE SÃO SEBASTIÃO NO TERREIRO DE MÃE MARIA
Published sexta-feira, 4 março, 2011 Afro-Afin , Religião , Sem-categoria , Sincretismo 3 CommentsO meu São Sebastião
Fostes preso e amarrado
Livrai-nos dos inimigos
Que nos traz acorrentado
E assim chegou o tempo de derrubar o mastro no Centro Espírita Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido como o Terreiro de Mãe Maria do Seu Jacaúna, lá no bairro Zumbi dos Palmares. Foram feitas as rezas em uníssono, os pedidos particulares e com as bênçãos de São Sebastião e de Oxóssi todos correram a pegar as deliciosas e santificadas frutas, bebidas, bombons e outras guloseimas.
E que terreiro animado é o Terreiro de Mãe Maria! Após a derrubada do mastro, todo mundo voltou para o salão e o tambor continuou, com a presença de diversos cabocos e cada vez chegando mais para receber as saudações de todos os presentes e abençoar a todos que ali se encontravam em comunhão espiritual, reunidos na força e no calor da Umbanda boa, da Umbanda de fé…
Eu venho de tão longe
Sem conhecer ninguém
A procura de uma rosa
Que a roseira tem
Então chegou um dos pontos altos do ritual. A distribuição da “jurema” para os filhos da casa, para os cabocos, para os convidados, para todos que quisessem beber a bebida sagrada, bebida medicinal para o corpo e para a alma. E todos quiseram, alguns porque já conheciam a deliciosa jurema, outros porque queriam conhecer…
Eu vou beber minha jurema
Dê no que der
Lá no pé da juremeira
Dê no que der
Se a jurema for boa
Dê no que der
Aqui mesmo eu bebo
E aqui mesmo eu caio
Caboco bebeu Jurema
Caboco se embriagou
Na folha do mesmo pau
Caboco se levantou
Se a jurema for boa? Maravilhosa a jurema. O terreiro ficou mais animado ainda depois do calor e da saúde do corpo e alegria para a alma que a santificada jurema trouxe a todos. Um tambor continuou sem parar, enquanto os cabocos e demais entidades preenchiam o tempo com suas vozes melodiosas e o espaço com suas danças vigorosas…
Caiu uma folha da Jurema
Veio o sereno e molhou
E aí veio o sol enxugou, enxugou
E a jurema se abriu toda em flor

Tremer, tremer
Eu vi terra tremer
Tremer, tremer
Eu vi terra tremer
Eu vi terra tremer
Eu vi terra tremer

●●● CENTRO ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO ●●●
Mãe Maria do Seu Jacaúna
Beco Cel Bolsinha, nº 119 — Zumbi I (Manaus-AM)
SEU PENA VERDE NA ABERTURA DO TERREIRO DE PAI JOEL
Published sábado, 22 janeiro, 2011 Afro-Afin , Religião , Sincretismo , Umbanda 7 CommentsEu tenho Sete Espadas pra me defender
Eu tenho Ogum em minha companhia
Ogum é meu Pai, Ogum é meu guia, Ogum é meu Pai
Eu vivo com Deus e a Virgem Maria
E mais uma vez o ‘casuá’ de Pai Joel de Ogum, que é conhecido como o Pai Joel do Zé Malandro, estava organizado para mais uma festa, mais um ano que se inicia, trazendo as obrigações internas de toda casa de culto afro-brasileiro, assim como os trabalhos para o povo e as festas públicas, como essa que foi uma festa para Seu Pena Verde e foi a festa de abertura das atividades da casa.
Sou filho de Umbanda, tô chegando agora
Saravá Ogum, Iemanjá, minha senhora
Filhos de umbanda salvem a estrela guia
Salvem os pretos-velhos que chegaram da Bahia
Vou bater cabeça no pé do congá
Vou pedir axé pra Ogum e Iemanjá
“Só tenho a agradecer pelas coisas boas que aconteceram. Esse ano começou meio difícil, mas vamos vencer, porque quem tem fé tem tudo, quem não tem fé não tem nada. Eu espero que Oxalá abençoe todos os filhos esse ano, dando paz, saúde, firmeza, sabedoria, tranquilidade, que eles estejam presentes, praticando a sua caridade. Que Oxóssi dê muita fartura! Que senhor Ogum, que rege nesta casa, abra todas as portas para que cada filho, presente ou ausente, entre em caminho correto. Que senhora Oxum, que é o segundo santo da casa, dê riqueza a todos, principalmente riqueza espiritual, que é mais importante para a gente conquistar tudo de bom no nosso caminhador.”
Caboco mora na folha
Na folha ele se criou
Caboco cresceu na folha
Na folha se batizou
Seu Pena Verde, o homenageado da festa, com Seu Zé ao lado
Enquanto diversas outras entidades vinham chegando, Seu Zé, numa descontráida conversa que tivemos com ele, compartilhou sua sabedoria, brindando-nos com dois aforismas, dois provérbios de sua lavra da malandragem…
“Malandro que espera defunto morrer pra ganhar o sapato é melhor andar descalço.”
E então o terreiro já estava repleto de diversas entidades, que se revezavam à frente do tambor para receber os aplausos dos presentes e distribuir as bênçãos a partir de seus pontos cantados com ritmo e axé.
Ao lado de Seu Pena Verde, Marinheiro Júlio vem pela praia
Seu Flexeiro me disse que na sua aldeia não falta caboco
Seu Flexeiro me disse que na sua aldeia não falta caboco
Ele pisa e no rastro do outro o caboco
Ele pisa e no rastro do outro o caboco
“Tem cinco anos que eu trabalho com meu caboco Pena Verde, e também sou feita no santo há dois anos, como filha de Iemanjá. Esse caboco rege a minha cabeça na linha de Oxóssi. Seu Pena Verde é um índio, é um caçador, é um caboco muito conhecido dentro desse Amazonas. Agora estou aqui no terreiro do Pai Joel, trabalho com cura nesse roçador.”
Eu sou índio
Eu sou índio
Caboco da pena real
Eu sou caboco Pena Verde
Eu sou índio
Pena de arara real
●●● PAI JOEL DE OGUM ●●●
Rua São Marçal, nº 619 — Cidade de Deus (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9142-8873
A ABERTURA DO ILÈ MAROKETÙ BABA MI ASÈ POSSÙN
Published sexta-feira, 24 dezembro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Religião , Sincretismo 2 CommentsE os cultos afro em Manaus estão cada vez mais bem representados, principalmente agora que babá mi Jefferson ti Òsáàguíán, realizou a esperada abertura de seu Ilè Maroketù Babá Mi Asè Possùn, a mais nova casa de Candomblé e Umbanda da cidade.
Pai Jefferson explica que embora ele more oficialmente em São Paulo, a casa vai ficar aberta não apenas para o Candomblé, e que serão feitas outras atividades e obrigações regulares no Maroketù. E apresentou como padrinho de axé da casa seu Aloizio, o famoso Pai Lulu, que ficará responsável pela casa em sua ausência e que presidirá os rituais de Umbanda.
“Agora que a casa foi aberta, eu tomei uma providência, porque eu moro em São Paulo, mas a casa tem que ficar aberta para outros trabalhos, e não só quando eu estiver aqui. A casa tem que tocar pro seus catiços, seus encantados, seus guias, quem eles quiserem chamar. Então meus filhos poderão tocar aqui quando quiserem e o tempo que quiserem. Então eu chamei uma pessoa, Pai Lulu, que é pai carnal da Jacqueline aqui, para que quando vocês ouvirem dizer que o meu terreiro tocou sem minha presença, é porque tem um padrinho, que eu estou dando autorização pra ele. Ele vai tocar Umbanda nesta casa quando eu não estiver, e eu vou tocar Candomblé quando eu estiver.
E o Moroketù já começa com a obrigação de três filhos de santo de Pai Jefferson e mais a saída de dois filhos novos. Bem humorado e bom conversador, o babalorixá falou das singularidades dessas saídas.
“No terreiro de Pai Nezinho, assim como no Axé Cantuá, no Axé Moritiba não se tira o yaô logo de saída incorporado, porque a gente acredita que nasce a pessoa e não o orixá. O orixá já existia há nove mil anos antes de Cristo. O orixá está apenas nascendo para a pessoa, mas ele já existe, você só tira da natureza. Então o yaô sai acordado, como axé régi, dança todo o ‘xirê’ acordado, quando chega na hora de dançar pra Xangô, que é o rei, que tem a coroa e que trouxe os demais orixás do ‘orun’ (céu) para o ‘ayê’ (terra), através do baobá, a árvore sagrada. Então o orixá vira em Xangô justamente por isso. Então, sai acordado, dança o xirê inteiro acordado, quando chega na hora de dançar pra Xangô, é que o orixá vem e chega no yaô, que sai então para dar o oruncó, e depois sai para o ‘run’.”
Então foram escolhidos os padrinhos dos yaôs, que os levaram para revelar o oruncó. Dessa parte, Pai Jefferson ordenou que não podíamos fotografar nem gravar, por isso só assistimos. Mas em seguida, devidamente paramentados, os orixás vieram para fazer suas apresentações de luxo, e já podíamos registrar suas grandiosidades.
Então o ogan Alex puxou o xirê enquanto, enquanto sua esposa, Lenita, tendo na cabeça a bela Oyá, fazia seus desenvolvimentos no salão, enquanto Mãe Isabel abençoava a alegria de seus filhos no salão.
Em seguida, Omulù, na cabeça do já citado Xandeco, veio distribuir suas conchas, fazendo seu ritual de cura contra a doença e a morte e distribuir suas pipocas, suas bênçãos a todos os presentes.
Finalmente, como não podia faltar numa magnífica festa como essa, a comida do santo foi distribuída e estava deliciosa, e assim a festa foi bonita até a madrugada…
— Bàbálórisá Jefferson ti Òsáàguíán —
Rua Rouxinol, nº 1040 – Campos Sales (Manaus-AM)
Tel: (92)9609-3636 // 8132-4446
ABERTURA DO ILÈ MAROKETÙ ASÈ POSSÙN – CONVITE
Published terça-feira, 7 dezembro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Religião , Sincretismo 2 CommentsPELA LIBERDADE DE CULTO ÀS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
Published segunda-feira, 22 novembro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Mina , Movimentos Sociais , Negritude , Negro , Preconceito , Religião , Sincretismo , Umbanda , Umolocô 2 CommentsSeu doutorzinho quer que chame de doutor
Seu doutorzinho quer que chame de doutor
É duvidoso, cativeiro acabou
É duvidoso, cativeiro acabou
Branco sabe ler, também sabe escrever
Só não sabe dia em que morre
O preto é quem vai dizer!
Em memória ao Pai Francisco do Morro da Catita, com seu Umbandão pé no chão, que foi para o Orun no início desse ano.
Uma das principais questões hoje no Brasil, como ficou visível nas últimas eleições, é a defesa da liberdade religiosa, é a defesa constitucional do Estado laico que é o Brasil, onde se pode, segundo a lei, desde que não se ofenda a outrem, cultuar a religião que se quiser: Cristianismo, Budismo, Hinduísmo, Xamanismo, Agnosticismo, Espiritismo, Candomblé, Umbanda, Mina Jeje-Nagô, Umolocô…
“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.” (Constituição, Art 5º-VI)
Quem não quiser também estará livre para não cultuar nenhuma: Ateísmo. E há no Brasil até quem invente novas formas de religião a partir do que venha a ser religião e da importância de se cultuar uma religião. No emaranhado de interesses mesquinhos em que se consagram todos os sistemas de todas as eras, praticamente todas as religiões se jogam na busca pela Verdade, seja para auto-aperfeiçoamento, seja como direcionador de ações. Atualizemos filosoficamente a questão em Aldous Huxley, quando ele trata a religião como sendo um filtro para conhecimento da realidade, ou no sentido de “ver o íntimo das coisas”, como diz Nietzsche sobre a poesia. Assim, mesmo alguém que se diz ateu pode estar imbuído de religiosidade.
Que lindo! Poderíamos até dizer que foi assim que Jesus Cristo, o palestino, sonhou. Mas por que a intolerância gera tantos conflitos que até se gerou um leniente ditado que diz que “religião e política não se discute” quando, ao contrário, quando a religião sai da esfera do foro íntimo – crença individual – e adentra à esfera da coletividade – persuasão política -, tem-se que se discutir? Elementar: é que grande parte das religiões, principalmente as chamadas Grandes Religiões, se emaranharam a mesquinhos interesses. Por isso que, no Brasil, dentre as inúmeras formas de discriminação que constituem o racismo está a intolerância religiosa aos cultos afro.
Para se perceber as discrepâncias que daí resultam sobre as religiões afro, basta observar um fato ocorrido numa das escolas onde a AFIN, de quem este bloguinho é vetor virtualizante, foi fazer sua explanação com o tema que vai no título deste texto. Acontece que se um adepto de uma religião cristã procura uma escola, fato corriqueiro em Manaus, para “pregar a palavra do Senhor”, ninguém chega sequer a aventar uma falta de “interesse público”, como prevê a Constituição, de catequização religiosa em espaços públicos; agora se o pessoal da AFIN aparece com um pai de santo, e neste caso com “interesse público” comprovado, e sem catequização, mas sim discutir a autenticidade das religiões afro e desfazer certas estigmatizações, há professores que protestam e ameaçam se retirar. Daí se percebe que a laicidade do Estado não está sendo observada por parte de muitos cristãos.
Não fazemos aqui uma crítica ao Cristianismo em si, que acreditamos uma religião autêntica, mas à irracionalidade de adeptos individuais e de vis interesses que subvencionam essa religião desde pelo menos sua oficialização no Império Romano, quando tendências distintas, à época de Santo Agostinho, se engalfinhavam com palavras esdrúxulas, pedras e armas, até que uma dessas tendências prevaleceu pela força física mais do que ideológica ou de fé. Desde aí, passando pelas Cruzadas, pela Reforma Protestante, pela Contra Reforma, pela Caça às Bruxas, chegando até os dias atuais com a deprimente divisão do mundo entre Ocidente cristão e Oriente islâmico, vê-se uma epopeia sangrenta que pouco tem a ver com a simplicidade e ternura do filho de Maria.
Como o Cristianismo é a maior religião no Brasil, muitas igrejas e manifestações individuais demonizam outras religiões, julgando-as violentamente segundo seus dogmas irredutíveis. Em Manaus conhecemos budistas que se queixam do preconceito que sofrem. Quer dizer, não são apenas os cultos de matriz africana, mas como os adeptos dos cultos afro, tendo o Brasil nos negros uma das etnias de nossa formação, as condenações sumárias para estes é muito mais abundante e frequente, sabendo-se que só em Manaus há cerca de 3 mil lugares, entre terreiros, barracões e bancas, onde se cultua alguma religião de matriz africana.
Talvez isso não ocorra em todo o Brasil. Ouvimos seu Baianinho do Tambor de Mina, na cabeça de Pai Miguel de Vondoreji, do Terreiro da Fé em Deus, contar que no Maranhão há padres que rezam a missa e que depois vão ao terreiro e incorporam aí suas entidades. Mas em Manaus, e provavelmente em muitos outros lugares, a lista de estigmatizações é imensa. Semana passada ouvimos uma jovem dizer que “nos terreiros de macumba as pessoas bebem sangue”. É muito comum ouvirmos que os orixás, cabocos e voduns são demônios e que todos os macumbeiros vão para o inferno.
Com argumentos rápidos e certeiros, mesmo para nós deste bloguinho, que não somos diretamente adeptos dessas religiões nem antropólogos especializados, é fácil derrubar tais preconceitos aberrantes. Esses três anos de trabalho incansável, desde que num domingo à tarde baixamos no terreiro de Pai Jeovaņo de Ajagùnnọn, já nos levaram a entrar em contato com cerca de uns 100 terreiros e barracões e nos deram algumas informações necessárias para isso, ao que juntamos nossa filosofante vontade de amor e comunhão. “Os homens são diferentes, mas não desiguais, nem separados: são como os dedos da mão. Iká ko dogbá, os dedos não são iguais, diz um aforismo nagô”, declara o filósofo candomblecista Muniz Sodré.
Para começar, vulgarmente se utiliza a palavra “macumba” de forma pejorativa e generalizada. As pessoas que assim o fazem não sabem sequer que não existe apenas uma religião afro, mas diversas, entre elas o Candomblé, a Umbanda, Mina Jeje-Nagô, Umolocô. Sem falar que os cultos afro congregam na verdade vários outros credos e entidades que não são propriamente de matriz africana, como as pombogiras, como os cabocos indígenas, o povo cigano, santos, anjos e até bruxas.
No Brasil, o caso mais curioso é a aproximação de santos católicos com orixás dos cultos afro, o que se denomina sincretismo. Como os escravos não tinham permissão para cultuar seus orixás, eles escondiam uma imagem deles entre os santos ou cultuavam algum santo que de alguma forma tinha característica que se aproximava de um orixá. Por exemplo, como a entidade por assim dizer maior católica era Jesus Cristo, então os negros relacionavam-no a Oxalá, seu orixá maior. Assim foi que Nossa Senhora da Conceição virou Oxum, São Sebastião virou Oxóssi, São Jorge virou Ogum, São Lázaro virou Obaluaê, Santa Bárbara virou Iansã e por aí vai.
Uma das maiores polêmicas ocorre na aproximação vulgarizada de Exu com o Diabo. Mas se percebe que essas aproximações são apenas providenciais; mas não, essenciais. Enquanto no Cristianismo o Diabo, o Satanás é tido como uma entidade terrível com a qual nenhum acordo deve ser feito, a não ser que se queira vender a alma ao capiroto, nos cultos afro Exu é o primeiro orixá a se louvar, sendo que é ele quem abre os bons caminhos e fecha a soleira da porta do barracão para o mau olhado. Hoje há também quem diga que Exu é na verdade o Espírito Santo. De qualquer modo, todos os adeptos dos cultos afro com os quais conversamos foram sempre unânimes de não levar a sério essa história de sincretismo, que, para eles mais auxiliaria na demonização de suas religiões, uma vez que prevaleceria, embora o Brasil sendo laico, a religião dominante.
Se observamos que uma religião como o Candomblé é muito mais antiga do que o Cristianismo, mais antiga até que o Judaísmo, e originada em uma outra realidade geográfico-política, como que ela poderia ser julgada por este? Só há uma forma: até hoje, muitos cristãos – não todos, claro – tendem a querer impor à força para as outras nações, para outras pessoas o seu credo como único e verdadeiro. Já houve muitos casos em que meios de comunicação usaram de truculência contra as religiões de matriz africana, e é por isso que existem hoje leis contra racismo e intolerância religiosa para punir as manifestações violentas e agressivas.
Em Manaus há entidades que lidam diretamente com a questão, como a Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Amazonas (FUCABEAM), presidida pela querida Nochê Hunjaí Emília de Toy e Lissá, e a Federação Brasileira de Umbanda, Cultos Afro-Brasileiros e Ameríndios (ABUCABAM), presidida por Pai Lairton da Oxum. A luta dessas entidades se faz também na medida de modernizar as práticas nos terreiros, como já explicou em entrevista neste bloguinho Pai Ribamar de Xangô, coordenador no Amazonas da Federação Nacional dos Cultos Afro-Brasileiros no Amazonas (FENACABI). Há ainda a Associação Movimento Orgulho Negro do Amazonas (AMONAM), presidida pelo companheiro Luiz Costa, que faz um trabalho diretamente nas escolas.
Mas há pessoas que, embora estando no “mais baixo grau de entendimento”, repetem estigmatizações ofensivos às religiões afro apenas por medo e falso misticismo, mas que merecem alguns argumentos que lhes faça abrir os olhos. “Ter os olhos abertos é derrubar as paredes divisórias das ditas raças, classes, crenças e conceitos. Apertar o Outro contra o coração como se fosse um membro de sua própria família é coisa digna só de gente” (Muniz Sodré).
Como já dissemos, as religiões afro congregam vários outros credos. E se há preconceitos de muitos cristãos contra as afro-religiões, não os há destas para com aqueles. “Agradeço a todos os orixás e a Nosso Senhor Jesus Cristo…”, é o que dizem praticamente todos os pais de santo. Em Manaus há vários centros que realizam festas católicas, mormente os que praticam Mina Jeje-Nagô, com direito a novenas, terços e cânticos hagiográficos. Transparece que o preconceito é mais arraigado entre os chamados evangélicos, mas também estes, além de não estarem acima das leis, devem aprender a con-viver com a diferença e perceber o Outro sem as barreiras extremistas do fanatismo.
Deixamos a melhor parte para o final. Como não somos adeptos, não estamos fazendo nenhum estudo antropológico sistemático, não ganhamos nada a não ser a bênção dos orixás, cabocos, voduns e outras entidades, uma pergunta sempre recorrente nos é colocada: “Você acreditam nisso?” O filósofo da Feira de Santana citado acima, numa entrevista de 2003, falando sobre Pierre Verger, explica que a palavra “acreditar” tem vários sentidos, entre eles “aceitar”, “confiar” e “dar crédito”. Um dos motivos que causam o medo que provoca o preconceito de muitos é o vigor das religiões afro e sua autenticidade. Para quem observou fotos e conversas que tivemos, alguém que nunca foi num terreiro, se souber olhar, verá uma pequeníssima demonstração de toda a beleza que vimos nessas noites inteiras acompanhando esses rituais. Sabe quanto conhecimento e ternura há numa conversa com um preto velho? Você já viu alguém mais alegre do que aquela pombogira? Onde já se viu cigana tão linda? Que harmonia no gingado das baianas! Tantos pontos, tantas rezas maravilhosas! E o que é para os ouvidos toda a musicalidade do tambor de mina? A voz daquele caboco lembra uma história que não foi contada pela História oficial…
O papel que nos propomos não é convencer ninguém, mas não nos repitam mais aquela pergunta tola. Lutar pela liberdade de culto às religiões afro-brasileiras é hoje no Brasil a principal luta contra o racismo e, ainda mais, é a defesa constitucional do Estado laico.
Nosso papel também não é convidar ninguém para ir ao terreiro, mas se quiser ir com certeza lá nos encontraremos, porque, livres de todos os medos e preconceitos, lá sempre nos sentiremos bem e completos de corpo e alma. Axé!
INAUGURAÇÃO DO ILÊ AXÉ ARAWÉ AJÚNSÚN NOS 14 ANOS DE PAI FRANK DE OBALUAÊ AJAGÚN
Published quinta-feira, 18 novembro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Religião , Sincretismo 3 CommentsEsta foi a festa ocorrida na inauguração do novo barracão de Pai Frank de Obaluaê Ajagún, o Ilê Axé Arawé Ajúnsun. Em Yourubá, da nação Ketu, “Ilê Axé” pode ser traduzido como “Casa de Força”, enquanto “Arawé” é o nome verdadeiro de Obaluaê, e “Ajúnsún” é um título que ele ganhou na África por ter vencido a morte. Significa “dorme e acorda”. “Obaluaê sempre vai acordar, sempre vai vencer a morte”, quem explica é Pai Frank, que também estava pagando sua obrigação de 14 anos de Candomblé.
À frente dos trabalhos o reconhecido e respeitado Pai Ribamar de Xangô. Pai Frank agradece especialmente àquele que sempre esteve com ele: “Pai Ribamar é um homem que me deu muito axé. A mão desse homem me deu muito axé. Me tirou da rua. Quando eu cheguei na casa dele eu morava na rua. Então, saber que eu saí do nada e hoje sou dirigente de uma casa de santo dessas, isso é ter axé. E isso foi através de meu pai e de Obaluaê. Eu acho muito importante ter começado com ele e está até hoje com ele. E vou fazer com ele meus 21 anos. Vê-lo hoje nesta casa é muito gratificante.”
Já Pai Ribamar, fez, com emoção, os agradecimentos e boas-vindas aos que estavam na Casa de Obaluaê: “Ogans, ekédis, babalorixás, toda a comunidade do candomblé, boa noite! Muito obrigado pela presença de todos! Todos aqui me conhecem. Sou Pai Ribamar de Xangô e estou aqui para realizar a obrigação do Pai Frank de Obaluaê, que por mim foi raspado, ocultado, catulado, levado pra sala pra dar o nome, rodado na sala. Eu estou aqui na festa dele de 14 anos e espero também estar presente na de 21 anos, principalmente que eu já estou com 75 anos de idade. Peço a Deus e todos os orixás muito axé, muita paz, muita saúde, muita prosperidade para todos os adeptos do culto afro-brasileiro. O momento é de alegria, satisfação e paz a todos, porque Deus abençoa a todos nós. Que Xangô, patrono do nosso axé, dono da minha cabeça, Oxaguiã, nosso pai, que nos ilumine, que nos dê força e prosperidade. Axé para todos!”
Acima, Pai Lairton de Oxum e, á esquerda, Ekédi Silvana de Obá, segundo Pai Frank, uma grande amiga, juntamente com Marcos de Odé, filho de Coifá.
A sempterna elegância de Pai Raul da Oxum, juntamente ao Ogan Alessandro de Ogum e Ogan William de Oxalufã.
Tivemos uma grande e importante conversa com Pai Frank sobre essa maravilhosa festa, à qual deitamos aqui para os adeptos e simpatizantes dos cultos afro apreciar a beleza das imagens e a sabedoria desse jovem, mas já experiente babalorixá.
“Fiquei muito contente com todas as pessoas que vieram, meus irmãos de santo, outros sacerdotes que vieram, o próprio Obaluaê que veio em minha cabeça. Pela primeira vez em Manaus Obaluaê se vestiu, trazendo a qualidade dele, Ajagun, que é seu traje de guerreiro. As pessoas só veem Obaluaê como aquele que vem pra curar, e que também traz a doença, porque ele é muito rígido, castigador, é muito temido por todos nós, mas ele também é um guerreiro, e traz o luxo dele, porque Obaluaê é um dos orixás mais ricos, se não o mais, da nossa religião. Então nós trouxemos ele como ele deve ser tratado, como um rei, um guerreiro que luta pelos filhos, pra todos.
Aqui a Dofona Lenita de Oyá (á direita), junto a uma irmã de santo e Mãe Isabel de Oyã. Pessoas importantes, influentes e respeitadas dentro da religião, e que Pai Frank diz ter se sentido muito satisfeito e orgulhoso com suas presenças.
“Eu escutei comentários de alguns irmãos de santo, do meu pai, que é um dos babalorixás mais conceituados no Amazonas, reconhecido em outros estados, como Bahia e Rio de Janeiro, que Obaluaê estava muito bem vestido. Porque muita gente veste Obaluaê com um pouquinho de palha aqui, um pouquinho ali e está bom. Eu peço que dá para o orixá é bom, porque receber dele é melhor ainda. A casa de Obaluaê tá bonita, e é porque nós ainda não finalizamos ela. Nós ainda temos mais coisas a fazer, por ordem dele mesmo, pois ele dirige a casa dele, manda as mensagens. Nós hoje pertencemos à família Opô Afonjá e consultamos o orixá pra tudo. Nada em uma casa de orixá, principalmente nessa casa, é feito sem autorização dele. As pinturas, os detalhes nas paredes, o que vai ser feito ainda lá em cima. Tudo é por ordem dele.
“Se você observa, não há um lugar pra ser humano morar. Tudo é dele. Acabam-se os rituais, a Casa de Obaluaê é fechada por fora e só é aberta às segundas-feiras e quartas-feiras pra consultas com outras entidades, para o comparecimento do público. No restante dos dias fica fechada, a não ser se Obaluaê ordenar alguma obrigação no sábado e domingo. Foi Obaluaê que fez a casa dele de um modo que eu realmente não esperava. Ele me mostrou o que ele queria, e ele pode, e ele fez. Foram seis meses sacrificantes, mas valeu muito a pena. O importante de tudo é que Obaluaê veio, mostrou pra todos a história dele através das rezas que meu pai Ribamar entoou, meus amigos, como o ogan Alex de Oxaguiã, que é do terreiro da Mãe Isabel.
“O Candomblé tem que ser isso. União. Não interessa de que casa você é, de que nação você é, de que orixá você é. O que interessa é que nós nos reunimos para louvar o orixá. É assim que deve ser. É o que nós tentamos fazer na Casa de Obaluaê, tentando que as outras casas que venham sejam muito bem recebidas, se sentirem bem com o orixá, com a gente. Mostrar que o Candomblé é uma religião e fazer valer a palavra, porque religião significa re-ligar. Nos ligar ao que está lá em cima, maior que a gente, mas também nos liga aqui em baixo para que os orixás fiquem satisfeitos conosco. Eu sou meio exagerado em vestir Obaluaê, mas se colocar só uma palhinha nele ele também fica satisfeito, desde que seja com amor e devoção.
A incansável pequena Ekédi Cassiana de Oyá, sobrinha carnal de Pai Frank, puxa a entrada do ponto central do ritual.
O Ogan Alex de Oxalá, filho de Mãe Isabel de Oyá, que também é da família Opô Afonjá e, na hierarquia do Candomblé, é tio de santo de Pai Frank, sendo irmão de santo de Pai Ribamar. Segundo Pai Frank, uma pessoa muito especial, de muito entendimento e luta pela religião. Alex assumiu com energia uma parte do ritual.
“Obaluaê é um orixá daomeano. Ele não é da Nigéria. Ele é da família de Famã. Ele é filho de Nanã e irmão de Oxumaré. Como ele nasceu com doença de pele, Nanã abandonou ele na praia. Os caranguejos vieram e morderam, machucaram a pele dele. Iemanjá, compadecida, criou ele e curou ele com mel e pipoca. Iemanjá criou ele, mas ensinou ele a amar também a sua mãe biológica. Então ele cresceu amando as duas, tanto Iemanjá quanto Nanã. E como ele aprendeu a se curar, ele passou a dominar todas as outras doenças. Tanto ele tem o poder de causar essas doenças, como de curá-las. Obaluaê é o médico dos pobres. Obaluaê é humilde. A representação dele é o sol. Aquelas palhas não são mais pra esconder perebas, feridas, mas sim para esconder o brilho do sol, porque reza a lenda que ele é o próprio sol, e, portanto, brilha tanto. Se a gente ficar olhando muito pro sol a gente fica cego, a mesma coisa Obaluaê.
Ritual da morte. O ogan Marcos de Oxóssi cobre Obaluaê com um alá branco. Depois ele volta da morte, esticando o nome Ajúnsún, mostrando o poder dele sobre a morte.
Ao final Pai Frank agradeceu a todas as pessoas que compareceram, aos filhos da casa e também a este bloguinho.
“Eu agradeço a todos que vieram, porque pra mim fazer esse Candomblé foi um presente vindo do Orun pra mim. Obaluaê é nosso Pai, independente de qualquer casa, independente de que nação, de que cor ou posição social, Obaluaê vai estar sempre com todos nós.
Agradeço também ao Afinsophia. Afinsophia é o nosso búzio virtual, por onde passa mensagem pra todo mundo, pra que todo mundo saiba que existe Candomblé dentro de Manaus de qualidade, de respeito, de amor, e, principalmente, Candomblés luxuosos.
Eu agradeço a todos os meus filhos de santo, à minha mãe carnal, que não é da religião, mas me ajudou em todos os momentos. A todos que me auxiliaram, não tinha hora, não tinha dia. E a Casa de Obaluaê está aberta pra todos. Não só a minha casa, mas todas as casas de santo estão aí abertas para serem visitadas.”
Pai Frank de Obaluaê Ajagún
Rua 26, nº 78 — São José II, Etapa B (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9119-4364
E-mail: baba_frank@hotmail.com
FESTA DE PRETO-VELHO NO TERREIRO DO PAI TOTA
Published quarta-feira, 23 junho, 2010 Afro-Afin , Mina , Religião , Sincretismo , Umbanda 30 CommentsVovô não quer casca de coco no terreiro
Que é pra não lembrar do tempo do cativeiro
Durante todo o mês de maio foram feitas obrigações no terreiro de Pai Tota como preparação da sagrada festa dos pretos-velhos que se realizou no primeiro sábado de junho. Pai Tota, que é conhecido há década dos moradores do Conjunto Ajuricaba por sua alegria e seu axé dentro dos cultos afro, falou-nos de sua trajetória como babalorixá desde o Recife e sobre a festa para os pretos-velhos da qual este bloguinho participou.
Abaixo, Mãe Orny ao lado de Pai Tota.
Eu sou neto de baluartes da religião, pois meus avós eram do santo, me criei dentro do santo e fiz minhas primeiras obrigações dentro do santo, ainda tinha 9 anos de idade, cultuando mais o caboco na época, e com 12 anos eu dei o primeiro toque, que por sinal foi pra Oxum, que eu sou filho de Oxum, sou primeiro Obá Sirimin, do terreiro de Mestre Val, que já foi, já está no andar de cima. Comecei a tomar conta de obrigações de filhos de santo com 15 anos. De lá pra cá a minha vida foi essa: trabalhar, fazer filho, procurando fazer tudo certo. Quando meu Pai tava vivo, quando eu recolhia um filho, eu chamava ele pra ele jogar e confirmar se realmente aquele filho estava pronto, se aquele ori pertencia àquele orixá que eu tinha dado. Eu sempre procurava fazer e procuro do jeito que ele me ensinou. Um baluarte hoje, um zelador de santo tem que conhecer a folha, tem que saber cantar pra folha, tem que saber cantar para um bori. Aqui em Manaus só teve uma coisa que eu encontrei e que eu não gostei foi essa história de que o filho não é feito, não quer cumprir os mandamentos de um pai de santo e abre casa, aí vai fazer trabalho errado. Quantas pessoas já não vieram aqui, assim como com a Mãe Emília, procurando auxílio porque fulano e sicrano fez trabalho errado.
Eu quis vir pra cá porque eu gostei aqui de Manaus. Eu deixei uma casa lá no Recife com 38 metros de comprimento por 14 de largura pra vir pra cá. Manaus é uma terra boa, uma terra que tem muitas folhas boas, e tem muitos filhos bons. Eu queria trazer dois filhos meus pra cá, pra viver aqui, então Manaus me segurou. Encontrei em Manaus amor, carinho e talvez uma vida até melhor. É uma terra em que a gente sente o axé, sente a força. Fiz agora aqui nessa casa 21 anos e acho que, graças a Deus, tenho uma vida muito boa. Inclusive os meus vizinhos são pessoas maravilhosas, porque aguentar uma casa de santo tem que ser bom, porque a zoada que se faz, seis tambores batendo. Eles aplaudem, porque gostam. Quando não tem, eles perguntam: “Cadê, não vai ter não é?” Aqui, vai ter a festa do seu Zé Pilintra agora, começa sexta-feira, termina segunda, batendo. Os vizinhos às vezes ainda vem ajudar a enfeitar a casa.
Acima, a querida e respeitada presidenta da FUCABEAM, Mãe Emília de Toy e Lissá, juntamente com Flor de Navê e a linda Jéssica de Iemanjá. Completando, o companheiro Luiz Costa, presidente do AMONAM (Associação do Movimento Orgulho Negro do Estado do Amazonas).
A casa é Nagô, mas cultua o caboco. Toda casa Nagô cultua o caboco. Por quê? Que é o pro caboco poder zelar o santo, porque é o caboco que traz o médium, traz o cliente, que pra jogar, falar com uma entidade. E aquele dinheiro que fica da contribuição daquilo que ele está fazendo, a gente usa pra zelar a casa e fazer as obrigações.
Toda ano a gente faz a festa do Preto Velho Pai Joaquim. A gente começa no começo de maio com o trabalho do cachimbo, o verdadeiro catimbó. A gente trabalha 29 dias no catimbó, aí as pessoas que querem fazer pedido pra trabalho, pra saúde. Todos os dias nós temos duas de trabalho com o cachimbo. O cachimbo é o poder da mente. No dia da festa a gente não usa cachimbo, porque tem a comida, muita comida, e já se fumou demais nos 29 dias de trabalho. Todo ano essa festa é uma tradição aqui dentro da casa.
A gente oferece para os pretos-velhos todas as comidas que eles usavam. Por que os pretos tinham força dentro do lugar onde eles estavam? Porque eles cultuavam o santo. Quem libertou Pai Joaquim, Pai João, Pai José de Angola? Essa história é longa. Quando eles estavam na senzala, eles cultuavam o santo ali dentro escondido, que na época chamava-se lapinha. Quando o Barão vinha, eles escondiam os assentamentos dos santos e botavam as imagens, Nossa Senhora da Conceição, São Jorge. Eles estavam cantando em dialeto africano pro santo e os brancos não sabiam porque não entendiam. Quando o barão saía, levantava de novo o santo que estava escondido e continuava a tocar. Eles não podiam mostrar pra eles por quê? Porque eles condenavam, na época eles diziam que era bruxaria.
Um dia, a filha do fazendeiro adoeceu, ficou coberta de chagas. Pra que servia as pretas? Só pra amamentar os brancos. Aí ele vai lá pra ver a menina doente, e ele disse que curava a menina. O velho disse pra ele: “Se você não curar minha filha você morre.” A menina tava quase morta, porque naquele tempo você pegava catapora, sarampo, você morria, não tinha cura. Resultado: o preto foi lá e disse que curava. Levou a menina lá pra dentro da senzala, pra um lugar que se chama lubaça, e ele viu que Obaluaê respondeu, que é o deus da peste, o deus das chagas, Omolu. Ele foi e se comprometeu. A baronesa chamou o marido e disse: “Marido, a nossa filha já está a bem dizer morta. Por que não deixa ele tentar?” O velho disse afirmou novamente que se ele não conseguisse ele morria. Ele perguntou: “Tudo que eu precisar o senhor me dá?” O velho disse: “Dô.” Aí o preto mandou tirar toda a roupa da menina. Deitou ela numa esteira, cantou o afrexô e levaram a menina lá pra senzala. Lá ela passou 21 dias. Tudo o que ele precisou ele pediu. Então era pato, era galinha, era boi. Tudo entrava e não saía. Então, passados os 21 dias, eles mandaram chamar o padre e outras pessoas para ver a saída da menina dali de dentro. O pai não sabia que quem ia sair de lá era o santo. Quando cantaram, o velho ficou esperando que a filha saísse. Então o preto chegou e disse: “Sua filha tá aí.” E quando tirou aquelas palhas que são as vestes de Obaluaê, o velho viu que a menina não tinha uma chaga. Só tava com a cabecinha raspada, porque tinha raspado o santo. E foi então que ficou liberado pra zelar o santo dentro da senzala.
O casal afinado Vinicus e Bianca, presidenta da Afin, também aproveitaram para degustar as maravilhosas e abençoadas comidas dos pretos-velhos.
Por que os pretos têm as forças? Umbora matar um boi, pé, bucho, cabeça, vísceras, tudo ia pra senzala dos pretos, e os brancos comiam só a carne. Não sabiam que ali é que estava o que fortificava as pessoas. É por isso que os pretos eram fortes, porque onde tá a força dos boi é nos músculos, não é na carne. E hoje a gente faz tudo o que eles comiam na época, e que hoje estão nos melhores restaurantes, e a gente faz pra festejar eles e também para a gente comer. Toda aquela comida que você viu ali, a feijoada, o mocotó, tudo era comida dos pretos-velhos. Além da feijoada, tinha vatapá, tinha porco assado, guisado, galinha à cabidela, assada, galinha com salpicão, tinha arroz doce, tinha mungunzá, tinha tapioca, cocada, bolos, tinha frutas, farofas, bebidas, tinha tudo, não faltou nada. Antes de distribuir a comida pro pessoal, já tá tudo lá no canto separado para eles, tudo guardadinho, oferecido a eles. De tudo que tem ali a gente tira um bocado pra eles.
Filha de Tia Xica, que nasceu em Minas e se criou em Salvador, tendo completados 87 anos, com mais de 50 anos de santo.
Como eu falei, eu tinha 8 anos quando seu José veio pela primeira vez em mim. Aí era esquisito, porque uma entidade baixando num menino de 8 anos, pedindo bebida, não podia dá até por causa da polícia. Mas o seu José disse: “Eu vou criar ele.” Foi o seu José que cortou o meu umbigo quando eu nasci. Eu nasci no meio de um terreiro, no itô da casa. Ali minha mãe não aguentou, deitou em cima de uma esteira. E seu José veio, junto com Mestre Carlos, seu Zé Pilintra de Santaninguê. Meu umbigo foi cortado com uma faca de mesa. O primeiro leite que eu tomei foi da lata de leite comprada por um cliente de seu José que comprou pra mim. Quando eu tava com 8 dias de nascido, minha mãe ganhou uma vaca de presente já dando leite, pra poder me sustentar. Foi Zé Pilintra que me criou e até hoje ele me cria. Tudo que eu peço a seu José ele me dá. Eu não vou pedir fortuna nem dinheiro, mas seu José é um grande juremeiro, em todos os meus filhos aqui ele bota a mão. eu só tenho a dizer que seu José é maravilhoso e agradecer tudo o que ele faz por mim.
Faço um chamado a todos os babalorixás a se levantarem contra esse pessoal da Igreja Universal, porque eu vi uma coisa muito feia. Eu fui fazer uma oferenda numa encruzilhada pra seu Tranca Rua, eu cheguei eles tavam quebrando tudo lá. Quando eu cheguei, eles correram. Mas os pais de santo precisam se levantar, porque les crescem às custas da gente. Peço até para meus companheiros de religião que não levem mais nome, endereço pra encruzilhada, porque o orixá não lê não, mas eles pegam e levam pra igreja e ficam lá lendo o nome das pessoas. Então, nós precisamos nos levantar contra isso, porque nós somos protegidos pela Constituição, nós temos nossa segurança perante a Lei. O que eu peço a todos os pais de santo é que façam bonito, que façam certo e vamos pra frente.
●●● PAI TOTA DE OXUM ●●●
Rua B-1, nº 598 — Conj. Ajuricaba (Manaus-AM)
Telefone: (92) 3654-1301 / 9114-9454
SEU ZÉ PILINTRA NO TERREIRO DE MÃE ORNY
Published quarta-feira, 26 maio, 2010 Afro-Afin , Mina , Religião , Sincretismo , Umbanda 18 CommentsQuem tá batendo na porta?
Quem nessa porta bateu?
É Jesus sacramentado
Que Zé Pilintra sou eu…
Clique nas imagens para ampliá-las.
Essa festa que trazemos hoje a este bloguinho na verdade ocorreu no final do mês de abril, pelas festividades referentes às comemorações de São Jorge, a qual foi realizada no animado e abençoado terreiro de Mãe Orny da Oxum, mãe de santo conhecida de todos, pois é filha de Mãe Emília e por diversas vezes já a vimos nas festas desta conhecida e respeitada presidente da Fucabeam.
Ai, eu nasci da meia-noite
Minha mãe jogou no mar
Ai, eu vim pra macumba
Deixa a macumba girar
E enquanto os convidados iam chegando, os abatazeiros tocavam com vontade o tambor, os pontos, as rezas e as danças enchiam o terreiro de toda a alegria e beleza de se festejar a verdadeira religião afro no terreiro de Mãe Orny.
Baixou então seu Zé Pilintra, com toda a sua graça, seu humor e sua sabedoria. Veio para receber as salvas de todos os presentes e a eles distribuir suas bênçãos, suas curas e seus maravilhosos conselhos de mestre-doutor.
Sou Caboco Roxo
Eu sou guerreiro
Guerreiro do Maranhão
Meu arco eu trago na cinta
E a minha taquara na mão
E outros cabocos também vieram para essa comunhão e também honraram os tambores e receberam de todos os convidados e filhos da casa o reconhecimento merecido. Além do Caboco Roxo (acima), vieram também, entre outros, Seu Zé Raimundo e Seu Jaltino, respectivamente, assim como Dona Jurema mais abaixo.
Eu sou caboco que moro
No morro de areia
Meu pai é rei da bandeira
Eu me chamo Jaltino
E assim seguiu o maravilhoso tambor pela madrugada a dentro, onde todos os da casa e todos os convidados degustaram a deliciosa comida em homenagem a São Jorge, enquanto a lua pairava no céu de verão, e assim prosseguiu até o raiar do dia. Tudo em comunhão, em paz, alegria, felicidade, com todo o axé do terreiro de Mãe Orny de Oxum, assim como todos de sua casa!
A Jurema é minha madrinha
Jesus é meu protetor
A Jurema é pau sagrado
Para todo curador
Ó céu azul, ó céu azul
É com Deus e Nossa Senhora
Que haveremos de vencer
Seu Zé Pilintra é mestre da Jurema
●●● M ÃE ORNY DE OXUM ●●●>
Rua Milton Mourão, nº 100 — São Francisco (Manaus-AM)
Telefone: (92) 3664-4443
SEU ZÉ MALANDRO NO TERREIRO DE MÃE VALKÍRIA
Published sexta-feira, 9 abril, 2010 Afro-Afin , Religião , Sincretismo , Umbanda 9 CommentsMoleque perigoso era meu nome
Na roda de baralho eu me criei
Por causa de uma mulher perdi meu nome
Por causa de uma mulher me regenerei
Um dia desses, em outras festas de Umbanda boa, conversamos com Melo, filho de Mãe Valkíria, sobre a entidade que ele recebia e que fazia uns movimentos rápidos e vigorosos, lembrando ginga da capoeira, e ele disse que ainda não sabia quem era, que a entidade ainda ainda não revelara seu nome. Mas antes de completar um ano na cabeça de Melo ele realiza sua primeira cerimônia pública, e ao toque dos tambores diz a que veio. Era Zé Malandro.
Tem coruja no telhado
Hoje é noite de magia
Quem trabalha com exu
Não tem hora, não tem dia
Então conversamos com seu Zé Malandro na cabeça de Melo, jovem filho de santo de Mãe Val:
“Eu não tenho nem um ano na cabeça de meu filho. Isso aqui é como se fosse uma reunião. Tenho muita coisa pra fazer. Ele é um abiã, não é nem um yaô ainda. Mas em tudo há um começo, então ainda há muitos caminhos pra trilhar. Eu já ajudo ele há muito tempo. A tendência é ele se desenvolver cada vez mais, ninguém nasce sabendo tudo. Eu também tô aprendendo, não é porque eu sou uma entidade que eu sei tudo. Ele, meu filho, é uma pessoa boa, Mãe Val é uma ótima mãe de santo. É uma ótima casa, aqui tem muito axé. Agradeço muito à Maria Molambo, à Dona Mariana, que estão me ajudando nesta primeira festa. Eu espero que todas as pessoas levem mais a sério a sua mediunidade. E muito axé, muita luz, muita paz, caminhos abertos, que Ogum abra os caminhos de todos os que comungam das religiões afro-brasileiras. Agradeço a todos os convidados.”
Mulher ingrata, por que me fazes sofrer?
Por que me maltratas assim?
A noite é nossa, você é linda
Sete Maridos, eu não vivo sem você…
Dona Sete Maridos
Duas padilhas. À direita, na cabeça de Dona Dora.
Entre as várias pombogiras que vieram prestigiar Zé Malandro, chamou-nos a atenção o divertido desafio que a pombogira Maria Rosa levou a cabo com um ogan do terreiro de Mãe Val. Surpreendeu-nos a gira que ela puxou que vai abaixo de sua foto.
Você diz que sabe tudo
Você diz que sabe mais
Se eu fosse Maradona
Fazia o que você não faz
Maradoniano como é esse bloguinho, adoramos a gira improvisada e estedemos nosso afeto à pombogira Maria Rosa e sua inconfundível voz.
Me esmolambei para ver como é que fica
Me esmolambei para ver como é que é
Saravá, exu Maria Molambo
Na encruzilhada eu sou mulher de Lucifer
Umbanda, tua rainha chegou
Umbanda, mais uma estrela brilhou
Oi salve, salve a Pombogira
Que veio da encruzilhada
Para alegrar essa gira
E olha que moças maravilhosas você encontra no terreiro de Mãe Val! Se há lugar onde existe preconceito, aqui no terreiro de Umbanda elas ficam no centro para enfeitar a festa com suas inefáveis belezas, como se fora três estelas que baixaram do céu ao terreiro.
“Nós gostamos de vir ao terreiro porque aqui é muito divertido, as festas são animadas. Aqui ninguém tem preconceito com a gente. Se não podemos ir pra igreja, é até melhor, que aí a gente vem aqui pro terreiro. E aí gente pede uma ajuda pros santos ajudarem a ter mais tutu e ser cada vez mais belas, mais maravilhosas, como você está vendo…”
Ao centro, seu Julico.
Você dizia que amava
Você me abandonou
O seu amor é um pedaço de papel
Caiu n’água, se molhou
Arranje outro amor
Que o meu acabou
Finalmente, chegou Dona Mariana, que tomou conta da festa até o sol raiar. Foi com ela que conversamos e que nos fez a avaliação dessa bonita cerimônia.
“Essa foi uma reunião, uma obrigação que fizemos pra Zé Malandro, na cabeça de um filho aqui do meu casulo. Agradeço aqui ao Julico, que está até uma hora dessas comigo, Zé Raimundo, e também aos filhos que estão aqui. Pra mim cada um dia é um dia. Pra mim é uma ‘sastifação’ eu tá com o Zé Malandro aqui dentro da minha casa. Pra mim é uma ‘sastifação’ a gente fazer essa pequena homenagem, terminando numa paz, terminando em harmonia, terminando com ‘aleguia’. Isso é que é um axé. É paz, prosperidade, caminhos abertos, muita saúde, que é o que eu desejo pra cada um filho.”
Na porta do cemitério
Uma rosa ali nasceu
Foi naquele lugar
Aonde ela floresceu
Olhe, eu sou Maria Rosa
Da porta do cabaré
Eu cheguei nesse lugar
Pra saravá a Lucifer
Acima, o afinado Maurício querendo entrar para a falange da malandragem.
No morro sim que é lugar de tirar onda
Malandro toma cachaça
Fuma bagulho e cai no samba
●●● MÃE VALKÍRIA DE IANSÃ ●●●
Rua Coiama, nº 20 — João Paulo II (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9143-2507
AS ÁGUAS E O PILÃO DE OXALÁ NO BARRACÃO DE PAI GEOVAŅO DE AJAGÙNNỌN
Published sexta-feira, 5 fevereiro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Religião , Sincretismo Leave a CommentMais uma vez o magnífico Ilê Axé Ajagùnnọn, conhecido como o barracão do inconfundível Pai Geovano de Ajagùnnọn, que estava lá pra receber com sua característica alegria, ternura e vitalidade os filhos e convidados que compareceram aos dois dias de ritual de abertura dos trabalhos da casa para o ano de 2010.
Quem também estava lá era o lendário Pai Ribamar de Xangô para puxar o ilê com seu ritmo em cantar as rezas e a harmonia de seus movimentos em dançar para os orixás.
Conversamo com Pai Geovano, que explicou o significado desta festa fundamental para a abertura dos barracões de Candomblé.
A festa significa as águas de Oxalá. O retorno do asilo de Oxalá pra casa. Reza-se a lenda, uma lenda muito conhecida, que, resumidamente, diz que Oxalá ficou preso sem que ninguém soubesse, no reino de Xangô, e por isso o reino de Xangô passava por grande miséria. Muita seca, as mulheres ficaram estéreis, os bichos morreram todos, porque Oxalá tava preso. Quando Xangô descobriu que era Oxalá, o próprio pai que estava no cárcere, ele deu como que um feriado para a cidade toda, e todo mundo teria que ir buscar água na fonte pra lavar Oxalá, pois ele estava muito sujo. Fizeram isso e depois fizeram uma procissão, carregando Oxalá para o castelo dele, e assim trazendo com ele prosperidade, paz, saúde.
Pai Ribamar distribui as varinhas para o início da Guerra de Atori.
É isso que nós fazemos hoje em dia. Fazemos as águas de Oxalá, representando o que aconteceu, derramando a água dentro do assentamento de Oxalá e derramando no próprio Oxalá. A água simboliza a calma, a pureza do próprio orixá Fazemos uma procissão, representando a vinda de Oxalá pra casa. E fazemos também o pilão de Oxalá, que já é da parte de Oxaguiã, trazendo também prosperidade e caminhos abertos pro povo.
E Pai Ribamar, auxiliado por Mãe Valkíria, comandou a distribuição da deliciosa e santificada comida de Oxalá.
Essa comida é inhame com frango desfiado, é aluá, é canjica de milho branco, acaçá doce, arroz com camarão. Só comida de Oxalá mesmo. Comida branca, sem dendê. A gente faz o que dá pra fazer, porque a variação de comida de Oxalá é meio curta. No Candomblé, geralmente as comidas são bem apimentadas. No caso de Oxalá, não. Tem de ser comida fria, sem dendê. Se tiver azeite, sim o português, não o de dendê. Mas tinha o bolo de inhame e tinha o inhame pilado com frango, que são comidas de Oxaguiã batata portuguesa cosida e amassada feito bolas, tinha arroz com camarão, tinha arroz doce, que são também comidas de Oxalá.
Todos os terreiros deveriam fazer isso. Todos os terreiros deveriam abrir a casa, abrir os trabalhos da casa com esta festa. As pessoas ainda não estão muito acostumadas a louvar orixá como deve ser. É uma festa que por aí fora acontece o mesmo todinho, pra poder chegar a etapa das Águas de Oxalá, Pilão de Oxalá, a Guerra de Atori. Não estão muito acostumados ao estilo Candomblé mesmo. Estão acostumados a misturar o Candomblé com a Umbanda, e a gente não sabe mas nem o que é. Devemos fazer uma coisa de uma forma que depois os outros não possam dizer que estamos misturando tudo. Candomblé, Candomblé. Umbanda, Umbanda. A mesma coisa os umbandistas, cultuar Umbanda sem misturar o Candomblé no meio. Ou então misturar o Candomblé, porque eles tentam misturar, mas não sabem muitas vezes o que estão fazendo.
Trazido por Pai Ribamar e Oxaguiã, Jadilson de Oxalá, ogan de Oxalá, em sua obrigação de três anos.
À esquerda, Carlos Jorge, que é filho de Obaluaê e Oxalufan e, à direita, o yaô Everton de Oxalufan em sua obrigação de 3 anos.
À esquerda, o salto de Oxaguiã na yaô Léa, também em sua obrigação de 3 anos.
E Oxaguiã passou a distribuir as flores de Oxalá para os convidados da casa, que se regozijaram ao receber a rosa branca e as bênçãos de Oxalá.
A festa foi ótima, foi muito boa, muito farta, com se viu. Teve pessoas convidadas que não foram por motivo de doença, outras não foram porque não quiseram, e todo mundo tem a sua variação de vontade. Então a gente não pode condenar ninguém. Só pode muito é agradecer as pessoas que foram. A paciência de todo mundo, as pessoas que ajudaram, principalmente. Pra mim foi maravilhosa. Do meu ponto de vista, foi uma das melhores festas que eu dei na minha casa, muito cheia de axé, muito cheia de paz, de tranquilidade, onde você uma alegria em tudo e todos. Eu só tenho agradecer a todo o povo de Candomblé, dos cultos afro que participou e constatou as Águas de Oxalá. E também aos simpatizantes, porque tinha muita gente simpatizante, essa é a verdade, muita gente que está querendo entrar pra casa, gente que quer ver como é, muitas pessoas que ouvem falar da casa e querem também ver como são as festas. E foram, confirmaram, comprovaram, não tem bagunça, todo mundo com seriedade fazendo a parte que lhe toca. E no fianl todo mundo come, todo mundo bebe, se diverte e vai pra casa satisfeito com energia renovada, com a benção dos santos.
Da direita para a esquerda, Pai Ribamar de Xangô, Jair de Xangô, Emerson de Oxóssi, Kinamê de Xangô e o Pejigan Ivo da casa de Pai Gilmar.
E como não ficar atingir essa serenidade de que fala Pai Geovano, com todo esse ritual maravilhoso de fé, vigor e alegria nas rezas, nas danças, em todas as partes do ritual, e, finalmente, terminando com esse maravilhoso, delicioso jantar de comunhão com toda a pujança daqueles que comungam dos cultos afro-brasileiros, que, além de uma religião, é uma manifestação cultural e histórica autêntica de nosso povo? Ainda mais com todo esse axé da casa de Ajagùnnọn…
Exu Onã e Exu Oritá, respectivamente da esquerda para a direita, exus guardiões, que estiveram desde o início e que continuarão durante todo o ano guardando o Ilê Axé Ajagunnon.
●●●PAI GEOVAŅO DE AJAGÙNNỌN●●●
Travessa Guape, nº 173 — Jorge Teixeira IV (Manaus-AM)
Telefone: (92) 3682-5727 / 3638-7472 / 8111-5335
TODAS AS OBRIGAÇÕES DO YLÊ AXÉ SESU TOYÃN
Published sábado, 30 janeiro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Religião , Sincretismo 5 CommentsClique nas fotos para vê-las de perto.
Mais uma vez Ylê Asé Sesu Toyãn, o terreiro de Pai Gilmar, estava em todo o seu esplendor, com todos os filhos da casa preparados para receber os convidados em mais uma grandiosa festa. Ao todo foram cinco obrigações, que ocorreram em dois dias, domingo e segunda passados, no qual quase todos os orixás passaram pelo ilê, recebendo suas homenagens e deitando suas graças aos presentes.
No domingo, vê-se o pilão de Oxalá posto na sala, conforme explica Mãe Valkíria, porque o Mauro César, que estava fazendo três anos, vestiu Oxalá, no caso o Oxalá velho, Oxalufã, então Pai Gilmar arriou o pilão, que ficou durante todo o ilê, completo, só saindo no final da festa.
A saída de Oxalá de Mãe Valkíria de Iansã, fazendo suas obrigações de 14 anos, eIgor de Ogum Xoroquê, na sua primeira obrigação.
Abaixo o reconhecido e respeitado Pai Gilmar, Fômu de Iemanjá, levando Iansã pelo salão.
Ogum Xoroquê, carregando dois falos. Mãe Val explica que “Ogum Xoroquê é uma qualidade de Ogum cruzado com Exu. Ele é mais Exu do que Ogum. Você vê que todas as paramentas que ele carrega são de Exu, ele sai com tridente, ele sai com esses falos, porque as ferramentas dele são ferramentas de Exu”.
Abaixo, à esquerda,Carla da Oxum, também na primeira obrigação, em sua saída de luxo.
E conversamos com Mãe Valkíria de Iansã, que fala sobre sua obrigação, da satisfação na amizade com seus irmãos e do carinho e dedicação de Pai Gilmar, entre outros temas que demonstram o seu zelo e responsabilidade pelos cultos afro-brasileiros.
“Eu tô fechando meu ciclo, com minha obrigação de 14 anos, então eu tenho um grau mais alto dentro da vida espiritual. Dentro do Ilê Axé Sesu Toyãn, que é do meu pai, Gilmar. Meu oyê eu dei dentro da minha casa, e minha obrigação eu tô dando dentro da casa dele, junto com meus irmãos de santo: o César, a Carla, o Mateus e o Igor. Três com obrigação de 1 ano e um com com obrigação de 3 anos. Nós fizemos todos juntos também pra dá menos trabalho pro meu pai, mas pra mim foi uma satisfação ter dado minha obrigação junto com meus irmãos e dentro da casa dele.
Pai Odair acompanhando Iansã ao redor do pilão.
À direita acima e abaixo, Mateus de Xangô, o orixá da Justiça, com suas machadinhas, seus raios, trovões, tempestades e suas pedreiras.
“Eu comecei no Candomblé com o Pai Ribamar de Xangô, com quem fiz a minha feitura, dei a minha obrigação de 1 ano e recebi um cargo na casa dele de aquequerê. Aí eu saí da casa dele, e foi quando eu fui para a mão de Pai Gilmar, e aí dei a minha obrigação de 3 anos, dei o meu oyê e agora a minha obrigação de 14 anos. Peço a Olorum que abençoe ele, que dê muitos anos de vida pra ele, pra que ele seja sempre esse pai. Sem Pai Gilmar o que seria de mim? Pra mim foi muito bom está até hoje na mão dele. Eu estou alegre, satisfeita, pois eu entrei doente pra dar minha obrigação e hoje eu tô com saúde. Eu só tenho a agradecer ao meu pai.
Abaixo, Oxalufã na cabeça de Mauro César da Oxum, na sua obrigação de 3 anos.
E na segunda-feira a festa continuou com a mesma força nos orixás que vieram regozijar-se das oferendas oferecidas e deixar suas bênçãos a todos, sendo mais um dia em que a espiritualidade reinou no Ylê Axé Sesu Toyãn.
“Faz 10 anos que eu tenho terreiro aberto, casa feita. Eu vim da Umbanda. Eu tô fazendo 14 anos de feitura no Candomblé, mas na Umbanda eu tenho bem mais. Com a Dona Mariana, faz mais de 20 anos que eu trabalho com ela. Meus orixás, eu sou de Iansã com Iemanjá, e sou feliz com meus orixás. Eu amo meus santos. Eu gosto muito da minha vida espiritual e vivo da minha vida espiritual. Dou a minha alma à minha espiritualidade, então pra mim é uma satisfação. Tenho êxito em tudo o que faço pela minha Iansã, pela minha Iemanjá, com o meu Ogum. Toda a minha vida eu tive êxito com os santos. Pra mim todo o tempo é vitória. Não tem quem faça eu sair da minha religião, a minha religião é essa e acabou-se.
Pai Olegário, acima, com alguns filhos de seu bonito ilê, e abaixo, levando Iemanjá, na cabeça de Mãe Valkíria, para mostrar seu luxo no salão. Mãe Val explica: “Ele sendo um babalorixá, ele é padrinho do meu pai, e também porque ele era um dos mais velhos na casa, há muitos anos dentro da religião, por isso o pai deu preferência pra ele dançar pra homenagear os santos”.
“A festa foi maravilhosa, muita paz. Não tivemos problemas nas nossas obrigações, mesmo sendo várias ao mesmo tempo. Foi ótimo, meu pai está de parabéns. Eu só tenho que agradecer a Deus por ele ser esse pai caprichoso, humilde, e valorizar a religião. Ele dá muito valor à religião. Ele dá muito valor ao santo, ao que ele faz, ele é muito dedicado ao santo, ele vive pro orixá. Tudo o que ele faz ele faz com dedicação, com amor, com carinho. Pelas fotos você já vê que é Gilmar. Você percebe o que é Gilmar dentro da vida espiritual da gente. Então eu só tenho que agradecer a ele, agradecer ao Olegário, às pessoas que estiveram na festa e também às que não foram.”
Nem precisa agradecer Mãe Val, a posição deste bloguinho é que manifestações religiosas autênticas como essas devem ser respeitadas e respaldadas em sua beleza e integridade. Por tal, nosso empenho em entrar em proximidade com os cultos afro na cidade de Manaus.
Por sua vez, agradecemos ao fotógrafo Melo, que é filho de santo de Mãe Val, que cedeu a maioria das fotos postadas nesse trabalho (como se pode observar nas referências das fotos), uma vez que não pudemos comparecer no domingo devido a atividades na sede da AFIN.
Além de ser fotógrafo profissional, para casamento, batizado e outros eventos, sendo adepto dos cultos afro-brasileiros, Melo tem facilidade de capturar as imagens essenciais de um ilê, de uma festa de caboco, exu e outras dos cultos afro-brasileiros.
A quem necessitar, fica o celular (92)9105-6134.
●●● YLÊ AXÉ SESU TOYÃN ●●●
(Pai Gilmar, Fômu de Yemonjá)
Rua Bom Jesus, nº 09 — Jorge Teixeira (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9176-2290
SAUDAÇÕES MANAUENSES A IEMANJÁ PELO NOVO ANO
Published sexta-feira, 1 janeiro, 2010 Afro-Afin , Candomblé , Mina , Sincretismo , Umbanda 14 CommentsJoguei minha barca n’água
Eu quero ver navegar
Peço licença primeiro
A Nossa Mãe Iemanjá
Oh, Iemanjá! Oh, Iemanjá!
Quem manda nas ondas d’água
É Iemanjá…
Todos os anos os adeptos das religiões de matrizes africanas, em manifestações individuais ou acompanhados de seu ilê, assim como diversos populares em suas históricas crenças tradicionais sincréticas, vão à Ponta Negra para deitar barquinhas e demais oferendas à mãe de todos os orixás. Iemanjá. Odoyá!
Acima, Mãe Sandra de Iemanjá e Mãe Dóris de Oxum e seus filhos numa bonita homenagem à rainha das águas. As mães deixaram seus desejos para todas as pessoas de Manô:
“Iemanjá é a mãe de todas as cabeças, mãe de todos os orixás, mãe dos 16 santos, e na passagem do ano a gente costuma fazer oferenda pra ela com milho branco, arroz, pescada, camarão, azeite, mel. E a gente espera o quê? Prosperidade, fartura, saúde, porque ela é mãe de todos os orixás e mãe senhora dos filhos peixes. Eu sou filha de Alexandre de Iemanjá, do bairro de São José e desejo para o meu pai e para todos os meus irmãos, e para todos os irmãos de todas as casas muitas felicidades, muito axé para todos.” (Mãe Sandra de Iemanjá)
“No momento eu estou na minha casa e não tenho nenhum zelador de santo, mas que Iemanjá nos traga fartura, dinheiro, amor, nos traga muita saúde no ano de 2010.” (Mãe Dóris de Oxum)
Como as religiões afro, assim como as manifestações populares autênticas, são livres de preconceitos e discriminações, a Moçada Mundo Gay comparece para agradecer às bençãos recebidas e falar sobre seus desejos para a Grande Mãe de todos, que não faz distinção de raça, sexo, religião, etc. E olha as lindas moças na areia da praia!
“Esse ano foi bom. E que esse ano que chega seja cada vez melhor para nós, que sejamos cada vez mais belas! Que o povo tenha sempre mais respeito por nós! Que tenha muita fartura, muita bebida, muito dinheiro e muito homem, que sem isso não somos felizes. Para todas nós, as lindas monas de Manaus, felicidades para nós e para nossas famílias, para nossos namorados, nossos amores… Beijos pra todos!”
Mãe Sandra, que veio lá do Núcleo 15 da Cidade Nova, com seu belo Congá Tenda Cigana, chegou e acompanhamos sua magnífica oferenda, que estudou (no sentido de “prática”) várias religiões e cruza elementos comuns entre elas e que nos envolveu com sua fala ligeira, lúcidez e alegria…
“Eu tenho meu próprio santo, eu tenho meu próprio congá. Eu trabalho. Eu vim da quimbanda, umbanda, candomblé, espiritismo e a última linha anjeologia. Eu cruzo Iemanjá com o símbolos dos arcanjos. O ano de 2010 vai ser Iemanjá, Oxum e Iansã, mas a principal linha vai ser Oxumaré. Não é questão de o ano ser bom, é continuação deste para o outro; o bom vai das atitudes que a gente quer, vencer ou não vencer. Então vai muito do negativo e do positivo das pessoas. Não existe magia sem um Sim ou um Não, o Talvez é as dúvidas. O outro diz: “Ah!, vai ser um ano bom, vai acontecer isso.” Não é bem assim. Acontece se o homem quiser, essa é que é a verdade. Não é a magia, a magia se faz pra ajudar, mas você com as suas virtudes é que consegue seus objetivos.
É isso que eu penso, é isso que eu acho, nós oramos a Deus, aos arcanjos de Deus e todos como nós cultuamos Iemanjá, Iansã, Oxum, como Nossa Senhora, que vem na minha casa, e Ogum, e o próprio Exu pra demandar e dispersar todos os males da vida. Não basta eu dizer que vou fazer um trabalho que vai melhorar minha vida daqui pra outro dia, não existe isso, existe a tua atitude de tu querer, é essa que é a verdade. Então as pessoas misturam muito. Ah!, eu vou conseguir isso, vou conseguir aquilo, vou amarrar amor, é tudo besteira porque amor não se amarra, amor se tem. A magia pode ser pra um casal pra iluminar através dum anjo, através dum guardião, dum mentor, tudo bem, mas dizer eu vou amarrar, eu vou prender, ninguém prende ninguém, o amor é livre.
Então eu vou sempre pelos quatro elementos: ar, terra, fogo e aguá. Mas o primordial é o amor que é o quinto elemento. Então esse besteirol todo, eu não vou muito assim pelas linhas afro só, porque, aqui pra nós, às vezes eu acho que eles tão muito atrasados no mental, tá entendendo? Eu classifico assim: os simplórios, os simples, os ricos e os milionários. O simples faz tudo pra buscar o melhor, o rico já é rico de si e de memória, porque hoje não adianta tu fazer uma faculdade porque hoje em dia tá banal. A melhor faculdade é a da vida, a escola da vida, como diz Ogum, “nem tudo o que reluz é ouro”. A vida é uma escola onde as lições tão muito caras, então tu aprende é no dia-a-dia, na verdade. Vamos dizer, eu vejo tu triste: “Ah!, eu tô mais rico” ou “tô mais ferrado”. Quer ser o mais ferrado e não é, porque tem muitas outras pessoas que não tem o de comer porque não buscam, porque tem pessoas que não gostam de buscar, gostam de esperar que venha até elas. Porque pra tudo se dá um jeito na vida, só não pra morte.”
No percurso pela Prainha, encontramos ainda manifestações familiares particulares muito bonitas que não quiseram falar sobre os motivos pessoais que levam às oferendas. No geral, estão os agradecimentos pelas graças recebidas, assim como os desejos de felicidades a todos nas novas águas que chegam…
Quem também veio trazer sua alegria a todos foi o caboco Zé Raimundo, na cabeça de Pai José dos Santos, lá do São Francisco, que deixou para todos sua graça de prosperidade na força dos orixás para todos…
“O ano foi maravilhoso, graças a Deus, com muita prosperidade para o meu filho, seu José, e esses filhos que estão hoje presente aqui comigo , fazendo essa homenagem muito bonita, estão atrás de buscar a paz, prosperidade, saúde e muitas mudanças de bom na vida deles. E hoje eu estou dando o meu axé e as minhas forças para cada um desses filhos que precisam. E pra todas as pessoas da cidade, pela afirmação que nós fizemos, aquelas pessoas que puderam vim e que não vieram nós tamos dando aquela força, axé e a proteção para o ano que entra, que nele haja tudo de bom, como deve ser em cada ano novo que entra.”
Um filho de santo do Terreiro de Umbanda Anastácio Neves, localizado atrás do Cemitério São João Batista, no Centro da cidade, na cabeça de Dona Mariana, deixou seu axé.
“Eu vou desejar um 2010 de fartura, felicidade, força, alegria. Que o ano de 2010 seja só de amor, porque o ano que passou foi um pouco cheio de turbulência, mas Mariana, na força e tranquilidade das águas, deseja para o povo manauense um feliz 2010, de abundância, de amor, de tranquilidade. Que todos possam realizar seus sonhos ou consolidá-los. Que todos fiquem na paz.
Finalmente chegamos ao nosso destino de todos os anos: a conversa com o caboco Sibamba, que, inconfundível na cabeça de Pai Geovano, com seu humor, sua alegria e energia, nos deixa suas impressões da vida pessoal do povo à política local, brasileira e mundial. A quem diga que é o caboco mais politizados destas terras, e por isso tal a proximidade com este bloguinho intempestivo.
Então, numa continuação da conversa do ano anterior, prosseguimos nessas temáticas e outras.
Eu sou é invocado, seu menino. Eu sou um caboco, eu não sou uma porcaria, não sou o que vocês tão acostumado a ouvir por aí e nem ver por aí. Eu sou um caboco, eu sou cretino e ordinário, quando eu falo eu falo mermo. Quando eu não falo, não quero falar não, vá pra porra. Pra eu, eu sou que nem as águas, se sopra o vento eu fico raivoso, se num sopra eu sou mansinho que só um cordeiro. Isso afeta o ser humano, não eu que sou um espírito.
Meu filho já jogou os búzio, já disse que é o Oxalá que vai reger o ano. Num sou eu, porque eu num jogo nem pedra na cruz. É meu fio que disse que Oxalá véio [Oxalufã] primeiro, na metade do ano Oxalá novo [Oxaguiã] e no finar do ano é mamãe Iemanjá que vai pegar. Então o ano é feito de muita paz, revolta, enchentes grandes e secura demais. Muito pior do que esse ano. Você vai ver.
Os políticos – isso aí vai ter um pau de guerra! Tu num viu nada, minino? Tu nunca viu piranha comer gente, viu? Pois é, tu vai ver esse ano. É, seu minino! Porque antes, antes dos antes. E o moço que voltou agora, esse moço é cretino, já tá ficando ‘probre’, voltou agora, começou a tirar devagarinho, só que os outro tão vendo, não são mais besta não. Na verdade o outro besta véio, careca, fio de uma puta, que entregou pra todo mundo governar por ele, tomou no rabo, foi passado pra trás. O olhe que eu não sou de politicage não, vice? Eu só digo a verdade. E o sinhô é a sabedoria, o sinhô tem a consciência boa. Pro povo vai ser bom, porque o povo vai ter que acordar pra num tomar no rabo.
As leis mudaro tudo e foi uma baitolage toda, foi muito bom para os bochola e só vai melhorar. Mas deixa eu buscar na minha burrice e tu sabe que burrice de bêbado é a pior coisa que tem, ninguém leva a crer. Pras mulher não é dessa vez, mas vai ter, vai ter aqui no Brasil vai ter a presidenta que todo mundo quer. Vai ter. Vai ser fulera, vai ser vagabunda, vai ser da gota serena e vice mais. Tu é doido, macho! Tu nunca viu mudança não, tu já viu frescura, e não mudança. E ela vai vim, vai vim e vai fazer.
Que o ano de 2010 seja um ano de consciência, de prosperidade, que o grande Deus do grande céu abençoe todo esse povo dessa terra, povo cretino, que tá precisando de misericórdia e que não se toca. Esse véio Sibamba pede, por misericórdia. Eu dou mais meus 300 anos nessa terra se o grande Deus tiver misericórdia de um dia desse povo. Que este ano do 2010 seja um ano com menas agressão e violência e seja um ano de mais alegria, mais tranquilidade pra este povo amazonense, não só pro povo amazonense, mas pro Brasil todo que merece e mais pro meu Ceará que tá precisando de chuvas, porque aqui tem fartura de chuva e no meu Ceará tem miséria de chuva. Esse, meu bom gradar. Que assim seja!
Dona Mariana, agora na cabeça de Mãe Valkíria, em qual congá já fomos a sua festa e lá conversamos com essa caboca que está sempre alegre e graciosa, sendo uma entidade das águas, deixou sua mensagem maravilhosa.
Pros pecadores eu peço assim que a minha mãe Iemanjá abençoe assim a todos, que ilumine a todos, que dê muitos anos de vida, que dê muita saúde e muita prosperidade, que ilumine os caminhos, que cada ano que se passa seja melhor. Que esse ano que vem lhe dê muito axé, muita prosperidade pra todos. Eu peço a minha mãe Iemanjá e a Oxalá também que abençoe pelas horas que são, pelas oferendas que nós estamos fazendo aqui nas águas e pedindo que Deus abençoe as oferendas do povo, dos pecadores, trazendo muita paz neste mundo do pecado. Eu desejo paz e muita prosperidade e axé, axé e axé.
UMA NOTA APENAS:
Estas e muitas outras manifestações de diversos congás e particulares, as que vimos e que não pudemos participar, com certeza foram magníficas, e não teriam como não ser quando o povo exerce seu direito à crença e a seus costumes autênticos de forma livre e sem discriminação. Mas não podemos deixar de dizer que houve discriminação pelo poder público. A descida para a Prainha – parte da Ponta Negra onde todo final de ano adeptos da religião afro e pessoas que cultuam credos sincréticos vão para entregar suas oferendas nas águas – tem acesso muito perigoso. No terreno íngreme, são alguns populares que, em sua benevolência, enfiam algumas estacas e fazem alguns degraus na terra para as pessoas descerem. Há quem diga que é por esse e outros motivos que os políticos da cidade estão sofrendo na pele o peso de seus crimes, apesar de todo ano eleitoral – como o ano que se inicia – quase na totalidade os candidatos procurarem os terreiros, inclusive os pastores. Claro que isso se dá não só pela crença, mas principalmente pelo dividendo eleitoral; pois este bloguinho, que é o maior registro jornalístico na cidade de Manaus, conhece cerca de 70 terreiros, mas segundo a FUCABEAM existem mais de 2 mil, fora manifestações individuais não catalogáveis.
Independente disso, todo acesso à Ponta Negra, já que ela é tão utilizada pelos marketings governamentais, deveria ser preparado satisfatoriamente com responsabilidade, para não colocar em risco a saúde dos cidadãos.
Mas os governos antidemocráticos, baseados nas supertições dos seu mandatários, nada podem contra os verdadeiros cabocos e orixás, por isso tudo foi maravilhoso, apesar dos des-governos…
Ê balanceia, balanceia, balanceia
Balanceia, balanceia
Eu quero ver balancear
Leitores Intempestivos