“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. (Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)
Nossas fronteiras esbarraram nos portões da Escola Estadual Desembargador André Vidal de Araújo, que tem como gestor, Kepler Evanovich Leitão, que já foi diretor das Estaduais Milton Bandeira e José Bernardino Lindoso. Exatamente numa escola que leva o nome de um agente da justiça, a peça de teatro da AFIN, “O Candidato que Saiu do Povo” foi censurada, proibida de ser apresentada no dia 19 de julho às 19:30 h a partir de ilações, calúnia e delação.
A Associação Filosofia Itinerante possui muitos professores como membros, simpatizantes e sócios. Na Escola citada, ministra aulas de língua portuguesa, no turno vespertino e noturno o professor Carlos Alberto Sampaio que é um incentivador de encontros estéticos-éticos da AFIN e que já intermediou noutros anos apresentações de peças nessa escola e este ano propôs ao gestor que a peça “O Candidato que saiu do Povo” fosse encenada no horário da noite.
DITO-DIRETOR ILALA E DELALA
O Dito-dela-diretor alegou que precisaria ter autorização da Coordenação Distrital 06 que compreende as 28 escolas da Cidade Nova. Só que quando o dito-diretor Kepler Evanovich Leitão foi conversar com a Coordenadora Chefa da CD 06, Professora Emília, numa atitude própria de dito-deduração, disse que a peça já havia sido apresentada na Escola Estadual Engenheiro Artur Soares Amorim e que o texto da peça falava mal do governador.
AFIN REAGE
A diretoria da AFIN ao tomar conhecimento dessa atitude antidemocrática, anticonstitucional, de comportamento ditatorial e de proibição à liberdade de expressão, através de seus membros e do seu presidente procuraram obter mais informações sobre a censura e este não podendo falar com a Coordenadora chefa, professora Emília, que encontrava-se numa reunião com gestores , o presidente da AFIN conversou com a Assessora Terezinha que informou que a coordenadoria tomou conhecimento do fato e que para a peça ser apresentada nas escolas da rede estadual a AFIN deveria submeter à coordenação um projeto e o respectivo texto da peça, bem como isso deveria ser providenciado também para os outros distritos da SEDUC-AM. A proibição e a censura transpunham-se dos portões da Escola André Vidal de Araújo para outras fronteiras. Estamos proibidos de apresentar a peça nas Escolas Estaduais do Amazonas.
O distrito tomou essa decisão arbitrária, condenável, pois só vimos isso na época da ditadura militar no Brasil pós 1964, a partir de ilações, calúnias de quem não assistiu a peça, porque se tivesse assistido, como muitos alunos do Artur Soares Amorim, professores, comunitários convidados, nenhum deles viu no texto qualquer menção à pessoa do governador ou qualquer autoridade constituída do estado, pois trata-se de um texto artítistico, poético ficcional, que trata sim, de política a partir da Filosofia Spinoziana, e principalmente do projeto de lei popular denominado Ficha Limpa do qual fomos incentivadores, apoiadores e nessa luta pela moralização política do Brasil, somos parceiros do Tribunal Superior Eleitoral fazendo esse trabalho de orientação, reflexão para que tenhamos um país livre da corrupção, da compra de votos e de políticos ficha suja.
No momento que o dito-diretor, Kepler Evanovich Leitão e a CD 06 censuram, proíbem a apresentação da peça, percebe-se o porquê da educação escolar no Amazonas apresentar índices negativos.
O teatro é arte e a arte que trabalhamos tem como base e referência o método do Verfrfremdunggseffekt (distanciamento) de Bertolt Brecht, isto é, a “plateia deve ser desencorajada no sentido de qualquer perda de seu afastamento crítico da identificação com um ou mais personagens: o oposto da identificação é a preservação de uma existência independente, a ser mantida separada, alheia, estranha – consequentemente o diretor deve lutar para produzir, por todos os meios ao seu dispor, efeitos que manterão a plateia separada, afastada, alienada da ação.” (Martin Esslin, Brecht: dos males, o menor). E neste caso, como já mencionamos, essa peça trabalha a questão política no sentido de elucidar pedagogicamente o ficha limpa, assim como também é um texto constituído de quatro quadros: Na Praça, Sem Terra o Homem não fica em pé, Poesia Não Rima com Grilagem e o Povo é a Democracia. O teatro começa com um jornaleiro gritanto a manchete daquele dia: “Poderá não haver eleição ano que vem.” A história nesse quadro destaca o projeto ficha limpa. No segundo e terceiro quadro a abordagem é sobre invasões e grilagem de terra e no último, sem candidatos para participarem da eleição, pois até os partidos políticos por possuirem candidatos ficha suja não podem lançar candidatos, surge como único candidato que é ficha limpíssima, o Povo. “Eu quero um candidato que saia do povo/Que tenha alegria produção do novo/Composto democrático/afeto razão/Potências que libertam o povo da exclusão.”
ENCONTRO CENSURADO
E na noite do dia 19 de julho de 2012 quando o professor Carlos Sampaio e a AFIN proporcionariam um encontro diferente, de leitura além dos códigos estabelecidos, eis que uma subjetividade danosa, em pleno momento em que a Comissão da Verdade apura a deduração, a tortura, as mortes da ditadura, a escuridão, o cerceamento abateu-se sobre uma escola, porque nessa escola o seu dito-diretor não leu e nunca lerá que “é de toda arte que seria preciso dizer: o artista é mostrador de afectos, inventor de afectos, criador de afectos, em relação com os perceptos ou as visões que nos dá. Não é somente em sua obra que ele os cria, ele os dá para nós e nos faz transformar-nos com eles, ele nos apanha no composto. (Deleuze e Guattari)
E nesse processual, de não submetermos à violência, essa atitude será propagada para políticos, sites, blogs, formadores de opiniões do Brasil e dos mais diversos países que nos acompanham pela internet, porque a AFIN é uma ONG que trás na sua trajetória criadora de novas formas de dizeres e fazeres a seguinte caminhada.
UMA ITINERÂNCIA DE CONSTRUÇÃO DE NOVOS DIZERES E FAZERES AFINADOS
A Associação Filosofia Itinerante – AFIN, entidade fundada em 04 de julho de 2001 e que desenvolve um trabalho com os fluxos comunitários filosóficos, buscando promover encontros ético-estético-afetivo-políticos para discussão da existência das pessoas no mundo, ai compreendendo sua rua, bairro, cidade, estado, país para além do cotidiano constituído e codificado. A entidade tem como aliados nesse devir filosófico intemporal os filósofos Nietzsche, Espinosa, Bergson, Deleuze, Sartre, Simone de Beauvoir, Foucault, Guattari, Toni Negri, dentre outros.
Além desses filósofos a Associação tem uma parceria com órgãos do governo federal como Petrobrás, Ministério da Saúde, Ministério da Cultura com quem em 2008 firmou um convênio de cooperação 119/2008 para apresentação do teatro maquínico “À procura de um candidato” que foi apresentado em escolas estaduais, municipais, associações comunitárias, terreiros, ruas e quintais, como também auxilia na divulgação de campanhas desses órgãos em benefício das pessoas e do povo brasileiro.
A Associação possui vários vetores de atuação tais como o teatro, o kinemasófico, bibliosofia que preenche um vácuo de atividades artístico-culturais em Manaus, principalmente nos bairros periféricos e em escolas.
Isso é facilitado porque a Associação conta com um número grande de membros como professores, pedagogos, filósofos, psicólogos, religiosos, estudantes, médicos, advogados, artistas, atores dentre outros profissionais que com suas atuações tornam visível e permitem uma rede de relações que engendram e potencializam a inteligência Coletiva.
No teatro, por exemplo, temos membros remanescentes da década de 60 com o Grupo Universitário de Teatro do Amazonas –GRUTA, que encenou o “Natal na Praça de Henri Gheon, “Pés Descalços no Asfalto Quente” de Marcos José, “O Troco” de Domingos Pellegrini, “O Novo Otelo” de Joaquim Manuel de Macedo, “A Exceção e a Regra” de Bertolt Brecht dentre outros; passando pelo pessoal da BARCA, com “O Auto do Inferno” de Gil Vicente, “ Lux in Tenebris” , de Bertolt Brecht, “Rabo pra que te Quero” de Marcos José; Teatro Cabocão, “Saúde, Doutor!” e “Doutor a Justiça é Cega” e atualmente a AFIN encenou nestes 11 anos as seguintes peças teatrais: “ Pequeno Conto de Natal” (2001), “O Filósofo Fernando que não Era Só Pessoa” (2001), a partir de poemas de Fernando Pessoa, “O Político”(2002), “Quanto Custa o Ferro” (2002), de Bertolt Brecht, “A maldição do Boi Babão” (2003), “Para criar um candidato” (2004), “O Candidato Mais Ético” (2006), “Boizinho Rizoma nas Tramas da Zona Franca Verde” (2007).
Pra finalizar este artigo-denúncia contra um atentado à vida, ao artigo 19 da Declaração Universal dos direitos do Homem e do Cidadão, informamos que recorreremos contra essa atitude arbitrária, ditatorial, junto aos órgãos competentes, pois atitudes como essas, que proíbe o teatro numa escola, que independente de um programa pode-se a qualquer hora ser apresentado, pois é algo diferente, novo e de grande serventia, pois caso contrário, diretores como o aqui mencionado pode contribuir para tenhamos como personagem o do poema abaixo de Bertolt Brecht.
MEU ESPECTADOR
Recentemente encontrei meu espectador.
Na rua poeirenta
Ele segurava nas mãos uma máquina britadeira.
Por um segundo
Levantou o olhar. Então abri rapidamente meu teatro
Entre as casas. Ele
Olhou expectante.
Na cantina
Encontrei-o de novo. De pé no balcão.
Coberto de suor, bebia. Na mão
Uma fatia de pão. Abri rapidamente meu teatro. Ele
Olhou maravilhado.
Hoje
Tive novamente a sorte. Diante da estação
Eu o vi, empurrado por coronhas de fuzis
Sob o som de tambores, para a guerra.
No meio da multidão
Abri meu teatro. Sobre os ombros
Ele olhou:
Acenou com a cabeça.
Bertolt Brecht. Poemas 1913-1956,
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