Em seu estudo os instintos e seus destinos, Freud nos mostra como se processa a repressão na criança e como essa repressão se manifesta no consciente em forma de sintoma neurótico e psicótico. No consciente o sintoma é o inverso do produto reprimido no inconsciente da criança por força das duas repressões: a repressão primordial e a pós-repressão.
Como nosso objetivo não é apresentar um apanhado sobre o estudo do mentor da psicanálise, vamos apenas mostrar os estágios que se processam na criança na formação repressiva. Como, no caso específico, no censor.
Primeiro estágio: o impulso-instintivo-libido. Segundo estágio: a meta da libido-busca de prazer. Terceiro estágio: o objeto da meta como prazer. Quarto estágio: fonte do instinto. A criança em sua condição narcisa busca prazer instintual. A meta, como movimento, dirige a libido para o objeto do prazer. Porém, ocorre a repressão primordial: o instinto é inibido na meta. Mas ainda se desloca para logo em seguida sofrer a pós-repressão que vai paralisar a busca de prazer. A libido é dirigida para um dos pais como fonte do prazer, e a interdição é feita por um deles.
Reprimido o desejo, é elaborado o sintoma que se manifestará como conteúdo aceitável da consciência em forma mascarada de retorno do reprimido, sem ser o reprimido original, mas sua sublimação. O reprimido não toma lugar na consciência porque existe uma constante censura realizada pelo pré-consciente, superego.
A consciência do censor funciona como um superego social, mas, em verdade, é a projeção de seu estado de defesa contra o desejo reprimido direcionado para um dos genitores. Aí o sintoma paranoico. Não permitir que o desejo passado, quando criança, venha emergir na consciência, visto que o objeto que ele censura é objeto de desejo que lhe incomoda por sua atração. Assim, todo censor vive um ambiguidade paranoica: deseja o objeto, mas ao mesmo tempo o teme. É a mais terrível forma de inveja, já que ele jamais realizará esse desejo de possuir o objeto censurado.
O jornalista Paulo Moreira Leite apresentava todas as terças-feiras, às 23 horas, na Rede Brasil, o Programa Espaço Público. Um programa de entrevistas com pessoas atuantes nas mais variadas instâncias da sociedade brasileira. Cadeira cativa para o telespectador comprometido com os corpos materiais e imateriais do país. Ontem, dia 24, o jornalista entrevistaria a senadora do PCdoB do Amazonas, Vanessa Grazziotin. Logicamente a entrevista teria como pauta principal o momento atual do Brasil sob o cutelo do golpe comandado por parlamentares indigentes, as mídias capitalizadas e entreguistas e, mais, parte do judiciário.
A entrevista não poderia deixar de analisar, também, a sordidez revelada pelos comparsas, ex-senador Sérgio Machado, e o senador e ministro do desgoverno golpista Romero Jucá. Revelação que mostrou claramente para todo o Brasil – muitos já sabiam – o motivo do golpe e porque não havia como Dilma se defender contra a sórdida conspiração. O assunto por si mesmo não faltaria como tema do debate ainda mais porque a senadora Vanessa, durante a sessão de ontem, discursou analisando o comportamento golpista de Romero Jucá. Vanessa, na ocasião, mostrou o significado do diálogo entre os dois golpistas e seus desdobramentos sobre o golpe. Jucá ainda tentou defender o indefensável se dizendo inocente. Talvez porque seu amigo, ministro Gilmar Mendes, tenha dito na tarde de ontem que não via nada comprometedor no diálogo.
Como todo golpe é perpetrado e executado por pessoas com comportamentos duvidosos moralmente em função de que todo ato de usurpação é a exteriorização da inveja e do ódio dos impedidos na meta, não se poderia deixar de esperar a censura sobre o programa e a entrevista. Não deu outra: o atual diretor da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Laerte Rimoli, amigo de Eduardo Cunha e indicado por ele para o cargo usurpado do verdadeiro diretor-presidente Ricardo Mello da EBC, censurou a entrevista e de quebra despachou o jornalista Paulo Moreira Leite.
A EBC foi criada no governo popular de Lula, em 2008. Ricardo Melo foi nomeado por Dilma no dia 3 de maio como seu diretor-presidente com mandato de quatro anos. Tendo o cargo usurpado por Temer, ele recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF ainda não se pronunciou. A usurpação viola um ato jurídico.
Laerte Rimoli quando foi indicado para o cargo para assumir como golpista, afirmou que iria devolver a Rede Brasil para a sociedade. A Rede Brasil era a inimiga preferida pela Rede Globo em função do crescimento de sua audiência. Sua programação criativa, corajosa, diversificada e inteligente, não é encontrada em nenhuma televisão comercial do Brasil. Como TV pública realizava o que se pede como compromisso na comunicação: serviço público e disciplina cívica. O que a TV Globo nunca teve, não tem e nunca terá, já que seu compromisso é com todas as formas de alienação promovidas pelo capitalismo.
Agora, a Rede Brasil passará a ser sucursal da TV Globo. Quer dizer: enquanto Dilma não voltar.
Leitores Intempestivos